Amandil - Sombras da Guerra escrita por Elvish Song


Capítulo 10
Nos caminhos de Mirkwood


Notas iniciais do capítulo

Bem, aqui estou outra vez - me esforcei a pedido da Lyn Black, que insistiu em outro capítulo ainda hoje, hahaha! Este vai dedicado a você, flor!



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– Meu Ilúvatar, o que houve aqui, Legolas?! – perguntou Amandil, após ter observado, penalizada, o modo como a floresta adoecia.

– A sombra no sul tem crescido depressa – respondeu Legolas – está mais forte, as aranhas têm vindo cada vez mais longe... Agora, só o que escapa à sombra é o território sob a proteção do rei. Todo o sul está tomado, mas manter nossas próprias terras a salvo já é difícil o bastante, para podermos explorar mais ao sul e descobrir a fonte deste mal.

– Mas já fomos a Dol Guldur antes... – disse a dama, meneando a cabeça – Não encontramos nada lá! E agora, surge esse Necromante, a espada Morgul e...

– Fomos a Dol Guldur há duzentos anos. – Ponderou o príncipe – quem sabe o que pode ter se ocultado por lá, neste tempo? Tauriel pretende guiar uma expedição até lá, novamente, mas nosso pai se recusa a permitir... Ela ainda não o desobedeceu, mas creio que não tardará em fazê-lo. – ele sorriu ao olhar para a elfa ruiva, sua irmã adotiva, presente em sua vida desde que podia se lembrar – ela se preocupa com o mundo lá fora. Nosso pai desaprova isso, e insiste que nosso dever é manter Greenwood a salvo. Mas como poderemos manter um reino protegido, se todo o mundo estiver corrompido e morto?

– Imagino que você a apoie. – murmurou a elfa mais moça, cuidando para não ser ouvida pela severa Amálië, a chefe dos guardas da fronteira.

– Com certeza. Por que acha que fui a Rivendell, conhecer Estel? – os olhos do príncipe disseram muito mais do que seus lábios – pode ser a chave. Ele pode ser a resposta que procuramos.

– Mas é só uma criança.

– Por enquanto... – O grupo à frente parou, obrigando o casal a silenciar. Estavam próximos à cidade, de modo que dois batedores seguiram à frente para alertar de sua chegada, ou uma dúzia de flechas seriam disparadas antes que dessem mais dez passos.

Os anões estavam muito quietos – haviam ficado assim nas últimas quarenta e oito horas – e pensativos; por precaução, Tauriel ordenara que tivessem as mãos atadas – não que algum deles realmente fosse estúpido de tentar fugir, tendo vinte e cinco elfos armados de arcos ao seu redor – mas, uma vez que vinham desarmando os prisioneiros há dois dias (havia armas ocultas até nas golas de suas camisas!), parecia o melhor a fazer, enquanto aguardavam. Ela não pretendia perder nenhum guerreiro numa tentativa suicida de fuga da parte dos prisioneiros.

Enquanto aguardavam o retorno de Amálië e Aranir – os dois elfos que haviam ido à cidade na dianteira – a capitã se encostou a uma árvore, vigilante, fingindo inspecionar suas flechas à procura de fraturas na madeira ou dentes na ponta. Estava assim, silenciosa, quando percebeu o olhar de Kili sobre si. Malditos anões, que não aprendiam a lição! No dia anterior, Legolas havia posto uma faca no pescoço de Thorin, ameaçando-o de morte se ele ousasse lançar outro olhar para Amandil... E agora, o outro anão se atrevia a olhar para ela! Logo para ela, que repelira até mesmo pretendentes da nobreza! Quem ele pensava ser?!

– O que pretendem fazer conosco? – perguntou o moço, olhando diretamente para ela.

– O que o rei ordenar que seja feito. – respondeu Tauriel, seca.

– E o que você acha que ele ordenará?

– A execução ou prisão de todos, imagino. – e estreitando os olhos – por que acha que pode se dirigir a mim, anão?

– Talvez porque você responda às minhas perguntas. – a simplicidade e ironia com que ele disse aquilo desarmaram a elfa; ela jamais fora silenciada por alguém antes, mas nunca um prisioneiro havia sido tão ousado e destemido quanto ele! Fingindo apenas desprezo, em vez da surpresa que sentia, a elfa voltou a fingir que inspecionava suas setas. Legolas percebeu aquilo:

– Estou louco, ou alguém silenciou Tauriel?

– Também notei... Decididamente, é o fim do mundo como o conhecemos... – respondeu Amandil, atônita. Sua irmã de criação era exímia guerreira, mas sua arma mais afiada eram, de longe, as palavras. E agora um simples anão a desconcertava, ainda que simples não fosse algo que podia caracterizar aqueles guerreiros. Era surpreendente, no mínimo!

Aproveitando-se da ausência de Amálië, e do fato de estarem no final da fila, o casal aproveitou para, pela primeira vez desde Rivendell, trocar um beijo cheio de saudades. O elfo passou o braço delicadamente pelos ombros de sua amada, e sussurrou:

– Fiquei tão preocupado com você, meleth nín (meu amor.)

– Senti sua falta – devolveu ela, deitando a cabeça no peito do príncipe, que beijou-lhe a tez e acariciou os cabelos macios. – é bom estar em casa, outra vez.

O príncipe ficou calado, apenas desfrutando da proximidade com sua noiva: pensava em como ela lhe falara com intensidade e paixão da missão que iria cumprir, e em como aquela missão podia ter sido definitivamente arruinada pela chefe dos guardas de fronteira. Ele faria todo o possível para libertar todos os anões – bem, talvez só o fizesse depois de matar Thorin, para que ele não ousasse lançar outro olhar de desejo a sua Amandil – e levar a cabo a missão da jovem, mas já não estava apenas em suas mãos. Primeiro teriam de ver como as coisas se passariam.

Amandil, por sua vez, tinha o mesmo assunto em mente; contava, entretanto, com uma carta na manga: Bilbo escapara às aranhas e aos elfos, decerto usando o anel do qual lhe falara em segredo... Talvez o Pequeno fosse sua chance de tirar os anões da cidade, mas isto teria de esperar pelo momento certo. Agora, só lhe restava aguardar.

A dupla de batedores retornou, trazendo consigo uma escolta a mais; em vez de armaduras de couro, estes soldados trajavam proteções de aço dourado, elmos finamente trabalhados e traziam escudos estreitos e compridos. Guardas da cidade... Eles cercaram o grupo sem nada dizer, e o acompanharam pela floresta até uma enorme muralha. Constituída por árvores a crescer umas enroladas nas outras, era monumental e, ao mesmo tempo, poderia passar por despercebida a um olhar desatento, pois fundia-se à floresta ao redor. Era parte da floresta circundante.

Um portão de duas folhas - alto como oito homens e revestido de madeira dourada, com gravuras em verde e baixos-relevos – se abriu, dando acesso a uma passarela suspensa no ar, uma ponte formada pelas raízes de uma árvore colossal, em cujo tronco se abria a porta principal de acesso à capital do Reino da Floresta. A cidade se estendia para o alto, nas copas de árvores colossais, e também para baixo, para as raízes; luzes brancas e douradas brilhavam em janelas, varandas e corredores aéreos, em meio à folhagem tingida de vermelho com o fim do verão.

Foram conduzidos através da porta principal, onde alguns guardas ficaram para trás e outro se juntaram à escolta, que os guiou por túneis e corredores que ora serpeavam por dentro das árvores, ora ao seu redor, rente ao chão da floresta. Afinal subiram uma longa escadaria, pouco íngreme, mas muito extensa, que os levou até o segundo nível da cidade; pois ali, no coração do reino, encontrava-se o grande salão do trono. Amandil prendeu a respiração ao ouvir o suave rangido da porta do salão se abrindo, e foi de olhos fechados que subiu os últimos degraus, caminhando rígida e ereta, fazendo de sua dignidade o seu escudo.

– Esperem aqui. – ordenou Tauriel, adentrando sozinha a sala do trono. Pôde-se ouvir suas palavras através da passagem aberta – Saudações, aran nín (meu rei). Trouxemos conosco os prisioneiros.

– Façam-nos entrar. – a voz masculina era forte, grave e poderosa, repleta de autoridade, mas provida de uma maciez aveludada que a tornava extremamente agradável aos ouvidos.

Legolas segurou a mão de sua noiva para conduzi-la consigo, mas ela recusou, dizendo apenas:

– Também sou prisioneira, meu amor. Já se esqueceu que infringi a lei? – e assim dizendo, juntou-se ao grupo dos anões, sem dar qualquer explicação aos elfos da escolta, que fitavam atônitos aquela dama a quem haviam visto crescer. Legolas seguiu adiante, então, e atrás dele seguiram os soldados, levando consigo os cativos.

Para aqueles que jamais haviam pousado os olhos na figura de Thranduil, o grande rei da Floresta Sombria, este foi uma figura impressionante: elegantemente sentado em seu trono, dono de uma estatura elevada e porte atlético, envergava um longo manto de prata por sobre as vestes verde-acinzentadas. Os cabelos eram tão louros quanto os do filho, e os olhos profundos, antigos e poderosos possuíam o mesmo tom de azul, encimados por sobrancelhas retas que, neste momento, estavam franzidas em desprezo pelos anões; o rosto era belo como o de um anjo, e sobre sua cabeça repousava uma coroa de ramas vivas, cujas folhas estavam tingidas de vermelho, assim como o restante da floresta. Magnífico. Majestoso.

Demonstrando a mais pura indiferença enquanto os prisioneiros eram perfilados diante de si, Thranduil perdeu toda a frieza ao ver, em meio aos anões, a figura de Amandil. Erguendo-se do trono, mal teve tempo de controlar a voz antes de indagar:

– Amandil, o que faz em meio aos prisioneiros?

A guerreira deu um passo adiante e dobrou um joelho até tocá-lo no chão, antes de se erguer e responder:

– Foram aprisionados por adentrarem seu reino, Majestade. Se são criminosos, também o sou, pois eu os guiei pelas sendas da floresta até o local onde fomos encontrados.

Perplexo com a mais nova atitude descabida da nora – embora não o demonstrasse – o soberano tornou a se sentar, e ordenou:

– Venha para o meu lado, princesa de Lothlorien. Se afirma ser culpada de algum crime, será sua mãe, e não eu, a dar-lhe punição, como manda a lei. Até lá, é minha hóspede e futura nora: não consentirei que aja ou seja tratada como menos do que isso.

– Agradeço, majestade, mas meu lugar é junto a meus amigos. – teimou a moça. – terei o mesmo destino que eles.

– Não discutirei com você na frente de prisioneiros, Amandil. Venha para meu lado: isso é uma ordem, não um pedido.

Sabendo que irritar o soberano apenas complicaria ainda mais a situação dos amigos, a dama caminhou regiamente e subiu as escadas que levavam ao trono. Legolas estava à direita do pai, e Tauriel, à esquerda, de modo que a filha de Galadriel assumiu seu lugar à direita de seu futuro esposo, lançando um olhar angustiado para a companhia. O único que parecia não perceber era Thorin, ocupado que estava em desafiar Thranduil com o olhar, projetando todo o seu ódio sobre aquele homem. O rei élfico, porém, não lhe lançou um segundo olhar.

– Deixem-nos a sós com Escudo-de-Carvalho. Não falarei aos demais: levem-nos às celas. – ele olhou para Tauriel, que assentiu com a cabeça e desceu as escadas que levavam ao estrado do trono. Antes que saíssem, porém, o monarca resolveu aliviar a angústia de sua nora – providenciem para que estejam confortáveis. Afinal, ainda não foram condenados por crime algum.

Ouvindo aquelas palavras, a jovem elfa se virou para o rei e agradeceu:

– Obrigada, majestade.

Foi só quando se viram a sós que, enfim, Thranduil desceu de seu trono e foi até Thorin. Velhos inimigos, outrora igualmente poderosos, com uma rivalidade que remontava a tempos muito mais antigos do que o nascimento de qualquer um deles, acirrada pelas disputas entre o rei elfo e a família do rei anão. Aquele seria um confronto de titãs, e a dama tremia só em pensar no que poderia resultar das palavras que seriam proferidas naquele salão. Agora, nada estava em suas mãos, nem nas de seu noivo, que entrelaçou os dedos aos seus discretamente, para acalmá-la.

– Não mostre que está tensa – sussurrou o moço para sua amada – você é a futura rainha de Mirkwood, e não uma menininha assustada. Se as coisas tomarem um rumo muito perigoso, temos ambos autoridade para intervir, até certo ponto. – ele a teria beijado, se pudesse, mas contentou-se em acariciar-lhe a mão – confie em mim, como eu confio em você, meu amor.

Anuindo discretamente, a princesa depositou toda a sua fé em seu amado; Legolas não era apenas um guerreiro, mas sim, um futuro rei, e dominava bem a arte da oratória. Talvez, pelas palavras comedidas do príncipe, que jamais se alterava ou revelava suas emoções durante uma discussão, as decisões do soberano da floresta pudessem ser modificadas. Além disso, ela mesma possuía o poder de influenciar as emoções dos outros - até certo ponto, é claro - e, embora não gostasse de fazê-lo, talvez fosse algo útil, no momento. Mas até mesmo isso dependeria dos rumos que o iminente enfrentamento iria tomar.


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Notas finais do capítulo

Reviews, pode ser?
beijos, amores!



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