Os Jogos Dos Deuses escrita por Tsumikisan


Capítulo 13
Capítulo 13




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“Bom dia, tributos! Para a sua informação, são 10h30min de sábado e hoje eu tenho uma surpresa especial para vocês! Todos os nove restantes na arena estão no momento desejando desesperadamente algo. Seguindo as instruções dadas, vocês encontrarão um lugar com tudo aquilo que precisam, mas é claro que vai haver uma surpresinha ali, além de mais um encontro cara a cara com seus amigos tributos! Vocês tem 24h para se prepararem e seguirem ao local. Espero vocês lá! E que a sorte esteja sempre ao seu favor.”

A voz de Nêmesis pareceu ecoar por todas as cavernas, túneis e passagens da Arena. Adrila abriu os olhos, ofegando. Hemera não estava mais na gaiola, mas o homem ainda jazia no chão, inconsciente. Ela sabia agora que seu nome era Éter, o irmão de Hemera. Sentia receio de deixa-lo sozinho ali, mas a voz límpida de Hemera disse em sua cabeça da mesma forma que sussurraria em seu ouvido:

“Ele ficara bem aqui. Nós duas que estamos com problemas. Esse anúncio é uma armadilha de Nêmesis para que você se mostre. Ela não pode ver você enquanto estiver nos jardins e está receosa de que tenha escapado.”

— O que faremos, então? – ela perguntou, se sentindo um pouco idiota por estar falando praticamente sozinha.

“Nós vamos até onde ela indicar. Mas assim que você sair dos jardins, eu irei ajuda-la o mínimo possível, para que Nêmesis não note minha presença em sua mente e alma. Apenas quando você e todos os outros estiverem reunidos, farei o que deve ser feito.”

— Certo. – Adrila começou a andar, olhando mais uma vez para trás. Éter parecia sorrir em seu sono profundo, o que acalmou tanto o coração da garota quanto da Deusa. – Hmm... Senhora Hemera? Por que eu, exatamente?

“Por ser filha de Febo, seu corpo pode abrigar minha essência sem sucumbir. E, além disso, você não se rendeu a sede por sangue da Arena, então sua alma permaneceu pura o suficiente para encontrar o caminho aos jardins.”

— Então eu sou especial por não ser forte o suficiente para matar alguém? – ela bufou.

“Não se subestime, querida. Tenha foco no que quer, e conseguirá.”

— Eu quero salvar meus amigos. – suspirou.

Quando ela disse isso, uma parte da parede pareceu se abrir, revelando um túnel. Adrila olhou para seu interior, desconfiada, mas Hemera não pareceu temer. Havia uma divisória bem visível entre a grama na qual pisava e o chão de pedra do túnel. Ela gostaria do fundo do coração aproveitar mais daquele jardim incrível, mas tinha que cumprir sua missão. Entrou no túnel e no momento em que pisou na pedra, sentiu a conexão com a Deusa enfraquecer, mas não sumir. Deu cinco passos até um buraco abrir em cima de sua cabeça e dele cair um pedaço de papel.

Ela pegou o objeto e percebeu que era um mapa da Arena. Uma bolinha verde marcava onde ela estava e um x vermelho aonde ela deveria ir. Então era isso que Nêmesis queria dizer com instruções. E aquilo também provava que Hemera estava certa, pois assim que saiu do jardin, a Deusa da Vingança notou sua presença de novo.

Continuou então caminhando pelo túnel que parecia infinito. Apesar de estar escuro, ela podia enxergar cada detalhe no lugar, como se usasse óculos de visão noturna, só que com uma luz amarelada. O x no mapa estava bem longe do lugar onde estava, por isso ela resolveu apressar o passo. Em algum momento, começou a ouvir vozes.

— Tenho certeza que nós conseguimos. Leo deve estar todo ferrado por causa da explosão, não vai ter força para nos matar.

— Você está se esquecendo de Michel e Ray. Eles também estão por ai. Sara e Gabi morreram mais cedo, quem você acha que foi?

Adrila reconhecia as vozes. Ganhando novo animo, ela correu, ignorando se seus passos faziam barulho de mais no chão. Os dois que falavam se calaram ao ouvi-la se aproximar, mas ela nem se importou. Avistou o que parecia uma caverna circular com outros dois túneis adjacentes. Havia uma semi fogueira no chão, junto com vários fios elétricos. Ela estava prestes a entrar no lugar quando sentiu Hemera frea-la. Recuperando o senso, ela respirou fundo e disse:

— Frost? Rubens? Sou eu, Adrila.

Eles ficaram em silencio por um breve período, até que Rubens apareceu, vindo da direita à entrada, segurando uma espada em posição de ataque. Adrila percebeu que se tivesse corrido até o final, Rubens a cortaria sem fazer perguntas antes. Mas agora ele acenava com a cabeça para que ela se aproximasse.

Frost estava deitado em um canto, com a perna enfaixada de um jeito bem tosco. Adrila se ajoelhou do lado dele e o abraçou, contente. Rubens guardou a espada e cruzou os braços, encarando os dois com desconfiança.

— O que estão fazendo aqui? – ela perguntou.

— Ah, curtindo as férias, nada demais. – Frost ironizou. – Pelo menos aqui o Milord não fica me enchendo o saco.

Adrila riu. Sentia saudades dos amigos, parecia que não falava com ninguém há dias. Ela o abraçou novamente e se sentou ao seu lado, perguntando o que tinha feito até então nos Jogos. Frost deu de ombros e listou, contando nos dedos, como se não fosse nada:

— Explodi alguns idiotas, roubei comida, quebrei minha perna, deixei que dois grandes amigos morressem, planejei a terceira guerra mundial... – ele parou para pensar. – Estou esquecendo alguma coisa?

— Matou o namorado dos outros. – Rubens comentou secamente.

— Ah sim! Matei o Maro também. Deviam passar essa cena nos melhores momentos dos Jogos.

— Você não tem jeito. – ela suspirou. – Também receberam um mapa?

Rubens andou até onde três mochilas estavam jogadas e tirou o próprio mapa de dentro de uma delas. O x vermelho estava marcado no mesmo lugar que o de Adrila. Ela se virou novamente para Frost, perguntando:

— O que vocês estão desejando desesperadamente?

— Sexo. Mas o filho de Hades não libera. – Frost respondeu, deitando no próprio braço.

— Deixe de ser babaca. – Rubens resmungou. – O idiota ai quebrou a perna por causa da explosão. Não sei muito sobre primeiros socorros, mas ele precisa de ambrosia e néctar, tipo, pra ontem.

Adrila sentiu a presença de Hemera com mais força. Instantaneamente soube o que fazer.

— Posso ver? – pediu, se aproximando dos trapos que cobriam a perna do filho de Hermes.

— Me paga um vinho antes. – ele murmurou, mas ela pode notar que ele se contraiu de dor quando ela tocou o local, retirando a suposta atadura. Reparou que havia sido feita com pedaços da roupa do próprio Rubens.

A situação não era das melhores. A perna de Frost estava virada num ângulo humanamente impossível e havia um sangramento que poderia ser proveniente de um estilhaço da explosão que havia se alojado ali. Ela tentou tocar o local gentilmente, sentindo um calor se espalhar por seu corpo até suas mãos. Uma luz forte preencheu o local por um tempo, até ir se extinguindo aos poucos. Quando apagou, a perna do garoto estava perfeitamente bem.

—Uau! – Ele e Rubens fizeram em coro.

Adrila sorriu e se levantou, limpando as mãos no macacão.

— Bem, agora que isso está resolvido, o que acham de ouvir algo bem melhor para se fazer nesse lugar para o qual Nêmesis está mandando a gente?

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Leo havia feito algo parecido com uma muleta usando uma lança quebrada e pedaços de pano que encontrou nos destroços do Acampamento. Em sua ronda também descobrira um túnel que havia sido apenas parcialmente bloqueado e que, com um pouco de esforço, ele conseguiria passar. Ansiava por melhorar rapidamente, mas se tomasse Néctar e comesse Ambrosia demais, acabaria morrendo da mesma forma, por isso tinha que ser cauteloso. Só o pouco que tomou já havia tido um efeito incrível, principalmente sob suas costelas quebradas. Além disso o Néctar era refrescante e tinha um gosto incrível de maracujá.

Ele não sabia ao certo o que desejava tão intensamente que Nêmesis havia colocado para ele no tal lugar. Talvez fosse enfim sair vitorioso, mas isso seria impossível já que estava todo ferrado. Provavelmente seria algo para se curar mais rapidamente e assim vencer.

Lembrava-se de Nêmesis falando que restaram nove tributos. Sabia que não poderiam ser Brant e Iolanda, pois eles estavam bem no centro da coisa toda. Aron também não, pois se estivesse vivo, estaria ali com ele no Acampamento, mas Leo não tinha visto nem sinal do semideus. Apostava então em Wlad e Ias. A chance de se reencontrar com eles ao ir para o lugar que Nêmesis pedira era grande, por isso ele tratou de começar a andar, mesmo com a dor que sentia.

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— É a nossa chance de nos livrarmos disso. – Ray disse, com firmeza.

— Não acho uma boa idéia, Ray. – Michel estava de braços cruzados, olhando para a caixinha aos seus pés. – Eu digo para deixarmos isso ai e fugirmos.

— Não! Pensa só, a gente deixa isso lá nesse lugar e um dos idiotas pega. Ele ou ela vai acabar surtando igual a Sara e é menos um para nos preocuparmos!

— Ou então um de nós dois podemos acabar surtando igual a Sara. – Michel disse sombriamente.

Ray bateu o pé. Não acreditava que estavam tendo aquela discussão. A solução parecia tão obvia! Por que Michel simplesmente não deixava de ser cabeça dura?

— Acho que podemos ir até lá, de qualquer forma. – ele disse, para a surpresa dela. – A nossa água está acabando e segundo esse mapa que Nêmesis mandou, não tem nenhum riacho ou lago subterrâneo a quilômetros de distancia. Provavelmente vai ter água lá para a gente.

Bem, pelo menos ele iria até lá com ela. Contrariando seu olhar de censura, Ray pegou a caixinha e colocou na mochila. Pareceu ficar muito mais pesada, mas ela não se importou. Michel balançou a cabeça e começou a andar, com o cenho franzido.

— Eu não vou te ajudar nisso.

—Não preciso de ajuda. – Ela respondeu, confiante.

–-//--

O braço de Bella estava piorando. Estava muito inchado e as veias estavam todas aparentes, pulsando. Ela não sentia mais os dedos ou as articulações, apenas dor em certas áreas e dormência em outras. GG tentava cuidar dela o melhor que podia, mas nenhum deles era muito bom em primeiros socorros.

Haviam sido estúpidos ao se demorar com GV. Assim que o garoto morrera, os dois se aproximaram para pegar o que ele tinha de valor. Foi quando GG estava se vangloriando da espada que tinha conseguido que eles ouviram uma explosão imensa que fez toda a caverna tremer e Bella cair em uma das teias de aranha.

Era grudenta e pegajosa. Ela tentou se mexer, mas aquilo foi seu segundo erro. Tinha se esquecido que as aranhas podiam sentir quando uma presa estava agarrada e era assim que preparavam um bote. Um buraco na parede se abriu e o animal saiu, medindo pelo menos dois metros de largura, picando a garota bem acima do ombro. GG matou o bicho e conseguiu cortar as teias com a espada de Ferro Estígio, mas logo estavam cercados por mais dos insetos. Inicialmente tentaram lutar, mas perceberam que era inútil e fugiram. Em algum momento elas pararam de segui-los, mas até ai o braço de Bella já estava vermelho e soltando pus do ferimento.

Agora o veneno se espalhava por seu ombro, chegando ao seu pescoço. Ela sentia dificuldade de respirar e se manter acordada, mas GG a incentivava, dando-lhe comida e insistindo que ela não poderia morrer, que haviam chegado longe de mais para ela morrer de um jeito tão besta. Não eram exatamente palavras reconfortantes, mas serviam para deixa-la acordada.

Quando o anuncio de Nêmesis ecoou pelos túneis, o rosto de GG se iluminou. Ele a abraçou de lado, tomando cuidado com o braço ferido e disse:

— A cura para o veneno deve estar lá! Só precisamos pegar e depois correr para longe.

— Isso se eu estiver viva em vinte e quatro horas. – Bella suspirou.

Ela sabia que quando o veneno se espalhasse por seu peito e chegasse ao coração, ela estava ferrada. Pelo menos havia conseguido salvar seu amor, a única coisa que realmente desejava. Esperava que Afrodite estivesse orgulhosa.

— Não diga isso. Vem, vamos andando, assim quem sabe chegamos mais cedo que os outros.

Ele a ajudou a ficar de pé. Ambos sabiam que fraca como estava, era impossível que chegassem primeiro que os outros, mas não custava nada tentar. Bella não deixaria GG ir sozinho e ele sabia disso. Por que se fosse para morrer, ela gostaria de morrer sabendo que tinha feito algo de útil naquele lugar.

Como por exemplo salvar a vida do namorado.

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Wlad não estava seguindo em direção ao x vermelho. Ao contrario, ele havia aproveitado o mapa para procurar por um lago ou um riacho próximo, onde pudesse recuperar suas forças e beber um pouco. Afinal, por causa da explosão, não tinha água nem comida, apenas sua espada e uma lanterna. Queria encontrar Leo, mas sabia que teria que esperar.

Estava cabisbaixo. A grande maioria de seus amigos agora estava morta ou desaparecida naquele labirinto de túneis. Enquanto andava, prometeu a si mesmo que caso vencesse e se tornasse um Deus, exigiria que seus amigos fossem mandados para o Elísio. E também que os Deuses nunca mais repetissem aquela experiência com a Arena de novo. Provavelmente até Leo nunca mais fosse querer pisar em uma arena depois daquilo...

... Certo, isso era improvável.

O primeiro lago que Wlad encontrou era raso demais, chegando somente até seus calcanhares. Ele bebeu um pouco da água e lavou o rosto, livrando-se parcialmente do cansaço. Mas precisava encontrar algo maior se quisesse mergulhar e sentir todas as forças voltarem, por isso seguiu o mapa até o local marcado mais próximo.

Parecia ser bem fundo. Ele deixou a lanterna de lado e entrou com tudo, mergulhando e emergindo muitas vezes, sentindo-se bem melhor. Apesar da água ser cristalina, ele não conseguia ver o fundo, apenas uma escuridão interminável após muitos e muitos metros de água. Sua curiosidade falou mais alto e ele mergulhou, nadando até ficar escuro o suficiente para qualquer um que não fosse filho de Poseidon não enxergar. Sua mão enfim tocou a areia e ele ficou de pé, apreciando as plantas marinhas e os peixes que nadavam ali no fundo. Eram engraçados, prateados com pontinhas brancas e nadavam em cardumes enormes, contra a corrente.

Espere. Corrente?!

Wlad se animou. Se havia corrente de água era por que tinha uma saída. Ele nadou rapidamente, batendo as penas com a maior força que podia. Encontrou algo que parecia um túnel submerso e seguiu por ele. Parecia bem extenso, além de bem escuro. Até mesmo ele não conseguia enxergar direito ali, apenas sentia as vibrações das coisas ao redor.

Em algum momento ele sentiu que a água mudava. Ele estava bem no meio de uma foz, o encontro da água salgada com a água doce. A saída levava para o mar, ele tinha certeza. Continuou nadando, cada vez mais longe, até que tudo ficou absurdamente negro. Ele não enxergava um palmo na sua frente e não sentia mais as vibrações dos peixinhos. Havia algo muito estranho ali, que causava-lhe um arrepio na espinha.

Dessa vez ele avançou cautelosamente. Algo parecia querer impedir que ele fosse, arrastando-o para longe, mas Wlad era persistente. Com a ajuda de seus poderes, impulsionou a água e nadou contra aquela força, sentindo que ela estava ficando irritada com sua teimosia. Começou a sentir algo se aproximando e ergueu a espada, preparando-se.

— Caraca, ta escuro mesmo aqui. – Ele ouviu uma voz masculina dizer.

— É claro que esta escuro, idiota. – Ora, essa voz ele reconhecia de algum lugar...

— Vocês dois podem parar de brigar por um momen... Ai!

Alguém havia batido de frente com ele. Wlad sentiu o sangue se misturar com a água quando sua espada passou de raspão pelo braço da pessoa. Sentiu também dois movimentos conhecidos de pessoas desembainhando as próprias armas.

— O que está acontecendo? – perguntou, em seu melhor tom de voz autoritário. – Quem são vocês?

— Espera ai. Wlad? – A voz conhecida disse.

Ele arregalou os olhos, seguindo a escuridão em direção a voz.

— Sofia?


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