Depois que Christian se foi eu fiquei congelada no lugar. Não conseguia me mexer nem pensar direito. O que eu estava fazendo com a minha vida? Tinha acabado de falar pro pai dos meus filho que o amava, mesmo já tendo um namorado. Que tipo de pessoa faz isso? O que eu estava pensando?

Meus pensamentos foram interrompidos quando uma enfermeira entrou carregando uma bandeja com comida. Fiquei tanto tempo pensando que nem reparei o tempo passando, já era a hora do almoço.

_Vejo que comeu tudo. – Disse a enfermeira sorrindo. _Está se sentindo bem? – Perguntou. Eu não deveria estar com uma cara muito boa.

_Estou, só estou preocupada com meus filhos. – Menti.

_Eu imagino, Eu já tenho dois crescidos e mesmo assim me preocupo com eles. Seus filhos são lindo, eu os vi na enfermaria ontem.

_Obrigada, são tudo que eu tenho. – Disse sorrindo lembrando dos meus filhos.

_Bom, vou deixar você comer. – Disse a enfermeira e se retirou.

Me forcei a comer tudo no prato, queria ficar bem logo, não suportava ficar deitada na cama, me sentia um inútil. Lá pelas quatro da tarde Kate apareceu com um enorme sorriso no rosto. Ficamos conversando e contei o que tinha acontecido. Ela ficou chocada e depois jogou na minha cara que ela sabia que eu ainda amava o Christian. Mesmo depois de escutar a opinião da Kate, minha cabeça continuava confusa. Ela tinha razão, a única que podia tomar uma decisão era eu e tinha que fazer isso rápido, antes que as coisas se compliquem. Não queria que Leo soubesse o que tinha acontecido, pode parecer injusto, mas não queria que ele sofresse por isso.

Kate foi embora lá pelas oito da noite, disse que ainda queria passar no apartamento de Christian para visitar os afilhados e ela prometei dar um beijo enorme em cada um deles por mim. Devo admitir que estava morrendo de invejada Kate, eu queria poder beijar e abraçar meus filhos, mas não seria possível por enquanto.

Leo apareceu mais tarde, teve que brigar com algumas enfermeiras, porque já tinha passado o horário de visitas, mas ele deu seu jeito. Ficamos conversando sobre nossos dias, eu escutava mais do que falava e Leo percebeu isso. Eu desconversei e disse que estava um pouca cansada e irritada de ficar sentada na cama, ele pareceu acreditar. Quando a enfermeira chegou para me medicar Leo teve que sair, o remédio me deixava sonolenta de qualquer jeito. Ele até tentou me convencer de deixa-lo dormir lá, mas eu não queria que ele dormisse desconfortável, ele teria que trabalhar no dia seguinte, precisava descansar direito.

Assim que Leo saiu do quarto, comecei a me sentir sonolenta e agradeci aos remédios, porque se dependesse de mim eu não conseguiria dormir. Não tive sonhos nem preocupações, tive um sono tranquilo e sem inquietações, mas tudo mudou quando eu acordei. Assim que abri os olhos, todo o drama do dia anterior voltou. Eu ainda não fazia a menor ideia do que iria fazer, acho que parte de mim esperava que a resposta aparecesse, como parte de mágica, na minha frente.

Não demorou muito para que uma enfermeira aparecesse com meu café da manhã, assim que ela deixou a bandeja e saiu do quarto, Leo entrou.

_Bom dia, amor! – Disse sorrindo.

_Bom dia! Chegou cedo. – Comentei.

_Queria passar mais tempo com você. – Disse me beijando e eu sorri com sua resposta. _Como está se sentindo hoje?

_Estou me sentindo bem melhor, quero sair logo daqui.

_Fico feliz que esteja melhor, mas vamos com calma. Você tem que se recuperar direito, só vai sair daqui quando o médico autorizar.

_Tudo bem... – Disse sem vontade.

_Não fica assim, é pro seu bem, amor.

_Eu sei, mas detesto hospitais e não suporto ficar nesta cama. As enfermeiras nem de deixam ir ao banheiro sozinha.

_Daqui a pouco você vai estar bem e vai poder fazer tudo o que quiser. – Disse Leo, sentando do meu lado e beijando minha testa.

Leo e eu ficamos conversando por alguns minutos, ele falava sobre o trabalho enquanto eu reclamava sobre o hospital e o quanto sentia falta dos meus filhos. Leo prometeu dar um jeito de leva-los para me visitar, mas eu disse que, mesmo morrendo de saudades, não seria uma boa ideia, crianças não deveriam ficar no hospital, principalmente a Emma.

_Ana, você pensa sobre o futuro? – Perguntou me tomando desprevenida. _Já pensou em sair daqui e ir para outro lugar? Outro pais? – Perguntou mais uma vez.

_Na verdade não. Quer dizer, eu penso sobre o futuro, mas acho que sair daqui não seja uma opção, a vida das crianças está aqui e agora o Christian está no meio... não quero criar problemas agora que as coisas estão se acertando. – Respondi, sendo sincera. Percebi que Leo ficou um pouco triste, mas não durou muito, logo ele abriu um sorriso e olhou pra mim.

_Entendo e faz sentido, não acho que Christian facilitarias as coisas. – Respondeu ainda sorrindo.

_Não mesmo. Mas e você? Pensa sobre o futuro? – Fiz a mesma pergunta.

_Claro que sim, o tempo todo e ele sempre muda um pouquinho. Mas tem uma coisa que nunca muda.

_Serio? E o que é? – Perguntei curiosa.

_Você e os meninos, vocês sempre estão lá, do meu lado. – Disse com um enorme sorriso no rosto, eu tive que sorrir com ele. _Eu imagino a gente em uma casa, não muito grande, mas o bastante para ser confortável, com um jardim enorme para que as crianças possam brincar, talvez ter uma casinha na arvore, botar um piscina no verão para que elas possa se refrescar e fazer churrascos no final de semana para nossos amigos. – Começou a falar com um olhar sonhador. _E um cachorro é claro! Eu andei pesquisando, tem uma raça que não solta pelos, seria perfeito para Emma.

_Vejo que você pensou em tudo. – Disse fazendo carinho em seus cabelos.

_Claro que sim, tive muito tempo pra isso. E ainda tem mais, eu imagino você gravida.

_Gravida? – Perguntei surpresa com a revelação. Eu nunca tinha pensado em ter mais filhos, Emma e Noah eram o bastante pra mim, não precisava de mais.

_Sim, eu considero Emma e Noah como meus filhos, mas eu gosto de imaginar uma casa cheia de crianças, de ver você gravida e estar com você a cada etapa, ver nosso bebê nascendo... – Disse dando um suspiro no final. Eu não consegui me conter, lagrimas começaram a cair pelo meu rosto. Ele planejou uma vida toda para nós eu aqui tentando decidir se ficar com ele ou não. Como eu posso ser tão idiota? _Amor, você está bem? Ta doendo alguma coisa? Quer que eu chame o médico? – Perguntava Leo desesperado, eu apenas conseguia balançar a cabeça em negação.

_Não, eu estou bem, só fiquei emocionada, é lindo que você pense assim. – Disse segurando seu rosto e olhando diretamente em seus olhos. Nesse momento eu soube a resposta. _Eu te amo, Leo e nada me deixaria mais feliz do que formar uma família com você, ter uma casa, um cachorro e mais filhos. – Disse entre soluços e me jogando em seus braços.

_Me deixa feliz que pense assim, amor. – Disse me beijando de novo.

Assim que Leo me beijou eu soube que tinha tomado a decisão certa. Sou consciente de que ainda amo o Christian, mas eu sei que com o tempo isso vai mudar e eu vou poder seguir minha vida com o Leo. Um dia serei apenas dele.

Leo e eu ficamos conversando mais um pouco, divagando sobre nosso futuro, mas em algum ponto durante a manhã ele teve que ir trabalhar. Assim que Leo saiu o vazio voltou. Tinha alguma coisa me incomodando, um aperto no peito que não conseguia explicar. Mas eu decidi ignorar, eu deveria estar me sentindo melhor, mas aliviada... é assim seria, eu ficaria bem.

Passei o resto da manhã do mesmo jeito. Terminei de ler meu livro, tomei café da manhã e voltei a ler. De tempos em tempos olhava em direção a porta esperando que “alguém” entrasse, mas ninguém veio. Kate veio de tarde assim como no dia anterior, conversamos e rimos de suas histórias. Me contou que o relacionamento dela com Elliot estava uma maravilha, ela se sentia mais apaixonada a cada dia e isso me deixava feliz, a única coisa que eu queria era que ela fosse feliz.

Leo aparecei de noite da mesma forma. Me levou mais algumas coisas, incluindo um pouco de comida do restaurante, que ele conseguiu esconder das enfermeiras, eu comi rapidamente com medo de ser pega, estava com saudades de comida de verdade. Assim que Leo se foi fiquei encarando a porta, esperando que “alguém” entrasse por ela, mas ninguém veio.

Os dias se passaram dessa forma, recebendo visitas de Leo e Kate. Elliot apareceu umas duas vezes para me visitar, assim como outros companheiros do restaurante. Kate começou a trazer notícias e fotos dos meus filhos, ela sempre passava por lá para visita-los. Sempre me mandavam beijos e pediam que eu melhorasse logo e voltasse pra eles. Isso acabava comigo, o que eu mais queria era poder abraça-los e não soltar mais. E assim se passou uma semana recebendo visitas, mas sempre que eles saiam eu encarava a porta esperando que “alguém” entrasse, mas ninguém nunca vinha.

Era segunda e o dia tinha transcorrido do mesmo jeito. Leo me visitou de manhã, mas ele parecia estranho, como se algo o estivesse incomodando, ele disse que eram coisas do trabalho, então eu deixei de lado. De tarde Kate a apareceu e ela também não parecia muito feliz.

_Você pode me dizer o que está acontecendo? – Perguntei me sentindo na escuridão, como se fosse uma criança que não pudesse saber da verdade.

_Do que você está falando? – Perguntou Kate se fingindo de desinteressada.

_Não mente pra mim, Kate. Eu conheço você e sei que está me escondendo alguma coisa. Leo veio aqui hoje e tinha a mesma expressão no rosto. O que estão escondendo de mim? E não se atreva a me dizer que é coisa da minha cabeça. - Kate abaixou a cabeça e deu o sorriso de alguém que tinha acabado de ser derrotado em um jogo de xadrez.

_Olha, eu não posso te contar... – Começou a dizer, mas eu a detive.

_Ah, vai sim! Você começou e agora vai terminar de me contar.

_Ana... – Tentou, ainda, fugir.

_Nada de Ana, eu quero a verdade. – Fui firme.

_Leo vai me matar. – Suspirou antes de continuar. _Richard fez uma oferta ao Leo. – Kate fez menção de parar, mas eu olhei pra ela exigindo que continuasse. _Ele vai abrir um restaurante na Itália e queria que Leo fosse responsável com ele, não, apenas, como um gerente, mas como sócio dele. Para isso ele teria que ir morar na Itália, Leo prometeu dar uma resposta hoje e foi isso que ele fez...

_O que ele respondeu? – Perguntei. Meu coração batia muito rápido. Em um momento eu parei para pensar que resposta eu queria ouvir. _Kate, o que ele respondeu? – Insisti percebendo que ela não queria responder.

_Ele rejeitou a oferta.

_O quê? – Perguntei surpresa. Parte de mim já sabia a resposta, mas a outra esperava que ele fosse mais inteligente e tivesse dito que sim. _Porque? Porque que ele rejeitou? Isso é uma ótima oportunidade pra ele. Ele sempre desejou subir na vida, deixar de ser apenas um gerente! – Disse desesperada. – Porque ele disse que não? – Kate olhou pra mim por uns segundos e eu entendi. _Foi por mim... ele não aceitou por minha causa. – disse respondendo minha própria pergunta. Nesse momento lembrei nossa conversa de dias atrás. “Ana, você pensa sobre o futuro? Já pensou em sair daqui e ir para outro lugar? Outro pais?” Foi por isso que ele perguntou, ele queria ir para a Itália comigo e com as crianças.

_Ana, você está bem? – Perguntou Kate preocupada.

_Não, eu não estou. Kate eu cometi um grande erro. – Disse começando a chorar.

_Ana, respira, não estou entendendo nada.

_Eu nunca vou ama-lo da mesma forma que ele me ama. Nunca vou poder corresponder seu amor e mesmo assim insisto em mantê-lo amarrado a mim. Ele foi capaz de desistir de seus sonhos por mim e eu não sou capaz nem de estar com ele sem pensar no Christian! – Disse quase gritando.

_Oh, Ana. Eu não sei o que falar... – Kate se sentou na cama ao meu lado e começou a acariciar meus cabelos.

_Eu estou fazendo tudo errado, Kate. Eu achei que tivesse tomado a decisão certa, mas não consigo parar de pensar no Christian e no porque ele não veio mais. Por mais que eu tente me convencer que Leo e a escolha certa, continuo sentindo este aperto no peito. E agora, está noticia é mais uma prova de que eu estou arruinando a vida do Leo. – Desabafei de uma só vez aquilo que estava me incomodando. Eu sentia sua falta, queria vê-lo.

_Você não está arruinando a vida de ninguém, Ana. Leo é um homem crescido e sabe tomar suas decisões. Mas se você sente que não fez a escolha certa é porque, talvez, não seja.

_O que eu vou fazer, Kate?

_O que eu já te disse uma vez, amiga. Seja sincera consigo mesma, escute seu coração e faça o que quer, não o que acha certo ou seguro. A vida é curta demais para ter medo, Ana.

_Eu preciso de um tempo a sós. – Foi o único que consegui dizer. _Leo deve chegar daqui a pouco e eu preciso me preparar para essa conversa. – Disse ainda chorando.

_Tudo bem. – Kate beijou minha testa. _Boa sorte, amiga. – Disse andando em direção à porta.

_Kate? – A chamei antes que ela saísse. Kate se virou e olhou pra mim. _Obrigada. Você é a melhor amiga que alguém poderia ter.

_Eu sei. – Disse sorrindo e saiu pela porta.

Fiquei sentada na cama tentando me acalmar, as lagrimas não caiam mais pelo meu rosto, mas o nó na garganta e a dor no peito permaneceram. Kate tinha razão. Por quanto tempo eu continuaria mentindo pra mim mesma? Eu amo o Christian, e posso até amar o Leo, mas não há comparação. Christian vai ser sempre o dono do meu coração. Demorei três anos para chegar a essa conclusão, três anos de dor e solidão para, finalmente, entender que, não importa o quanto eu fuja ou negue, jamais amarei alguém como eu amo Christian Grey.

Assim que cheguei nessa conclusão soube que tinha que fazer uma das coisas mais dolorosas que já fiz, machucar alguém que eu amo, terminar com o Leo. Ele me odiaria, eu sabia que sim. Jamais olharia pra mim de novo. Esse simples pensamento acabava comigo, não suportava a ideia de perde-lo, não dessa forma. Pode ser egoísta, mas Leo é uma pessoa importante pra mim e não quero que ele saia da minha vida. Mas eu sei que isso não depende de mim e sim dele.

As horas passaram e eu ficava cada vez mais nervosa. Meu coração para brevemente quando ouvi a porta se abrindo. Leo entrou com um grande sorriso no rosto.

_Oi, amor. Desculpa pela demora, tivemos algum problema com os pedidos de vinhos. – Disse apressado. _Você está bem? – Perguntou olhando pra mim.

_Porque você não me contou sobre a proposta de Richard? – Perguntei logo. Queria terminar com isso antes que eu perdesse a coragem. Leo respirou fundo antes de responder.

_Kate te contou não foi? Vou matar aquela loira. – Disse resmungando, mas mantinha um sorriso no rosto.

_Porque não me contou? – Perguntei de novo.

_Porque não tem importância, amor. – Falou como se fosse a coisa mais simples do mundo.

_Não tem importância? Você está brincando comigo? É uma grande oportunidade pra você. Você sempre sonhou em deixar de ser um gerente, em crescer na vida.

_Sim, mas nada disso importa se eu não tenho você comigo. – Disse efusivo.

_Você tem que aceitar. Não, você vai aceitar. – Disse firmemente.

_Do que você está falando, Ana? Já conversamos sobre isso, você não quer sair do país e eu não vou a lugar algum sem você. – Nesse momento as lagrimas começaram a cair de novo, doía demais ter que machucar o Leo dessa forma.

_Eu não posso mais. – Disse colocando uma mão em meu peito.

_Amor, o que está acontecendo? Do que você está falando? – Perguntou confuso me envolvendo em seus braços.

_A gente, não posso mais fazer isso. Não posso te prender aqui quando jamais serei capaz de retribuir o amor que você sente por mim. – Leo se separou de mim e me olhou de frente.

_Você está terminando comigo? – Perguntou confuso e podia ver lagrimas se formando em seus olhos.

_Me desculpa, Leo. Eu tentei. Tentei ser a mulher que você merece, mas não sou e jamais serei. Você merece alguém que te ame, que se entregue a você cem por cento. Merece receber de volta todo o amor que você entrega, eu jamais poderei fazer isso. Me perdoa. – Disse em uma suplica.

_É por ele, não é? – Perguntou ficando de pé e ficando de costas. Eu não conseguia responder o choro era tão intenso que as palavras não saiam mais da minha boca. Leo se virou e ficou de frente pra mim. Seu rosto era a definição da dor, provavelmente, assim como a minha. _No fundo eu sempre soube, mas achei que fosse capaz de fazer você esquece-lo. Vejo que estive enganado.

_Leo... por favor... – As palavras mal conseguiam sair.

_Eu só espero que você seja feliz e que não se arrependa de sua decisão, Ana. – Disse me dando um beijo na testa e correndo pra fora do quarto. Eu tente detê-lo, mas não conseguia falar, apenas soluços de dor saiam pela minha boca.

Afundei a cabeça na almofada tentando abafar meu choro, mas estava sendo difícil. Escutei a porta se abrindo e levante a cabeça esperando encontrar com o Leo. Mas no lugar dele me deparei com aqueles olhos acinzentados, com os que sonhava todas as noites. Aquele “alguém” por quem eu estive esperando, finalmente veio.

Christian entrou pela porta, mas ficou de pé olhando pra mim por alguns segundos, ele parecia não entender o que estava acontecendo. Mas assim que um soluço escapou pela minha boca, ele se aproximou de mim sentou na cama e me abraçou. Estando em seus braços eu me senti segura e completa... mas a pesar disso a dor continuava a me torturar. Eu continuei chorando ainda mais forte, me agarrando nele como se fosse um salva-vidas. Christian não disse nada, apenas continuou me abraçando e fazendo carinho em minhas costas. Eu só desejava ter feito a escolha certa.