Observou os cabelos vermelhos espalhados sobre seu peito e sorriu. Mal podia acreditar que já estava casado há quatro anos com a mulher de sua vida, seu Passarinho Vermelho. Sua doce e delicada Bonnie, que havia voltado para ele.




E enquanto você dorme, de olho na janela


Eu estou vendo você sonhar


Bem você está sonhando comigo?

Ela trouxe um novo brilho para sua vida desde o momento em que esbarrara nele, naquele parque há mais de quinze anos. Ela não era apenas uma criança qualquer de cinco anos de idade, mas sim, aquela que trouxe novamente um sentido para sua existência. Ela poderia não ter os cabelos negros e nem a pele caramelo, que ele tanto adorava sentir antigamente, no entanto, possuía o mesmo sorriso doce, os olhos esverdeados que escondiam inúmeros sonhos, e uma bondade incontestável.

Bonnie Charlotte McCullough.

Desde quando a conhecera, não houve um dia em que não a observasse e a guardasse, não que fosse algum tipo de pedófilo ou maníaco, longe disso, o que nutria pela pequena garotinha ruiva, era um enorme carinho e senso de proteção. Ela era a criança que ele protegeria contra tudo e todos, pena que não mandava no destino. Quando ela tinha apenas dez anos, seus pais morreram em um grave acidente de carro, deixando-a órfã, sem ninguém, já que não tinham familiares. Ele viu a garotinha ser levada para um orfanato, ouviu-a chorar dia e noite, sentindo falta daqueles a quem mais amava na vida. Então, em um ato de loucura, roubara-a daquele lugar frio e horrível, claro que não antes de apagar qualquer documento referente a ruiva e a memória da diretora.

Ele ainda lembrava o sorriso de alívio e o abraço apertado quando ela o reconhecera na noite fria e chuvosa.

“Você veio me salvar. Eu estou com tanto medo, não quero ficar sozinha.”

O coração dele apertou ao som da voz indefesa e quebrada dela, Bonnie parecia com um pequeno e frágil pássaro bebê, necessitando de seus cuidados e carinhos.

“Você jamais estará sozinha, querida. Estou aqui para cuidar de você.”




Eu estarei lá, sempre esperando


Esperando que você me deixe entrar


Onde o fogo queima em uma cidade de anjos


Bem como o rio corre diretamente para o mar


Eu sou o único destinado para você e você para mim

No começo teve um pouco de dificuldades, afinal, nunca havia cuidado de uma criança antes, então teve que recorrer a humilhante alternativa de buscar a ajuda de Stefan e Elena – que depois de duas décadas de enrolação, resolveram assumir o amor que ainda sentiam um pelo outro. Como não poderia ser diferente, os dois ficaram chocados ao ver a ruivinha, que ele trazia agarrado em sua mão; Elena chorou e quase esmagou a garota que não compreendia, o porquê de uma louca abraçá-la com tanto fervor e desespero, mas para o seu alívio, Bonnie apenas correspondeu ao abraço e disse para Elena não chorar, pois ela não gostava de ver ninguém derramar lágrimas.

Em pouco tempo as duas se tornaram melhores amigas, apesar da enorme diferença de idade. Teve que aprender a dividir o carinho e atenção da ruivinha, porém, sempre foi para ele que ela corria quando sentia medo dos trovões, ou queria somente a segurança e o carinho de alguém, além de contar sobre tudo o que lhe acontecia durante o dia. Com sua inteligência e sensibilidade aguçadas ela sabia que havia algo de errado com sua mais nova família, mesmo assim, ela não perguntava nada, apenas dizia que confiava neles e que os amava mais que tudo.

Com o passar dos anos, de uma garotinha de cabelos rebeldes, Bonnie começou a desabrochar e a se tornar uma linda jovem de enormes e volumosos cabelos avermelhados, que tudo conseguia quando o olhava com aqueles olhos verdes de Gato de Botas. Ela gostava de cantarolar e tocar piano, por isso, ele a chamava de sua Pequena Passarinha Ruiva Desafinada, o que sempre arrancava risadas dela.

Ele conseguia se lembrar da primeira vez que passou a vê-la com outros olhos. Ela usava um vestido verde rodado na altura dos joelhos, saltos altos e os cabelos ruivos soltos em enormes cachos, no rosto uma maquiagem que realçava ainda mais seus olhos. Ela iria ao baile de formatura do Ensino Médio, ela tinha apenas 16 anos e iria acompanhada de um imbecil com hormônios em fúria, que praticamente babava nela.

“Traga-a de volta antes da meia-noite. E se tem amor a vida, mantenha suas mãos para si.”

Claro que depois de sua frase, ganhou um olhar raivoso de Bonnie, que saiu arrastando o garoto porta afora. Bufou irritado e quando estava pronto para ir atrás deles, Elena e Stefan não deixaram, alegando que Bonnie era mais madura e responsável que a maioria das garotas da idade dela e que ele não deveria acabar com a alegria dela, pois isso poderia ferir os sentimentos da ruiva.

E os dele onde ficavam? Ele apenas queria garantir a segurança de seu Pequeno Passarinho Ruivo. Contudo, aqueles dois apenas riram e disseram que ele deveria se acostumar com os garotos atrás de Bonnie, ele apenas revirou os olhos e respondeu que ela era criança demais para ficar se preocupando com esse tipo de coisa.

“Ela já deixou de ser criança há um bom tempo e você sabe muito bem disso.”

Elena resmungou antes de arrastar Stefan para o quarto, deixando um Damon pensativo para trás.

Os minutos passavam e nada de Bonnie chegar. Faltavam apenas vinte e cinco minutos para a meia-noite, quando escutou o som de um carro em frente da casa, um minuto depois uma Bonnie sorridente adentrou, levando um susto ao encontrá-lo sentado no sofá.

“Quer me matar de susto?” Ela resmungou, levando as mãos a altura do peito, mas sorriu logo em seguida, tirando os saltos e se jogando ao lado dele.

“Se divertiu muito?” Tentou soar indiferente, mas a julgar pela cara risonha dela, era óbvio que havia falhado.

“Não precisa ficar com ciúmes. Sabe que eu não o trocaria por ninguém. Você é minha pessoa preferida em todo o mundo.” A ruiva o beijou no rosto e o abraçou apertado. “Não sei o que teria sido de mim, senão fosse por você.”

“Eu sei que não vive sem mim, Passarinha.” Afagou os cabelos ruivos, inspirando o cheiro de lavanda. Ela fazia com que ele se sentisse em paz, como somente sua Judge o havia feito. As duas Bonnie's eram tão diferentes, porém, ao mesmo tempo iguais. “E não me arrependo de tê-la trago comigo.”

“E agradeço por isso.” Ela levantou o rosto, mirando-o com os olhos verdes brilhantes. “Eu te amo, Damon. Obrigada por tudo.”

E ele sentiu seu coração bater mais forte, mesmo sabendo que não deveria.




O que você quiser


O que você precisar


O que for necessário


Eu farei qualquer coisa

Quando se beijaram pela primeira vez não fora nada romântico, até porque isso não era de sua natureza e estava muito aborrecido para pensar no que fazia. Em um momento estavam discutindo – tudo porquê não aceitava a amizade dela com um idiota qualquer da faculdade, que ele tinha certeza, que somente queria levá-la para a cama – e no outro estavam se beijando. Não sabia quem havia começado, porém, só percebeu a dimensão de tudo, quando se afastaram e Bonnie o mirou com os olhos cheios de lágrimas e confusão, para logo em seguida correr e se trancar no quarto.

Foram quinze dias em que ela passou o evitando, usando as aulas e trabalhos do curso de medicina como desculpa. Elena e Stefan não perguntavam nada, contudo, tinha certeza, que os dois sabiam o que estava acontecendo, até porque Bonnie sempre contava tudo para Elena, que não conseguia esconder nada do marido e Damon estava começando a se enjoar dessa vida sem graça e monótona. Por isso, certa noite, frustrado e faminto, resolvera sair em busca de diversão e “comida”.

E assim passou um mês. Trinta dias sem colocar os pés em casa, sem falar com ninguém. Havia recebido várias ligações de todos, até mesmo de Bonnie, mas ignorava cada uma delas. Que se explodissem todos! Ele não precisava de ninguém, muito menos de uma ruiva mimada, que o fazia se sentir um idiota.

Colocou o copo vazio em cima do balcão, quando olhou para o lado e viu o irmão parado, olhando-o com repreensão, já imaginava o sermão que ouviria, porém, as palavras de Stefan fizeram seu sangue gelar.

“Bonnie está muito doente. Ela precisa de você.”

Yeah, então porque você não consegue ver?


Você é tudo que importa


Você sabe que se essa Terra rachar


Eu serei seu chão firme


Yeah, Eu estarei lá para pegar você


Quando você cair

Deveria ter imaginado que algo assim aconteceria. Há mais de dez anos, ele havia se tornado o pilar da vida dela e prometera que jamais a abandonaria, e quando o fez – por um ato de puro egoísmo – Bonnie entrou em uma espécie de depressão. Pelo que Elena contara, a ruiva passava o dia todo chorando e nas poucas horas que cochilava, acordava chamando-o e ao perceber, que ele ainda não havia voltado, ela entrava em outra crise de choro.

Afagou os cabelos ruivos desgrenhados, recriminando-se por não pensar nela antes de agir como um infeliz. Bonnie era a pessoa mais importante de sua vida, por ela seria capaz de tudo. Ela era sua melhor parte.

Ela estava com febre e murmurava palavras desconexas, mas sempre chamando-o. Deitou-se ao lado dela e a abraçou, aninhando-a junto ao seu corpo.

“Damon... volta... Não me deixe sozinha... Por favor... eu... te amo... Volta...”

“Estou aqui, Bonnie. Estou aqui...”

Depois de mais ou menos uns vinte minutos, ela abriu os olhos e quando o viu deitado ao seu lado, começou a chorar descontroladamente, jogou-se em cima dele e segurou seu rosto.

“Você voltou pra mim. Oh meu Deus! Você voltou! Por favor... não me abandone... mais. Eu ti... tive tanto medo. Tanto medo. Eu não con...sigo vi...ver sem você.”

“Eu não vou a lugar nenhum sem você. Nunca mais.” Acariciou o rosto dela, que estava molhado por causa das lágrimas. “Desculpe-me, Passarinha. Eu senti muito a sua falta.”

“Eu... te amo tanto. Tanto.” Ela murmurava, enquanto enchia o rosto dele de beijos, até que os lábios dela tocaram com os seus em uma singela carícia. “Eu te amo.” Ela aprofundou o beijo como se precisasse disso para viver.

Ele sentiu o coração dela bater descontroladamente, no mesmo ritmo que o seu. E naquele momento, ele soube que os sentimentos que sentiam um pelo outro, ia além do inexplicável.

Porque ele também a amava. Por que ela o deixava completo.




O que você quiser


O que você precisar


O que for necessário


Eu farei qualquer coisa


Se eu tiver que rastejar


Ficar de joelhos


O que for necessário,


Eu farei qualquer coisa


Oh, eu pegaria as estrelas


Diretamente do céu para você


Eu acabaria o mundo


Daria a você o sol, a lua


Por toda a eternidade


Para sempre amando você