She Looks So Perfect escrita por Rocker


Capítulo 10
Capítulo 10 - My past is a disgrace




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Capítulo 10 - My past is a disgrace

– Não precisa se não quiser. - ele insistiu, mas eu apenas sorri agradecendo.

– Eu quero. - disse. - Acho que preciso que mais alguém saiba.

– Tudo bem então. - Luke disse, e se ajeitou ao meu lado para se encostar na cabeceira da cama.

Puxou-me para mais e me fez apoiar a cabeça em seu ombro. Não que eu estivesse reclamando de sentir seu cheiro vindo de encontro à minha respiração. Era relaxante de um jeito que eu jamais conseguiria descrever.

– Bem, tudo começou quando eu tinha meus quinze anos. - comecei. - Eu era aquele tipo de menina nerdzinha que vivia escondida até mesmo da única amiga que tinha. Sempre fui muito cismada por causa da minha família. - me calei, lembrando que ele não podia saber de quem eu era filha. Luke ouvia tudo tão atentamente que eu tinha até medo de soltar o que não devia e ser tarde demais. - Enfim, o importante era que qualquer coisa que eu fazia era pra me esconder. Eu era meio gorda e desastrada. Até que alguém finalmente me enxergou.

Senti a tensão de seu corpo pressionar o meu e Luke me aconchegou mais perto de si. Mas, ainda assim, eu não parei de falar.

– O nome dele era Pedro. Não era daquele esteriótipo de jogador de futebol ou de basquete, até porque isso é meio raro no Brasil. Mas ele era popular. Tinha várias garotas aos seus pés e gostava de caçoar com qualquer um, mas eu era seu alvo principal. - continuei, e franzi o cenho procurando não derramar as lágrimas que queriam sair. - Até que um dia eu tive que ficar até mais tarde no colégio e vi ele no canto da quadra, quase socando o caderno por estar com dificuldade em matemática. Nunca me importei muito com zoações, então eu me ofereci para ensiná-lo a matéria. Pedro aceitou de bom grado. Até achei estranho ele nem mexer comigo, mas então nos tornamos mais próximos. Tão próximos que começamos a namorar uns três meses depois.

Senti Luke respirar fundo e controlar a respiração, mas só o percebi com uma pequena parte do meu cérebro. Estava concentrada demais em minha própria dor que mal registrei cada uma de suas reações.

– Mas eu nunca era o suficiente para ele. Sabia que ele me traía, então eu tentei ficar mais bonita para ele. Como a idiota que eu fui, prometi a mim mesma que teria um corpo tão invejável quanto qualquer uma daquelas com que ele passava o tempo longe de mim. Então comecei a vomitar. Eu comia e vomitava, comia e vomitava, até que chegou ao ponto que eu já não era mais vista como aquela garotinha gorda e desastrada. Mas então os efeitos vieram.

Nesse momento eu já estava me engasgando com as palavras que saiam. Enfiei meu rosto nas mãos e respirei fundo, tentando controlar a respiração para continuar a narrativa. E Luke não me soltou um segundo sequer, ouvindo minha história com sua total atenção.

– Fui ficando fraca, pela falta de nutrientes. - continuei. - Não eram muitos que eram absorvidos entre uma refeição e a volta dela. Tive que ficar internada durante quase dois meses durante as férias. Até que chegou o dia que Pedro descobriu. Ele disse que não tinha problema, que era o certo a fazer quando se queria alguma coisa e ele me apoiava. Eu, manipulável como era na época, aceitei e continuei. E então teve um dia que desmaiei durante uma aula de educação física, sendo que eu nem mesmo estava jogando. De início acharam que era o calor, mas então eu voltei do hospital dois dias depois e todos me olhavam de soslaio e cochichavam quando eu passava. Cheguei perto de Pedro no intervalo para perguntar o que acontecia, e ele simplesmente me humilhou. Não somente na frente da turma, mas de toda escola. Ele jogou na minha cara coisas que eu não precisava ter ouvido e ele sabia que iriam me atingir. Disse que nosso namoro havia sido uma aposta para ele poder expor o que uma nerdzinha como eu era de verdade. Disse que eu era só mais uma coitada que precisava se rebaixar à bulimia para conseguir algo que era natural da maioria das garotos e dizia ter nojo de mim. Disse que eu era, e sempre seria a esquisita que nunca teria amigos e que nunca seria capaz de chegar a algum lugar. Passei um ano dentro de casa, superando a depressão com a ajuda de Allie, até que decidimos retornar à escola e depois de alguns meses viemos para cá.

Luke não disse nada depois do meu discurso, apenas se sentou à minha frente e me abraçou. Um abraço quente, confortável, reconfortante e carinhoso. Tudo o que ele não disse, mas eu precisava ouvir - sentir– sendo dito apenas por aquele único abraço. Me soltei lentamente de seus braços e fiteis seus olhos azuis. Senti-me infinitamente grata por não ver pena em seus olhos, mas compaixão.

– Já disseram que seus abraços são os melhores? - perguntei, recordando-me que li isso em algumas biografias na internet.

Luke sorriu levemente, deixando à mostras os buracos artísticos em suas bochechas, e passou os dedos nas minhas, mas manteve meu rosto em suas mãos após secar o rastro de lágrimas. Sorri timidamente, sentindo-me uma criancinha de quem ele precisa de cuidado para não se ferir.

– E já disseram que seu sorriso é um dos mais lindos já visto?

Abaixei o olhar o quanto era possível, com suas mãos ainda em meu rosto, mas Luke me impediu. Ele levantou meu rosto e eu quase morri sufocada quando prendi a respiração enquanto ele se aproximava e dava um beijo em minha testa.

– Eu sei que seu passado não foi nada fácil, mas agora eu estou aqui para te ajudar. - ele disse, me fazendo derreter por sua fofura cada vez mais. - Te ajudar de verdade. Iremos superar isso juntos.

Sorri, de orelha a orelha, e pulei novamente em seus braços, recebendo outro daqueles abraços calorosos. Rimos quando caímos um sobre o outro na cama, mas logo me levantei da posição levemente constrangedora e nem um pouco reclamável.

– Vamos descer? Allie pode estar preocupada. - arranjei a desculpa mais esfarrapada que meu cérebro inútil poderia formular num momento como aquele.

Luke riu, mas se levantou. - Claro, e os meninos podem estar explodindo sua cozinha.

Eu ri também, enquanto ele passava um braço sobre meus ombros, e me levava até o andar de baixo. Quando chegamos na sala, encontramos os quatro jogados por ali. Calum estava na poltrona, jogado de mal jeito, Michael estava gritando alguma coisa para Ashton, que jogava Fifa no videogame com Allie, no sofá de três lugares.

– Perdeu, Hemmings. - ri, indo até um dos lugares vagos no sofá de dois lugares que restou.

– Não diga nada, Mckinnon, você também perdeu. - provocou ele, sentando-se ao meu lado.

Mandei-lhe língua e enquanto ele ria, lembrei-me que tinha deixado meu livro Perdida em algum lugar daquela sala.

– Allie. - chamei, mas ela não me ouviu. - Allison. - tentei mais uma vez, mas ela estava ocupada depois com os gritos de Calum mandando-a fazer gol e os de Mike mandando Ash fazer um gol nela.

Foi então que eu apelei. Fui até o aparelho e dei pausa no jogo - meu, apenas pra deixar claro -, arrancando gritos dos quatro e risadas de Luke.

– Allison Benson, onde está meu livro que eu deixei nesse sofá aí? - perguntei-lhe, semicerrando os olhos de modo ameaçador.

Os meninos se entreolharam, possivelmente porque eram uns desaculturados que não sabiam o valor que uma boa leitura tinha, enquanto Allie olhava ao redor, tentando se lembrar onde tinha deixado meu livro sagrado, antes que eu a atacasse, como ela sabia que eu faria.

– Ah, sim. - ela disse enquanto vinha até onde eu estava a dava play no jogo. - Deixei no sofá de dois lugares.

Olhei para o sofá onde Luke agora se sentava sozinho. E eu vi uma ponta preta saindo da perna dele. MEU LIVRO!

– Luke Hemmings, tire agora sua bunda de cima do meu livro se ainda quiser estar inteiro nos próximos segundos!


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Notas finais do capítulo

Obs¹: Menção ao livro Perdida, de Carina Rissi. Recomendo que leiam, único livro brasileiro que gosto!