M.M

Haviam sido deixados na província de Hunan a pouco mais de quatro horas,e levaram três para aproximarem-se o suficiente da base,sistema de segurança de Garrett era algo admirável. Ainda foram capazes de notar toda movimentação dos soldados,jatos e armamentos; algo não estava certo ali.

– Eles estão se preparando para atacar algo,será que descobriram a posição do agente Coulson ? – Mike questionou enquanto observavam,através do satélite hackeado por Kate,as imagens da base aérea.

Ward,sempre muito detalhista,duvidava daquela suposição. Todos haviam passado pelo interrogatório minucioso do agente Koenig,de uma coisa tinham certeza,as únicas pessoas que sabiam sobre aquela localização,não haviam os traído.

– Não,ele irá atacar outro lugar – comentou num ar pensativo. Um dos motivos de ser um estrategista tão competente era porque sempre se punha no lugar do seu oponente. O que Garrett almejava mais do que tudo ? Óbvio,Skye. – Ele irá atrás da Skye – Ward afirmou num tom calculista e Mike se empertigou inteiro,a mínima possibilidade daquilo ocorrer era perturbadora.

– Vamos avisar a May – Mike falou e bem que tentou manter o tom contido,sem muito sucesso. Ward apenas acenou positivamente com a cabeça,passando a ponta dos dedos sobre o cabo da arma.

– Vamos aproveitar o pouco contingente e invadir,se eles a pegarem,nós a recuperamos – Ward finalizou de forma determinada. Coulson dissera que aquela era uma missão de reconhecimento,mas ela acabara de se tornar uma de infiltração.

SKYE

Suas pernas queimavam,o vento frio que chocava-se contra seu rosto já havia lhe rendido um pequeno sangramento nasal e sua costela protestava a cada novo esforço,mas não se importou com nada disso,seu único pensamento era chegar até o refúgio antes que fossem bombardeados.

Tudo era uma confusão,ninguém sabia ao certo para onde ir e a fuligem dificultava ainda mais a respiração. Podia ouvir gritos vindos de todas as direções e mais focos de incêndio se distribuíam pelo local,as pessoas começavam a se aglomerar no centro,local onde ainda era possível respirar com alguma facilidade. Era exatamente isso que eles pretendiam,deixá-los vulneráveis.

– Escutem! – tentou falar sobre a confusão de vozes,mas ninguém a ouviu. Precisava chamar a atenção deles,que melhor forma de captar a atenção do que agitando um pouco as coisas ? Concentrou-se nas poucas lições que aprendera com Jiaying e fez a terra tremer,derrubando alguns e calando outros,que assustaram-se com a imprevisibilidade daquele fenômeno.

– Escutem! – tentou mais uma vez e dessa vez teve toda a atenção voltada para si – Estamos sob ataque,se continuarmos amontoados aqui todos seremos capturados,vocês têm que tentar escapar através das montanhas! – falava num tom de urgência mas já era possível ouvir com clareza a aproximação das aeronaves. Saltou do banco onde se equilibrava e se pôs a correr pelas vielas de onde havia vindo. Na sua escalada até o topo da montanha notou algumas rotas alternativas que davam para as montanhas adjacentes,talvez eles as pudessem usar para escapar,era sua única chance àquela altura.

Guiava o grupo e recrutava mais alguns quando ouviu-se a primeira explosão,e uma quantidade absurda de gás ser lançado,dendrotoxina,como suspeitava,eles não queriam matá-los,mas capturá-los e transformá-los em máquinas de guerra. Não iria deixar aquilo acontecer,não sem uma luta pelo menos.

Deixou que o grupo prosseguisse,com um homem que tomou a frente da situação,todos pareciam confiar nele,e fez o caminho inverso,voltando até a casa de Jiaying que ficava um pouco mais distante daquele ponto,cerca de cinco minutos de uma corrida eletrizante. Ao chegar na rua da mulher a primeira casa que queimava era a dela,sentiu o ar lhe escapar dos pulmões. Encarava a estrutura ser consumida pelas chamas e teve certeza que assim que pusesse as mãos no responsável por todo aquele horror,ele pagaria,e muito caro.

Não,não,não ... Sussurrava internamente antes de aproximar-se,sendo quase derrubada por um grupo de Inumanos que fugia de outra explosão,estavam sendo bombardeados mas ela sequer se importava com isso,a casa flamejante a sua frente era tudo que conseguia pensar no momento. Muito embora duvidasse que eles ainda permanecessem ali,tinha que checar,não se perdoaria caso não checasse.

Após o impacto inicial,pusera o moletom sobre o nariz e adentrara a casa,o andar superior era o mais danificado e foi impossível não pensar na insuportável da Wanda,poderia não gostar dela,mas definitivamente não a queria morta. A fumaça enegrecida dificultava e muito a visualização,abaixou-se na superfície e foi rastejando pela casa; uma das vantagens do treinamento da HYDRA,eles os punham em incêndios reais,só não explicavam a melhor técnica para sair deles vivos,por sorte,Skye aprendera rápido. A temperatura ali estava insuportável,assim como a falta de oxigênio,que era consumido pelo incêndio,mas continuou vasculhando,rezado apenas para lembrar o caminho de volta.

– Ô não – sussurrou com pavor.

Jiaying estava caída próximo a cozinha. Correu para socorrê-la e tirá-la daquela bomba que apenas esperava para ser detonada; calor e gás de cozinha,péssima combinação. Pegou a mulher pelos braços e a saiu puxando até a entrada,parando apenas quando a pôs no jardim.

– Não,você não vai morrer – falava num ar quase suplicante e aplicava compressões torácicas,intercaladas com respiração boca a boca. Ficou nisso por longos três minutos. O fogo já havia consumido boa parte da casa e sabia que a qualquer momento tudo explodiria,ainda pensava em Wanda,queria ir procurá-la também,mas não poderia deixar Jiaying daquela forma,estava entre a cruz e a espada.

– Vamos lá! – gritou e estendeu as mãos espalmadas sobre o torso da chinesa,concentrando-se em sentir a fibrilação do coração da mesma,você aprendeu isso hoje,você consegue,sua voz interna,sempre muito positiva,a incentivou e Skye,de fato,conseguira. Os sinais vitais da mulher já estabilizavam quando ouviu-se a explosão,virou-se bem a tempo de criar uma grande barreira que as protegeu do impacto. Não fazia a menor ideia de como conseguira produzir aquilo,apenas fizera.

– Eu disse que você seria capaz de coisas extraordinárias – a voz da chinesa soou as suas costas,mas tudo que Skye conseguia fazer era observar a destruição que deixara em quatro casas,fora a da mulher.

Virou-se para encará-la,enquanto explosões eram ouvidas cada vez mais próximo do ponto onde estavam. Tinha certeza que os soldados da HYDRA já faziam seus caminhos até a superfície,não tinham muito tempo – Wanda e Pietro ? – questionou olhando para o espaço onde,outrora,havia a casa.

– Eu estava só – a mulher respondeu,enquanto era ajudada a ficar de pé. Ela olhava para os lados num ar desolado; Afterlife estava encoberto por uma névoa negra. O fogo devorava tudo que ela construíra. – Eles foram na frente ajudar com os incêndios,depois eu apaguei e alguém pós fogo na casa – ela explicava o ocorrido num ar fatigado.

– Eles devem ter se juntado aos outros,nas montanhas – comentou enquanto punham-se a caminhar,num ritmo calmo. Todo seu corpo doía e seus pulmões queimavam a cada nova respiração,o peso que a chinesa depositava sobre seus ombros,comprimia sua costela fraturada e tornava tudo ainda pior,mas não reclamou ... Não reclamaria de uma amiga tão conhecida,afinal,dor era a única constante na sua vida.

Encostou-se numa parede,onde ficaram encobertas pela escuridão que se instaurou no local e checou ambos os lados,notando soldados atirarem contra alguns Inumanos a poucos metros dali,eles pareciam seguir até as montanhas. Não poderia deixar aquilo ocorrer.

– Vá,eu te encontro depois que cuidar deles e faça Gordon tirar todos daqui – sussurrou e não esperou a resposta da mulher.

M.K.M

– Fitz-Simmons determinaram os locais mais prováveis e eu já programei os dispositivos – Katherine falava de forma pragmática,desde que ela e May haviam deixado Ward e Mike na província de Hunan,a mulher parecia estranhamente quieta,quase reclusa,talvez isso se devesse a presença de Miles ali. Mike confiou em May para manter o jovem vivo,mas até ela estava com vontade de matá-lo àquela altura. Não pensou que ele pudesse ser tão cretino e cruel.

– Já estamos recebendo imagens do primeiro drone – ele disse no mesmo tom profissional,ambos poderiam se odiar mas não deixariam isso interferir no motivo de terem ido até ali,resgatar Skye viria primeiro.

– Anão – May o corrigiu pois sentia-se no dever de defender a criação dos cientistas.

Ele rolou os olhos com tédio e não a respondeu.

Estavam numa das únicas planícies que encontraram ali,a temperatura não era nada agradável e o frio os fez ficar naquele restrito espaço. O trio parecia desconfortável com aquilo,como se a presença fosse incômoda,mas não havia outro jeito,nenhum dos três estava disposto a sair do quinjet e deparar-se com uma temperatura de – 1°C.

Cada um segurava um tablet e via um determinado anão,parecia um filme bastante entediante que só mostrava montanhas e mais montanhas,nenhum sinal de vida fora captado pelos objetos em longos quarenta minutos.

– O atchim está captando algo – Kate anunciou e levantou-se,o coração disparado.

Tanto May quanto Miles trocaram as câmeras dos seus anões,vendo o mesmo que Katherine.

– É um incêndio – Miles anunciou o óbvio e guiou o dispositivo para mais próximo da situação,onde eles se deram conta de que não era apenas um incêndio,era um ataque. Ward havia avisado tarde demais.

SKYE

Aproveitou que um dos soldados havia ficado para trás,possivelmente fosse o encarregado de levar os Inumanos para o ponto de extração,e sorrateiramente o atacou,furando-lhe a jugular e cobrindo sua boca com a mão para que ele não tivesse a chance de gritar. Deixou o pedaço de madeira que usara para matá-lo,cravado em sua garganta,e pegou todos os dispositivos que ele tinha disponível; armas,facas,granadas de dendrotoxina ... Confiava muito mais naquelas belezinhas do que no seu “dom”,que parecia ter vontade própria.

– Você não vai precisar disso – sussurrou antes de arrancar a máscara do homem e apressar os passos para encontrar os outros soldados que possivelmente faziam mais vítimas.

A confusão estava instaurada e não era raro ouvir explosões e sons de lutas. Alguns Inumanos estavam resistindo,e muito bravamente pelo visto. Ver uma espécie de bola vermelha emergindo pelos céus lhe deu a certeza de que Wanda estava viva e muito puta por terem invadido sua casa.

Não demorou a encontrar os outros soldados. Eles adentravam as casas que não foram incendiadas ou para as quais o fogo ainda não havia se propagado,embora todos soubessem que era apenas uma questão de tempo para tudo ali virar cinzas.

Eram cinco e eles mantinham uma formação militar; dois invadiam,dois davam cobertura e um ficava na porta de guarda,as casas geralmente eram pequenas,quatro cômodos,então eles nunca levavam mais do que 60 segundos em cada casa. Eles também eram máquinas de guerra. Acompanhou-os,estudando o modus operandi deles e antecipou a casa que eles entrariam em seguida,se esgueirou para dentro dela e preparou uma surpresa nada agradável; cortou a tubulação de gás e a deixou vazando,enquanto escapava por uma das janelas e aguardava,bastou eles entrarem na casa e sentirem o cheiro de gás para seus sentidos se alarmarem,mas já era tarde demais,a garota jogou o sinalizador que roubara do primeiro soldado e o que antes era uma casa,se transformou numa enorme bola de fogo,a explosão foi tão severa que alguns cacos de vidros ainda rasgaram sua pele,enquanto o impacto a arremessou a bons cinco metros de distância.

Fechar os olhos parecia tão tentador ... Tudo girava e parecia turvo,piscou algumas vezes e tentou erguer-se mas não havia sequer uma parte do seu corpo que não implorasse para que a garota desistisse e apenas continuasse deitada ali,mas ela sabia,não podia. Sua vontade de viver fora maior que sua vontade de desistir,Miles estava a esperando.

– Hm,era você mesmo que procurávamos – uma mulher falou,Skye não conseguia distingui-la perfeitamente,o incêndio que instaurara na casa recobriu toda aquela área com mais fumaça – Seu papai ficaria orgulhoso,olha só,quanta destruição – ela prosseguiu ironicamente – Mas ele não quer que você se machuque,então temos que capturá-la antes de esquentar as coisas por aqui,apesar de que você não estar tão bem assim,ele terá que se contentar – ela falou num ar completamente informal,parecia divertir-se com o sofrimento da garota. E como assim esquentar mais as coisas ? Aquilo já parecia ter sido atingido por uma bomba nuclear.

Só após refletir por um tempo sobre o que ela dissera se atentara ao “pai” empregado na frase,mas depois de tudo que ocorrera na sua vida,não se surpreendia com mais nada. Não se surpreenderia se seu pai fosse o próprio Hitler. A mulher aproximou-se mais e só então a garota pôde ver seu rosto,ela era a Inumana que tentara a matar em Atlanta,a Inumana da qual Patrick a salvara ... E ela não estava só,lá estava o grandalhão que tentara matar Lincoln. Por que eles trabalhavam para HYDRA ainda ? Não fazia o menor sentido.

O homem começava a diminuir a distância,a fim de pegá-la,mas antes que ele tivesse a chance a garota tirou a glock da cintura e rolou para o lado,atirando contra a dupla. O homem pareceu não sentir nada,as balas apenas ricocheteavam em seu corpo e a mulher flutuou,escapando sem maiores problemas.

– Lembre-se,a queremos viva – a loura falava num tom entediado e o homem apenas riu sadicamente.

Vê-la falar com tamanho desdém aumentou ainda mais sua ira,colara ambas as mãos no chão,fazendo toda a superfície tremer,o suficiente para derrubar a dupla e assustá-los,mas ainda não era isso que pretendia. Concentre-se,forçava-se,mas estava difícil manter-se consciente àquela altura,usou seus últimos resquícios de força para abrir uma enorme cratera no solo,cratera essa que englobou os dois inumanos e cinco casas. Sim,era isso que pretendia, pensou antes de desmaiar.