Um Príncipe as Avessas escrita por Fleur dHiver


Capítulo 3
Os Arranjos Invisíveis


Notas iniciais do capítulo

Cheguei, uma boa madrugada para quem estava aqui comigo, um bom dia para quem acordou com capítulo novo a espera. ;D
Não sei se alguém chegou a ler o capítulo anterior, porque eu o apaguei. Resolvi por esse antes, se leu tem que ler esse porque é diferente, se não leu me ignora. ;x
Mas para quem leu, o capítulo que vocês leram vai ser postado depois desse que vai ser os dois seguidos que deveria ter rolado da última vez (?) Deu para sacar?
Enfim
Uma boa leitura a todos;*



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Ela tinha pensado que fugir seria fácil. Só precisaria dá coragem para desobedecer a mãe e isso ela tinha até de sobra. Tirou a roupa molhada escolhendo um vestido de lã grosso, confortável e quente. Arrumou uma bolsa de lona com coisas que acreditava ser de valia e saiu de casa.

Sempre pelos cantos, esgueirando-se silenciosamente, mas era incrível como sempre que estava prestes a alcançar a orla da floresta algo acontecia. Um bicho, alguém, vários alguéns, o leiteiro e galinhas, muitas galinhas resolviam cruzar o seu caminho e chamar atenção para ela e sua atividade suspeita.

Voltou para casa já para o fim da tarde. Batendo na roupa e tirando as pernas que a cobriam por inteiro. Parou antes de entrar no modesto casebre a sombra do paredão. Bem acima de seu nariz estava a chave para sua liberdade. Parecia ser apenas rocha maciça, mas ela sabia, desde de pequena, que por trás das trepadeiras tinha escondido em alguns pontos diversos buracos de minhoca enormes que levavam para o lado de fora, as mais altas ela podia até enxergar com um pouco de dificuldade.

Os tuneis daria para o lado oposto ao que Chris e seu grupo saiu, mas já era alguma coisa. Estando lá fora ela dava a volta e os encontraria, não podia ser tão difícil assim, muito menos eles terem ido tão longe. Ninguém vigiava o paredão, ninguém pensaria que ela fugiria por ele.

Correu para os fundos da casa, passando alça da bolsa pela parte da frente do corpo, mas assim que segurou na vegetação parou e observou ao seu redor. Ninguém usava aquela saída, ninguém ficava por ali, porém no meio do dia perceberiam se alguém ousasse escalar o paredão. Voltou para dentro de casa, com o seu interior queimando, convicta que nada a impediria de conhecer a Floresta Proibida e ajudar Chris no que fosse preciso.

Os Arranjos Invisíveis

A porta do quarto foi aberta de supetão e Sakura parou o que fazia para fitar a mãe com as bochechas coradas, alguns fios de cabelo fora do coque fixo, arfante e com o ar severo. Com a sobrancelha erguida a analisava de cima abaixo, passando pelo rosto alvo uma pena branca que tinha encontrado dentro do baú ao é de sua cama, esforçando-se em não sorrir perante o estado da mãe.

— O que houve, mamãe? Por que está tão sobressaltada? — Sarah alisou a saia, respirando fundo, recompondo-se e mantendo sua postura.

— Muitas pessoas alegaram tê-la visto caminhando... — Sakura assumiu um ar pensativo e as maças do rosto de sua mãe ficaram ainda mais rubras — pela orla da Floresta!

— Que coisa não é mesmo? Mas eu não lembro de ter saído do quarto. — Deu de ombros voltando a mexer no baú aberto. Ao se redor tinham diversos itens de bonecas, a sapatos, vestidos e luvas que ela não usava e estavam todos enfiados ali dentro.

— Sakura, você saiu do quarto.

— Estava tão irritada comigo, não ousaria desobedece-la.

— Por que dessa bagunça? O que procura neste baú? — Sakura deu de ombros, jogando para o lago um corpete.  

— O que fazer, é isso que procuro. — Deu de ombros votando sua atenção para a mãe. — Não tenho muitas opções trancada em meu quarto. — Sorriu, pegando um antigo livro de lendas infantis que tinha sido de Sarah antes de ser dela. Nem lembrava mais de ter isso. — Lembra quando você contava a história da princesa na torre? — Sarah sorriu, era uma das histórias favoritas de Sakura quando criança.

— Lembro sim, pedia que eu contasse todas as noites e perguntava...

— Por que a princesa tem que morrer, mamãe? — Completou por ela. Amava a história inteira, o cavaleiro, o mago, a torre, menos o final, não tinha como gostar dela não ter conseguido o seu final feliz, mas ainda era uma boa história.

 — Sakura, hoje é um dia de festividade e tenho tantas coisas a fazer... — Não houve resposta, Sarah limpou a garganta. — Queria você junto comigo essa noite... — Sakura ergueu a cabeça, observando a mãe ainda a porta analisando a zona que ela fazia. Sabia o porquê de estar pedindo isso.

Culpa.

Culpa por ter gritado e se alterado. E também precaução. Era claro que ela não tinha acreditado que não saiu do quarto. Sua mãe sabia que tinha saído e queria ficar de olho a todo momento.  

— É uma bobeira que se comemore quando tem pessoas desaparecidas. — Sarah respirou fundo, seu coração se apertava só de saber que sua filha tinha ouvido parte da conversa daquela manhã, se tudo tivesse sido dito dentro daquela sala, não sabia o que seria de si. Não conseguia imaginar, ou cogitar que Sakura pudesse de alguma maneira estar perto daquela mulher, mesmo ainda estando tão longe...

E se ela soubesse da existência dela então...

 — Nós sempre temos a que comemorar. Estarmos vivas é uma delas. Agora venha, você vai comigo. — Sakura ergueu a cabeça contrariada, mas sua mãe não estava interessada no que a filha tinha a dizer. Foi até o armário e pegou um de seus vestidos favoritos da filha e que Sakura nunca usava. Puxou-a para se trocar, sobre protestos foi obedecida. — Não faça com que eu me atrase.

— Longe de mim, só quero ficar só e... — As alças de seu vestido foram puxados para baixo, sua mãe não estava nenhum um pouco interessada em suas reclamações. Preferiu ficar quieta e terminar de se despir.

Bufou puxando o vestido cheio de frufrus para cima, passando as alças pelos ombros. Sarah amarrou os cordões e fechou os botões da peça, a puxou, praticamente arrastou para frente do espelho que tinha no aposento. Era oval e grande, as pegava quase por inteiro, deixando apenas da canela para baixo fora de vista. Sarah passou as mãos pelos cabelos rosados de Sakura.

— Eu te amo tanto. — As palavras foram praticamente um sussurro, Sakura fitou o reflexo da mãe pelo espelho, os olhos âmbar tão escuros como poucas vezes viu. — Um dia você vai ter filhos e descobrir que nem toda proteção do mundo é suficiente. — Tocou a medalhinha no pescoço alvo, quase por reflexo, tinha sido de sua mãe antes de ser dela e ela costumava dizer que era para sua proteção. — Então você vai me entender. — Pegou a escova sobre a penteadeira, secando o cantinho de seus olhos, pondo-se a escovar as longas madeixas de sua filha.

Sakura observava a expressão da mãe um misto confuso de dor e alegria que ela não entendia. Nunca a entenderia, tinha certeza que poderiam passar mil anos e ela nunca entenderia porque daquele zelo exacerbado e de tantos segredos em volta delas. Não tinha como compreender. Passou os dedos pelo bordado no corpete, tinha sido ela a costurar, a amava, era sua mãe, só queria que as coisas não fossem como eram.

— O papai...

A escovação parou, Sakura a observava com atenção pelo reflexo no espelho e viu quando uma sombra pesou em seu semblante.

— Ele também saiu e não voltou mais? — Sarah parou, sua mão deu uma leve tremida.

— Não e não vamos falar sobre ele.

— Por que? Por que não podemos falar? Ele é o meu pai!

— Sakura, por favor. — Sarah separou algumas mechas para fazer uma trança, porém Sakura não permitiu, virando-se de frente para mãe.

— Se ele não saiu e nunca mais voltou o que aconteceu com ele? Quem ele é? Por que não podemos falar sobre? — Muitas perguntas, perguntas que despertavam lembranças dolorosas demais.

— Nós podemos.

— Nós nunca falamos! — Sarah esticou a mão para toca-la, mas Sakura repeliu o toque, virando o rosto, cheia de raiva.

— Nós vamos falar, eu prometo a você.

— E por que não falamos agora?

— Porque não!

Seu gritou ecoou pelo quarto, mãe e filha se encararam. Sakura soltou um suspiro irritado e voltou para o seu baú, recolhendo tudo que tinha deixado largado. Sarah resolveu se afastar deixando a filha só. Quando sua mãe voltou para chama-la calçou suas botas, sem ligar se ela reclamaria por não usar as sapatilhas. A vontade de sair que já não existia só somava com a sua irritação pela discussão. Antes de fechar o baú fitou o livro que tinha deixado em cima das outras coisa e resolveu tira-lo dali, jogando-o em cima da cama. Partiu, torcendo para que essa noite passasse logo.

Não podia negar que apesar de todas as suas tentativas para aquela noite não ser proveitosa, ela tinha falhado. Ajudar na arrumação da praça, se mostrou uma atividade melhor do que a encomenda, a conversa as pessoas e o trabalho foram aos poucos a acalmando. Colocou bandeirolas, enfeitou barracas, carregou pratos de comida para lá e para cá tudo ao som da afinação que os músico faziam em seus instrumentos.

No final a praça central estava encantadora, as barracas charmosas e as pessoas se divertiam. Esquivava-se do centro para não ser tirada para dançar, mas gostava de ver os pares se formando, alguns muito engraçados por sinal.

Escorou-se em um dos mastros, batendo palma no ritmo da dança, de onde estava podia ver a floresta e era tão estranho que a vida ali estivesse normal quando coisas terríveis poderiam estar a ocorrer a talvez menos de cem metros dali. Segurou sua medalhinha enrolando o cordão em seu dedo indicador.

Quando comentou com a mãe a ironia da situação só recebeu em troca mais mistérios.

— Você tem que entender. Essas pessoas passaram por um sofrimento muito grande e conhecem a verdadeira escuridão, por isso elas precisam comemorar. Comemorar por viverem em paz e em harmonia, isso acalenta seus corações. — Se bem ela sabe, a história é que eles eram nômades que, de súbito, encontraram aquele lugar.

Tudo bem que ela não acreditava mais nessa história desde seus oito anos de idade, mas essa conversa sobre escuridão só reforçava que era tudo uma farsa. No entanto optou pelo silêncio, amanhã não estaria mais aqui e a chave para os mistérios estava lá, do outro lado das densas copas.

Suspirou pronta para pegar outro doce, quando ouviu o som do relinchar de um cavalo, virou-se observando a quietude do resto da Vila. O centro estava tão iluminado que todo o resto parecia deserto. Não conseguia ver nada, mas ouviu o mesmo som outra vez. Deu um passo na direção que achava ter vindo, porém sua mão foi puxada por um dos garotos imberbes. Andrew era um garoto bobo que perturbava a quem estivesse parado sempre que podia. Tentou se esquivar e escapar do aperto, mas ele a puxou pela cintura e logo eles estavam passando embaixo de um túnel, ao som de palmas.

No meio da dança os outros barulhos se perdiam e ela não conseguia escapar, observava afoita cada canto da praça em busca de um cavaleiro ou de alguém que venha do estabulo. Andrew a girou outra vez e eles acabaram parando em uma das pontas, onde ela pode ver a primeira movimentação, não era no estabulo, a pessoa veio correndo de outra direção e falava aflita com o Peter, o encarregado da segurança. Algo estava errado, algo estava muito errado. Sentiu um estranho aperto no peito.

Chris!

Não poderia ser, ele saiu há muito pouco tempo para...

Seu coração batia forte, a altos compassos e sua respiração foi logo se tornando desregulada e pesada. Caminhou para o ponto contrário da dança, mas Andrew a puxou outra vez, com um solavanco brusco ela se soltou chamando a atenção dos pares de dança em volta deles. Não se importou com os olhares curiosos.

Desnorteada, tomou o seu caminho, empurrando qualquer um que surgisse a sua frente. Correu pela rua principal, invadindo jardins e quintais para tentar não ser percebida. Até que os viu, no final da clareira dois caçadores, um caído e o outro em pé, ambos pareciam em frangalhos.

Seu coração se comprimiu, sabia que não era, mas ainda assim buscou nos dois qualquer traço, qualquer mera semelhança com Chris. Precisava saber o que tinha acontecido, onde ele estava e porque eles tinham voltado sozinhos. Deixou a autopreservação para trás. E correu em direção ao semicírculo.  

— ... não sabemos senhor, fomos atacados e separados... não ficamos para esperar, não tinha como — sangue escorria pela cabeça do homem que estava de pé. Eles estavam em frangalhos, diria que uma luta tinha acontecido, algo dentro dela se agitou. — só corremos e...

— E o Chris? — Todos se voltaram para ela, esbaforida e desesperada, Sarah se apavorou ao nota-la ali, ouvindo outra vez uma conversa que não deveria. O chefe da segurança veio em sua direção.

— Não é assunto para você, mocinha. — Puxou-a pelo braço, Sakura viu sua mãe virar o rosto na direção contraria a que ele a arrastava.

— Não! Mamãe, por favor! É o Chris... — remexia-se tentando se soltar, mas não tinha efeito. O garoto no chão tossiu, virando parte do corpo em direção a Sakura.

— Ele correu, ele escapou, antes que o... — antes que ele dissesse qualquer outra coisa um dos anciões o entregou um vidrinho esbranquiçado, impedido que ele continuasse a contar a Sakura o que tinha ocorrido, forçando-o a tomar aquela bebida.  

— Antes que o que? Antes que o que? Espera... — Debatia-se sobre o aperto de Peter, mas o agarre dele não esmaecia. — Eu tenho o direito de ficar, eu tenho o direito de ouvir. Solte-me! — As palavras dela tiveram uma reação inesperada, Peter parou e a fitou petrificado. Sakura também ficou aturdida, estava falando a despeito não era sério. O homem olhou por sobre o ombro e ela realmente achou que ele a soltaria, mas foi só ilusão. Continuou a ser arrastada de volta para casa.  

Frustração e indignação queimavam em seu peito, seus olhos ardiam por ser esforçar em conter o choro. Tão injusto, tão errado. Virou-se tentando enxergar alguma coisas, mas eles já eram pontos distantes, incluindo sua mãe, que permitiu e talvez tivesse ordenado, de alguma forma, que ela fosse escoltada/arrastada até em casa.

Peter abriu a porta da residência dela e sem cerimônia a empurrou para dentro, batendo a porta e se prostrando a frente dela. Poderia esbravejar, xinga-lo e dizer o quanto era inútil ele estava parado ali, já que algo sério tinha acontecido e ele estava servindo de carcereiro, ao invés de tentar resolver o problema. Porém ela não se deu o trabalho, já tinha um plano em mente e agora era a hora perfeita para executa-lo. Chris precisava dela.

Correu para o quarto, observando a claridade do centro da praça e ouvindo a música que ainda tocava. Peter fez questão de não leva-la pelo caminho principal atraindo pouquíssima, ou melhor, quase nenhuma atenção para eles. Acendeu as velas em seu quarto e o lampião da parede, para todos os efeitos ela passaria a noite inteira ali.

Puxou a bolsa de lona que tinha deixado embaixo da cama, pegou sua capa grossa e quente e jogou por cima dos ombros, pegou mais duas facas que Chris tinha lhe dado e enfiou uma na cintura e a outra na bota. Não tinha tempo de trocar de roupa, não sabia por quanto mais estaria só.

Respirou fundo, quando estava a porta do quarto, voltou, quase por instinto pegou o maldito livro infantil e o enfiou dentro da bolsa. Porque ela não fazia ideia, mas algo lhe dizia que aquele livro era necessário. Passou pela sala bem devagar para não atrair a atenção do homem a porta, cruzou a cozinha e, sem barulho, saiu pela porta dos fundos.

Não sabia de onde sua coragem vinha, mas ela estava ali e a adrenalina pulsava em suas veias. Com a bolsa cruzada na parte da frente do corpo, começou a tatear o paredão. O grande rochedo não eram liso, ele tinha suas próprias variações, mas Sakura podia distinguir pelo tato quais eram naturais e quais tinham sido feitas ou aumentadas pelo homem, exatamente para que a escalada fosse possível.

As fissuras talhada na pedra seguiam o caminho exato para a caverna. Era perigoso, uma derrapada e não queria nem pensar o que aconteceria com ela, mas enfim não desistiria, era a única opção viável e ela conseguiria, achou as três primeiras e segurando-se também nas plantas ela começou a sua subida.

 De pouquinho em pouquinho foi subindo, tateando todos os cantos, tendo a certeza de onde colocar o pé primeiro antes de impulsionar o resto do corpo. Levou mais tempo do que o esperado, mas, por sorte, não foi notada. Quando já estava há, aproximadamente, 10 metros do chão, encontrou o que procurava.

Antes de toca-la, sentiu a corrente de ar pesada, as trepadeiras balançando, indicando o ponto exato que se encontrava a abertura. Impulsionou o corpo para frente, abrindo caminho entre a folhagem densa, arrastando-se para o interior da caverna. Já protegida no interior da galeria voltou sua atenção para o vilarejo. Um embrulho se formou em seu estomago e um nó em sua garganta, era estranho estar partindo assim, partindo escondida do único lugar que conheceu como lar a vida inteira.

Mesmo com raiva não podia deixar de pensar em sua mãe, que era um pontinho além do centro iluminado. Não sabia quando voltaria a vê-la, se voltaria a vê-la e se ela a perdoaria pela loucura que estava fazendo. Suspirou, já tinha ido longe demais para desistir e nem o queria.

Voltou-se para o interior da caverna escura e com cheiro de mofo. Com uma das mãos segurou as pontas da capa contra o corpo e começou sua caminhada a esmo, tateando a parede úmida com a outra mão.

A cada passo que dava mais úmido e bolorento o ar ficava. Aos poucos começou a ouvir o som de água corrente. Haviam goteiras por toda parte e o próprio chão era cheio de poças d’água e lama. As paredes foram se tornando pegajosas e por essa razão resolveu parar de toca-las, o som foi ficando ainda mais forte. O chão começou a se tornar desnivelado, tropeçou duas vezes quase escorregando no lodo em uma delas. O que a levou a voltar a tatear a parede mesmo estando nojenta.

Não demorou para que começasse a enxergar uma luz fosca. O túnel no rochedo desembocava em uma cachoeira. Sua aproximação acordou alguns morcegos e ela se agachou assustada com a revoada. Perto da cachoeira o ambiente era mais claro, conseguia ver com nitidez, mas não menos perigoso. Com cuidado caminhou perto da margem observando o caminho que teria que fazer para conseguir chegar em terra firme.

Haviam diversas pedras uma sobre a outra que a levaria até a margem. O único problema é que por estarem por trás da cachoeiras todas eram molhadas e escorregadias. Agachou, para poder pular para a pedra mais próxima. Apoiou os cotovelos no chão enlameado, descendo pela parede até onde conseguia. Pulou, caindo sentada em cima dela. Manteve-se apoiada no paredão por medo de escorregar nas pedras lisas, enquanto passava de um ponto ao outro bem devagar.

Algumas gotas respingavam nela, mas isso não importava, só queria conseguir passar. Quase tinha perdido o equilíbrio duas vezes, sua situação piorou quando se viu tendo que largar a parede de pedras para seguir na direção da margem. Foi abaixada, pois assim se sentia mais segura. Por um mero deslize acabou derrapando em uma pedra oval e lisa, caindo direto no que tinha pensado ser uma lagoa formada pela cachoeira, mas assim que bateu na água sentiu a correnteza forte puxa-la, estava sendo arrastada para outra queda d’água.

Sakura se desesperou, debatendo-se na água para tentar mudar o seu curso. Estava perto da margem, tentava a todo custo se agarrar em tudo que via pela frente. Sua visão embaçada pela a agua, respirar também estava difícil. Tentou agarrar um galho em uma arvore baixa, mas ele arrebentou com o seu peso.

Por sorte e azar seu corpo bateu contra uma pedra, suas costas doeram com o impacto, sentiu um forte falta de ar, mas não parecia ter quebrado algo ou se machucado a sério. Suas costas queimavam e o ar entrava com dificuldade. Virou-se ficando de frente para a pedra, agarrou-se a ela engolindo a água que ricocheteava em seu corpo, erguendo-se aos poucos, procurando ver se tinha alguma coisa que a sua volta que a levasse até a margem.  

Mais à frente tinha outra pedra, tão grande quando a que estava, a diferença é que uma das arvores tinha um galho grosso balançando um pouco acima dela. O problema é que a inclinação dela era para direita e se não conseguisse ficar na mesma direção dela passaria direto e não teria mais nada.

Respirou fundo e rodeou a pedra em que estava impulsionando seu corpo na direção da outra. Foi por muito pouco que conseguiu se agarrar depois de ter engolido uma boa quantidade de água. Esticou-se ao máximo para pegar o galho e com muito esforço puxar parte do corpo para fora da agua.

Agarrada ao galho, foi se arrastando por ele, indo de pouquinho em pouquinho, brigando com a correnteza que teimava em puxa-la. Quando estava perto da margem voltou para água que nessa parte já não tinha a força de antes. Desabou na terra úmida, ainda com a água até o meio de suas coxas, porém não era forte o suficiente para arrasta-la. Ficou deitada com a bochecha escorada na terra, o ar entrando com dificuldade e seu peito a mil.

Sua respiração demorou a normalizar e ela demorou a sair do chão. Tanta luta a tinha cansado. Ergueu o corpo devagar, observando o entorno. A realidade só a atingiu quando se deparou com a cachoeira, seu coração voltou a acelerar. Tantas coisas aconteceram em tão pouco tempo que ela não pode ainda não tinha tomado consciência que tinha conseguido estava fora da zona segura que era o seu lar e provavelmente aquilo já era a Floresta Proibida.  Aquele era o solo que não deveria pisar, onde ninguém naquela vila poderia ir.

Um lugar tão bonito era proibido, ergueu-se observando as copas densas as suas costas. O interior da floresta possuía uma beleza mortal e selvagem, inebriante aos seus olhos curiosos de Sakura. Apesar de temer aquele lugar pelas histórias entrecortadas que ouviu a vida inteira, uma excitação borbulhava em seu interior.

Apertou a bolsa contra o corpo dando um gemido baixo, estava tão mais leve, parte dos seus suprimentos tinha ido junto com a correnteza e o resto deveria estar destruído. Afastou essa perspectiva, não olharia agora, não faria diferença. Depois ela pensar no que fazer. Não queria entrar em pânico, queria tirar proveito daquela excitação que a preenchia.

Quieta e cautelosa ela começou a se embrenhar na mata. Esgueirando-se pela sombra e pelas plantas mais altas, tentando não fazer barulho. Alerta a tudo a sua volta, qualquer som desconhecido a fazia se sobressaltar e se encolher entre a folhagem.

Aos poucos, enquanto se aprofundava na floresta, o ar foi se tornando denso e frio. Ela vinha sentindo frio, a bastante tempo já. Pensava ser pelas roupas molhadas, mas poderia ter outra razão, parecia que a temperatura na floresta tinha caído drasticamente, porque não era possível que apenas suas roupas a fizessem ficar no estado em que estava, todo o seu corpo tremia.

O pio de uma coruja parou bem no meio e ela estancou onde estava, encolhida atrás de uma moita, tentando enxergar o que poderia ter silenciado a ave de forma tão brusca. Por um breve momento teve a impressão de ver algo como uma sombra percorrer a floresta, flutuando por entre a folhagem. Ficou encolhida com medo de ser vista, mas a verdade é que estava apavorada, sendo sua visão verdadeira ou não queria correr dali. Ficou quieta tremendo e olhando tudo a sua volta, quando nada aconteceu ela desembestou a correr.

Correu o mais depressa que pode. Sem se importar: em ser vista, ou com a falta de ar que lhe tomava, os galhos ricocheteando contra ela, ou as roupas molhadas dificultando a sua passada. Desenfreada como estava, nem olhava mais para onde estava indo ou o que ficava para traz. Ergueu um braço para evitar que os galhos continuasse a arranhar seu rosto. Por essa razão não viu que estava indo de encontro a uma pessoa que se encontrava de costas para ela.

O encontro a levou ao chão. Desnorteada, levou a mão a cabeça, tinha caído de bruços, apoiou as mãos na raiz exposta de uma arvore erguendo parte do tronco, quando uma lamina roçou sua bochecha. Ficou paralisada no chão, alerta. Tremia dos pés à cabeça, mas ainda assim se virou para se certificar de que era alguém de carne e osso, seria capaz de enfarta caso fizesse a criatura flutuante outra vez.

Mas não era nada bizarro ou de outro mundo. Apenas um jovem, talvez da idade dela. Alto, moreno, usava uma capa preta, lhe fitava com o ar sério e a espada empunhada em sua direção. Virou-se, deslizando para trás, ele a acompanhou com o olhar enquanto a lamina agora estava abaixo do pescoço fino tocando o seu colo. Sakura ainda tremia, mas mesmo com a espada em riste ela ficou quase aliviada em ver alguém a sua frente.

— Agora eu quero que me diga quem é? E que maldito lugar é esse? E é bom que eu goste da sua resposta, ou vai se arrepender amargamente de ter cruzado o meu caminho. — Como para reafirmar o que foi dito, como mágica, os olhos escuros que ela mal via ganharam uma coloração vermelha que brilhava na escuridão densa da floresta. E toda a segurança que ela pensou existe frente a outro ser humano se foi. E Sakura nunca tinha se sentindo tão apavorada em toda a sua vida. 

 

Página: Fleur D'Hiver

Enquete: Fanfic do Mês

 


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Notas finais do capítulo

Treta rolou! Sarah não fala do rei, deu merda na saída do Chris, Sakura deu a loka fugiu e encontrou uma coisa estranha e alguém com sharingan. SHAUSHAUSHAUS E ai? Quais os palpites?

Sobre o link que eu postei ali em cima o lance da enquete. Eu nunca fiz para essa fic, mas quem lê outras minhas sabe como funciona. Eu fazia uma enquete uma vez ao mês para a fanfic que ganharia um capítulo duplo no mês seguinte. Ok? Ok.
Só vale votar em uma, mas diferente do comum que ficava aberto o mês inteiro essa só vai rolar durante uma semana. Então votem caso queiram UPA com cap duplo;*
Até a próxima e aguardo vocês nos comentários;*



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