A lenda dos amantes do Tempo escrita por Geovanna Ferreira


Capítulo 22
Segunda Parte: Aqueles que os salvaram


Notas iniciais do capítulo

OLÁ PEOPLE! MAIS UMA VEZ, DESCULPE PELA DEMORA! NÃO É POR QUERER MAS SIM PQ TO LOTADA DE COMPROMISSO!! ESTOU SUPER ANSIOSA COM A REAÇÃO DE VCS QUANTO ESSE CAPÍTULO, POIS É O COMEÇO DA SEGUNDA PARTE DA HISTÓRIA, OUTRA BOMBA DE MUITAS QUE VEM POR AI HAHAHAAH VÃO CRIANDO SUAS TEORIAS DE COMO TUDO ISSO VAI ACABAR! SE CURTIREM POR FAVOR, COMENTEM, EU ADORO SÉRIO, RESPONDO TODOS, NÃO DEIXEM DE TIRAR UM MINUTINHO PRA EXPRESSAR SUA OPINIÃO.



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" ...Você foi a minha força quando estava fraca

Você foi minha voz quando não podia falar

Você foi meus olhos quando não podia ver

Você viu o melhor que estava em mim

Me levantou quando não podia alcançar

Você me deu fé porque você acreditou

Eu sou tudo que sou

Porque você me amou... "

Celine Dion

Ela flutuava em meio ao redemoinho de vento, presa no centro do círculo feito de fumaça mágica. Seu corpo era um nada, não tinha peso. A luz intensa cegava parte de sua visão e o barulho de ventania explodia em seus ouvidos. Era como estar aprisionada dentro da própria morte, só a espera de seu ataque.

Regina não se importaria se ela viesse.

Mesmo com o caos, ela pode perceber diversas imagens rodando ao seu redor, simultaneamente.

Um imenso navio afundando no oceano... dezenas de pessoas sorridentes, mulheres de cabelos curtos e vestidos de melindrosa e homens elegantes de terno dançando o ritmo frenético dos anos 1920... Hittler fazendo sua saudação a uma multidão robotizada... soldados correndo, atirando, caindo e morrendo em campos de batalha... as gravações de filmes na Hollywood de 1950, com atores atrás das câmeras... a bomba de Hiroshima... o singelo homem fincando a bandeira americana na lua... os jovens de calças largas e cabelos compridos, abraçados, em vãs, em parques, nas ruas, lutando pela paz...

A rainha estava indo para o futuro. Adiantando o tempo, abandonando o passado, que de fato, nunca lhe pertencera.

E então tudo sumiu.

Seu sonho teve oficialmente um fim.

Ela custou a abrir os olhos, talvez por ter medo do que encontraria. Por não querer. Quando o fez, levou alguns instantes para focalizar o que via. Seu quarto, escuro, frio e solitário.

Tudo estava perfeitamente normal. Tal como nunca deixara de estar, ali. Estava em sua cama, com roupas modernas, daquela época, com cada fibra de seu ser doendo, como se tivesse sido moída. De certa forma fora. E não haveria como consertar isso.

Estava de volta. À sua vida sem vida, à aquele mundo em que estava sozinha, não porque ele era lotado de pessoas que não precisavam dela, não a amavam.

Mas porque aqueles que ela amava estavam perdidos, para sempre.

Estavam todos mortos.

Ao seu lado estava o livro. O começo de toda sua jornada, o que esteve com ela no início e também no final dela. Dele despontava uma página. Regina a pegou e seu coração se apertou, a torturando.

Lá estava um capítulo de sua história que fora brutalmente arrancado.

Seu final feliz

Na figura, eles, os quatro. Família.

Bernard, sereno, com as mãos sobre os ombros da filha radiante, com janelinhas abertas em seu sorriso e uma rosa no cabelo. Regina, com uma expressão de profunda gratidão. Em seus braços, o pequeno Henry, já um pouco crescido, certamente achando a situação muito divertida.

Ela mirou seus olhinhos e deu um sorriso triste. Passou carinhosamente o dedo pelo papel. Arrepiou-se toda com o contato.

Henry era filho de Annabette, mas também era o seu menino. Sempre seria...

Eles tinham uma conexão, que se iniciara no momento em que Regina entrara no quarto, sem saber que sua decisão de salvá-lo seria sua ruina.

Quem fora o homem que ele se tornou?

Quem esteve olhando por ele? Quem cuidou-o em dias de febre? Acompanhou suas primeiras palavras? Para onde o destino o conduziu?

Ela nunca saberia.

Regina olhou ao redor. Tudo aquilo não lhe valia de nada. O luxo, a mansão, Storybrookes, a vingança.

Como suportaria os dias?

Ela voltou á pagina e pensou que desmaiaria por causa do que viu.

Abaixo da criança, estava sua barriga, saliente, guardando um precioso pedacinho dos dois, dela e Bernard.

Seu amor materializado, sua felicidade. Que sequer nasceria. Que ela nunca teria nos braços, não poderia cuidar, amar.

Uma torrente de lágrimas veio e rolou por sua face. Ela deixou-se chorar, como uma criança desamparada, com a página contra seu peito sob o abraço apertado de seus braços. Chorou, por anos, por meses, madrugada adentro, por eles, por sua alma, por tudo que jamais seriam. sozinha, na cidade amaldiçoada pelo esquecimento, o tempo e principalmente, a solidão.

Portland, Maine, 1983

Ele observava pequenos pés e mãos para o ar, rostinhos preguiçosos invariavelmente de olhos fechados, imerso sono profundo dos inocentes. Já estava ali a tempo demais, e que ainda não parecia o bastante. A cena o enchia de paz e ternura. Os anos não haviam amenizado seu impacto sob ele. Olhava os bebês com o encantamento do pai que vê seu filho pela primeira vez.

Era um milagre, ele pensava, cada uma daqueles serezinhos, um milagre. Pela milésima vez em todas aquelas décadas, ele se sentiu pleno e realizado com a escolha que fizera. Havia algo de mágico e divino no nascimento que nunca deixara de o fascinar. Depois da guerra, de tantos homens morrerem em suas mãos, ensanguentados, mutilados, já a muito mortos por dentro, a possibilidade de trazer criancinhas ao mundo foi-lhe como uma benção. Acabou apaixonando-se por eles, por sua inocência, por o que representavam.

Vida.

Uma das enfermeiras do hospital passou e sorriu ao ver o velho homem com suas mãos enrugadas para trás, olhando atentamente para a ala dos recém nascidos. Era tão frágil e ainda assim tão forte. O encolhera, tornara-o miúdo, encurvado, vagaroso. Mas sempre fora uma figura naturalmente dócil, capaz de fazer sorrir e confortar até os mais duros. Sua presença pelos corredores e salas era marcante. Ele era parte do hospital, de sua história. Fora ele que, em partes, erguera-o com seu trabalho árduo. Era como um mascote, o mais antigo doutor do John Carter Hospital, ainda vivo. Morava perto e dizia que não poderia passar uma semana sequer longe de sua companheira de uma vida inteira: a medicina. Ficava por ali, vendo tudo, tentando não atrapalhar, ajudando ocasionalmente.

O barulho de salto contra o piso o tirou de sua calmaria, das crianças, surgiu abruptamente, corrompendo o silêncio. Uma das enfermeiras novatas, Jane, apareceu por uma portinhola, descabelada, ofegante, trazendo algo em seus braços.

Um bebê.

_ Uma menina! Foi encontrada numa floresta, junto a um garotinho. Provavelmente passou a noite lá, no frio. Ela não chora e nem sequer se mexe...

Jane não precisou dizer nada além. Entenderam a situação. Vez ou outra lhes apareciam casos assim, os mais incômodos. Crianças encontradas em lugares inimagináveis, em péssimas condições, órfãos com um futuro tenebroso pela frente.

_ Venha! Rápido! - uma voz, que ele identificou como sendo de doutor Lewis, chamou a mulher. Ela correu, passou pelo velho, indo uma sala em que Lewis e sua equipe já se aprontavam para examinar o bebê.

Ele assistiu toda a aglomeração de pessoas em volta da criança. O nervosismo, o desespero crescente entre eles, a movimentação intensa de médico e enfermeiros. Pela expressão de seus rostos, não iam nada bem. O homenzinho assistiu passivo o quanto pode, até não conseguir mais ficar parado. Adentrou silenciosamente na sala e se aproximou, o mais rápido que conseguiu.

_ O que ela tem? - ele perguntou, revelando que estava ali.

_ Está com os sinais vitais fracos, temos de mantê-los... Mas não estamos tendo sucesso. – respondeu o doutor mais novo, entreolhando-se preocupado com seus colegas.

Seria o momento para deixar um senhor de 96 anos entre eles?

_ Deixe-me vê-la.

Com relutância, eles fizeram o que ele pediu. Abriram espaço.

O velho médico olhou para a menininha, que causava todo aquele alvoroço ao seu redor, encolhida e quieta, doentiamente roxa. Tão minúscula e já enfrentando problemas tão grandes. Ao lado de seu pequeno corpo havia uma mantinha onde estava bordado um nome em cor de rosa.

_ Emma... – sussurrou ele.

Prontamente, com a habilidade que nunca o abandonou, pôs suas mãos idosas na criança e começou a massageá-la.

Foi a vez da equipe o assistir, respeitosamente.

A criança não reagia, ainda que o ancião se empenhasse.

A cada segundo, a tensão na sala aumentava.

_ Vamos lá, pequenininha... acorde... - sussurrava o homem, agoniado, como se a menina pudesse ouvi-lo.

Ele pediu alguns aparelhos que lhe foram imediatamente concedidos. Os colocou sobre o peitoral da neném e mandou que ligassem a tensão.

Emma recebeu uma, duas, três descargas elétricas, ineficientes. Ela sequer se mexeu. O tempo foi passando. Duas enfermeiras se afastaram, descrentes num final feliz.

Aquele era um caso perdido. Ela era um caso perdido.

Mas o velho médico se recusava a aceitar isso. Iria salvá-la.

Doutor Lewis continuava ali, abalado. Ninguém dizia coisa alguma, sabiam que não deviam interrompê-lo, não tinham coragem de parar um homem que dedicara 60 anos de sua vida à medicina.

_ Fique conosco, Emma, fique... eu acredito em você... ainda tem muito para viver... suplicou o velho.

O bebê parecia cada vez mais encolhido, imóvel e mudo. Era como um pequeno bloco de massa morta.

_ Por favor... implorou o médico, massageando a garotinha, já fria, ainda mais afoito, com uma lágrima armazenada no canto enrugado de seu olho.

_ Por favor... - sua voz foi morrendo aos poucos.

Ele retirou seus dedos da neném, abaixou a cabeça, fechou os olhos, profundamente ferido por não ter conseguido salvá-la, por sua breve vidinha, já finalizada.

Mas...

Um chorinho desesperado surgiu de repente, quebrando o silêncio dolorido, fazendo todas as cabeças momentaneamente enlutadas se levantarem juntas. Emma chorava e balançava seu minúsculo corpo, gritando que continuava nesse mundo, salva. A equipe se entreolhou, sorrindo. Uma das enfermeiras retirou a mão de sua boca aberta e correu para vestir a criança.

Doutor Lewis puxou as palmas e foi rapidamente imitado pelos colegas. O velho sentiu-se radiante, não pelo reconhecimento, mas pela garotinha que agora sorria para ele, com seus enormes olhos:

_ Bem vinda de volta, pequenina...

Naquela manhã morna o idoso pediu para ver, como ele próprio disse, a mocinha que ajudara a resgatar. Jane sorriu e um segundo depois, ressurgiu com a trouxinha humana. Ela foi até o banco em que o ancião estava, colocou o bebê cuidadosamente em seus braços e logo após, sentou-se ao seu lado, de prontidão.

Emma se aninhou à ele de modo perfeito. Apesar da idade, o médico a segurava com firmeza. Ela piscou, sonolenta.

_ Acorde, princesa dorminhoca...

A enfermeira observou os dois por minutos, admirada com doutor e a pequena órfã, a sintonia entre eles. Num dado momento, ele desviou da menina, olhou ao redor, para além das janelas do hospital, para todas aquelas pessoas indo e vindo, grande parte delas, gestantes, pais, mães e avós de recém nascidos.

Ele notou as roupinhas de Emma, doadas pela caridade.

Era um crime que não houvessem outros braços senão os seus, velhos, para segurá-la, que ninguém além dele estivesse ali, para mimá-la, para acompanhar os primeiros dias daquela criaturinha encantadora, que ela não tivesse o que todos os bebês tinham. O jardim de que tanto gostava e que antes pensara ser um bom lugar para passar um tempo com ela, pareceu de súbito, deprimente. Emma soltou uma risadinha e mais uma vez mirou o idoso. A amargura o atingiu em cheio.

Ele sabia como era não ter uma mãe, e também, de certa forma, não ter um pai. Sabia das longas noites que Emma passaria, insone, imaginando sua mãe e as coisas mais bobas sobre ela, o que gostava, o que a fazia sorrir, pensando se tudo não poderia ser diferente.

Mas... durante todos aqueles anos, sentira uma doce presença, como se, sempre, houvesse alguém junto a ele, de alguma forma, alguém que buscara a vida toda, sem saber quem era, seu rosto, seu nome.

Ele desejou ser essa pessoa para Emma.

Ela não podia ser abandonada, outra vez.

Sorriu com a ideia repentina.

_ Que tal um vovô, pequenina?

Ela mantinha seus olhos azuis neles, divertida, como se o entendesse e gostasse dele.

Sua Anya a adoraria, se apaixonaria no mesmo instante em que a visse, concluiu o senhor. Era velho demais para adotá-la, porém, falaria com o filho, ele não recusaria uma garotinha adorável como ela. Ao lado deles ela teria o que ele própria nunca teve, pai, mãe, família.

_ ... E uma vovó para lhe fazer biscoitos quentinhos? Passeios no campo, historinhas na hora de dormir, hein, gostaria?

O homenzinho não chegara a perceber, mas já amava profundamente Emma.

_ Jane, ligue para meu filho. – disse ele à enfermeira, sentindo um incomodo no peito que ele tentou ignorar.

O telefonema seria o início de um recomeço da bebê... ele imaginou, os bons dias que viriam pela frente, em como seria ter uma netinha, satisfeito, trocando um sorriso com sua pupila, que logo se transformou numa careta de dor.

Foi como se seu coração fosse agarrado por uma mão cheia de garras, que o impediam de bater, de viver tudo o que insistia que ainda tinha de viver, com Emma.

Ele afrouxou os dedos, deixando a criança levemente insegura.

Emma foi a última visão que o velho teve, antes do mundo se apagar e a enfermeira arrancá-la de seus braços.

Novamente, o destino dava seu veredito, negava o tempo, à aqueles que mais precisavam.

Mais tarde Jane fez a ligação, como fora lhe pedido.

Para contar da morte do doutor Henry Friederick Bell.


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