Sui Generis escrita por Human Being


Capítulo 2
Terceira Lei de Newton: Toda ação provoca uma reação de igual intensidade, mesma direção e sentido contrário...




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Em outro dia de sol a pino na Grécia, quatro homens de poderes incríveis e de força cósmica...

...Se reuniam para um carteado.

– P*** que o pariu, Kanon! - Aiolia resmungava enquanto Kanon vencia mais uma rodada do jogo de pôquer. -Você só pode estar roubando!

– P*** que o pariu digo eu, já vão começar a me acusar de novo! Olha o falso testemunho! E eu não tenho culpa se vocês não sabem jogar.

– Nossa... Quando eu dizia que o Aiolia não tinha modos, tanta gente não me dava razão... Que boca, hein?

– Ui, Milo, desculpe por ofender seus sensíveis ouvidinhos, eu me esqueci que você só anda com gente fina e educada, tipo o Camus! A propósito, pretende começar a falar palavrão em francês também?

– Oh, Aiolia, pois me perdoe por reprovar essa sua boca suja! Mas pensando melhor eu vou é falar com o Aiolos para que ele venha te passar um bom sabão nela, que você bem que anda precisando.

– Vocês dois, vamos parar? – Mu suspirava, entendendo pouco do jogo em que entrara por insistência do Leão e por ser o único cavaleiro, além deles três, que estava em seu templo com tempo livre para gastar.

Todos eles foram interrompidos bruscamente por uma voz grossa e tempestuosa.

– Achei vocês!

Olhos esbugalhados pelo terror se voltaram ao dono da voz, ninguém menos que... Dohko de Libra.

– Oh, não... – Mu disse entre os dentes.

– Tarda, mas não falha... – Suspirou Kanon em voz alta.

– Mestre ancião! – Milo levantou-se num salto para uma mesura ao remoçado cavaleiro e foi imediatamente repreendido por discreto peteleco de Aiolia, que achou por bem permanecer calado.

– Bem que eu estava precisando de quatro valorosos cavaleiros! - O mestre em questão olhava os quatro com um ar vitorioso.

Os quatro valorosos cavaleiros em questão trocaram olhares entre si.

– Fedeu. – Kanon sussurou ao cavaleiro de Leão entre os dentes.

– Fale por você, pois foi você quem começou a história toda. Lembra, Princesinha do Mar? – Rebateu Aiolia, também entre os dentes.

– Mas pelo que me lembre, foi a sua gargalhada que ele ouviu, Gatinha Dourada.

– Aham, os dois já pararam de trocar gentilezas? – Dohko interpelou Gêmeos e Leão, interrompendo a conversinha. – Não estou aqui atrás de vingança, não sou uma pessoa mesquinha. Na verdade, vim convocar vocês quatro para uma importante missão.

– Nós quatro..? – Mu perguntou com um tom interrogativo na voz. Mas em seu íntimo sabia que era inútil.

Após todo o episódio ocorrido na assembléia com a Deusa, todos se divertiram muito, mas eles quatro ficaram especialmente marcados: Fora Kanon quem começara a piada, Aiolia que começou a gargalhar descalabradamente, Milo que se empenhou em explicar a piada a todos e ele, Mu, quem levara o caso aos ouvidos do Mestre Shion...

...E que agora, sem quê nem por quê, eram convocados para uma “importante missão”.

– De fato, Áries. Nós partiremos em dois dias. - Que jogada perfeita do menino moço de alma bicentenária. - Espero que vocês estejam prontos na manhã de depois de amanhã, em frente à sala do grande mestre.

– Ah, Mas honorável Mestre Dohko... – Kanon baixou a cabeça, no seu melhor estilo 'cavaleiro-dourado-arrependido-convertido-ao-bem’. – ...Temo eu que não poderei levar a armadura de Gêmeos... É Saga quem a porta agora.

– Mas poderá levar sua escama de Dragão Marinho. Ademais, você foi um dos primeiros nomes que me veio à cabeça exatamente por essa sua 'peculiaridade'. Até pedi autorização ao seu outro superior imediato e ele te liberou para essa missão sem problemas.

Dohko não dizia isso à toa.

Kanon, por incrível que parecesse, não foi destituído de seu posto de Dragão Marinho depois que os cavaleiros, espectros e generais marinas foram trazidos de volta graças à graça de Zeus Todo-Poderoso. Assim, tornou-se ao mesmo tempo o segundo portador da armadura de Gêmeos e o General Marina de Poseidon; tudo isso graças a um arranjo entre o Deus dos Mares e Athena, agora inacreditavelmente próxima a Julian Solo. Afinal, depois de todos os ocorridos (isto é, Seiya engatar um namoro açucarado com a amiga de infância Miho e decepcionar mortalmente uma deusa encarnada e também uma certa amazona), Saori Kido e jovem magnata estavam descobrindo que tinham... muito em comum, por assim dizer.

Assim sendo, de cavaleiro sem armadura, Kanon passou a ser o único do Santuário que acumulava funções. Não que ele reclamasse muito: apesar do serviço muitas vezes dobrado, ele também podia acumular os soldos.

Mas isso não o enganava. Ele, melhor do que ninguém, sabia por que fora chamado para essa missão.

Os quatro baixaram as cabeças, resignados. Mais uma jogada perfeita do menino moço bicentenário, de novo.

OOO

Província de Quing-hai(1), China.

Em meio à bela e montanhosa paisagem daquele recanto rural da China, cinco belos rapazes andavam carregando mochilas e pesadas caixas douradas, em variados estados de humor.

– ´Tamos chegando? – Rosnou Aiolia.

– Só mais um pouco e levantaremos acampamento. – Disse Dohko, ostentando sua melhor pose 'para o alto e avante'. – Aguarde e confie.

– Acampamento? De novo? – Milo choramingou; saudoso de seu quarto com uma enorme banheira quentinha, cama com um imenso colchão de molas, coberta com lençóis de algodão egípcio e travesseiros de plumas de ganso. – Gente, pelo amor dos deuses do Olimpo...

– Eu disse ao Shion que vocês não deviam ter tanta mordomia nas doze casas. Agora ficam aí, reclamando por qualquer coisinha.

Aiolia daria uma resposta à altura, se Mu não chamasse sua atenção discretamente para cochichar em seu ouvido.

– Melhor não. Senão vai começar uma história sobre como ele passou esses últimos dois séculos nos cinco picos morando praticamente numa tapera.

– Vai me falar que você não se incomoda de passar mais uma noite nesses sacos-de-dormir sebosos?

– Bem, você bem sabe que em Jamir eu não tinha dessas regalias...

– Ele se incomoda sim. – Rebateu Kanon, ajeitando a bagagem nas costas. – O que é bom vicia. Eu me incomodo, e olha que vocês sabem que eu já tive que dormir em lugares bem piores que uma tapera em Rozan.

– Mas bem que gosta de mordomia que eu sei. – Rebateu Aiolia.

– Gosto, claro, que eu não sou besta.

– O que disse, Kanon? – Dohko interrompeu a conversinha paralela, voltando os olhos inquisidores para o colega que acabava de falar.

– Eu disse que estaria na hora de tirarmos uma sesta...

Dohko estreitou os olhos, mas acabou concordando.

– Já que insistem tanto, vamos montar acampamento aqui. Não estamos longe, e o clima é agradável. E vocês tem muito espaço para treinar.

– E, tipo assim, nós viemos até aqui pra treinar? – Aiolia pensava estar vivendo um pesadelo.

– Não subestime o poder transformador do treinamento, rapaz. Esse lugar tem alguns mistérios que pretendo averiguar a fundo. Ademais, é um excelente campo de treinos. Só devem tomar muito cuidado, essa região é cheia de perigos.

Os cinco rapazes levantaram acampamento em uma bela planície nas proximidades de um bonito lago, perto de uma vila onde Dohko pretendia iniciar seus trabalhos investigativos para, talvez, descobrir quais eram esses ‘perigos’ de que ele tanto falava.

OOO

Alguns dias se passaram e, apesar dos períodos de treinamento, os quatro cavaleiros ficavam sem ter muito o que fazer enquanto Dohko continuava seus trabalhos investigativos pelos vilarejos ao redor.

– Ok, ok... Aqui é muito bonito e tudo, mas eu estou oficialmente entediado, fora esse calor horroroso. – Kanon já não agüentava mais dormir no acampamento e ficar tanto tempo longe do burburinho do Santuário. – Aliás, alguém entendeu por que é que não podemos nadar no lago?

– Também não entendi. – Mu se entretinha luzindo sua armadura pela enésima vez.

– Foi pra isso que perdemos o Baile Sem Máscaras das amazonas? – Milo era, talvez, o mais agastado entre os cavaleiros ali presentes, com o mau humor palpável. E, como era de hábito em situações como essa, começava a se estranhar com os demais, especialmente Aiolia.

– Tanto mau humor porque deixou de ver a Shina sem máscara? – Kanon provocou, rindo.

– Eu não tenho interesse nenhum em ver aquela mulher sem máscara. Não sei de onde vocês tiraram isso.

– Claro, Milo, claro. – O general marina suspirou divertido. – Não que seja alguma novidade, aliás. Pelos deuses, até eu já vi a Shina sem máscara.

– Viu quando? - Aiolia começou a se interessar pelo assunto.

– Lá no templo do Poseidon ela não inventou de enfrentar o próprio? Ele quebrou a máscara dela. E aí ela teve que desfilar o rostinho para todo mundo ver.

– Eu também nunca a vi sem máscara. Mas o Kiki me disse que ela é muito bonita, e eu duvidei. – Disse Mu, casualmente. – É verdade?

Milo levanta uma sobrancelha, apesar do tão propalado desinteresse. Aiolia suspira, olha para os lados e, verificando que o ambiente era seguro (nunca se sabe), emite sua opinião.

– É linda. – Diz o leonino, em voz baixa. - Tem um olhão verde, um rostinho de boneca, a boca bem-feita é uma tentação. Fora aquele corpo dela, né...

– Mas a Marin não se importa de você ter reparado tanto assim na colega dela? – Kanon riu, divertido.

– Não é que eu tenha reparado não! Tou dando a minha opinião sobre um assunto técnico com todo o respeito. Mas... eu não vou mentir que é pecado. Né, Kanon? Você que também viu ela, concorda?

– Ah, olha, é bem bonita sim, mas na hora eu juro que nem reparei muito... Sabe, levando um tridente no peito e aquela coisa toda...

– Mas Mu, pra que é que você quer saber, hein? Tá interessado? – Milo tentava parecer casual, mas sua voz estava num tom levemente acima do normal.

– Eu? Não! Só perguntei por perguntar...

– Mu, você vai mesmo furar o olho do Milo desse jeito? – Kanon, sentindo a beligerância de Milo e a postura defensiva que isso desencadeou em Mu, estava começando a se divertir de verdade. - Isso não é o tipo de coisa que se faz com um companheiro de armas...

Milo já ia rebater algo, mas foi interrompido pelo raciocínio de Aiolia.

– Não, Kanon, peraí. Ela e o Milo não tem nada um com o outro, então o Mu não tem que ficar com esse pudor moral todo não! Aliás, bem que ela anda precisando de uma boa companhia masculina pra esquecer o Seiya e ver se desestressa.

– Aiolia, deixa de bobagem! – Mu arregalou os olhos, corando levemente à simples menção do que poderia significar a insinuação do outro. – Além do que você sabe que o Milo...

– Ó, Mu, vem cá: Tá escrito na testa dela "Pertence ao Milo"? Não tá. Até porque, sinceramente, ele teve todo o tempo do mundo pra tomar uma atitude, mas não. Ao invés disso ficou chamando ela de 'mulher-cavaleiro'. Agora taí: O Seiya a viu sem máscara, ela gamou e deu aquela m**** toda...

Milo levantou as DUAS sobrancelhas. Aiolia estava mexendo num vespeiro.

Voltando algum tempo na memória dos cavaleiros do Santuário, era público e notório o interesse de Aiolia na amazona de Águia. E ele, para garantir seu espaço com sua pretendida, não perdeu tempo e fez o que pôde para se aproximar dela: declarou aos cavaleiros de ouro que ele tinha visto primeiro, que quem chegasse perto da moça teria de se entender com o Leão Dourado, e (sacrifício dos sacrifícios!) até mesmo ajudou a treinar seu então pupilo Seiya. Lógico que depois de toda esse exemplo de dedicação (e porque não dizer, insistência), a amazona japonesa acabou por render-se aos seus encantos e eles viraram um casal feliz.

Já Milo, orgulhoso como sempre foi, parecia ter um notório interesse pela amazona de cobra, mas que não fazia público de jeito nenhum. A propósito, implicava com a subalterna por qualquer motivo e razão; inclusive a apelidando de 'Mulher Cavaleiro' em homenagem ao seu temperamento combativo e maneiras de... bem, amazona. Resultava que os dois não perdiam nenhuma oportunidade de ficarem se bicando, numa demonstração óbvia de tensão sexual mal resolvida... Até que, na ocasião das batalhas anteriores à Guerra das Doze Casas, Seiya acabou vendo a amazona sem máscara. Inexplicavelmente, ela acabou se enamorando do rapaz, e Milo...

...

Casa de Aquário (onde Milo ia desopilar o fígado com crescente freqüência)...

– Amazona fraca! Fraca, fraca, fraca, FRACA! Onde já se viu, deixar um cavaleirinho de bronze ver o rosto dela!

– Milo, se acalme, você está gritando muito alto, olha o vexame...

– Vexame mesmo! Nem pra matar esse projeto de traidor a desgraçada serve! Está gostando dele, Camus, daquele cavaleirinho de m****!

– Milo, calma, fala mais baixo que assim o Santuário inteiro vai...

– Esse Santuário também, vou te contar... Olha a qualidade de gente que tem nessa birosca! A líder das amazonas do santuário gamada num fedelho de bronze! De BRONZE, Camus! Ainda por cima, um dos traidores lá do Japão! Nem pra pôr o dever dela acima disso ela serve! Traidora, traidora, TRAIDOOOOORA!

– Milo, calma, que...

– Cachorra! Safada! Traidorazinha de m****! Se fazia de durona, orgulhosa, metida a mulher macho, tudo fachada! ORDINÁÁÁÁRIA!

– Sério mesmo que esse escândalo todo é porque aquele ex-pupilo da Marin viu a Shina de Cobra sem máscara? – Na entrada da Casa de Aquário, Afrodite de Peixes tentava entender, sem sucesso, a razão para tamanho descontrole. – Antes fosse por uma supermodelo deslumbrante, mas por uma amazonazinha mascarada?

– Ah, mas aqui pra nós, eu sempre achei que por baixo daquela máscara deve ter uma menina bem pegável. – Máscara da Morte confabulava com Shura, também atraído pela comoção em Aquário. - Aquele corpinho não engana...

– Bonita eu sempre achei que ela fosse, mas... Sei não. Amazonas dão muito trabalho, essa história de matar ou amar... Não compensa. – Shura concluiu seu raciocínio.

– ...Eu vou lá! – Milo, que não havia parado de falar, agora bradava sua raiva.

– Não, Milo, peraí... – Camus já estava exasperado pela confusão gratuita. - Vai aonde, criatura?

– Ora onde, eu vou esfregar na cara daquela amazona de quinta categoria a pessoa ORDINÁRIA, TRAIDORA E FRACA que ela é! Se ninguém aqui tem peito pra enfiar juízo na cabeça daquela cobra, eu mesmo o farei!

– Opa, que tá começando a ficar bom... – Afrodite deu um sorrisinho malvado, imaginando a cena que se descortinava em sua cabeça: Milo de Escorpião dando um sabão em Shina de Cobra por ciúmes.

– Milo, ficou doido?

– Me solta, Camus, que eu VOU LÁ!

– E vai lá falar o quê? Que ela não tem o direito de se apaixonar pelo Seiya?

– Isso mesmo!

– E quem é você pra dizer isso pra moça? – Shura resolveu interromper.

– Como é que é, Capricórnio? – Milo, em sua sanha, não percebia a pequena platéia que se formava na casa de Aquário às suas custas.- Como assim, quem sou eu?

– Isso que você ouviu: Com que direito você vai chegar pra Shina e dizer que ela não pode se apaixonar pelo franguinho de bronze?

– Ora, com o direito de que eu sou um CAVALEIRO DE OURO SUPERIOR A ELA!

– Ah, então tudo bem.. – Observou um Máscara da Morte risonho. - Porque eu estava com a impressão de que fosse uma crise de ciúmes da sua parte, pelo visto me enganei...

Afrodite abafou uma gargalhada enquanto Shura se segurava também para não rir.

– Hein? Mas isso é um absurdo! Camus, você está escutando o que esse degenerado está dizendo?- Camus, ao olhar desconcertado para o amigo, mostrava que também concordava com o italiano. - Mas vocês só podem estar malucos! Eu, Milo de Escorpião, membro da elite dos cavaleiros de Athena, com ciúmes de uma reles amazona de prata?

– Milo, aí, não vai lá confrontar ela não? – Afrodite sorria malevolamente. - Se quiser eu vou contigo pra te dar apoio moral...

– Afrodite, pára de botar lenha na fogueira! – Exasperou-se Camus.

– Seus palhaços! Pois saibam que ninguém causa ciúmes em Milo de Escorpião! Vocês estão me achando com vocação pra ser um pau-mandado de mulher que nem o Aiolia, que vive arrastando as calças atrás da Marin de Águia?

– Como é que é? – Disse o cavaleiro de Leão que chegava por ali, atraído pela gritaria. – Quem é que é pau-mandado, Bicho?

Valeria a pena ressaltar que, em condições naturais, ele já não era o fã número um do cavaleiro de Escorpião.

– Ora, quem. Você, Aiolia. Pau-mandado de mulher, foi isso que eu falei!

– Ô Milo, fique sabendo o senhor eu não sou pau-mandado de ninguém! Mas, se eu sou um cara feliz e bem acompanhado e certamente que isso te incomoda, o problema é seu, que tá aí, sozinho e morrendo de CIÚMES porque foi preterido por um cavaleiro de bronze!

–Ih, cacete... – Shura suspirou.

– O-que-foi-que-você-disse?- Silvou Milo, aproximando-se de Aiolia já em posição de ataque.

– O-que-você-ouviu! – Aiolia imitou o tom de Escorpião, sem recuar um milímetro. - Você está aí MORTO de CIÚMES da Shina porque ela está gamada no SEIYA!

– Não é nada disso, seu IDIOTA!

– Idiota é você, que ficou desprezando a cobra e agora que ela está gostando de outro fica aí todo cheio de fricote, reclamando feito um maridinho traído! Bem feito, a fila andou! Se ferrou! Há, pois agora fique aí, morrendo de CIÚME!

– Eu-vou-te-MATAAAAAARRRR...

E a guerra de Mil Dias só foi impedida graças à intervenção de Shaka, que subia as escadas furibundo pela gritaria que chegava até a casa de Virgem e impedia sua meditação transcendental.

...

Milo levantou-se, quebrando o silêncio com um olhar assassino no rosto.

– Olhe, Leão, nós já tivemos essa conversa, mas como você é um idiota teimoso, não custa repetir: eu não tenho nada com a amazona de cobra e NÃO QUERO ter nada com essa pessoa. Por mim ela pode fazer uma orgia com vocês que eu tô pouco me lixando!

– Gente, vamos mudar de assunto? – Mu pressentia o clima pesado, recordando-se que, pelos relatos de Aldebaran, da última vez que esse tema foi tratado pelos nobres cavaleiros em questão Shaka tivera alguns problemas para contornar os ânimos.

– Tá pouco se lixando, é? Conversa, Escorpião! Tá aí todo tristonho porque não vai poder ver sua musa sem máscara que eu sei.

– Sabe nada, imbecil. Aliás, vê se pára de me encher com esse assunto, que eu tou de mau humor!

– Gente, vamos mudar de assunto? – Mu continuava tentando dissolver o climão, enquanto os olhos de Kanon passeavam de um briguento para o outro.

– É, Escorpião Dourado, a verdade dói... - Aiolia, porém, não parecia disposto a deixar Milo com a última palavra e decidiu arrematar. - Está de mau humor porque não vai poder ver a moça sem máscara, isso sim. Mas, pensando bem, é melhor isso do que ter que passar pelo constrangimento de ver ela correndo atrás do Seiya o tempo todo e te ignorando...

– Cala a boca, seu idiota! – Milo bufava, já corado de raiva.

– Aiolia e Milo, pelos Deuses, VAMOS MUDAR DE ASSUNTO? – Mu já estava exasperado, enquanto Aiolia concluía seu raciocínio.

– ...Porque, você imagine se ela consegue ficar com o Pégaso... Hein? – Aiolia já tinha levantado, continuando a discussão, e os dois se encaravam como galos de briga. - Porque sinceramente, eu não entendo como o Seiya deixa uma mulher daquela por conta daquela namoradinha sem sal que ele se arrumou, mas gosto não se discute, se lamenta. Agora imagina aí, se ele resolve reconsiderar a opinião dele... Ele e a Shina de namorinho, já imaginou? E você lá com uma p*ta cara de corno...

Dito isto, o ar ficou subitamente denso como chumbo, e algum observador atento poderia jurar que nuvens negras magicamente apareceram no céu.

Mu e Kanon se entreolharam, pressentindo que teriam problemas.

– Repete, miserável. – Disse Milo entre os dentes.

– Qual parte? – Rebateu Aiolia, já em posição de ataque. - A de você ser um idiota ou a de ficar com cara de corno?

– Aiolia, pode encomendar seu caixão... – Milo tomou posição e seu cosmo começou a reluzir agressivamente.

– Opa, opa, opa! Sem cosmo, sem cosmo! Se é pra brigar, tudo bem, mas é briga sem cosmo! – Kanon tentou contemporizar, mas era tarde. - Não, não, peraí, vocês dois!..

– ...Agulha escarlate! – Milo disparou seu golpe contra o cavaleiro de Leão, que foi acertado no ombro e soltou um grito de dor.

– É assim? Então toma, imbecil! Cápsula do poder!

A briga agora era uma batalha entre o cosmo de dois cavaleiros de ouro, que Mu tentava separar com um Muro de Cristal enquanto desviava dos golpes, mas o golpe de Aiolia o forçou a sair do meio. Já Kanon tentou desviar da briga, e acabou perto de um barranco próximo ao lago onde, segundo Dohko, não podiam nadar. Observando mais atentamente, porém, Kanon viu que Mu voltara para o meio do embate, e agora acabava de entrar na linha de fogo de um Relâmpago de Plasma que Aiolia estava por disparar, já que Milo o continuava acertando com suas Agulhas escarlate. E, praguejando, resolveu entrar no meio da confusão armada para pelo menos tirar o lemuriano de lá.

Isso o colocou na linha de fogo da Restrição lançada por Milo, e que o acertou ao invés de Aiolia, que acabou lançando seu golpe.

Que o acertou em cheio.

Kanon teve tempo apenas de acender seu cosmo para diminuir o poder do golpe e tentar se proteger. É certo que nenhum lutava com suas armaduras, e então não usavam os golpes na potência máxima, mas ainda assim os golpes estavan bem destrutivos. Ainda que com seu cosmo ele conseguisse prevenir o grosso do impacto, Kanon duramente atingido, perdendo a consciência enquanto era arremessado para longe.

Mu, Aiolia e Milo assistiam, como que em câmera lenta, o cavaleiro de Gêmeos voar em direção ao lago que felizmente estava lá para amortecer a queda e prevenir algum machucado mais sério. Viram-no afundar, inconsciente, esperando que ele voltasse à tona, furioso, para chutar-lhes o traseiro pela confusão gratuita. Era o que se esperaria de Kanon, que apesar de cínico, malandro, frio e calculista, se tornava um grande problema quando perdia a cabeça de vez.

Além disso, Dohko acabava de chegar e presenciara a cena final do infame combate com os olhos arregaladíssimos.

– Tá vendo o que vocês fizeram? Eu juro que vou deixar ele explodir vocês até o Santuário! – Mu estava furioso. – Roshi, eu tentei impedir esses dois idiotas, mas eles não...

– Oh, não...- Dohko não pareceu escutar o cavaleiro de Áries, e estava aparentemente muito preocupado. – Pelos Deuses, não...

– Gente, olha só, Kanon já não devia ter nadado de volta pra cá? – Aiolia também se preocupava, pois o cavaleiro de Gêmeos continuava submerso, provavelmente inconsciente. E, apesar de sua estadia na prisão do Cabo Sounion e de seu posto como General Marina, Leão ainda tinha certeza de que Kanon não desenvolvera guelras para respirar na água.

– O que você acha que está fazendo? – A atenção de um alterado Dohko de Libra foi atraída por Milo que começava a tirar os sapatos

– Ora, vou tirar ele de lá, ele deve estar desmaiado e...

– NINGUÉM ENTRA NESSA ÁGUA! JÁ BASTA O QUE VOCÊS FIZERAM! – O ex-ancião agora aparentava estar às raias do desespero. – Pelos Deuses...

– Mas Mestre, Milo tem razão, ele pode mesmo ter desmaiado e... – Mu tentava contemporizar, apesar de não entender porque Dohko, usualmente tão calmo, estava tão alterado.

– EU SEI! EU SEI! Mas nenhum de vocês vai entrar lá! Eu disse, eu avisei! Mas vocês não me ouvem! Oh, céus...

– Não quero nem saber, eu vou até lá. – Aiolia estava se sentindo culpado, mas foi brutalmente interrompido pelo cavaleiro de Libra.

– Qual a parte de 'ninguém entre nessa água' você não entendeu? – Dohko quase gritava - Mu, teleporte ele para cá.

– Quê? Não! Eu não estou vendo ele, como eu vou fazer isso? Eu não posso...

– Pode, e vai fazer!

– Olha, eu posso nadar até lá e me teleportar para cá, mas...

– FAÇA O QUE EU ESTOU MANDANDO! ANDA!

– E se ficar alguma parte dele pra trás?

– A-GO-RA!

Mu concentrou-se olhando para onde Kanon havia caído e, num esforço sobre-humano, o suspendeu junto com uma grande quantidade de água; para depois separá-lo da massa de água e teleportá-lo para perto de onde estavam. O corpo de Kanon caiu de bruços no chão aos seus pés, enquanto ele caía de joelhos pelo esforço que fizera.

Dohko precipitou-se sobre o cavaleiro inconsciente, virando-o de lado. Reluzindo seu cosmo, fez com que ele voltasse a respirar.

Mu, ajoelhado como estava, começou também a ajudar Kanon a se recompor, sustentando seu rosto de lado para que ele pudesse jogar mais água para fora, sem engasgar. Não deixou de perceber, porém, que alguma coisa estava errada.

Muito errada.

É certo que Mu era ciente do fato de que Kanon era, assim como Saga, portador de grande beleza física(2) e talvez apenas menos bonito do que Afrodite de Peixes. Mas ele nunca havia lhe parecido tão... bonito. Não que ele reparasse em homens, esse absolutamente não era o caso, mas... Seu rosto sempre fora assim tão delicado?

E por que ele parecia... menor?

Dohko agora estava paralisado, com os olhos esbugalhados numa expressão de assombro nunca antes vista pelo jovem lemuriano. E Mu, ao percorrer com os olhos o corpo do companheiro ainda inconsciente, também se assombrou. Milo e Aiolia, que também se ajoelharam para ajudar, pareciam simplesmente estupefatos.

Não era impressão, ele estava menor. Sua roupa de treinos, antes justa, agora estava claramente grande para seu corpo. Mas, molhada como estava, a camiseta agora estava totalmente grudada em seu tórax.

Aiolia estendeu a mão para, cuidadosamente, tocar as duas protuberâncias que ali estavam, firmes, redondas...

– Oh, por todos os Deuses... - Dohko saía do assombro para o mais absoluto desespero.

Milo puxou o rosto do inconsciente Kanon para si, abismado.

– Mu, olha o que você fez! Você teleportou a pessoa errada para cá! – Escorpião explodiu em impaciência - Esse não é o Kanon, não tá vendo? É uma mulher!

– Hã? – Aiolia bem que adoraria tirar uma com a cara de Milo por essa conclusão estapafúrdia, mas não havia dúvida de que aquilo que tocara antes eram seios.

Dohko os afastou com um safanão, levantando o torso de Kanon para si. Mu, Milo e Aiolia se afastaram, e olhando mais de longe, comprovaram que não havia dúvidas: aquela era uma mulher.

Usando mesmas roupas que Kanon?

Aiolia estava começando a ficar muito, muito nervoso.

– Dohko, pode começar a se explicar.

OOO

Conseguirá Dohko elucidar o misterioso acontecido com Kanon de Gêmeos? Conseguirá Dohko impedir que mais alguém entre na misteriosa lagoa? E quem diabos é essa mulher que Mu tirou com tanto esforço de dentro de suas águas?

Tudo isso e muito mais nos próximos capítulos!

Stay tuned!


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Notas finais do capítulo

(1)- Há! Quem adivinhar a referência ganha um doce! Se bem que não tá difícil.
(2)- Não é invenção do fandom, gente! O próprio Kurumada já disse em entrevistas que 'Saga e Kanon eram portadores de grande beleza física', embora isso não seja explorado no mangá. Então exploro eu!