SKYE

Já não podia contar numa única mão a quantidade de vezes que ficara inconsciente naquelas poucas semanas,estava caindo numa perigosa rotina.

Comprimiu os olhos e resmungou ao sentir todo seu corpo protestar contra o esforço.

– Se fosse você,não me moveria tanto – uma ruiva a recomendou,apesar de não ter soado tão preocupada assim. A mulher estava de costas para Skye,mexendo em alguns documentos e parecia realmente entretida naquela tarefa.

– Estou surpresa por poder me mover ... – respondeu sarcasticamente e esquadrinhou a sala,em busca de alguma arma,já projetava meios de escapar. Estava sob o domínio da HYDRA,não precisou de muita perspicácia para notar isso,os grandalhões estáticos diante da porta da enfermaria não eram exatamente sutis.

– Não há nada que você possa usar para ferir alguém,a não ser que algodões sejam seu tipo de arma – a ruiva prosseguiu,sem no entanto olhar diretamente para Skye,de alguma forma ela parecia saber o que a garota pensava – E você talvez já esteja acostumada com pulseiras,mas essas têm uma função um pouco diferente da sua primeira,de qualquer forma,o mecanismo é parecido – continuou e só então virou-se,possuía enormes olhos azuis,que cintilavam em inteligência,e deu um meio-sorriso na direção da garota,embora não fosse um sorriso sincero ... Parecia uma espécie de teste.

Só após a mulher mencionar as pulseiras foi que se dera conta delas,uma em cada pulso,já tinha até ideia do porquê daquele novo adereço – Como você ... – deixou a pergunta morrer na sua língua,pois já sabia a resposta para aquilo. Óbvio que a mulher sabia sobre sua primeira pulseira pois era uma agente infiltrada,mas Coulson não sairia explanando aquela informação aos quatro ventos,a única pessoa para a qual ele se reportava era para ... – Victoria Hand – sussurrou e sustentou o olhar da mais velha,que,enfim,deu um sorriso sincero.

– Talvez Coulson tivesse razão sobre você – a ruiva comentou e aproximou-se ainda mais do leito de Skye,avaliando-a com genuína curiosidade.

– Não ponha o nome de nenhum deles nessa sua boca imunda – respondeu entre dentes e cuspiu na cara da ruiva. Não sabia se tivera uma reação tão extrema pelo ódio que sentia daquela mulher ou se pelo fato dela ter mencionado Coulson.

– Não me surpreende você ser filha do Garrett,vocês se darão bem – Victoria falou,limpando a bochecha com uma gaze e passando álcool em gel por cima,não parecia aborrecida pelo ocorrido,embora Skye não tenha se atentado a esse fato,estava muito perdida na parte do “filha do chefe da HYDRA”.

Mesmo que não quisesse admitir,tinha esperanças que Coulson fosse seu pai. Com certeza preferiria o domador de unicórnios a um assassino que destruiu a vida de incontáveis pessoas,mas até ela teve que concordar,eles realmente tinham muito em comum.

Ficou segurando o exame de DNA entre as mãos trêmulas enquanto uma lágrima solitária corria por sua bochecha,não seria capaz de matar o próprio pai,seria ?!

W.M

– Greyson ?! Que diabos de nome é esse ? – Mike falou baixo,olhando para o nome estampado na farda do soldado.

Ward revirou os olhos – Gabe não é tão agradável também – rebateu,afivelando o colete a prova de balas.

Entrar na base não fora exatamente fácil,contaram com uma pitada de sorte e com a incrível mente estrategista de Ward,e,enquanto despiam os verdadeiros Greyson e Gabe,dois soldados de baixa estirpe,questionavam-se o que fariam com a dupla.

– ICER ? – Mike sugeriu,olhando para os rapazes inconscientes e Ward apenas deu de ombro,descarregando a sua num dos soldados.

Mike repetiu o feito e os deixaram presos num depósito longínquo,amordaçados,com pés e mãos amarrados – Isso nos dará no máximo dois dias – Ward comentou,aprumando a farda preta.

Já podiam notar o retorno de alguns soldados que sequer olhavam para a cara deles,aqueles dois caíram como uma luva; eram insignificantes ao ponto de ninguém reparar neles e com acesso o suficiente para explorar o complexo,eram perfeitos.

Voltaram para os postos antes ocupados pela dupla.

– Sejam úteis,limpem as celas para nossos novos convidados – um moreno alto falou,seu tom era sério e ele parecia ser uma espécie de comandante. Tanto Ward,quanto Mike,ficaram estáticos por um breve momento e já viravam-se para cumprir a ordem quando ouviram uma estrondosa gargalhada – Vocês realmente iam limpar as celas para nossos fantoches ?! – o homem questionou alto,arrancando gargalhadas dos demais soldados que traziam os Inumanos,inconscientes,arrastando-os como sacos de batatas. O comandante ainda sorria. – Nos tragam bebidas,será bem mais útil – ele ordenou,enquanto tirava o colete com o símbolo da HYDRA e partia pelo corredor,entrando numa espécie de sala de recreação.

Ward e Mike se entreolharam enquanto viam a quantidade de pessoas que eram arrastadas,havia até algumas crianças entre elas. Aquilo era repugnante. Mantiveram a pose e foram buscar as tais bebidas.

– Ward ?! – May o chamou em seu ponto. O homem afastou-se a passos rígidos do grupo de fanfarrões.

– Na escuta – respondeu num tom neutro,enquanto música era ouvida e algumas mulheres eram trazidas para “satisfazer” o grupo. John Garrett poderia ser um idiota sem escrúpulos,mas ele bem sabia como deixar seus homens felizes.

– Eles a levaram – aquela era a segunda vez que dava a mesma notícia e não foi nem remotamente mais fácil que da primeira.

Ward já havia avisado sobre invadir a base,May bem que tentou dissuadi-lo no momento,mas agora,agradecia por ele não tê-la dado ouvidos. Ter Ward e Mike ali a deixava mais otimista.

Deixara Mike “ajudando” os soldados a acomodarem os Inumanos nas celas,mas era apenas uma desculpa para ver se Skye estaria entre eles,apesar de duvidar muito que John fosse pôr a filha numa daquelas celas imundas.

– Eles a levaram para outra parte – respondeu e já pensava como fariam para procurá-la na parte restrita da base. John estaria mantendo-a sob uma forte proteção.

– Reforços estão chegando – a mulher tentou convencer-se daquela informação,pois duvidava que o reforço de mais seis pessoas fosse ser o suficiente.

– Estaremos prontos quando o momento chegar – Ward respondeu e desconectou o aparelho,já havia passado muito tempo afastado do grupo e esses pediam por mais bebidas. Revirou os olhos e foi servi-los,virara garçom daqueles babacas. Cianeto cairia bem.

KATHERINE

Assistira a tudo e continuava a assistir,seu cérebro estagnou num loop infinito,que a impedia de tirar o último vislumbre que tivera do olhar do Skye,da mente. Não tinha mais forças para lutar,sua ira,que sempre estivera a flor da pele,parecia esvair-se,assim como toda sua vontade de viver. Salvara uma estranha em detrimento da própria filha, que tipo de mãe faz isso ?!

A garotinha,dormia dentro do quinjet,juntamente com Lincoln,enquanto Katherine encarava o nada,perigosamente sentada na borda do precipício ... Se fosse um centímetro mais para frente,tudo terminaria,refletiu,e por um segundo considerou aquela ideia,mas sabia,não poderia,havia abandonado Skye vezes demais,não a abandonaria novamente ... Não seria fraca,não exporia seus sentimentos.

– O que aconteceu ? – May questionou,aproximando-se cautelosamente de Katherine,não queria pressioná-la,mas quanto mais ela falasse,melhor,qualquer informação poderia ser útil.

– Eu a perdi – Katherine admitiu,sem virar-se para encarar May. O vento balançava seus longos cabelos acobreados no ar e mesmo que o sol já despontasse,ainda estava absurdamente frio.

May abraçou-se mais ao próprio corpo – A avalanche,ela causou aquilo ? – a chinesa continuou na sua tentativa de arrancar algo da Inumana.

Kate apenas maneou a cabeça fracamente,numa afirmativa – Eles a matariam,Skye,ela ... – encarou May brevemente,seus olhos estavam afundados na mais profunda escuridão – Não deixaria isso acontecer – completou num sussurro e tornou a encarar o horizonte.

May já havia pego a ideia no ar; Skye salvara Katherine e a criança ao provocar a avalanche,sendo capturada durante o processo.

– Ual – Miles exclamou,nenhuma das duas reparou que o rapaz estava ouvindo a tudo. – Então você deixou que a levassem para salvar uma estranha ? – questionou com desprezo. Não fazia o menor sentido,se ela tivera a oportunidade de salvá-la,deveria ter feito,independente dos danos colaterais.

Miles aprendeu uma coisa ou outra sobre pessoas com poderes,afinal,vira através do anão,antes desse perder o sinal,alguns Inumanos utilizando seus poderes no refúgio. Mike também o explicara um pouco sobre o tema. Não digerira muito bem,mas após o impacto inicial,achou bastante interessante,até descobrir que Katherine também possuía poderes,por não gostar dela,os Inumanos caíram um pouco no seu conceito,agora Skye ?! Capaz de causar avalanches ?! Todo seu mundo virara de cabeça para baixo.

– Não agora,Miles – May o ordenou e levantou-se,pondo a mão espalmada no peito do rapaz,o empurrando para o canto da onde ele viera.

Ele afastou a mão da mulher que só não reagiu pois mantinha Skye em seus pensamentos toda vez que sentia vontade de socar aquela carinha bonita,Mike tinha razão,quando Miles começava a falar,nem sua beleza era capaz de salvá-lo – Não agora ?! E você pretende que façamos isso quando ? Sentar,conversar,discutir nossas “opções”,enquanto eles fazem Deus sabe o quê com ela ? – esbravejou e até a criança que dormia,acordou. – Você será culpada se eles a machucarem,você e unicamente você – continuou no seu tom contrariado e apontava para Katherine,enquanto May continuava a detê-lo “educadamente” – Você a condenou a uma vida miserável naquele orfanato,mas agora você pode tê-la condenado a morte – finalizou num tom frio,mas sua fúria seria capaz de derreter toda aquela neve.

Katherine não respondeu,as lágrimas queimavam sua pele,mas as palavras de Miles rasgavam sua alma ... Ele tinha razão.

JIAYING

Os inumanos já haviam sido acomodados em pontos distintos do globo,muitos,após o que viram,decidiram voltar para seus países de origem,decididos a nunca mais usarem seus poderes novamente ... Aquele ataque os mostrou o que o futuro possivelmente guardava,nenhum deles estava disposto a permitir que seus filhos fossem as novas vítimas.

Os que permaneceram não passavam de vinte,um grupo seleto,porém perigosamente letal. Ninguém ali tinha algo a perder.

– Vamos recuperá-los – Erin falou num tom baixo,aproximando-se do lugar onde Jiaying estava. Haviam retornado para o refúgio e ver tudo aquilo,após o ocorrido,lhe trazia todas as imagens de volta. Os gritos,o choro,o pavor,o cheiro ...

Jiaying parecia perdida em outra dimensão,não estava no humor para frases prontas e otimismo. Toda sua família fora levada.

– Alguma notícia do Reed ou Pietro ? – a chinesa questionou,seu rosto mostrava nítido cansaço,mas seu tom era firme.

Gordon apenas balançou a cabeça negativamente,seguia atrás da dupla e parecia exausto,também pudera,desde o dia anterior usava seus poderes incansavelmente - Não consigo detectar Wanda,Pietro ou Reed – admitiu e abaixou a cabeça – Mas Skye e os demais ... Estão em Hunan – falou e o trio parou de andar,encarando o peso daquelas palavras.

– Vamos nos unir aos reforços – Jiaying sussurrou. Não tinham mais nenhuma outra opção,teriam que trabalhar com à SHIELD novamente.

SKYE

Lhe fora dada uma pilha de roupas,de todos os estilos possíveis e impossíveis,teoria comprovada quando se deparou com uma camiseta do Charles Manson,aquilo fora minimamente bizarro,mas algo era bem óbvio,John estava realmente tentando lhe agradar.

Pôs uma calça jeans,tênis e uma camiseta branca,sem detalhes. Simples,esse era seu estilo.

– Vai cuspir em mim de novo ? – Victoria questionou,após a jovem sair detrás do biombo.

Não se deu ao trabalho de responder. Tinha algo minimamente perturbador sobre aquela mulher,mas Skye ainda não havia se decidido o que era ... Ela encobria algo.

– Pra onde vai me levar ? – questionou e apoiou-se contra a parede,ainda sentia-se fraca e respirar era torturante,mas não deixou nada disso transparecer,pelo menos acreditou que não.

– Não achou que fosse viver na minha enfermaria né ? – a ruiva rebateu retoricamente. – E suas novas instalações serão bem mais confortáveis – ela prosseguiu,mas Skye já não a dava mais ouvidos.

– Prisioneira,isso que serei – falou de forma neutra,sem demonstrar qualquer emoção.

– De forma nenhuma,eu nunca faria isso com você – John anunciou as suas costas,virou-se para encará-lo e ele parecia temeroso pela sua reação.

O homem estava extremamente elegante,apesar do horário,5:00 a.m,na realidade,ele parecia ter se arrumado exclusivamente para a ocasião. Os cabelos pretos eram escassos e caiam apenas de um lado da sua cabeça,do outro lado havia uma enorme tatuagem de caveira,com uma faca cravada num dos olhos. O rosto possuía profundas cicatrizes e uma queimadura que tomava todo lado esquerdo da sua face,os olhos eram azuis e a encaravam com curiosidade. Com o braço metálico ele segurava uma caixa. Apesar de tudo isso,superioridade exalava por cada poro daquele indivíduo e sua presença,apesar de perturbadora,não a deu medo.

– Por que de alguma forma tenho dificuldades para acreditar nisso ? – Skye prosseguiu de forma destemida,desencostando-se da parede e sustentando o olhar do segundo individuo.

Ele pareceu apreciar a atitude da jovem,pois sorriu de orelha a orelha,deformando ainda mais a sua feição já pouco atrativa – Porque minha filha não seria subjulgada por ninguém,você nasceu para liderar e não o contrário – ele respondeu de forma poética e foi impossível não pensar em Reed. Não vira o desgraçado desde o incidente da briga com Wanda ... Ele tivera um excelente sexto sentido,refletiu sarcasticamente,perdendo-se um pouco no rumo daquela conversa com Garrett.

– Lindo discurso,mas isso não muda o fato de você ser quem é,já tive minha cota do tratamento HYDRA e prefiro o passar dessa vez – respondeu secamente e deu alguns passos,até parar diante do moreno,que era bem mais alto que ela. Porcaria de genética,como é que ficara tão baixa se sua mãe também era alta ? ignorou esse pensamento. – Você vai transformar aquelas pessoas em assassinos,eu nunca seria conivente com isso e fique avisado,eu farei tudo que estiver no meu alcance para libertá-las do seu domínio doentio – praticamente cuspiu aquelas palavras – E isso inclui te matar se for preciso – sentenciou de forma voraz e toda sua postura dedurava que ela falava sério.

Ele não parara de sorrir por sequer um minuto,era realmente um desgraçado sádico e narcisista – Eu não esperaria de outra forma,mas antes,eu gostaria de lhe mostrar algumas coisas,se me permitir – ele falou e deu passagem para a menina,que atravessou a porta,sendo prontamente seguida pelo homem e mais três seguranças,altamente armados. – Aqui – falou e a entregou a caixa,Skye a pegou um tanto desconfiada.

Abrira a tampa já andando pelo enorme corredor,extremamente iluminado e de pisos lisos,as paredes eram em tons pastéis e tinham alguns quadros adornando a superfície. Bem diferente do que imaginaria que o covil do mal se pareceria.

Tirara de dentro da caixa um ursinho panda que empunhava uma espada,e vestia uma blusa da SHIELD,ele parecia bem antigo,apesar de estar em ótimo estado de conservação. Não entendeu o motivo daquele presente em particular,ele não notou que ela estava velha demais para receber pelúcias ? Ao notar a cara de estranheza da jovem,o homem deu um riso nasalado,desabotoando um botão do seu paletó.

– Foi o primeiro presente que dei para sua mãe,achei que gostaria de tê-lo – ele admitiu e deu de ombros – Eu e Coulson temos em comum o apego pelas coisas antigas – finalizou e a indicou uma porta de correr branca,feita num material bastante resistente.

– Conte-me o que houve – pediu e passou a olhar para o panda num ar mais terno,imaginando a cara de boba que Katherine fizera ao recebê-lo.

– Meu pai foi um cientista da HYDRA durante a segunda guerra mundial,então eu já nasci um espião. Aos quinze consegui entrar na SHIELD,subir de patente era meu maior objetivo,isso até eu informá-los sobre Katherine,sobre seus poderes,então meu objetivo era encontrar um jeito de sequestrá-la e levá-la para estudos,eles queriam descobrir se poderiam replicar seus poderes ... Passamos dois anos procurando-a,mas não deixei que eles a dissecassem,preferi que ela sofresse lavagem cerebral e se tornasse minha máquina de guerra – ele contava,sem demonstrar nenhum arrependimento,talvez ser criado por um membro da HYDRA tenha tido uma grande influência no seu senso de certo e errado – Aliás,o programa das crianças,eu não tenho participação sobre aquilo,nem a sua missão com o garoto israelita,Bruce era um desgraçado bem mais psicótico do que eu – completou,como se houvesse lembrado de uma informação importante,o que,de fato,era.

Pararam defronte a outra porta branca,mas essa tinha um visor,na altura dos olhos que permitia ver o que ocorria lá dentro,entraram.

Alguns cientistas trabalhavam,haviam estufas de todos tipos e diversos camundongos ... Eles pareciam desenvolver algo. Aproximaram-se das gaiolas onde os bichanos estavam postos.

– Cura para o câncer – ele apontou para uma fileira de ratinhos – Cura para Hepatite C – apontou para mais outro grupo – AIDS – mais um.

Afastaram-se dali e foram até outra sala,onde parecia haver o desenvolvimento de plantas – Esses grãos crescem em qualquer solo e com pouquíssima ou nenhuma água – prosseguiu,num ar realmente orgulhoso – Sistema de dessalinização de água com baixíssimo custo – continuou e deu dois tapinhas nas costas de um dos cientistas e foi assim por um longo período,passaram pela parte dos fármacos,alimentos,sustentabilidade,nanomedicina e em cada uma das áreas haviam coisas impressionantes,que mudariam completamente o rumo da humanidade,para melhor.

Skye permaneceu calada por todo o tour,porque realmente não sabia o que dizer. Estava diante de avanços tecnológicos que revolucionariam a humanidade e todos eles estavam dentro de um complexo da HYDRA ? Aquilo lhe dera um nó no cérebro. Bem ali soube que nada é apenas branco e preto,há 256 tons de cinza entre eles.

John notou o ar estupefato da menina e a lançou um sorriso – Não achou que apenas matávamos pessoas né ? – questionou numa retórica e riu da própria piada – Matamos pessoas sim,se alguém se põe em nosso caminho,nos os matamos e não serei hipócrita ao ponto de dizer que não fazemos testes com humanos,com certeza fazemos,mas esse é o custo para o progresso,enquanto outros cientistas estão presos em leis arbitrárias deixando milhares de pessoas morrerem,eu tomo as consequências em minhas próprias mãos e faço o que tenho que fazer – explicou e só então voltou as orbes azuis na direção de Skye.

– Você está capitalizando em cima dessas descobertas ? – questionou com o cenho franzido,isso justificaria o número absurdo de políticos,de todos os locais do mundo,que HYDRA tinha controle,isso explicaria o fato de matarem ativistas contrários àquela visão ... Isso explicaria muitas outras coisa também.

– Claro que capitalizo,eu comando uma empresa,não uma ONG – ele respondeu com a obviedade daquele fato.

John era estranhamente uma boa companhia,gostava da sinceridade dele,da forma que ele não fingia,como ele não a tratava como uma tapada incapaz de escutar algumas verdades.

– Os Inumanos são mais da alçada de Raina,vez ou outra eu seleciono um,para alguma missão ... Mas ela lida mais com essa parte,e como ela é útil,eu permito – admitiu pois parecia saber a pergunta subsequente de Skye.

Encostou-se numa das paredes novamente,estava ficando difícil fingir não estar sentindo uma dor excruciante,Garrett adiantou-se para ajudá-la a manter-se de pé,não recusou a ajuda dele. Deveria ?! Não sabia mais o que pensar ... O que ele fizera não tinha justificativa,mas e se de alguma forma ela pudesse gostar dele mesmo assim ?

RAINA

– Que lugar é esse ? – Reed questionou enquanto seguia atrás da morena,como usual,ela usava um vestido floral bastante sensual. Sentiu vontade de agarrá-la ali mesmo.

– Um lugar que Gordon não poderá nos rastrear e tire os olhos da minha bunda – falou num ar de falsa ofensa,quando na realidade sorria.

Apressaram os passos e pararam defronte a sala de monitoramente,no visor,uma garota ruiva e franzina perambulava por uma cela,muito similar a sala de adaptação do refúgio,embora essa parecesse bem mais resistente e impenetrável.

Wanda caminhava pelo cômodo,tentando encontrar meios de escapar,ainda apresentava arranhões na altura da garganta,local onde Raina a pressionou contra o solo e em seus pulsos estavam pulseiras bem semelhantes as de Skye.

– Irei conversar com ela – Raina afirmou e parecia bastante ansiosa para esse momento. Reed riu da forma que ela agiu e apenas maneou a cabeça em concordância,puxando uma cadeira e sentando-se. Ficaria assistindo ao diálogo,algo o dizia que seria um bem interessante.

Raina partiu,levando um tablet nas mãos e não demorou a entrar na sala da ruiva.

Fúria era a única coisa que se via nos olhos de Wanda,a menina correu,com os punhos cerrados,na direção de Raina e nada mais importava,a única coisa na qual pensava era em como matá-la o mais dolorosamente quanto possível,mas antes que pudesse socá-la,a morena a exibiu o tablet,onde mostrava um garoto louro,encolhido no canto da parede,numa sala similar àquela.

– Pietro ... – sussurrou e afundou as unhas com força na palma da mão,fazendo um filete de sangue correr. Seus olhos encheram-se de lágrimas instantaneamente,estava de mãos atadas,e sabia disso,pois faria qualquer coisa para que não machucassem seu irmão. Não agrediu Raina que sorriu,bastante satisfeita.

– Agora poderemos iniciar uma conversa – falou sadicamente,de forma arrogante. – Você fará o que eu mandar a partir de agora,caso contrário,Pietro morre,e você apodrece nessa cela até o fim dos seus dias – falou monocromaticamente e encarou Wanda,buscando uma confirmação de que ela havia entendido,ao ver as lágrimas escorrendo pelo rosto da menina,viu que ela entendera. – Muito bem,como estou num ótimo humor lhe deixarei falar com seu irmão,quem sabe você não consiga isso mais vezes ? – falou e entregou o tablet nas mãos trêmulas e ensanguentadas da ruiva.

Raina já distanciava-se,quando ouviu a voz rouca e baixa de Wanda – O que terei que fazer ? – a menina indagou,temendo e muito pela resposta que receberia.

A metamorfa parou na porta e deu um riso baixo,repleto de sadismo – Você matará por mim – afirmou sem o menor constrangimento antes de sair.