Arya

"Alyce, Alyce ..." Arya repetia sem parar seu novo nome. Em uma tentativa de não o esquecer. Para ela, usar um nome diferente não era tão díficil. Ela já havia usado vários. Já havia sido Arry, o órfão, Pombinha, Mercy, Nan e vários outros nomes.

Arya não possuía apenas um nome novo, também possuía uma nova face. Uma face concedida pelo deus de muitos rostos. Com esse novo nome e rosto iria conseguir a sua tão estimada vingança contra a rainha Cersei e os outros leões.

Quando o vento que vinha do mar bateu em seu novo rosto, ela lembrou de todo o treinamento que recebeu até se tornar ninguém. Se lembrou do período que ficou cega, do treinamento com os venenos e tudo mais. Para poder seguir com seu treinamento teve de abrir mão de sua antiga vida, suas lembranças e suas coisas. Ela conseguiu abrir mão de muita coisa, mas nunca conseguiu abrir mão da saudade que sentia de seu irmão Jon.

Ela guardava Jon em um lugar tão secreto e escondido em seu coração que nem seu mestre conseguiu descobrir. Tinha momentos que Arya acreditava que até o deus de muitas faces havia sido enganado. Isso ou talvez ele soubesse e não ligasse.

Quando o vento bateu novamente em seus cabelos, desejou que fosse Jon a bagunçar seus cabelos, não o vento. Ela pegou em sua espada Agulha e a saudade do irmão aumentou. Não apenas do irmão, mas de Winterfell. Por momentos ela se esqueceu de sua vingança contra Cersei.

Quando o navio parou no local que era para ser o seu destino, Arya parou nos degraus e voltou para dentro da embarcação. O capitão estranhou o fato e a questionou. Arya apenas disse:

–Vou seguir para o Norte. Vou seguir para o meu destino...

Enquanto o navio seguia, Arya ainda pensava em sua vingança contra os Lannisters, também pensava em sua vingança contra os Boltons que estavam em Winterfell.

Quando ela realizasse a sua vingança na terra que um dia foi sua casa não seria como Alyce, a serva do deus de muitas faces, ela realizaria a sua vingança como Arya Stark, a loba de Winterfell.

Jon

A vitória contra os Boltons foi mais fácil do que Jon imaginava. Fácil até demais para o seu gosto. Ele sentia que algo estava muito errado. Ramsay estava tramando alguma coisa. O antigo bastardo de Roose Bolton fugiu com seus homens mais fortes quando viu o exercito de Jon. Não apenas Ramsay fugiu, os seus familiares mais próximos também fugiram.

O seu exercito de selvagem logo quis comemorar a vitória, mas Jon achava cedo demais para isso. Ele lembrou das histórias sobre as caçadas de Ramsay. Caçadas em que se caçava pessoas e não animais. As pessoas diziam que Ramsay deixava as vítimas fugirem em paz até certo ponto, deixava as pobres pessoas acreditarem que ficariam bem. Quando isso ocorria, ele e seus cachorros alcançavam a vítima e o que ocorria depois fazia Jon gelar.

Jon temia que o Bolton tivesse usado a mesma estratégia que usava nas caçadas. Havia deixado Jon acreditar que tudo estava bem, que havia vencido para depois o atacar com um forte exercito ao invés de cachorros. Pensar nisso fazia Jon perder o sono. Ele pensava que a qualquer momento o bastardo o atacaria.

Outra coisa que o perturbava era a ausência dos primos que ele tinha como irmão. Está em Winterfell fazia a ausência deles aumentar ainda mais. Robb, Arya, Bran, Rickon, Sansa. Pensar em Sansa fazia ele se lembrar novamente de Ramsay. Pelo que descobriu Sansa foi casada com o Bolton. Pensar no que a irmã deve ter sofrido o deixava muito triste.

Melisandre sempre tentava o acalmar. Dizendo que o Senhor da Luz o protegeria e que se Ramsay se aproximasse eles estariam preparados. As vezes , enquanto acariciava seus ombros, ela também sussurrava em seus ouvidos que acharia seus irmãos, ou melhor primos. Que as chamas os ajudariam. As palavras da mulher o acalmavam.

Melisandre sempre estava ao lado dele, mesmo quando Jon estava sentando em seu cadeirão ela estava lá. A mulher participava das reuniões do conselho e o ajudava a administrar tudo, era sua principal conselheira.

Tormund também sempre estava com ele. O selvagem era seu braço direito e era quem mantinha a relação com o povo livre forte. Ele também tentava animar Jon, com suas histórias, porém nem sempre funcionavam tão bem quanto as palavras de Melisandre.

No conselho daquele dia, somente Tormund estava com ele. Jon estava sentado em um lugar de honra, com Tormund sentado a sua direita e a cadeira de Melisandre vazia a sua esquerda. A mulher estava fora desde o incidente que ocorreu pela manhã. Jon havia mandado os soldados a procurarem. Depois do evento que ocorreu pela manhã, ele queria ficar de olho nela.

Os soldados voltaram mais uma vez dizendo não terem a achado. Jon os mandou procurar mais uma vez e iniciou o conselho. A situação não era das melhores. Muitos vassalos não aceitavam Jon como rei por causa dos selvagens que ele tinha como soldados e dos outros tantos que ele havia deixado protegendo a muralha. Esses vassalos, segundo o que foi apresentado pelo conselho, estavam querendo juntar forças com os Lannisters, talvez até com Bolton, para tirar Jon do poder. Quando soube disso, a coroa de Jon pesou muito sob sua cabeça.

Os selvagens logo sugeriram guerra contra esses vassalos. Os vassalos que o apoiavam sugeriram outras propostas, mas nenhuma convincente. No fim Jon encerrou o conselho e disse que precisava ficar sozinho para pensar. Um tempo depois, os soldados voltaram novamente e falaram não terem visto Melisandre. Jon os dispensou e fechou a porta.

–Será que quando ela me viu cercado de inimigos me abandonou que nem fez com Stannis?- perguntou ele para si mesmo quando estava sozinho.

Melisandre

Enquanto esperava o navio que traria a irmã de Jon, Melisandre lembrava com dor os eventos que ocorreram pela manhã. Era um dia normal, ela estava ao lado de Jon, no local que sempre ficava, quando um soldado chegou falando que tinha um prisioneiro que foi achado nas masmorras e que talvez fosse do interesse de Jon ver.

Jon concordou e o prisioneiro foi trazido.

Melisandre nunca vai se esquecer do aspecto do prisioneiro. Ele estava sujo e magro, mas mesmo assim ela o reconheceu primeiro que o rei.

–Stannis...- Ela sussurrou e se aproximou dele

Ela foi recebida com um tapa e muitos xingamentos. Os soldados o seguraram e Jon olhava para tudo assustado.

–Foi tudo sua culpa!-gritava Stannis- Você me enganou. Você me disse que eu iria ganhar a batalha e o trono. Você me abandonou quando viu que a derrota era iminente. Por sua culpa minha filha morreu daquele maldito resfriado e minha mulher se matou um dia depois. Você dizia que eu era aquele príncipe prometido. Se eu fosse o príncipe prometido nunca teria sido tratado como fui. Aquele Ramsay quis que eu fosse um exemplo do que ocorre com os inimigos deles.

Todos ficaram em silêncio. Até que Stannis olhou firmemente para Jon e disse:

–Ela também falou que você é o Azor Ahai? Falou que o trono de ferro será seu? –Stannis deu uma risada triste antes de continuar- Não acredite nela, rapaz. Ela vai lhe abandonar que nem fez comigo.

Melisandre nunca vai se esquecer o olhar que Jon lançou para ela. Havia acusação em seus olhos e dúvida, muitas dúvidas. Ela não conseguiu encarar o olhar de Jon por muito tempo. Saiu de perto dele o mais rápido possível. Do lado de fora ouviu o resto da conversa. Jon parecia perdido, sem saber o que fazer. Ele ofereceu abrigo a Stannis e cuidados, mas o antigo rei recusou. Pediu apenas para ser deixado livre para seguir rumo ao exílio onde viveria seus últimos dias. Também pediu comida e uma espada para se defender caso seja necessário. Jon prometeu conceder tudo. Depois ela não ouviu mais nada, pois se afastava cada vez mais.

Ela não havia voltado para lá desde esse incidente. Ela estava há várias horas no porto esperando o navio que traria a irmã mais nova de Jon, ou melhor prima. Ela havia visto a menina nas chamas.

Se ela voltasse com a menina com toda certeza tudo voltaria a ficar bem entre ela e o Jon. Ele voltaria a confiar nela. Ela precisava que ele confiasse nela, pois ainda havia um longo caminho a percorrer até que o inimigo do Senhor da Luz fosse derrotado. Era missão dela instruir o Azor Ahai.

Enquanto Arya não chegava, pensava em sua missão. Tirou o rubi protetor que usava no pescoço e o segurou na mão. Enquanto o segurava pensava em todo o seu treinamento e no dia em que viu nas chamas que o Azor Ahai seria também o herdeiro legitimo do trono de ferro. Foi por causa de sua interpretação errada que chegou a conclusão que era Stannis. Pensar em Stannis a fez suspirar dolorosamente. Ela não quis abandonar ele, mas sua missão exigia isso. O inverno está para chegar e o Azor Ahai tem que está pronto.

Ela estava tão perdida em seus pensamento, olhando para o rubi que era fonte de seu poder e proteção que nem viu o navio chegar. Quando ela ergueu os olhos da pedra preciosa viu a menina que procurava entre várias pessoas a descer. Em uma tentativa de alcançar a menina antes que ela se afastasse, acabou deixando o rubi cair de suas mãos ao bater em um marinheiro.

Arya

Arya tirou a face de Alyce pouco tempo antes de descer do navio. Queria chegar como ela mesma.

Enquanto descia, Arya estranhou quando uma mulher de vermelho a chamou pelo nome. Mas esse estranhamento logo virou alegria quando a mulher disse que ia a levar para perto de seu irmão, seu irmão que mandava em Winterfell. A mulher lhe parecia estranhamente familiar.

Arya estava ansiosa para rever Jon, mas percebeu que a mulher parecia procurar algo no chão. Arya resolveu a ajudar a encontrar seu rubi. O treinamento na casa de preto e branco havia deixado a sua visão mais aguçada. Quanto mais rápido elas encontrassem o bendito rubi, mais rápido ela estaria perto de seu irmão.

Arya estava agachada procurando quando ouviu alguns soldados chamarem pela mulher. Ela prontamente respondeu e falou de Arya. Os soldados ficaram admirados. Melisandre falou para os soldados irem com Arya na frente que ela ia logo atrás, apenas ia achar o rubi.

Arya e os soldados estavam conversando alegremente, falando de como Jon, que segundo eles era rei, ficaria feliz de saber que além de Melisandre eles haviam achado a sua irmã. Eles estavam há uns passos de distância quando ouviram a mulher gritar.

–Ele me atingiu...- Melisandre falou de joelhos, segurando a barriga. Suas roupas eram vermelhas, mas Arya sabia que havia sangue.

Um dos soldados carregou Arya para longe daquela cena, foi preciso certo esforço, pois Arya estava com sua espada na mão para perseguir quem havia machucado Melisandre. O soldado a levou para longe enquanto falava para ela não olhar.

Mesmo a certa distância, Arya ouvia a mulher falando:

–Meu rubi... Eu preciso dele...

–A senhora precisa de cuidados e de um meistre...Está sangrando muito...

O soldado que a levava se afastou muito. Arya falou para ele:

–Eu poderia ter pego quem fez isso. Ter o matado!

O soldado parecia chocado, mas depois riu e falou:

–O que a senhora sabe sobre matar?

“Muita coisa”-pensou Arya, mas não falou.

Jon

Jon ainda estava sozinho pensando nos problemas quando os soldados bateram na porta. Ele disse um “entre” meio abafado. Estava pronto para ouvir eles dizerem que não haviam visto Melisandre, mas quando olhou para a porta sentiu as lágrimas molharem seu rosto. Mesmo depois de tanto tempo ele ainda reconhecia sua querida irmãzinha.

Arya correu para seus braços e chorou junto com ele. Naquele momento parecia que eles nunca haviam se separado, parecia que o tempo havia parado. Ambos tinham cicatrizes profundas, devido aos sofrimentos que passaram, mas aquele abraço havia amenizado toda dor.

–Irmãzinha- falou Jon bagunçando o cabelo dela no fim do abraço

Arya sorriu e lhe mostrou a espada Agulha. Jon olhou para a espada com carinho. Ele estava com feliz com a irmã que nem havia reparado que os soldados ainda estavam na porta.

–Algum problema?-perguntou ele aos soldados. Nesse momento ele viu que um dos soldados estava com a roupa suja de sangue.