Dois passos para o amor escrita por Carol Freitas


Capítulo 4
Pipoca e brigadeiro




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                - Bella... Me desculpe – Abri os olhos ainda confusa por sua fala e ainda mais pela minha reação. Como havíamos acabado daquela maneira? Notei que apesar de ser tê-la achado linda, nunca havia visto como agora. Nunca havia notado o quão seus cílios longos deixavam seus olhos ainda mais bonitos e o delicado vermelho natural de sua boca, tão atrativo – Bella?

                Corei imensamente ao ver o que fazia, inconscientemente havia me movido em sua direção de modo que nossos lábios quase haviam se tocado. Movimentei me para trás ainda deitada, ficando o mais distante dela que a cama permitia. Não conseguia sequer olhar em seu rosto, o que estava acontecendo comigo?

                - M-Me desculpe, Alice... – Murmurei baixo, sem ter certeza de que ela ouvira. Ela fez uma expressão confusa.

                - Do que está falando? Sou eu quem tem que se desculpar – Agora era eu que não entendia do que ela falava.

                -  M-mas... Se desculpar pelo que? – Ela me olhou fixamente e riu logo em seguida. Levou a mão ao meu rosto e acariciou-o com a ponta dos dedos.

                - Você é um amor, não é?- Disse ainda sorrindo, para logo em seguida sentar-se na cama, agora sem me olhar no rosto. Notei então que o roupão estava aberto mostrando o biquíni e fechei-o imediatamente – Sério, me desculpe. Acho que fiz besteira de novo...

                - Mas... O que?

                - Na verdade eu fui avisada sobre isso. Quando você pintou o cabelo as meninas me disseram que eu havia passado dos limites e que dificilmente teria gostado de uma mudança tão radical, mas que era tímida e educada demais para me dizer isso – Ela suspirou – Eu acabei impondo minhas vontades sobre você e isso não é bom, não é isso que uma amiga de verdade faz. Talvez eu devesse me afas...

                - Isso não é verdade - A interrompi antes que pudesse continuar. A simples menção da palavra “afastar” me assustou, eu não queria de modo algum ficar longe dela – Não é nem um pouco da verdade. Eu gostei do meu cabelo desse jeito e estou muito feliz de ter mudado, além disso adoro todos os momentos que passo com você, me divirto muito. Inclusive provando biquines – Ela me encarou com um ar de duvida.

                - Você me contaria caso eu passasse dos limites? – Assenti com a cabeça, embora acreditasse que faria qualquer coisa que Alice pedisse, ainda restava algum bom senso em minha cabeça – Quanto à praia você não precisa ir se não quiser. Só achei que seria divertido pra mim, mas não parece o tipo de programa que você curte.

                - Eu... Eu vou pensar, ta? Não me parece um programa de todo ruim – Ela sorriu e me abraçou. Maldito seja o frio no estomago e coração acelerado naquele momento – A-Agora pode voltar a falar bastante, pois é com essa Alice que estou acostumada – Ela riu.

                - Bem, já chegamos há um consenso. Se você não quiser ir para casa, podemos fazer pipoca e assistir um filme, o que acha?

                - E-Eu... Pode ser – Estava constrangida, mas a ideia de passar mais tempo com ela me animava.

                - Então pode se trocar enquanto eu vou pra cozinha – Ela disse e eu corei ainda mais ao lembrar do biquine que ainda vestia, mesmo coberto pelo roupão – A propósito, mesmo que não queira usar, fique com ele. E... Ah, você tem um corpo lindo.

                Não sabia onde enfiar a cara depois daquela. Corpo lindo? Sério mesmo? Ela só podia estar pirando ou tentando me agradar. Apenas corri para o banheiro e me troquei rapidamente. Acho que iria ficar com o biquine afinal.

                Quando voltei para a cozinha, pude ver a morena lendo o rótulo da embalagem de pipoca de microondas, parecia estar confusa com relação a algo.

                - Algum problema? – Perguntei

                - Ahh então, é que nunca acerto o tempo da pipoca – Sorriu sem graça. Balancei a cabeça negativamente enquanto sorria.

                - Posso? – Estendi as mãos e ela me entregou. Peguei o pacote  e coloquei num tempo que achava que ia dar certo.

                - Deu pra perceber que sou um desastre na cozinha, né? Nem pareço com minha mãe. Dona Esme parece que nasceu dentro de uma panela do tanto que cozinha bem.

                - Eu tive que aprender a me virar, sabe. Minha mãe também não cozinha muito bem, as vezes inventava uma receita ou outra mas quase sempre os resultados não eram comestíveis. Charlie até que sabe se virar, mas se dependesse dele comia sanduíches e peixe frito todos os dias.

                - Você cozinha pra ele todos os dias? – Perguntou enquanto pegava as coisas para fazer o brigadeiro.

                - Quase todos, mas eu até que gosto. É bom fazer as coisas com alguém com quem compartilhar, ainda mais alguém com a fome dele – Peguei tudo e me dirigi ao fogão

                - Deve ser mesmo – Ela contemplou a cozinha enorme em que estavam – A maioria das vezes aqui é muito solitário. Sei que não é desculpa, mas acho que qualquer coisa fica melhor na companhia de alguém que se goste.

                - Porque você não mora com seus pais? – Não consegui conter a pergunta.

                - É uma história longa – Deu um pequeno suspiro – Meus pais eram bem jovens quando eu nasci, tinham acabado de sair da escola. Papai queria fazer faculdade de Medicina em Seattle e mamãe Artes Plásticas.  Meus avós meio que insistiram para que eles fossem para a faculdade e acabei ficando por aqui mesmo. Quando se formaram eles vieram para cá e moraram por aqui alguns anos, mas o ar de cidade pequena não os deixava felizes e quiseram voltar para lá. Eu fui também, mas não me adaptei e voltei para ficar com meus avós maternos – Havia uma tristeza e um peso por trás dessa história em sua voz que eu não soube interpretar.

                - E porque você não mora com eles? – A expressão dela ficou triste e eu imediatamente me arrependi de ter perguntado.

                - Eles morreram há uns 3 anos.

                - M-me desculpe, Alice. E-eu não sabia – Abaixei a cabeça e voltei meu olhar para a panela que já estava no fogo.

                - Não tem problema, Belinha – Passou a mão pelos meus cabelos. Corei. - Já superei há algum tempo. Depois disso preferi ficar aqui. Apesar de ser um ovo eu realmente gosto muito de Forks, ainda mais agora que você se tornou minha amiga.

                - Ah... – Corei ainda mais e fiquei sem reação – P-pega a pipoca pra mim? – Falei apontando para a pipoca no microondas que já estava pronta há algum tempo.

                - E você? O que te  trouxe aqui no início do ano passado? Você é de Phoenix não é? – Ela se lembrava disso? Não me lembrava de ter contado para muita gente.

                - É uma história comum. Pais separados, mãe se casou novamente e vim morar com meu pai.

                - Não gostava do marido da sua mãe?

                - Na verdade, não. Phill é legal e faz muito bem para minha mãe. Como ele é um jogador de Baseball, tem que estar sempre viajando e ela não podia acompanhá-lo por minha causa. Agora finalmente está livre.

                - E você gosta de Forks?

                - Bem... No início não, muito verde e muita chuva, mas acabei me acostumando. Eu sempre vinha aqui passar os verões quando era mais nova.

                - Entendi...

                Logo as coisas ficaram prontas e fomos até a sala decidir o que assistir. Ela tinha uma boa coleção de DVDs, ficamos por algum tempo discutindo entre nós o que assistir pois eu gostava de terror e ela de ficção e romance. No fim optamos por uma comédia romântica que acabou por ser uma boa escolha.

                Depois que o filme acabou ficamos conversando por um bom tempo até praticamente passar da hora em que eu deveria estar em casa. Me surpreendi em como o tempo havia passado rápido e me preocupei com a quantidade de deveres que devia fazer ainda hoje. Quando comentei com Alice ela fez uma cara aborrecida.

                - Odeio esses deveres, na maioria das vezes nem consigo resolver. Odeio principalmente os de matemática – Uma ideia me passou pela cabeça, talvez fosse demais, mas me ajudaria a passar mais tempo com ela e ainda a ajudaria.

                - Alice, eu estava pensando se... Bem, você não gostaria de que eu te ajudasse em matemática. Não sou essa coisa toda, mas posso fazer o que puder – Ela olhou pra mim com os olhos arregalados

               – Isso é sério?

                - Ah, bem... As meninas falaram que você precisava de ajuda e... Eu não quero te ofender nem nada, é que...

                - Você é incrível – Me abraçou muito forte – Eu adoraria que pudesse me dar aulas de matemática. Na verdade, aulas de tudo o que puder me dar. Vou ter uma professor particular só minha – Bateu palminhas e deu pulinhos, achei muito fofo ela fazendo isso e a abracei também. Ela ficou surpresa por alguns instantes, mas logo retribuiu. O calor de seu corpo fez meu coração acelerar.

                O abraço demorou algum tempo e quando nos separamos, senti que estava corada. Algo no ar havia mudado e ambas ficamos caladas por algum tempo. Ela foi a primeira a quebrar o silêncio.

                - E... Hum... Quando vamos começar as aulas?

                - B-Bem, e-eu acho que logo, afinal os exames não estão muito distantes.

                - Pode ser essa semana ainda? Tipo aqui a tarde depois da escola – Aqui depois da escola? Estava melhor do que eu pensei, mas devia ter imaginado que ela não querer ficar na biblioteca.

                - Está ótimo. A-Acho melhor eu ir...

                - Eu vou te levar em casa – Ela disse já se levantando.

                Foi assim que começaram as aulas com Alice que eu adorava, de certa forma. Três vezes na semana íamos na casa dela estudar e pouco a pouco ia me acostumando a estar lá. Estudar a matéria também me ajudava a aprender e nos tornamos ainda mais próximas. Percebi logo de cara a dificuldade dela com a matéria, por isso ficava exultante de alegria a cada vez que aprendia algo novo, assim como ela. As provas vieram e passaram e para a surpresa de todos, que não sabiam que ela andava estudando, ela foi muito bem.

Falávamos praticamente o dia inteiro no whatsapp, parecia nunca haver tempo suficiente para conversar. Minha mãe já praticamente a conhecia e ficava muito feliz quando eu contava sobre ela e Charlie a achou muito simpática no dia em que ela foi lá em casa. Não havia conhecido os pais de Alice e ela não falava muito deles, mas eu estava bem com isso – por algum motivo me sentia nervosa com a ideia de conhecê-los pessoalmente.

A viagem a La Push se aproximava e por insistência da minha mãe que quase toda as vezes me dizia que eu estava da cor de um papel, acabei aceitando. Alice saltitou de alegria, ela sempre saltitava, aliás. E era por ela que eu estava procurando enquanto esperava pelo final da aula de educação física. Havíamos comentado que queríamos assistir Procurando Dory no cinema (ambas gostávamos de filmes infantis) e eu havia ganhado as entradas em um sorteio.

Sentia-me nervosa por algum motivo, era primeira vez que realmente combinaríamos de ir em algum lugar que não fosse a casa dela ou lá em casa. Não conseguia me conter de andar de um lado para o outro, ansiosa em vê-la logo. Geralmente eu ia para casa sozinha quando ela ensaiava, por isso sabia que não esperaria me ver por aqui.

Quando ouvi o barulho de vozes se aproximando da porta, me afastei um pouco e escorei na parede para evitar chamar muita atenção. Com exceção de Rosalie e Alice, o olhar das líderes para mim não eram muito amigáveis.

— É isso que estou te dizendo, Alice. Andar com aquela garota não está de deixando muito popular – Disse uma das donas das vozes que saiam agora pela porta.

— Eu me importo com isso Tânia. A Bella é minha amiga – Essa foi a inconfundível de Alice. Sorri inconscientemente, ela afirmava nossa amizade para todo mundo e não se importava.

— Mas se importava! Amiga? Desde quando? Eu pensei que vocês só estavam andando juntas por causa das suas notas, mas mesmo depois das provas você continua grudada nela. Ela só está te usando para conseguir popularidade, Lice.

— Claro que não. Ela não é esse tipo de pessoa e não diga mais esse tipo de coisa sobre ela pra mim – A baixinha foi firme em sua voz.

— Bem, como quiser, mas é o que geral está comentando. Antes passava mais tempo conosco e agora só com ela. Tenho medo da Victória arrumar algum pretexto para te tirar do grupo e eu odiaria que isso acontecesse. Saia pelo menos hoje com a gente.

Sai de perto antes que alguma delas saísse e me visse ouvindo a conversa. Sempre suspeitei que esse tipo de coisa fosse acontecer - as pessoas se afastarem ou excluírem Alice por minha causa. Só não sabia que seria logo em uma das coisas que ela mais gostava de fazer. Me senti mal por mim mesma e por Alice, ela estava sendo tão legal e minha amizade a prejudicava. Não que eu considerasse algo importante essa coisa de popularidade, mas talvez ela considerasse e quem seria eu para julgar isso.

O celular em meu bolso vibrou e eu peguei-o para ver a mensagem. Era algo de Alice:

Vou sair com as meninas hoje. Quando chegar em casa mando msg! Bjinhos, Belinha!

Respondi com uma carinha sorridente e um divirta-se, mesmo por dentro revirando-me pelas palavras da tal Tânia. O que eu iria fazer agora?


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