Laboratório de Poções escrita por Ly Anne Black


Capítulo 8
Pomo da Discórdia – Ms. Eduarda




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– Pomo da Discórdia… – ela leu o nome da sétima poção a ser analisada – não como o pomo de ouro, eu espero.

– Eu acredito que é mais provável se referir à expressão idiomática.

– Merlin nos ajude que seja isso, e não uma poção inspirada no Quadribol. – resmungou. – Então vamos aos ingredientes… 2 canelas em pau, 1 colher de mel… imagino que colheres sejam menos piores que pitadas – 1 punhado de rosas do jardim, punhado, aqui vamos nós. – suspirou – 4 olhos de besouro, 2 presas de serpente – qualquer serpente? E se as presas forem venenosas? Ou é suposto a serem venenosas? 2 dentes de rato, 2 urtigas, 1l de vinagre e 50g de pó de chifre bicórnio, e isso é tudo.

– Simplista. – Snape reclamou, rabiscando – Eu disponibilizo o meu estoque inteiro, e ela usa tudo que poderia achar no fundo de um quintal.

O mestre nada comentou, mas havia identificado parte daquela combinação de ingredientes como coincidentes às de outra poção, uma que ele considerava das mais repulsivas jamais criadas pela bruxidade.

– Não eram “hábeis os porcionistas que conseguem tirar do ordinário o extraordinário”? – ironizou. O professor, que não apreciava em nada ter suas palavras usadas contra si, fez uma careta de desagrado.

– Vamos ver o quão extraordinária a Srta. Eduarda consegue ser usando “um punhado de rosas de jardim”.


– Pré-preparação – continuou, divertindo-se com a rabugice dele – “Transforme em pó com o auxilio do feitiço incêndio os olhos de besouro; faça uma infusão em 250 ml de vinagre de rosas do jardim (com fogo alto), faça o mesmo com as urtigas em mais 250 ml de vinagre; soque separadamente as presas de serpente e os dentes de rato; Reserve todos antes da preparação.” E com isso, temos o modo de preparo…


Em um caldeirão em fogo alto ferva por 5 minutos 500 ml de vinagre, ao adicionar o mel e a canela em pau diminua a temperatura (fogo baixo), deixe a preparação cozinhar por 10 minutos.


Adicione na seguinte ordem as presas de serpente e os dentes de rato, mexendo em sentido horário até que se forme uma substância gosmenta, deixe descansar por 3 horas.


Passadas às três horas misture a infusão de rosas à preparação em fogo baixo mexendo em sentido anti-horário e com delicadeza, repita o procedimento com a infusão de urtigas, assim que a preparação adquirir uma cor âmbar incorpore o pó de chifre bicórnio mexendo devagar no sentido horário até que o composto se torne transparente.


Após o término do composto despeje o conteúdo do caldeirão em uma superfície de mármore e aplique o feitiço Glacius para a formação de um cristal feito do composto.


Não use de imediato os cristais, primeiro os quebre e deixe descansar por dois dias em algum lugar escuro e longe de objetos pessoais.


Para utilizar a poção aplique nos olhos da pessoa desejada os cristais.

Nos OLHOS? – perturbou-se – Isso é… agonizante.

– Fascinante. – corrigiu, instantaneamente interessado. – Poções absorvidas pela esclera são extremamente raras e arriscadas. Se qualquer coisa der errada, a cegueira instantânea e irreversível é uma das consequências mais frequentes.

– Bem, o senhor não vai ver eu me oferecendo para testar essa.

– Você não deve ser oferecer para testar nenhuma, Srta. Black. – ele ralhou, fazendo-a rolar os olhos – Você uma pocionista, não um rato de laboratório.

– Hum… obrigada? – agradeceu, duvidosa.

– Prossiga para o próximo tópico.

– Como o senhor quiser – suspirou, deserolando o pergaminho – Diz aqui que é modo de uso é aplicar os cristais nos olhos da pessoa que se deseja causar o efeito, tomando cuidado para que seja alguém amado pela pessoa que se deseja atingir. “Assim que aplicada, a poção produzirá a exaltação dos defeitos e erros da pessoa amada, causando assim brigas, desconforto e repulso entre as pessoas envolvidas.” Uau. Tinha de ser um produto da mente de uma sonserina.

Bervely amava sua casa, mas era realista o bastante para saber que tipo de pessoas se encontravam nesta, incluindo aí ela mesma. Conseguia pensar alguns usos úteis para a poção da Sra. Eduarda em seu passado…

– …a ingestão pode causar dores de cabeça e distúrbios de personalidade. – continuou, afastando os pensamentos ruins – A poção não obterá efeito em pessoas que não tenham uma forte relação com o alvo visado, pessoas que já se odeiam ou não convivem bem… previsível.

– Parece que a Sra. Eduarda criou a poção visando a resolução de algum impasse amoroso particular. – Snape comentou, irônico.

– Vamos descobrir agora…


Pensando em relacionamentos reais que acabam, pessoas discutem, brigam e afins por coisas tão bobas acabam um relacionamento, desta forma um pouquinho de discórdia acaba com várias coisas da vida.


Lembrando de contos e mitos trouxas, o conto Rainha da Neve do dinamarquês. Hans Christian Andersen fez me pensar se houvesse algo que distorcesse ou melhor exaltasse os defeitos e erros das pessoas amadas, o que aconteceria? O caos criado pode resolver ou atrapalhar algo?


Coisas grandes poderão ser feitas assim como grandes erros mas um pouco de caos sempre pode ajudar em algo.”


– “Um pouco de caos sempre pode ajudar” – Bervely parafraseou, salientando a expressão com um ar de importância forçado – Ela quase soa como o senhor, o rei das "frases extraordinárias"…

Srta. Black… – ele sinalizou perigosamente.

– Olha, tem um conto no final! – mudou de assunto rápido, para sua própria segurança – A Rainha da Neve, parece que é trouxa.

– Vamos escutar… – ainda tinha os olhos estreitos para ela, que pigarreou, encarando o pergaminho resolutamente. – A Rainha da Neve…


Um maldoso anão tinha fabricado um espelho mágico, que transformava em más pessoas, todos os que nele se mirassem. Mas o espelho quebrou-se e seus pedaços foram se espalhando pelo mundo. Dois deles foram para uma sacada onde brincavam duas crianças, Gerda e Pedro, e penetraram nos olhos e no coração do menino que, desde aquele momento, se transformou, de bom, no pior garoto da cidade.


Quando o inverno chegou, ia Pedro, um dia, pelas ruas cobertas de neve, montado em seu pequeno trenó, quando viu um grande trenó branco, que corria velozmente. Enganchou o seu naquele e, desse modo, fez-se arrastar na vertiginosa carreira. Mas viu, logo depois, com terror, que o misterioso veículo saía das muralhas da cidade e precipitava-se pelos campos. Por fim, o trenó se deteve e dele desceu a Rainha das Neves, completamente vestida de branco, que se inclinou para o menino, beijando-o. Ao sentir aquele beijo, Pedro adormeceu. A fada tomou-o nos braços e levou-o ao seu longínquo país."

– O que? Fadas-das-neves não dão beijos adormecedores! Isso deve ter sido uma Banshee disfarçada, e este garoto está tão ferrado…

– É um conto trouxa, Srta. Black. – Snape lembrou-lhe pacientemente. – nos contos trouxas, eles inventam a fada do jeito que quiserem.

– Hum. Certo. – resmungou, retomando a leitura, ainda contrariada.


“Os dias passavam e Gerda em vão esperava Pedro, que não regressava. Afinal, resolveu ir procurá-lo pelo mundo. Dirigiu-se para o rio, subiu numa barquinha e deixou-se levar pela correnteza. A embarcação, depois de muito navegar, foi deter-se num jardim cheio de flores, onde havia uma velha, que acolheu carinhosamente a menina Gerda e conduziu-a a uma pequena casa feita de vidros coloridos. Ali a penteou com um pente mágico e a menina de tudo se esqueceu e ficou, naquele jardim encantado, vivendo muito feliz. Um dia, entretanto, viu umas rosas, que lhe recordaram o roseiral por ela plantado, com o auxílio de Pedro, na sua pequena sacada, em casa, e voltou-lhe à mente a lembrança do irmão desaparecido.


Resolvida a encontrá-lo, fugiu para o bosque e caminhou muito, sem sentir-se fatigada, até que encontrou uma menina, que morava numa casa meio em ruínas. A desconhecida, ao ouvir a história de Gerda, quis ajudá-la e levou-a para sua casa, onde perguntou aos pombos, pousados no telhado, se sabiam alguma coisa a respeito de Pedro. "Sim!" responderam eles. A Rainha das Neves o levou com ela."

– Pombos que falam! – revoltou-se. – Se nem conosco eles falam, certamente não seria com uma trouxa…

Sem se desviar do papel, não percebeu que Snape quase sorria.

A menina do bosque deu-lhe, então, um magnífico cervo que possuía havia tempo, dizendo ao animal: "Devolvo-te a liberdade, mas, em troca, leva esta minha amiga ao palácio da Rainha das Neves, que se acha em teu país." Em seguida, ajudou a pobre Gerda a montar no lombo do animal, que partiu em disparada. Atravessaram campos, bosques, pântanos e, por fim, chegaram à Finlândia, onde estava situado o castelo da fada e o cervo fez a menina descer no jardim.


Ao ficar sozinha, Gerda viu caírem a seu redor grandes flocos de neve, que se juntaram, procurando afogá-la. Mas a menina orou com fervor e, imediatamente, tudo se acalmou. Então, a menina entrou no castelo, onde encontrou Pedro, que estava só e não a reconheceu. Gerda abraçou-o, chorando e suas lágrimas, ao penetrarem no coração do menino, fizeram sair o fragmento do espelho, que nele se havia encravado. Pedro também chorou e, desse modo, o outro fragmento que havia penetrado em seus olhos, também saiu. O menino, só então, reconheceu sua pequena amiga e com ela fugiu daquela prisão gelada. O cervo esperava-os lá fora para levá-los de volta ao seu país.


– Lágrimas? Eles podiam ter usado um simples Episkey. – rolou os olhos, achando o conto um tanto dramático.

– Isso estragaria toda a metáfora do arrependimento e redenção através do amor, Sra. Black. – Bervely achou que o professor estava zombando, mas ao levantar os olhos do papel descobriu que ele falava sério. – Há mais alguma observação sobre a poção?

– Na verdade sim. Ela comenta aqui que usou como base os elementos da poção Amortentia… bem como o seu antídoto e ingredientes com efeito de interferência neural, para chegar ao efeito desejado. Amortentia não é aquela poção ridícula que vira surto no dia dos namorados? Que faz você amar a primeira pessoa que vê na frente?

– Não é amor – ele corrigiu, a repulsa clara em seu rosto – Mas um arremedo desprezível deste sentimento.

Certo… – ergueu o cenho, um tanto surpresa com a força da opinião dele – E o que achou da poção? Tirou o extraordinário de um punhado de ordinariedade?

– Srta. Black, se insistir em trazer essa frase à tona mais uma vez

Bervely tentou segurar uma risada, sem muito sucesso.

(Continua…)


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Notas finais do capítulo

~ O Pomo da Discórdia é propriedade intelectual de Maria Eduarda ~

Bervely cutucando o dragão acordado e bem armado… que ninguém nunca venha a dizer que ela não herdou uns genes paternos de intrepidez diante do perigo. :P

Em tempo: existe uma poção que foi apenas citada em IRN, se chama Poção da Discórdia. Bervely monitora sua realização no capítulo 19, mas os efeitos não são citados (e mesmo se fossem, seriam diferentes, eu previ que os vapores dessa poção incitaria um clima geral de discórdia no ambiente em que se dispersasse). Por isso, decidi que a existência dela não invalidaria a Pomo da Discórdia, os efeitos, ingredientes e finalidade são bem diferentes.



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