Vigilantes do Anoitecer escrita por Lady Angellique


Capítulo 16
Capítulo 15




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Os dias passaram muito rapidamente, mas infelizmente eu não pude ir à outra corrida com o meu irmão montando guarda em cima de mim e com o dia do Teste Final se aproximando – não que eu soubesse o dia certo –, eu me dediquei ao máximo a todas as minhas atividades e aos meus treinos para poder me sair o meu melhor possível e ás vezes meu irmão e Thomas me ajudavam nos treinos e me dizendo para eu não me preocupar porque seria fácil e rápido o teste e eu não tenho com o que me preocupar pois eu estava me saindo muito bem, e se meu irmão me elogiou só pode ter dois motivos lógicos para isso, primeiro:ele bebeu ou tá drogado ou segundo:é realmente verdade, mas de qualquer modo eu vou criar uma terceira opção, porque talvez essa seja a mais lógica: ele bateu MUITO forte com a cabeça.

Eu ainda não sei o que eu vou responder a Serenity, sinceramente, eu ainda estou em dúvida, talvez depois que os testes acabarem eu consiga lhe dar uma resposta. Esses dias têm sido muito cansativos, com aulas de luta e de defesa, aulas teóricas e sobre a história do planeta, treinos na Pista de Corrida da Morte e nas outras salas com equipamentos para musculação e resistência, aulas de tiro ao alvo com armas de fogo.

Hoje nós iríamos ter uma missão, bem, não é bem uma missão de verdade daquelas que a gente esperava – acho que não estamos prontos para uma assim ainda – ta mais para uma simples patrulha na cidade. Cada grupo foi dividido em duplas, e foi nos dado áreas distintas em vários pontos da cidade e algumas duplas em outras cidades, eu fiquei com Dylan e os gêmeos naturalmente ficaram juntos, e graças a deusa que nós ficamos aqui na cidade mesmo, assim não teríamos que viajar para cumprir nossa "missão". Acho que tudo isso esta me dando muita tensão e eu estou me sentindo mental e fisicamente muito cansada e talvez por isso eu esteja tendo uns sonhos estranhos e eu não consigo compreendê–los em todo, principalmente o sonho que eu tive há duas noites.

Dizem que sonhos são manifestações dos nossos mais profundos desejos, que ficam escondidos no nosso subconsciente. Se isso é verdade,  eu fico me perguntando qual é o desejo que está escondido no meu subconsciente para eu ter sonhado com isso, um sonho tão estranho e incomum e que começaram assim recentemente.

Eu sonhei com cores.

Sonhei com o vermelho. Não soube indicar que vermelho era, de onde ele vinha. O vermelho voava por ai como se estivessem dançando entre si, como se fosse delicadas pétalas de flores.

Sim.

É isso.

Eu sonhei com o vermelho das rosas, onde o seu vermelho rubro, se destacava na imensidão de branco que estava ao meu redor. Um grande imenso pasto coberto de neve, a mais pura e branca neve que você possa imaginar.

A neve se misturava com as pétalas de rosas, que voavam levemente junto ao vento, dançando, sem ligar pra ninguém. Seu lindo vermelho quebrando a frieza e a solidão que o branco deixava.

E eu estava nesse meio. Nessa luta pra ver quem prevalecia. O Branco ou o Vermelho.

De certa forma, eu podia entender a ambos.

Estavam lutando pela liberdade e pelo seu próprio direito de viver, de sobreviver. Mesmo que o Vermelho estivesse em desvantagem.

De repente eles mudaram de direção. Branco e Vermelho colaborando para me levar a algum lugar, pelo menos é isso o que eu acho, porque eles começaram a se afastar e a me deixar sozinha naquele grande nada.

Então, eu os segui.

E uma nova cor surgiu.

Uma nova forma se tornou.

O Preto se fazia presente agora. Subjugando o branco e se tornando a cor mais forte e mais chamativa dali, mesmo que um pouco macabro e estranho.

Enquanto o Preto tomava uma nova forma, o Branco e o Vermelho o seguiam, rodopiando a sua volta, como se fossem guiados por um maestro e sua música, e a sua dança fosse os passos coreografados de uma delicada bailarina.

Então, o Vermelho, se separou dos dois e foi para o chão, como se tivesse perdido as forças, se tornando um Vermelho escuro e doentio. Mas então, como uma fênix que renasce das cinzas, o Vermelho floresceu de novo, e se juntou formando um imenso jardim, somente de rosas vermelhas.

O Branco virou neve, e começou a cair tranquilamente, formando uma fina camada sobre as flores, e o vulto preto.

O Preto tomou a forma de uma pessoa com capuz, um capuz que ia até o chão, e cobria todo o corpo daquele ser.

O sujeito de capuz se virou e me encarou profundamente, durante um longo tempo.

Toda a paz e tranquilidade que eu tinha se foi, quando me vi encarando aqueles olhos tão lindos e tão incomuns.

Aqueles olhos, que me encaravam fixamente, e ternamente, como se me conhecesse há muito tempo, e estivesse aliviado e feliz ao me ver ali.

Foi ai que eu percebi que eu não era uma mera espectadora da cena que se desenrolou na minha frente, e sim que eu fazia parte dele. Olhei pra mim mesma, e reparei que eu estava descalça na neve fria, com um vestido de renda preto e vermelho. Meus cabelos soltos voavam junto com o vento, para trás,  como se quisessem se libertar do corpo que os prendia e fossem viver livres, voando ao vento. E mesmo estando com um simples vestido e sem nenhum agasalho, eu não sentia frio, na verdade, eu não consigo sentir absolutamente nada.

Como em um sonho, onde tudo é possível, até mesmo sair em um dia de neve com um vestido para verão e não morrer de hipotermia.

O homem encapuzado – que eu percebi que era homem, depois que ele se virou – me encarava fixamente,  e a única coisa que eu podia ver de seu rosto eram seus incríveis olhos, cada um de uma cor, um azul cobalto e o outro dourado puxado pro âmbar. Aquilo me chamou a atenção por ser uma coisa muito incomum e diferente...e lindo. Parece que esse lugar gosta de reunir coisas estranhas e inusitadas.

Então, ele retirou o capuz, me fazendo arfar de surpresa.

Ele era lindo.

Seus cabelos eram tão brancos quanto à neve, destacando seus lindos olhos inusitados. Ele parecia ser apenas alguns anos mais velho que eu. Seu corpo, apesar de escondido parcialmente debaixo da capa preta, era musculoso e convidativo.

Mas eu sentia que havia algo errado.

Apesar, de seus olhos serem gentis e quentes, eu não me sentia segura perto dele. A sensação de que eu já o conhecia, batia muito forte no meu peito.

Alguma coisa não está nada bem ali.

—Venha comigo – pediu ele. Sua voz, assim como seus olhos, era calma e gentil, como se tentasse me trazer conforto de algo – Eu vou cuidar de você dessa vez. Não vou deixar que nenhum mal lhe aconteça.

—O que você quer dizer com isso? – perguntei numa voz baixa e estranha, como se há muito tempo eu não falasse.

Ele sorriu pra mim tristemente, e sua expressão ficou nublada, como se lembrasse de um passado doloroso.

—Você irá se lembrar – garantiu–me ele, estendendo a mão, em um claro convite para ir com ele... Seja lá pra onde ele queria me levar.

Ele veio andando calmamente até mim, seu olhar me hipnotizava, e eu fiquei vidrada no seu olhar, tempo suficiente para ele chegar perto de mim sem eu perceber a tempo de evitar, mas quando ele ia tomar a minha mão na sua, eu a puxei para longe dele e dei um passo para trás.

—NÃO! – gritei – Fique longe de mim!

Ele pareceu magoado pelas minhas palavras, mas não tentou chegar perto de mim novamente.

—Evangeline – o nome saiu suavemente de sua boca, como se fosse um amante sussurrando no ouvido de sua amada, no alto da paixão. Me arrepiei naquele momento, pois o nome pareceu tão familiar, como se esse nome desconhecido fosse meu, embora...

— Eu não sei quem é essa tal de Evangeline, e nem quem é você. Não confunda as coisas, senhor – eu disse dando mais passos pra trás.

— Senti falta disso, doce Victoria— ele destacou meu nome, me mostrando que ele o sabia de fato, mas mesmo assim optou por me chamar de Evangeline.

—Falta do que? – perguntei, mudando de tática, para uma voz mais tranquila, quem sabe assim ele não fale, e talvez porque eu estava realmente curiosa para ter um pouco de respostas que parecem nunca virem em momento algum da minha vida.

—Você não me engana, pequena raposa – avisou–me ele – Não vai ser desse jeito que vai conseguir algo de mim.

—Então, qual é?

—Vindo até mim – ele respondeu simplesmente, como se eu tivesse perguntado quanto é dois mais dois e a resposta fosse obvia.

—E onde você está?

Pela primeira vez, desde que o encontrei nesse lugar esquisito, eu não vi nenhuma expressão doce ou gentil nele, e sim, um sorriso irônico, junto com uma leve inclinada na cabeça e um pequeno estreitar de olhos. Seus olhos pareciam mais perigosos e felinos que antes, e eu sentia que eu devia estar com medo dele, pensando nisso, dei mais um passo pra trás, enquanto ele respondia:

—Você sabe onde eu estou. É só procurar no fundo da sua mente – instruiu–me ele – No mesmo lugar que nos conhecemos, no lugar que nos vimos pela primeira vez.

Eu abri a boca, para lhe dizer que a primeira vez que eu havia o visto, era naquele lugar, mas de repente, sua capa se desprendeu de seu corpo e começou a flutuar, indo com o vento para o sul. Do nada, ela se quebrou em vários pedaços e se transformou em pássaros.

Corvos.

Corvos negros como a noite.

Eles começaram a sobrevoar envolta daquele cara esquisito e bipolar, e ele parecia feliz com aquilo, invés de estar com medo de que esses corvos o atacassem. Sua imagem começou a borrar e ficar transparente.

—Espera! Como eu vou te achar se nem sei seu nome?! – gritei pra ele, que pareceu parar de sumir, se fixando numa imagem um pouco distorcida do que era ele antes apenas para me responder praticamente em um sussuro.

—Eros.

Dito isso, ele desapareceu, como se nunca estivesse ficado ali conversando comigo, me deixando em pé, na neve, rodeada por um jardim de rosas (estranhamente familiar), sozinha.

Completamente sozinha.

—Tori! Victoria! Amor da minha vida. Minha privada entupida. Angu da minha marmita! Quer voltar ao mundo real, por favor?

Eu dei uma pequena risada baixa e encarei Ally, minha melhor amiga desde pequena que sacudia o meu braço repetidas vezes até ter certeza que eu estava totalmente acordada, eu inclinei minha cabeça para o lado e a observei Sua definição de real é totalmente desconhecida pra mim.

—O que você quer dizer com isso? ela perguntou, aparentemente satisfeita por eu ter voltado do meu "mundo", como ela mesma fala.

—Nada, esquece. Mas o que você quer, Ally?Aconteceu alguma coisa?

—Ah não... quer dizer sim. Argh! Eu não sei exatamente se tem algo acontecendo.

—Como assim não sabe?  indaguei, pois isso era realmente estranho visto que ela sempre sabia de tudo e se não sabia ela arranjava um meio de saber, então o que pode estar confundindo a sua cabeça?

—É que estão tendo certos boatos... Sobre umas pessoas bem próximas da gente, e que talvez você as conheça melhor do que eu – sua voz demonstrava incerteza, talvez por não ter certeza do fato e estar me contando, ou talvez ela não tenha certeza se deve me contar isso ou não, e é claro que isso me deixou muito mais curiosa.

—Como assim boatos? De quem e por que? – Ally começou a mexer as mãos nervosamente, aparentemente decidindo o que iria me contar, ela demorou tanto para falar que eu a sacudi trazendo ela para o mundo “real” como ela mesma havia denominado mais cedo – Diga logo de uma vez, criatura! Está me deixando nervosa!

—É que eu não sei se você vai gostar e se vai ser uma coisa boa ou não. Você sabe que eu não faço fofoca sem razão, apenas conto o que descubro quando é realmente necessário.

—É claro que sei!

—É que... Eu não sei se você viu Dylan hoje, mas ele está um pouco machucado.

—O quê?! Como assim? O que aconteceu? Ele caiu e bateu a cabeça, deve ter sido isso com aquele cabeção que ele tem, deve ter pesado muito enquanto ele andava ai o fez cair.

Ally riu e balançou as mãos como se me dissesse para descartar essa ideia, depois de se acalmar e voltar a recuperar o fôlego, ela disse:

—Não é nada disso. Ele se envolveu em uma briga.

Respirei aliviada sabendo que não tinha sido nada serio aparentemente.

—Normal. Ele sempre se envolve em brigas, principalmente por causa da língua grande que ele tem, e que não sabe manter dentro da boca em certos momentos. Mas eu tenho que agradecer a certa pessoa por ter batido nele, porque eu estava quase o fazendo porque Dylan estava sendo extremamente irritante de uns tempos pra cá. Quem foi o felizardo, que deu na cara do Dylan?

—É esse o grande X da questão.

—Por quê?

—Eu não sei se você vaia creditar, mas foi o Anthony.

—O que? Como assim? E por que? – indaguei surpresa. Quer dizer, é claro que eu já havia visto os dois lutando durante um treino há alguns dias atrás, mas pelo o que Ally está me contando isso é muito sério e parece que dessa vez não foi um treino.

Ally não soube me explicar direito o que aconteceu e depois de perder a paciência com ela, pois ela não tinha nenhum fato concreto para me dizer – ou talvez ela não o queira fazer – eu me levantei e fui atrás do Dylan, deixando Ally para trás no sofá que estávamos sentadas na biblioteca – o que eu me admiro não termos sidos expulsas de lá, pelo tanto que nós, quer dizer eu falei alto.

Enquanto eu andava pelos corredores tentando mentalizar em achar o Dylan – vai que da certo e esses corredores mágicos me ajudem há achar ele –  e eu  observei os Guardiões que caminhavam tranquilamente pelos corredores. Já haviam se passados alguns meses desde o ataque a Cidadela do Castelo de Duran, e as buscas não deram em nada e os meus superiores e os de todos aqui decidiram que iriam encerrar por enquanto as buscas, mas isso não quer dizer que desistiram muito pelo contrário, eles parecem muito mais empenhados em achar os culpados e estão tomando medidas preventivas para não ter outro ataque desse tipo, como por exemplo, eles dobraram a guarda em muitos locais em que eles acham que pode ocorrer um futuro ataque, embora eu ache que isso tudo é muito estranho, e que se eles fossem rebeldes de fato se rebelando contra o governo ou algo parecido eles já teriam atacado outro lugar ou mandado algum tipo de mensagem de algum tipo, mas não há simplesmente nada. Nem mesmo sinal de fumaça, o que torna tudo muito mais estranho, apesar de que por um lado eu ache que isso teve um lado bom, porque como eles têm aumentando o número de Guardiões vigiando vários locais, eles estão precisando de mais pessoas e mais ajuda, e por causa disso nosso treinamento foi adiantado e nós vamos acabar nos tornando Guardiões mais cedo do que imaginamos.

Eu fiquei dando voltas pela Ordem até um ponto em que eu podia jurar que eu estava perdida e nunca conseguiria achar a saída desse labirinto de corredores e eu ia morrer em algum deles sem comida e nem água. Sem comida!Já me deu fome só de imaginar.

Virei mais um corredor enquanto lamentava a minha sorte e resmungava sozinha, até que eu bati em uma parede muito dura, e eu tenho certeza que eu quase quebrei o meu nariz, a pancada não foi tão forte assim, somente o suficiente para ficar roxo e doendo daqui a pouco.

—Ai! Isso doeu! Pra que colocaram um corredor que dá para uma parede?

—Eu acho que eu não sou uma parede, pelo menos da ultima vez que eu verifiquei eu não era – olhei pra cima somente para me deparar com Anthony que tinha um pequeno sorriso no rosto e me observando com um que de diversão em sua expressão.

—Hããã, certo você não é uma parede, mas deve ter alguma coisa debaixo dessa blusa pra quase ter quebrado o meu nariz!

Ele riu, e por uma fração de segundo eu senti certa surpresa por ele estar rindo tão facilmente na minha presença, sendo que eu conheço ele há certo tempo e eu podia afirmar com convicção que ele não é uma pessoa que ri muito e ele estar fazendo isso agora é muito estranho, você não imagina o quanto.

—Não tem nada de anormal aqui, pode confiar.

Olhei meio desconfiada pra ele e ficamos um tempo nos encarando,como se fosse aquela competição de quem pisca primeiro e é meio obvio que eu perdi, porque eu nunca fui muito boa nesse jogo. Por fim dei de ombros e me despedi dele, voltando por onde eu havia vindo, só que aí eu me lembrei que eu não faço a mínima ideia da onde eu estou e nem pra onde eu vou, então talvez eu possa tirar proveito dessa pequena situação esquisita.

—Espera! – gritei chamando a atenção de Anthony que havia se virado e andado na direção oposta a minha, ele parou e se virou esperando que eu chegasse até ele – Será que você poderia, por favor, me fazer um favor? Sabe, depois de quase quebrar meu nariz você me deve uma.

—Eu não quebrei seu nariz e a culpa não foi minha, você que estava no mundo da lua e não olhava por onde estava andando – ele se defendeu, cruzando os braços e destacando os seus musculosos braços realçados pela blusa de manga comprida preta que ele estava usando.

—Tá certo! Não vamos culpar ninguém, mas será que você poderia me ajudar, por favorzinho? – pedi juntando as mãos como se estivesse rezando, e “tentando” fazer uma carinha de cachorro que caiu da mudança como eu tinha visto Ally fazer diversas vezes com o seu irmão e dar certo. Qual é?! Eu to meio que desesperada pra achar a saída desse labirinto que parece que só quer me ferrar, e eu já to aqui já tem um tempão e to começando a ficar com fome, e Anthony foi o único ser vivo e existente que eu encontrei até agora e... Ah esquece! Não tenho que dar explicações para o meu subconsciente!

Ele bufou.

—De que você precisa?

—Da saída!

—Que saída? A da Ordem? – uma expressão confusa cruzou o seu rosto – Tem uma enorme porta na entrada da Ordem e eu acho que...

—Não é nada disso! – exclamei já perdendo um pouco da pouca paciência que eu possuo – Eu to perdida! Tem um tempão que eu to vagando nesses corredores que eu nunca vi na minha vida!

—É serio isso? – ele parecia lutar contra uma risada, realmente eu devo estar muito ridícula agora.

—Claro que é! Se não fosse eu não pediria ajuda, ou você acha que eu tenho tempo pra ficar dando voltas por aí?

—Você sabe que esses corredores são encantados e que eles te levam pra onde você quiser, não é? – ele indagou levantando uma sobrancelha.

—Sei. Quer dizer não. Qual é? Nem sei onde eu to, vou lembrar de uma coisa dessas quando eu to perdida? A minha primeira reação lógica é sair andando por aí tentando não pirar e achar uma alma viva – eu fiz um gesto pra ele – E tcharam!Você é a primeira alma viva por aqui... Você está vivo, né? Porque às vezes parece que você acabou de sair do túmulo...

Ele pareceu seriamente ofendido com o que eu disse, mas antes que ele reclamasse eu levantei as minhas mãos na minha frente impedindo-o de falar qualquer coisa.

—Não me leve a mal, é que têm dias que você fica muito pálido e com olheiras enormes, talvez você devesse dormir um pouco mais invés de ficar treinando o tempo todo, isso com certeza ajudaria você a não parecer um morto vivo quando anda pelos corredores da Ordem.

—Eu treino porque eu quero ficar mais forte e proteger as pessoas que estão ao meu redor, e não deixa–las morrer porque eu não fui forte o suficiente – ele respondeu com raiva repentina que me assustou, ele chegou mais perto de mim e o que me fez ficar ainda mais nervosa, mas dessa vez por causa da sua súbita aproximação, mas ao mesmo tempo extasiada com o cheiro do seu perfume amadeirado com um leve toque de hortelã – Então me desculpe, se eu não estou sempre “apresentável” quando nos encontramos.

De novo. O jogo de quem pisca primeiro, da pra adivinhar o quanto o clima fechou, né?

—Desculpe – sussurrei – É que às vezes eu falo demais quando fico nervosa.

—E por que está nervosa? – o espaço entre nós dois pareceu diminuir, assim como eu estava com a sensação de que as paredes estavam fechando a nossa volta, e sua voz parecia ainda mais baixa e rouca do que o normal, como se estivéssemos compartilhando um segredo e ninguém mais pudesse ouvir, mesmo que não tenha ninguém por perto.

—Fome – ele levantou uma sobrancelha novamente, cético, pela minha resposta, mas eu não tenho culpa! Eu apenas respondi a primeira coisa que veio a minha cabeça, porque agora nem mesma eu sei por que eu disparei a falar aquelas coisas.

Ele suspirou fechando os olhos por um momento e se afastou passando uma das mãos no seu cabelo bagunçando mais ainda os seus cabelos rebeldes.

—Tudo bem. Peço desculpas por ter gritado – ele gritou? Nem percebi – Vamos. Eu vou te tirar daqui.

Ele começou a caminhar e eu o segui, o tempo todo ficamos em silêncio, a não ser por alguns suspiros da minha parte e o som dos nossos passos. Eu me peguei observado ele quando eu tinha certeza que ele não estava me olhando e a nossa estranha conversa ficou martelando na minha cabeça o tempo todo, mas nenhuma palavra seria dita sobre o assunto, e isso eu posso afirmar com toda certeza.

Quando chegamos perto das salas dos treinos – finalmente um lugar familiar pra mim – ele se despediu de mim com um aceno de cabeça e partiu sem me dar ao menos à chance de agradecer por ter me ajudado, e eu só fiquei ali parada que nem a trouxa que eu sou, observando as suas costas enquanto ele se afastava.

O que está acontecendo comigo? E o que acabou de acontecer aqui?

—Tori? – escutei alguém me chamar de longe, e eu girei procurando o dono da voz e encontrei com Dylan que caminhava na minha direção.

De repente eu me lembrei do motivo de ter me perdido e que estava louca atrás do Dylan para ver se ele estava realmente machucado, embora eu nunca fosse dizer isso em voz alta, nem sobre tortura!

—Por onde você andou? – ele perguntou quando chegou perto de mim.

—Ah sabe como são as coisas, eu saí andando por aí, vi umas obras de artes, umas salas bem esquisitas, me perdi nesse lugar enorme que eu tenho quase certeza de que é assombrado e...

—Espera aí, o que?

—Eu estava te procurando, imbecil – eu dei um tapa na sua cabeça fazendo ele se encolher e depois passar a mão no local massageando o mesmo – Eu soube que se meteu em uma briga. Você é burro mesmo de nascença ou simplesmente não tem cérebro? Ou talvez você não saiba como usar o que tem... Sabe? Eu posso ficar aqui o dia todo que eu ainda vou ter motivos por você ser tão idiotas às vezes.

Ele corou e eu não entendi o porquê, só sei que ele ficou com vergonha e parou de me encarar nos olhos, desviando o olhar, talvez ele tenha finalmente visto que se meter em brigas sem sentido foi muito errado e agora ele está arrependido.

—Não foi nada demais, e não vai se repetir, eu prometo – ele voltou a olhar pra mim e me deu um largo sorrindo – Eu estou muito bem, você tá vendo?

Eu o avaliei e vi que ele realmente estava bem, exceto por um pequeno corte nos lábios eu não podia ver nenhum outro hematoma, ele deve ter dado uma passada na enfermaria antes de vir me procurar.

—Sei. Pra mim, você devia é ficar todo machucado pra aprender a não se meter em brigas desnecessárias – é claro que eu iria lhe dar uma bronca, eu não podia deixar ele sair impune assim tão facilmente.

Ele encolheu os ombros, e antes que eu pudesse falar mais alguma coisa ele mudou de assunto rapidamente.

—Esquece isso, nós temos que ir agora.

Aquilo me chamou atenção, hoje não tínhamos nada marcado e nenhum treino com Serenity, então do que ele estava falando?

—Nos convocaram na Sala dos Problemas – ele respondeu sorrindo feliz.

—Para? – indaguei, visto que ele estava me enrolando.

—Nós vamos receber a nossa primeira missão! – ele exclamou feliz e eu não pude não sorrir com ele, contagiada pela sua felicidade, mas porque eu tinha uma sensação ruim no peito?


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