A Imperatriz e a Princesa escrita por Melissa França


Capítulo 3
Existe mais do que a infelicidade


Notas iniciais do capítulo

Olá, amorinhas! *u*
Eu estou muito, mas muito feliz que temos vários leitores novos! Sejam bem-vindos!

Boa leitura!



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A Imperatriz havia sido liberada do uso das correntes. Não era mais necessário prendê-la, depois de passar dois invernos presa na torre, a mulher já havia aceitado o seu destino. Os primeiros meses haviam sido mais difíceis, Xena tentara escapar um par de vezes. César, porém, não deixaria que isso acontecesse. Ele trouxesse uma prova consistente que possuía o segredinho dela e fez com que a guerreira apenas desistisse de lutar.

— Amanhã um novo carcereiro irá chegar, você irá gostar dele. Faz o seu estilo. – Ele disse durante o último outono.

Xena passou a noite ansiosa para conhecer o tal homem. Alguns guardas que cercavam o “quarto” dela cochichavam sobre um senhor de guerra cruel e impiedoso, apelidavam ele carinhosamente de Dragão. Todos pareciam muito animados para a chegada dele, assim como ela. Finalmente haveria mudanças naquele lugar.

A Imperatriz não fechou os olhos por um minuto sequer durante a noite, jurando que não iria se render ao sono. Se ela bem conhecia Senhores de Guerra, eles possuíam jeitos bem peculiares de tratar as mulheres e com ela, bom, provavelmente não seria diferente. Obviamente, ele não a machucaria se ela fosse uma "boa moça", mas Xena tinha uma queda especial por problemas.

O sangue dela começou a ferver quando o sol nasceu, o coração quase saltava do peito ao pensar que em breve ela teria um pouco de diversão naquele lugar horrendo. A porta de madeira abriu, entretanto, quem passou por ela não fora um homem, mas sim uma moça. Por pouquíssimos segundos, Xena pensou que o Dragão era ela, em seguida uma pequena risada escapou de seus lábios ao perceber o quão ridículo era aquele pensamento.

O motivo era que a jovem possuía a mais doce feição de todas, carregava uma pequena bandeja com algumas frutas e, apesar da pequena barriga, definitivamente estava grávida. A moça era loira, cabelos compridos, as bochechas eram pálidas, o corpo fino demais, frágil demais. Uma escrava, com toda certeza. Ela fechou a porta da cela e adentrou. Diferente das outras serviçais que vieram com o mesmo intuito, esta possuía confiança.

— Seu café da manhã, Imperatriz. – Ela fez uma pequena referência ao deixar a bandeja em cima de uma mesa próxima a Xena.

— Imperatriz? – A mulher de cabelos negros sorriu. – Eu ainda sou a Imperatriz? Pensei que Alti tomaria o meu lugar depois de tanto tempo.

— Não. – Ela respondeu um pouco hesitante. – Alti é apenas a consorte de César, não a Imperatriz de Roma. – A moça olhou para Xena com um sorriso, o que fez com que a guerreira finalmente descobrisse a cor dos olhos dela. Verdes. Tão verdes como esmeraldas.

— Seu nome. - A mais velha pediu.

— Gabrielle. – Apesar da formalidade inicial, a loira não abaixou a cabeça para falar com ela, era forte, corajosa. Xena gostava disso. Sem perceber, a mulher mais velha ficou fitando a pequena barda por alguns segundos, pensando no que ela havia passado, pensando no que César havia feito para ela, o olhar intenso fez com que a jovem se sentisse levemente desconfortável e pigarreasse. – Mais tarde eu voltarei com seu almoço, Imperatriz. Tenha um bom dia.

Sem mais delongas, a moça deixou o local. Xena esboçou um sorriso involuntário em seu rosto ao saber que ela voltaria mais tarde. Gabrielle. Era um belo nome. Na segunda visita do dia, ela ficou uma pouco mais de tempo, esperando que a mulher, de olhos tão azuis, acabasse sua refeição. O terceiro e o quarto dia se fizeram iguais, assim como o quinto e o sexto. A escrava sempre esperava Xena terminar suas refeições para deixar a cela.

Por alguma razão, a escrava parecia gostar da companhia da Imperatriz, o que não se fazia diferente no coração da regente de Roma. Uma rotina havia sido tomada, elas não falavam muito durante a tarde ou durante qualquer outro período, mas havia uma maneira de se portar, um olhar intenso que às vezes assolava o ambiente. Era como se elas se conhecessem de outras vidas. Ambas ficavam apenas confortáveis na presença da outra, mas ambas pareciam clamar por um assunto em comum.

— Então, como está o mundo lá fora? – Xena tentou começar uma conversa.

— Diferente, na mesma, eu realmente não sei. – Gabrielle respondeu de maneira casual, mas logo percebeu que devia respeito a sua regente. – Me desculpe, Imperatriz, eu cheguei em Roma há pouco tempo, menos de dois invernos atrás, não sei como tudo era.

— Entendo, Roma costumava a ser um bom lugar para os mais sortudos, um bom lugar para governar. – Xena forçou um sorriso. – Mas, antes disso... antes de vir para cá... – A guerreira tentava ser educada, temeu tocar um pouco no assunto, mas foi interrompida pela loira.

— Antes de ser escrava? – Mais uma vez a casualidade pairava nas palavras da jovem. Ela soltou uma risada tímida antes de continuar. – Eu era uma barda. Ou melhor, eu ainda sou uma barda, estou apenas tirando uma folga. Espero voltar a ser assim que o pequeno nascer. – Ela esfregou a barriga.

Xena riu. A moça era tão encantadora. Por alguns segundos ela viu toda a dor que habitava os olhos de Gabrielle ir embora, ela se perguntava o porquê daquilo. Talvez fosse o fato de relembrar o passado, um bom passado, sem dores, ou talvez, fosse o fato de que aquela criança representava um futuro jamais imaginado.

— E família? Você tem uma família, Gabrielle? – Ela gostava de dizer o nome da barda, soava tão bem.

— Eu tinha, mas eles... – A tristeza havia voltado, não havia levado-a para longe, mas ainda a machucava. - ...eles foram mortos.

— César? - A voz saiu fraca e receosa.

— Não, outro Senhor de Guerra, Draco, os homens dele para ser mais exata. Tomaram todas as moças da cidade, meu pai tentou interver, mas eles mataram minha irmã como castigo e mataram meu pai por tentar nos proteger. Minha mãe e eu fomos levadas, ela morreu uma semana depois tentando me proteger. – Escravos não tinha permissão para chorar, Xena podia ver Gabrielle segurando-se para não o fazer.

— Está tudo bem Gabrielle, derrubar algumas lágrimas não fará os guardas te levarem. – A jovem, então, soltou um pequeno soluço reprimido e balançou a cabeça, ainda negando-se a chorar. – Mas como César conseguiu você?

— Eu consegui fugir. Um dia, enquanto eu estava na cabana de Draco... – Ela disse de maneira desconfortável. – Eu roubei um saco com moedas de ouro. Cheguei em uma cidade vizinha, Amphipolis, e me instalei em uma taverna.

O coração da guerreira disparou ao ouvir o nome da cidade. Sua cidade, o lugar que definiu quem ela seria, o lugar que a transformou em guerreira, o lugar que levou seu irmão. Ela queria dar suporte a Gabrielle, mas o seu emocional a levou direto para Cyrene, uma mãe que ainda vivia em um mundo inocente, sem saber no que sua filha se tornara, ou assim ela esperava.

A barda percebeu que os olhos de Xena viajaram para longe, viajaram para seu passado, assim como ela minutos atrás. A jovem se aproximou da Imperatriz e a abraçou. Ela queria conforto, as duas queriam isso. A mais velha apenas não podia admitir. Mostrar fraqueza para uma escrava de César não era necessariamente o que ela queria agora. Em nenhum momento passou pela sua cabeça que a moça era uma espiã, ela possuía um olhar genuíno, amoroso, mas ela não demonstraria fraqueza, porém, o abraço foi retribuído.

As duas ficaram abraçadas por um curto espaço de tempo, pois Gabrielle precisava voltar para qualquer que fosse o lugar que ela dormia. Quando deitou-se naquela noite, a Imperatriz avaliou sua vida.

Ela podia ver a lua através da pequena janela a noite, ver alguns pássaros voando durante a tarde e sentir a brisa da manhã que ela tanto apreciava, pequenos momentos como esses a mantinham sã naquela prisão. Agora, no entanto, ela tinha uma amiga. Agora, havia Gabrielle.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Adoraria ver a opinião de vocês, lembrem-se críticas são sempre bem-vindas! Até o próximo capítulo!



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