Capítulo 8 - How the hell did we get out?

O show não podia ter sido mais perfeito. Os meninos eram animados e extrovertidos, sempre interagindo com o público e fazendo brincadeiras - bobas e infantis, mas divertidas - entre si ou com as fãs. Posso imaginar, apenas pelo sorriso nos lábios deles e pelo brilho em seus olhos, que era aquilo que eles sempre sonhavam e sempre farão pelo resto de suas vidas.

E eles chegaram longe para o tempo em que estavam a ativa. O Acer Arena estava lotado. Cada centímetro daquele estádio era ocupado por alguém, e isso refletido nos lábios sorridentes daqueles quatro moleques no palco. E era o que pareciam. Pareciam quatro moleques que acabaram de receber a sobremesa. E toda aquela alegria era refletido nos fãs, que acompanham cada segundo do show.

E eu era, com certeza, uma das fãs que tinha um sorriso gigante no rosto.

Nada que eu pudesse evitar.

– Ficamos por aqui, obrigado, galera!– despediu-se Michael, ao fim da última música.

– Casa? - perguntou Allison ao meu lado, com uma expressão de cansaço.

– Casa. - concordei, sentindo todo o cansaço de horas em pé, pulando, dançando e cantando me consumindo.

O que eu não daria por uma cama...

Mas parecia que minha caminha - quente, confortável, e me chamando com uma promessa de um sono gostoso - teria de esperar. Pois assim que me virei com Allie para irmos embora, a multidão que tinha ali nos engoliu e engolfou para fora da área VIP. Era até difícil que respirar, quanto mais de desvencilhar das pessoas para chegar à saída.

– Como diabos nós sairemos daqui? - gritei para Allie, por cima do burburinho de animação daquelas garotas com fogo no rabo.

– Não tenho a menor ideia! - ela gritou de volta, de algum ponto atrás de mim, mas não para virar a cabeça a mais de 180°. - Mas vamos acompanhar, deve estar todo mundo saindo mesmo!

– Tem razão! - concordei, e simplesmente me deixei levar.

O que eu não esperava era que aquela multidão entrasse pelos bastidores. E diretamente para onde eu imaginava que ficava o camarim do 5 Seconds Of Summer. O que indicava que não era boa coisa. Olhei em volta, para aquela quantidade de garotas histéricas que se apressavam pelo corredor. Tinha algumas que apenas acompanham, sem parecer matracas no cio. De algum jeito, consegui me virar e ver Allie com sua peruca morena não muito longe de mim. Olhei em volta novamente, à procura de alguma garota que parecia ao menos normal, e vi uma loira baixinha logo ao meu lado.

– Oi. - eu a cutuquei, e ela me olhou. - Você sabe para onde essa manada toda de mamutes está indo? - perguntei, sem me importar em parecer mal-educada ou pensar que ela poderia se sentir ofendida.

Mas ela acabou rindo, graças ao bom Deus.

– Os ingressos da área VIP vinham com direito a M&G. O empresário deles já está nos levando direto ao camarim. - ela respondeu.

– Ah, okay, obrigada. - eu disse, num tom indiferente.

Mas tudo o que eu conseguia fazer por dentro é gritar. Gritar e xingar, óbvio. Que merda que meu pai tinha na cabeça ao encomendar ingressos com direito a bastidores?! Porra, pai, isso é tudo o que menos preciso no momento! Posso até parecer mal agradecida, comparada às milhares de fãs que dariam qualquer coisa para conhecer eles, mas isso o que eu passo agora. Existem certos segredos que são melhores escondidos.

– Você não parece muito animada de estar aqui. - ela comentou, franzindo o cenho.

– Bem, não muito, no momento. - respondi, querendo não dar muita bandeira.

A garota agora me observava, atenta ao meu momento de despero, mas também atenta a algo mais que isso.

– O que foi? - perguntei, já incomodada.

– Sua fisionomia não me é estranha. - ela apoiou o dedo no queixo, como se isso a ajudasse a pensar.

Droga, pensei. Valeu, papai!

Senti alguém segurando meu braço e me virei, dando de cara com uma Allie de olho arregalados.

– Já paramos. - ela disse. - Charlotte, é nossa chance de darmos o fora daqui!

– Charlotte Young! - ouvi alguém exclamar ao meu lado, e era a loira baixinha, que tinha uma expressão de choque, surpresa e admiração. - Você é a filha única de Angus Young!

Droga dupla!

E pareceu que bem nessa hora o mundo parou. Eu arregalei os olhos para ela, e me virei para frente, onde eu consegui ver os olhos azuis de Luke, há algumas pessoas à minha frente, olhando fixamente para mim. Mas eu não sabia se ele tinha ouvido a loira falando quem sou ou se era a expressão na face dela. Mas eu sabia que era a deixa que eu tinha para fugir desse lugar. Agarrei Allie pela mão, bem forte, e saímos da multidão, empurrando e atropelando as garotas que estavam atrás de nós para ver seus ídolos. Mas eu podia sentir os olhos não só de Luke, mas de todos eles às minhas costas.

~*~

A primeira coisa que tive o prazer de fazer assim que cheguei em casa foi arrancar fora a peruca ruiva que eu usava e jogá-la do outro lado da sala com um grito de alívio.

– Agora posso dizer: vimos a vó pela greta. - disse Allison, caindo de bunda no sofá e tirando a peruca de um jeito mais gentil que o meu.

– Nem me diga. - concordei, me jogando deitada no outro sofá. Levantei apenas a cabeça, olhando-a. - Você acha que o Luke ouviu o que aquela loirinha tinha dito?

Allie deu de ombros. - Não pareceu ouvir, mas ele estava de olho em você.

Foi praticamente impossível não sorrir, mesmo que minimamente, com aquela frase. Pensar que seu ídolo podia ter reparado em você é uma coisa, mas sua melhor amiga dizendo isso é outra.

– E agora, o que faremos? - ela perguntou, jogando a cabeça de encontro ao encosto do sofá.

– Você eu não sei, mas estou a fim de sumir com as provas do crime. - levantei-me e fui até onde a peruca tinha caído. Antes de subir as escadas para meu quarto, virei-me para Allie. - Se eu fosse você, trocava de roupa, vai que os loucos aparecem aqui.

– Duvido muito. - ela disse, mas mesmo assim se levantou e me seguiu. - Eles devem estar mortos de cansado pelo show de hoje, dificilmente vão vir parar aqui na casa de duas brasileiras recém-chegadas e sem graças. Acho que eles devem ter mais o que fazer.

Parece que a língua de Allison é igual língua de mãe, é só falar que a praga pega, pois segundos depois de ela calar a boca, a campainha de casa tocou. Arqueei as sobrancelhas para ela em desafio, e ela arregalou os olhos.

– Vai, fala, matraca. - caçoei, pegando a peruca dela e correndo para meu quarto. - Quem sabe se você não disser que vou ganhar na loteria, eu não dou essa sorte?!

Corri até o meu guarda-roupa e peguei guardei as perucas numa caixa com minhas lembranças - e as coisas de 5 Seconds Of Summer que, por motivos óbvios, não poderiam ficar à vista -, na prateleira mais alta e atrás de um monte de roupas amassadas. Outro lugar clichê, mas eu esperava que desse certo.

– Cale a boca, Mckinnon! - Allie pegou apenas uma blusa minha qualquer e trocou rapidamente, antes de descer correndo de volta as escadas.

Segui seu exemplo, trocando minha blusa e jaqueta por minha camisa gigante do lanterna verde que uso como pijama. Tirei meus all stars, dei um nó na bainha da camisa, para não ficar tão grande, e dei uma bagunçada sutil nos cabelos, para dar um ar mais caseiro. Ouvi Allison falando lá embaixo, mas antes de sair do quarto, agarrei o livro Perdidaque estava em cima da minha escrivaninha e desci.

– Quem ousa atrapalhar minha leitura a essa hora?! - perguntei, descendo as escadas, mas estanquei.

Não só para parecer mais natural a minha surpresa com eles ali, mas porque não vi só Luke e Ashton, mas todos os integrantes da banda.

Bem ali, na minha sala de estar.