Te Deum escrita por Lady Salieri


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Bom, essa fic é um presente para minha miga secreta querida do core, Ariel ninja. Fiota, amarelei geralzão, peço desculpas demais da conta, mas você tocou no meu ponto fracão que é mangá. Eu simplesmente não sei ler mangá, eu bagunço aquelas paradas da ordem tudinho e não entendo nada do que eu estou lendo e sofro e não serve pra nada.Tentei fazer o que você pediu sobre a original. Comecei a pesquisar altas coisas e achei fatos interessantíssimos sobre essas duas figuras históricas nas quais me baseio. Você é de Minss eu sou de Minss, só podia sair coisa daqui, né? xD

Como sei que você tem poesia nas veias, pesei a mão mesmo, mas deve ter ficado chata e melosa, espero que me perdoe por isso.Mas, olha, fiz de coração. E eu gostei, sério. Não sei se amanhã continuarei gostando, mas até o momento, curti de verdade.

Ah, "Te Deum" significa "A ti, Deus". Eu não pesquisei bem, mas parece um estilo de música sacra e me parece que houve vários artistas que compuseram seus "Te Deum". A que ilustra o conto abaixo pode ser escutada aqui:
https://soundcloud.com/avicennapqp/te-deum-alternado-te-aeternun-patrem-castro-lobo



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João Nunes olhava de lado a lado a catedral lotada, receoso de que o burburinho do recinto não conseguisse esconder as batidas do bumbo que lhe agrediam o peito, por dentro. E antes fosse pela visita de sua Alteza Real à Vila Rica, ou mesmo pelo fato de que Dom Pedro I assistiria sua performance… Não: ansiava o momento em que o padre João de Deus entraria, sentaria-se ao órgão e lhe faria sinal para que se iniciasse a apresentação...

Abraçou o violoncelo com força, nele desenhado o corpo do amigo. Como estaria? Quisera demasiado estar consigo nesses instantes eminentes, sabia o quão frágil era, o quão acometido era de incômodos... Deslizou os dedos pelo tampo, sutilíssimo, sentindo um relâmpago clarear-lhe a mente e ramificar-se até seu sexo.

Sodomita!

As suas culpas sabiam mais que ele o quanto o amava e o quanto o desejava no mais profundo, entre o látigo com que se flagelava pedindo perdão a um Jesus cujo torso desnudo era incrivelmente belo e os sentimentos que lhe provocavam a mais baixa das vontades.

Teve ganas de sair dali e fugir sem olhar pra trás: não merecia frequentar a casa do Senhor. Mas seu impulso foi logo silenciado pela entrada do Padre João de Deus, o compositor da peça que apresentariam ao Imperador naquele dia histórico.

Mas ele também era João, e compartilhava com o amigo partes daquele pasticcio*. Talvez tenha sido nessa comunhão de notas e de sons soprando ao altíssimo que tenha se dado conta do sublime daquelas sensações, na convivência com João de Deus, frágil e pálido como as figuras divinas que o cercavam, cujos dedos finos, e por vezes frios, conseguiam tocar as entranhas mais cálidas dos espíritos... e que por vezes tocou-lhe, em pensamento, suas partes mais sensíveis, com a mesma singeleza e fervor com que se dirigia ao Pai, ao filho e ao Espírito Santo… Que assim seja, que assim seja, que assim...


Sodomita!
Sodomita!
Sodomita!

O arco caiu trêmulo das mãos, vibrando em si os arrepios mais doentios.

O amigo olhou-o por um segundo, arqueando de leve as sobrancelhas. A alvura da pele acentuava o negro dos olhos e a preocupação latente, mesmo que suave — João de Deus não era outra coisa senão suave. Por quantas vezes imaginou aquele cenho desfigurado pelas carícias hipotéticas e pelos movimentos sincopados*, cujos staccatos* ficavam cada vez mais marcados... Os suores brotando em agudos con fuoco*, agitato*, vivace*...

Respirou fundo, ajustou o arco, e o sinal de João de Deus mostrava que começariam.

Porém, ele mesmo não soube se começou a tocar, porque as notas da canção, cravadas em sua memória, eram um mapa para outro caminho:

Te Deum, a ti, deus, meu deus, meu amigo, meu amor.


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Notas finais do capítulo

Mais uma vez, sua linda, espero que tenha gostado. Se não gostou, me fala que eu escrevo outra, porque sou dessas. Sério mesmo, pode falar sem medoo!

Botei um monte de asteriscos aí só pra falar que:

*Síncope: é uma figura rítmica caracterizada pela execução de som em um tempo fraco, ou parte fraca de tempo que se prolonga até o tempo forte, ou parte forte seguinte de tempo, criando um deslocamento da acentuação rítmica.

*Staccato: designa um tipo de fraseio ou de articulação no qual as notas e os motivos das frases musicais devem ser executadas com suspensões entre elas, ficando as notas com curta duração. É uma técnica de execução instrumental ou vocal que se opõe ao legato.

*Con fuoco, agitato, Vivace: marca de expressão musical, respectivamente: com fogo, rápido e dramático, leve e rápido.

*Pasticcio: Um pasticcio seria uma ópera feita com fragmentos de outras, do mesmo ou de vários compositores y adaptadas para um libretto novo ou já existente. E minhas fontes, como sempre:

https://www.academia.edu/1082746/A_M%C3%9ASICA_RELIGIOSA_MINEIRA
—NO_S%C3%89CULO_XVIII_E_PRIMEIRA_METADE_DO_S%C3%89CULO_XIX
https://www.academia.edu/1291050/CASTAGNA_Paulo.
—O_estilo_antigo_na_pr%C3%A1tica_musical_religiosa_paulista_e_
mineira_dos_s%C3%A9culos_XVIII_e_XIX._S%C3%A3o_Paulo_2000._Tese_
Doutoramento__Faculdade_de_Filosofia_Letras_e_Ci%C3%AAncias_Humanas_
da_Universidade_de_S%C3%A3o_Paulo._v.1_3
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Deus_de_Castro_Lobo
http://www.musicabrasilis.org.br/pt-br/compositores/joao-de-deus-de-castro-lobo
http://pqpbach.sul21.com.br/2015/03/14/pe-joao-de-deus-castro-lobo-1794-1832-te-deum-alternado-missa-em-re-maior-credo-em-fa-maior/
https://en.wikipedia.org/wiki/Pasticcio
http://escuchaopera.blogspot.com.br/2006/07/el-pasticcio.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Express%C3%A3o_(m%C3%BAsica)



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