A Reunião dos Heróis escrita por MaçãPêra


Capítulo 27
Comunicação Temporal


Notas iniciais do capítulo

Oeee! Estou aqui. De volta. Sem atrasos :)
Agradeço a todos que continuam me acompanhando e comentando.
Espero que gostem!



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P.O.V. Zeke

Pela segunda vez no dia, vejo o sol tocar a linha do horizonte. O céu começa a escurecer e as estrelas  aparecem no céu. A lua brilha. Minha cabeça dói.

Isso não está certo, penso, não posso deixar Ted ir sozinho em direção ao perigo.

Ele não está sozinho. Meu irmão está muito bem acompanhado, diz a outra contraparte de mim, lutando contra a martelada em minha cabeça.

Ian e Tris surgem ao meu lado.

— Nellie está perguntando para quê você está olhando — informa o garoto.

­Viro minha cabeça para Ian, depois para Tris e volto minha atenção para o céu estrelado. Sinto um formigamento na minha nuca.

— Nada. Vamos logo.

Viro-me para onde Nellie e Katniss se encontram. O outro grupo já havia partido, deixando-nos aqui. Coloco minha mochila nos ombros, assim como Tris e Ian. Carrego também a mochila que Remo usara para guardar alimentos. Aparentemente, Ted pensa que ela será mais útil comigo. Esse cruzeiro provavelmente é um daqueles que possui tudo incluso.

— Por onde começamos? — pergunto a elas.

— Primeiro vamos pegar nossa van — responde Nellie — de lá eu libero essa coisinha aqui. — Ela sacode a pequena caixa em suas mãos. — E seguimos a esfera brilhante até o personagem mais próximo. Espero que, dessa vez, não encontremos outros personagens que não sejam Dan e Amy, porque essa é nossa última chance.

Começamos a andar em direção oposta ao mar.

— Então... Vocês já devem estar sabendo mais ou menos o que está acontecendo, né? — pergunto, sem saber mais o que falar.

— A única coisa que eu sei é que eu faço parte de um livro — Katniss admite. — E que, aparentemente, esse é o mundo “normal”.

— Sim, sim — Nellie concorda — Tot também nos contou mais algumas coisas, mas eu não entendi quase nada. É uma bagunça enorme isso tudo! Mas então, como é o seu livro? — ela pergunta para Tris.

— Ah, bem... — começa Tris — Eu diria que meu mundo se passa no futuro em relação a esse. Nossa sociedade era dividida em cinco grupos que chamamos de facções. Cada facção representa uma virtude: Audácia, Abnegação, Franqueza, Erudição e Amizade. Faz um tempo que essa estrutura não funciona mais, mas era basicamente assim — explica — E vocês? Como é o mundo onde viviam?

— Eu vivia em um lugar chamado Panem — diz Katniss — Éramos divididos em treze distritos e mais a Capital, que é onde viviam os mais ricos e privilegiados. Cada distrito era responsável por oferecer algum recurso para a Capital. Meu distrito era o doze. Nós trabalhávamos com carvão. A maior parte dos distritos possuía uma vida precária e injusta se comparada à da Capital. O meu era um dos piores — Katniss franze a testa.

Era um dos piores, mas o 12 fora quase completamente destruído.

— Vocês se rebelaram? — Tris pergunta. Ela facilmente teria adivinhado o que aconteceu no mundo dos Jogos Vorazes. Tris e Katniss viveram em mundos com um sistema falho. As duas se rebelaram contra eles.

— É complicado — diz — Para impedir que nos rebelássemos, a Capital nos causava medo a partir dos Jogos Vorazes. Assim, pensaríamos duas vezes antes de agir contra o governo do Presidente Snow — ela explica.

Chegamos a um estacionamento. Nellie e Katniss nos levam até uma van escolar com uma pintura desgastada.

— Jogos Vorazes? — Tris indaga.

Nellie tira uma chave do bolso e gira-a na porta do automóvel. Ela abre a porta de correr e entra no banco do motorista.

— Depois te conto — Katniss entra na van e senta no banco mais no fundo.

Tris também entra e senta-se ao seu lado.

— Garoto — Nellie me chama do banco do motorista. — Você vem comigo. Se aparecer alguma coisa no meio da estrada, é bom ser você o primeiro a ver.

Concordo com a cabeça e dou a volta na van para me sentar no banco do carona. Ian senta na fileira logo atrás de mim e Nellie, onde jogo minha mochila e a mochila azul de comida. Existe ainda uma fileira de três bancos entre Ian e o fundo, onde estão Katniss e Tris.

— Quantos carros vocês tem? —pergunto — Quero dizer... Vocês não foram daqui para a Guiana Francesa a pé, foram?

— Tínhamos três. Um nós usamos para ir até vocês, mas no meio do caminho tinha um rio, então tivemos que deixar o carro lá. Temos também mais um carro, mas ele está em condições muito precárias. Usaremos somente se fosse necessário. Essa van é a melhor coisa que temos.

— Como vocês conseguiram essas coisas?

— Garoto... Se você quer mesmo saber, seria melhor ter ido atrás de Tot — ela fala — mas aprecio sua presença aqui. Qualquer coisa que esteja ao meu alcance, pode me perguntar. — ela coloca a chave na ignição e liga o motor. — A propósito, qual é mesmo o seu nome?

— Zeke — respondo colocando o cinto.

Nellie me examina com o olhar.

— Quantos anos você tem?

— Dezessete.

— Ah — ela diz, aparentando estar decepcionada.

Saímos do estacionamento e entramos em uma larga avenida. Nellie encosta a van. Ela pega a caixinha que Poseidon lhe entregara e a estende para fora da janela. Um clarão repentino me deixa cego por um instante, mas logo se dissipa. Uma esfera luminosa flutua no céu a uns cinco metros de altura. A esfera se move rápido exatamente pelo caminho que a avenida nos levaria e Nellie segue-a.

— Isso vai chamar muita atenção — comento.

— Vai não — discorda — Tot usou uma magia parecida com a que ele usou com todos os personagens: só podemos ser reconhecidos por quem sabe nossa existência. Isso é uma das poucas coisas que eu sei.

— Hm... — de uma vez só. Sinto todo o cansaço do dia me atingir: a luta na casa de Mariana, o acidente de avião, o tanto que tive nadar para chegar à praia, o peso de Percy que tive que carregar, a emboscada na floresta e a separação do grupo. Tudo me atingiu com uma pancada só, se misturando à minha dor de cabeça.

Escuto Nellie começar a fazer uma pergunta, mas então adormeço.

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— Zeke! — exclama uma voz familiar.

Abro repentinamente os olhos. Não estou na van. Olho para os lados. Estou no hotel em Brasília!

Reconheço o lugar que estive ainda nesse mesmo dia. Estou deitado na cama. Olho para a direita e fico de cara com Rachel. Caio da cama. A queda e o contato com o chão não causam efeito algum em mim. Sinto-me extremamente leve e tenho facilidade para ficar de pé. Rachel se levanta, exibindo um enorme sorriso.

— Eu consegui! O Espírito de Delfos voltou até mim! Com minhas habilidades especiais, poderei conversar com você através de sonhos — ela explica animadamente.

— Uou! —digo, impressionado — Tipo telepatia?

— Melhor. — Ela dá um sorriso misterioso. Seus olhos brilham como esmeralda. — Que horas são por aí? Já está de noite?

— Bem, pelo que eu me lembro, já devem ser umas seis ou sete da noite. Por quê?

— Pois aqui ainda são duas horas da tarde. — responde.

— Deve ser o fuso horário... — digo, sem pensar direito. Só depois eu percebo: o fuso horário de Brasília é praticamente o mesmo do Suriname. Lá só é alguns minutos mais tarde. — Por Cronos! Você viajou no tempo?

— Não, não — Ela ri. — Meus poderes não chegam à esse ponto. Isso é uma espécie de videoconferência do passado... Ou do futuro, depende do ponto de vista. No meu caso, estou conversando com o Zeke do futuro. Esse é o único jeito de “entrar em contato com o futuro” sem envolver frases de múltiplos sentidos que rimam.

— Que incrível! — meu cérebro parece que vai explodir de tanta empolgação — você poderia impedir que algo que já aconteceu para mim, acontecesse? Ou isso “bugaria” todo o espaço-tempo? Seria bem louco.

— Opa, calma aí — ela se diverte com minha animação — Existe uma série de normas e sistemas éticos que eu preciso seguir. E mesmo se eu quebrar essas normas, eu ainda serei impedida de alterar o futuro por barreiras mágicas. Mas estou me desviando muito do assunto. — Seu rosto fica sério — Vamos ao que interessa: encontrei Hipnos. Ele estava preso em uma das celas no porão da Mansão de Dolores. O lugar está uma confusão, não pude fazer uma investigação melhor. Hipnos me confirmou que Annabeth também estivera presa ali, mas ele estava dormindo quando ela fugiu com o outro garoto. Ele também não conseguiu ver quem era esse garoto. Adivinha por quê? Hipnos estava adormecido quando o garoto apareceu.

— Nós quase que podíamos ter encontrado Annabeth. Foi por pouco. Muito pouco.

— Não podemos mudar isso. Agora me diga: o que aconteceu com você nessas últimas horas?

Relato todos os acontecimentos do dia desde que a vi da última vez: desde o encontro com Tris, o sacrifício de Remo, o confronto com Nellie, Katniss e Reyna, até o momento em que entro na van e sigo na direção da esfera flutuante.

Rachel escuta tudo com atenção, ela aparenta estar preocupada.

— Pelos deuses, Zeke... Sinto muito pelo que aconteceu com Remo. E espero que essa sua separação com Ted realmente valha a pena. Vocês dois pareciam ser ótimos irmãos. Você tem como entrar em contato com ele?

Penso no celular que Poseidon me dera.

— Sim, tenho.

— Bem... Então na minha próxima ligação, espero que você já tenha entrado em contato com ele. Preciso saber o que ele descobriu com Tot.

— Por que você não usa seu poder de comunicação em Ted, ao invés de fazer novamente em mim? — questiono.

Rachel desvia os olhos.

— Como já consegui falar com você uma vez, a segunda vai ser mais fácil. Falar com Ted pode me gastar muito tempo e energia — explica.

Tenho a sensação de que não é exatamente isso, mas deixo essa passar.

— Bem, acho que terminamos por aqui — Rachel conclui.

— Espere... — peço — quando nos encontraremos novamente? Tipo, pessoalmente?

A garota sorri. Ela tenta tocar em meu braço, mas sua pele atravessa a minha.

— Ainda não sei... Até mesmo para mim o futuro é imprevisível, mas posso apostar que eu saberei disso antes de você. Adeus, Zeke...

Sua voz ecoa em minha cabeça. Minha visão fica turva e escurece.

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— ...Interesse em alguma delas?

Abro subitamente meus olhos. Fico grudado na cadeira, tentando entender o que aconteceu. Estou de volta à van de Nellie, que acabara de fazer uma pergunta. Parece que o tempo não passou durante minha conversa com Rachel.

Limpo uma gota de suor que cai em meu olho.

 — Q-quê? — Me atrapalho um pouco. Ainda estou desconcertado pelos acontecimentos recentes.

— Qual é! As duas são personagens que você conhece dos livros. Tem a mesma idade que você... E são bonitas, não são? — ela sorri com uma sobrancelha erguida, sem tirar os olhos da estrada.

Olho para ela. Não entendo do que ela está falando.

— Vou considerar isso como um sim — ela conclui — Mas você só pode escolher uma. Então? Katniss ou Tris?

Quando entendo o que ela quis dizer, fico vermelho.

— Não! Bem... É... — viro-me para trás e vejo as garotas conversando no fundo da van. Ian finge que não está escutando a conversa entre mim e Nellie. — As duas já estão comprometidas. Mas eu não quero falar sobre isso. Antes de chegar aqui, quando eu ainda estava no Brasil, havíamos encontrada uma outra personagem, Rachel, e ela...

— Hum... Mais uma garota? Conte mais — ela pede.

Fico vermelho de novo. Continuo:

— Ela é uma espécie de “Oráculo”. Ela consegue prever o futuro com ajuda de um espírito. Mas agora mesmo descobri que ela também pode usar esses poderes para se comunicar comigo. Ela acabou de fazer isso.

— Espere um pouco — Nellie pede — Por que ela teve que se separar de vocês, para início de conversa?

Por um momento, reflito sobre isso. É interessante e triste perceber a semelhança entre a separação de Rachel e a de Ted. Talvez tenha sido por isso que fiquei tão resistente quanto à ida de Ted. Eu não queria perder mais alguém. Sinto novamente aquele formigamento em minha nuca. Espero que a dor de cabeça não volte!

— É complicado, mas digamos que tenha sido por um motivo parecido com o nosso. O que importa é que temos mais uma fonte de informações e mais alguém para nos ajudar a encontrar personagens. Rachel me contou através desse poder de comunicação que ela encontrara Hipnos, um deus assim como Poseidon.

— Essa conversa aconteceu, tipo, agora? Agora mesmo? — ela pergunta intrigada.

— Isso mesmo, é como se o tempo estivesse congelado. Deve ser só um detalhe dos poderes de Rachel — comento.

— Incrível!

Nellie retorna sua atenção para o caminho e a esfera. A bola de luz vira em uma estrada à esquerda. A motorista vira nessa mesma rua.

Minha barriga começa a roncar.

— Ian — chamo — pode pegar alguma coisa pra comer nessa mochila azul do seu lado?

— Agora mesmo. Também estou com fome. — Escuto o som de zíper se abrindo. Ian deve estar revirando a mochila. — Esse feitiço de extensão é extraordinário! Cabe tanta coisa... O que você quer? — pergunta a mim.

— Me dê a primeira coisa que pegar. Eu só quero comer — digo.

Ian me estende um pote de Nutella. Reviro os olhos.

— De preferência, algo mais saudável — peço.

— Eu fico com esse pote! — Nellie exige.

— Você está dirigindo! — Ian lembra.

— Então guarde pra mim — pede ela — esconda bem pra ninguém pegar.

— Ok, ok...

Ian guarda o pote de Nutella e me entrega uma maçã. Abocanho um pedaço. Sinto como se tivesse comido pela última vez somente há um século. Tão apetitoso...

Ian abre um pacote de Negresco.

— Ei, garotas! — chamo — se estiverem com fome, temos comida aqui.

As duas param a conversa animada e se apressam a chegar onde Ian estava sentado com a mochila. Ian oferece alguns biscoitos para Tris e Katniss, que aceitam prontamente.

— Caramba, isso é muito bom! — Katniss admite.

— Tenho a sensação de que já vi isso antes — Tris diz, pegando uma garrafinha de 200 ml de Coca-Cola. Ela gira a tampa, bebe um gole e faz uma careta. — Gosto estranho. Não tem algo mais natural aí?

Enquanto eles discutem, pego o celular que Poseidon me entregara e ligo-o. A tela se acende e toco no símbolo dos “Contatos”. Lá só aparece um item: Tot. Penso em clicar lá, mas ainda é muito cedo. Acho melhor fazer contato novamente com Ted somente depois de encontrar Amy.

Minha cabeça volta a latejar. Fecho os olhos com força, tentando afastar a dor. Olho para a janela. Vejo uma das coisas que mais me acalmam: as estrelas. Sempre tive uma pequena paixão por astrologia e astronomia. O universo é tão grande e complexo que me fascina. Acredito na existência de múltiplos universos. Principalmente agora que sei que os personagens existem, me pergunto se esses mundos de onde eles vieram seriam, na verdade, universos paralelos, ou qualquer coisa assim. Será que existem outros mundos além dos que vieram parar aqui? Qual é o propósito de tudo isso? Talvez, a resposta esteja escondidos por trás daqueles pontos brilhantes no céu.

Não reparo quando minha dor de cabeça se dissipa.

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Estamos a quase duas horas de viajem, quando Nellie se agita em seu lugar.

— A esfera está diminuindo de altitude! — exclama ela, animada.

Vejo pelo vidro. A bola flutuante está a apenas um metro de altura em relação ao carro. Ela diminui a velocidade e entra em um posto de gasolina fechado com um único poste de luz aceso. A esfera para quando chega bem no centro do lugar, até que ela pisca e se apaga.

— O que aconteceu? — Ian pergunta.

Nellie estaciona a van ali mesmo. Ela olha ao redor.

— Chegamos — ela diz. — Encontramos mais um personagem.

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P.O.V. Personagem Misterioso

“Acidente de avião deixa mais de cem mortos”

...Quinze pessoas continuam desaparecidas. De acordo com especialistas, houve uma grande turbulência antes da explosão. Nossas fontes confirmam terem visto um objeto não identificado atingir o avião minutos antes da queda...

Meu coração bate mais forte. Não, não pode ser isso. Ted e Zeke não podem ter morrido. Eu sei que eles não morreram, mas ainda sinto aquele frio na barriga. Será que algo diferente pode ter acontecido? Se eles morrerem, foi minha culpa. Eu sabia que não podia ter aceitado aquele presente... O que eu faço agora?

Respiro fundo.

Eles não morreram, digo para mim mesmo. É exatamente assim que as coisas devem acontecer. Ted e Zeke devem estar separados nesse momento. Um grande momento está chegando. Quando Zeke encontrar Dan e quando Ted encontrar...

Meu celular vibra. Recebi uma mensagem no whats.

Cinquenta e quatro mensagens somente no grupo com minha prima e minha irmã. Tem mais nove no grupo da família, vinte no grupo da orientação, três no da turma, etc. Vou descendo a barra de conversas até que vejo um contato sem mensagens, mas que definitivamente não deveria estar ali:

Tot


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Alguma Teoria?
Agora umas perguntas que não tem nada a ver com a fic: Vocês viram o novo trailer de Animais Fantásticos e Onde Habitam? E o de Doutor Estranho? Estão ansiosos para Capitão América: Guerra Civil?
Até o próximo capítulo!
:):):)