O outro lado da moeda : Skye escrita por Blake


Capítulo 36
Capítulo 36




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SKYE

O “anúncio” do Presidente foi realmente tocante, repleto de frases clichês poéticas, que citavam a constituição, alegando que o USA foi criado sobre o pressuposto de igualdade e que ela se estenderia para todos, INDEPENDENTE DE QUEM SEJA. Óbvio que nenhum dos Inumanos comprou aquele papinho furado, logo em seguida o silêncio das autoridades foi quebrado e eles pareciam dispostos a conversar sobre a situação de Miles, contanto que Skye estivesse diante deles dentro de 42h para uma “audiência”.

Não podia dizer que estava surpresa com isso, era óbvio que eles teriam infinidades de perguntas, mas a iminência da exposição a deixava temerosa. Aceitava ser julgada e, se assim decidissem, que fosse parar numa cadeia, mas não era exatamente fã da possibilidade de fazerem experimento em si, ou se tornar uma arma secreta do exercito americano. Já havia dado sua cota de ajuda ao Uncle Sam.

Enfiava suas poucas roupas de volta a mochila, sem nem ao menos dobrá-las, tinha pressa em sair dali, Neverland era uma base fria e não era apenas pela sua localização geográfica, o ânimo pesava o lugar.

– Você ainda pode desistir, Coulson nos conseguiu novos documentos, poderíamos ir para qualquer lugar de mundo – Katherine falou, encostando-se na porta e cruzando os braços. Ela ainda não havia aceitado, possivelmente nunca fosse.

Skye riu com sarcasmo e arqueou as sobrancelhas, sem parar o que estava fazendo – Claro, fugir é exatamente o que deveríamos fazer, funcionou tão bem para você... – declarou sem humor, finalizando sua “mala” e olhando em volta, vendo se não havia esquecido de nada.

– Ele realmente vale todo seu futuro, Skye? – decidiu ignorar a fala maldosa da filha e questionou com descrença.

– Sim – afirmou sem muita paciência, finalmente erguendo os olhos para fitar a mulher estática a poucos metros de si – Ele vale – concluiu, pegando a mochila e atravessando a porta a passos rígidos. Já estava saturada daquela conversa, era tão difícil entender que já tinha se decidido sobre aquilo? E também tinha um plano, tudo daria certo, se eles tivessem um pouco mais de fé... Era tudo que pedia, um voto de confiança.

PHIL

Não fazia ideia do que fazer. Não sentia-se em posição de dar ordens à Skye, se bem que duvidava que ela fosse ouvi-lo, mas também não sentia-se confortável em mandá-la direto para a boca da besta sem plano reserva, sem garantias, sem absolutamente nada. Era suicídio e ele parecia ser o único a notar isso.

Sua única esperança era achar Nick Fury e mandá-lo consertar aquela situação, sabia da influência do homem na política, ele poderia pelo menos assegurar que Skye não fosse alvejada assim que pusesse os pés em solo americano... Se Nick pelo menos não tivesse se escondido tão bem.

– Agente Hand, qualquer acordo que você tinha com o Fury precisa ser desfeito agora, NÓS precisamos achá-lo – falou com seriedade, perambulando pelo escritório.

– Eu não sei onde ele está, e não sei quantas vezes você ainda me perguntará isso – a ruiva respondeu impaciente, sem desviar os olhos de Coulson por sequer um minuto.

– Você precisa saber de algo, você atirou nele! – vociferou, jogando uma das cadeiras para o lado, em pura cólera.

– Exatamente, eu atirei nele, mas não o matei e não sei dos seus planos subsequentes, recomponha-se, agente Coulson, esse comportamento – apontou para a cadeira com desdém – É ridículo – opinou no seu conhecido tom de desprezo.

– Eu aceito sugestões do que fazer – sussurrou em resignação, suspirando longamente.

– Deixe-a ir – respondeu com frieza, levantando-se do sofá onde estava confortavelmente sentada – Se ela não voltar – pausou dando efeito as próprias palavras - Agente Pryde vai matá-los e pintar a Casa Branca com o sangue de cada um deles, de uma forma ou de outra, os Inumanos serão deixados em paz, ou pela conversa ou pelo medo – finalizou com a mesma frieza com a qual havia começado.

– Essa é a sua ideia?! Deixar que ela seja morta e que Katherine cometa um massacre? – toda sua feição foi deformada pela sua descrença no que havia escutado.

A mulher deu de ombros, dirigindo-se até a porta – Seja esperançoso e fique com a opção na qual ela volta para casa – declarou antes de atravessar a porta e partir.

Victoria necessitava urgentemente de uma terapia. Aquela mulher não podia ser normal.

SKYE

– Você é uma advogada? – indagou com certa desconfiança.

Barbara Morse não parecia o tipo que faria Direito.

– Não, mas Margot Williams é – respondeu, pondo uma mecha dourada para detrás da orelha e sorrindo de forma confiante.

A única esperançosa por ali, porque Skye sentia que iria vomitar a qualquer minuto.

Gonzalez cedeu um dos jatinhos para levá-las até NY e era exatamente o que faziam naquele momento. Nenhuma das duas estava no seu melhor estado, Barbara ainda tinha um ponto-falso sobre a sobrancelha em decorrência do seu acidente de carro e Skye ainda lutava contra as marcas arroxeadas em seu corpo, embora esses fossem o menor dos seus problemas.

– Por que quis vim? – questionou por fim, afinal, se aquilo não corresse como o previsto, não terminaria nada bem, para nenhuma das duas.

– Nada melhor para fazer – respondeu com irreverência e comprimiu a mão da jovem ao seu lado – Bem-vinda à SHIELD, para o melhor e o pior – anunciou, assegurando-a que tudo ficaria bem.

– Obrigada – sussurrou em retorno.

– Seu pai, digo, agente Coulson, queria vim, mas ele é um fugitivo... – divagou naquele ar descontraído que parecia inerente a ela.

Foi impossível não sorrir, mesmo que tenha sido um sorriso triste... Sentia-se triste por todas as coisas que havia perdido, por tudo que nunca teria.

– Chegamos agentes, iremos pousar – o piloto anunciou da cabine.

– Você irá tratar daquele outro detalhe para nós também, certo? – Morse indagou, aproximando-se do piloto e o sorrindo sugestivamente.

– Claro, agente Morse – ele confirmou muito educadamente – O submarino estará no local – concluiu, enquanto Barbara dava um risinho de puro entusiasmo.

– Submarino?! – Skye estreitou os olhos. Nunca pensou, quando pedira um plano de resgate para Miles, que necessitariam de um submarino. Deu de ombros.

– Eu já arquitetei tudo, só faça a sua parte direito e tudo saíra perfeitamente bem – aconselhou e parecia uma criança num parque de diversões, como se aquilo fosse a coisa mais divertida que ela fazia à séculos. Loucos, era disso que a SHIELD estava cheia, os melhores loucos do mundo.

Hora de afivelar os cintos e engolir a bile porque o momento de confrontar os grandões estava chegando.

**

Subia as escadas a passos rígidos, o prédio imponente a sua frente era bem intimidador, mas não tanto quanto os repórteres pondo aqueles microfones na sua cara e fazendo perguntas incoerentes. Sentia-se encurralada e ficou muito grata quando conseguiu cruzar a porta, livrando-se dos abutres.

Fechou os olhos e tentou acalmar-se, sentando-se numa das poltronas da antessala. E daí que o futuro de Miles estava em suas mãos? E daí que os Inumanos contavam com ela? E daí que seus amigos fossem fugitivos por sua culpa? Nenhuma pressão.

– Eles estão prontos, Srta. Pryde – sim, aquela era a primeira vez que alguém a chamava pelo seu sobrenome, era bom finalmente ter um.

Acenou em concordância, caminhando ao lado de Barbara até a sala. Foram revistadas antes de adentrarem, quando não encontraram nada, permitiram a passagem. Obrigada, Fitz-Simmons, pela nanotecnologia.

Bem, a sala era mediana e parecia uma sala de reunião na realidade. Havia uma mesa de madeira no centro, cerca de dezoito assentos, a maioria já ocupados, um projetor, uma mulher com um computador, talvez para ter um registro de tudo, e a parede as suas costas exibia uma pintura do símbolo da justiça. A luz provinha das luminárias que pendiam do teto, quase como numa biblioteca, ou um daqueles filmes antigos. O ar austero era bastante assustador, mas não deixou isso transparecer e apenas sentou-se num dos extremos da mesa, com Bobbi a sentar a sua direita. Todos a olhavam e bem que tentou sustentar o olhar de algum deles, mas ao invés disso bebericou a água de forma nervosa.

– Aqui está o acordo que estamos dispostos a oferecer, Srta. Pryde – um dos engravatados falou, entregando para Barbara a pasta.

A loura passava os olhos sobre os termos de forma atenta, porém rápida, e hora franzia o cenho, hora suspirava, não parecia estar gostando de alguns termos.

– Senhores, creio que minha cliente deixou bem claro que só ela deveria ser citada no processo e que seus amigos iriam receber imunidade total – falou, forçando um sorriso.

– Esse – pausou, buscando o nome num dos papéis - Sr. Phillip Coulson, fugiu da custódia policial, não é algo que podemos ignorar, os demais receberão a imunidade, contanto que o Sr. Coulson se apresente para esclarecimentos – respondeu na mesma falsa polidez imposta por Barbara.

– Eu posso dar os esclarecimentos – tomou a responsabilidade para si - Ele só fugiu porque foi preso de forma arbitrária por algo que ele não havia feito, assim como Miles Nichols – Skye se pronunciou de forma firme, fuzilando o engravatado com os olhos.

– Usando um jato e explodindo o teto de uma delegacia, não foi nenhuma das nossas agências, então para quem você trabalha? – então aquele era o propósito, descobrir sobre a SHIELD.

– SHIELD – admitiu sem medo algum.

A feição de alguns se contorceu em confusão, outros moveram-se inquietos em seus assentos, cochichando, embora a reação geral tenha sido de desconforto.

– Pensei que a SHIELD tivesse sido destruída, tivemos um grande trabalho tentando limpar a bagunça que vocês deixaram – uma mulher, possivelmente CIA, enfim falou algo, enquanto todos os demais concordavam com a cabeça.

– Tivemos alguns contratempos, não posso negar... Mas todos foram resolvidos – Barbara sorriu cinicamente, sem se estender em detalhes.

– Esse Phillip Coulson é o Diretor? – um almirante indagou com interesse.

– Isso não vem ao caso – Skye respondeu secamente - Ele fica de fora, ou eu sairei por aquela porta, e não teremos um acordo – sabia que tinha sido uma manobra arriscada dizer aquilo, mas que outra opção tinha ? Passou os olhos rapidamente sobre a proposta e para Miles era ótimo, a maioria das acusações contra ele seriam abandonadas, por ele tê-las cometido quando ainda era menor de idade, e as demais abrandadas porque ele não havia utilizado as informações para ganho próprio. Nunca pensou que agradeceria a conta zerada dele e seu apartamento medíocre.

Encararam-se longamente, medindo forças e a tensão podia ser cortada com uma faca.

– Deixe o maldito homem de fora – um general mais esquentadinho vociferou, erguendo as mãos no ar, com mau humor.

– Tudo bem – o advogado deu-se por vencido e suspirou.

– Podemos começar agora? – uma mulher muito bem vestida, indagou com certa irritação, a qual não fez questão de esconder.

Skye deu um aceno confiante com a cabeça em afirmação.

– Você disse que é uma “Inumana” – fez aspas no ar, voltando os olhos para os papéis dispostos a sua frente – Isso é a mesma coisa que mutantes? –

– Não – respondeu sinceramente – Mutantes apresentam seus poderes na adolescência, Inumanos precisavam passar pela névoa para desenvolver suas habilidades – explicou da forma mais clara que pôde.

– Então essa é a única diferença? – a pergunta dessa vez veio do almirante.

– Eu creio que sim – era melhor deixar de fora o fato de serem meio-aliens.

– Qualquer um que passa por essa “névoa”, desenvolve habilidades? – o general esquentadinho parecia particularmente interessado nessa parte... Típico.

– Não, é algo genético, se um humano sem o traço genético passar pela névoa, irá morrer petrificado – foi bom ter tido uma aula com Jiaying antes de ir naquele interrogatório. A história dos Inumanos era realmente ótima.

O homem pareceu duvidar daquilo, mas nada falou.

– O que é essa névoa? Como é produzida? –

Sentia vontade de vomitar. Aquelas pessoas eram patéticas, queriam realmente produzir cristais para criar Inumanos? Não pensavam nas consequências? Sentia-se enojada só por estar compartilhando o mesmo ar que eles.

– É um cristal secular, não dá para manufaturar – respondeu com o pouco resquício de paciência que ainda a restava.

– Se é desse planeta, com certeza dá – um prepotente qualquer opinou.

– Você tocou num ótimo ponto, não é desse planeta – enfim revelou.

– Quantos são? Qual a extensão dos seus poderes? – um outro agente indagou com um interesse quase psicopata.

– Eu não sei, creio que muitos, e a extensão dos nossos poderes é enorme, há um pouco de tudo pelo que já pude ver e não há habilidades iguais, semelhantes sim, mas nunca iguais – revelou algo que Reed fazia questão de frisar. Eram únicos.

– Estaria disposta a disponibilizar uma amostra do seu sangue? – a mulher num terninho e saia lápis indagou de forma incerta.

– Não, não estaria disposta – aquilo era sério? Não poderia ser. Cadê as questões sobre nossas intenções? Medidas de segurança? O que fazíamos na Suíça? Não perguntavam absolutamente nada relevante.

– Onde estão esses cristais? – o general não iria parar de clicar nessa tecla pelo visto.

– Seguros, longe de pessoas como o Sr. – respondeu secamente, tendo os olhos de todos os presentes a se esbugalharem em surpresa.

– Você sabe com quem está falando?! – vociferou mais uma vez, chocando o punho contra a mesa.

Não se abalou e o lançou um sorriso cínico.

– Duvido muito que me importaria caso soubesse – respondeu com deboche.

– Me certificarei de que você seja presa, abominação, e que seu amigo nunca mais veja a luz do dia – exclamou com exasperação, levantando-se da poltrona onde estava.

– Pensei que você fosse um general, não um juiz – falou calmamente.

– Eu sou o seu pior pesadelo, é isso que eu sou – esbravejou com o dedo em riste na direção da jovem.

– Não, general Talbot, eu sou o seu pior pesadelo – sorriu novamente, numa frieza que duvidou possuir, mas que HYDRA a incumbiu muito bem.

– Você está me ameaçando?! –ele simplesmente não acreditava naquela situação e tateou sua arma, apontando-a para a garota – Eu posso ter matar sua abominação – exclamou, enquanto todos os demais levantavam-se, pedindo para que ele mantivesse a calma.

Patético!

– Vá em frente e me mate, um minuto depois estará em rede nacional – anunciou com certa diversão - Vocês realmente acharam que eu viria acreditando apenas na benevolência de vocês? – prosseguiu com incredulidade – Eu realmente queria mudanças, eu realmente queria resolver isso como pessoas civilizadas, responder o que eu tivesse que responder e seguir a minha vida, sabendo que eu havia feito a coisa certa... – pausou, dando um riso nasalado enquanto todos a olhavam com descrença – Mas quem eu queria enganar? Olhe para vocês, querem fabricar Inumanos, estão interessados em lucrar com isso, medíocres, baixos. Não seremos suas armas! – afirmou em cólera - Miles Nichols vai ser solto e todos vocês farão uma linda declaração dizendo que os Inumanos são tão parte da civilização quanto o resto dos humanos – exigiu, bebendo mais um pouco da água antes de levantar. – Estarei esperando Miles às 8 am, no Central Park, por favor, sem atrasos – concluiu friamente.

Skye se mostrara altiva, fria, engenhosa, exatamente como HYDRA a criara para ser. Talvez estivesse pegando um pouco dos trejeitos de Victoria, o olhar superior, o desdém... Um pouco da crueldade. John G. ficaria feliz.

Ninguém parecia capaz de dizer algo, Talbot já havia abaixado a arma e apenas a olhava num misto de surpresa e medo, ou algo no meio desses dois sentimentos.

– E se vocês ainda tiverem dúvida de que eu estou blefando, olhem seus celulares. Vocês têm doze horas para o meu pronunciamento – finalizou, oferecendo-os mais um sorriso, antes de partir na companhia de Barbara.

Todas as vezes que acreditava na humanidade, era desapontada, tinha que aprender em algum momento que não valia a pena se iludir com aquela possibilidade ínfima de diplomacia, justiça e toda aquela baboseira.

Só esperava que eles fizessem o que havia pedido, ou que Deus a ajudasse, pois iria matá-los e enfeitar a Time Square com seus restos mortais. A cólera começava a nublar sua razão e aquilo nunca era um bom presságio.


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