P.O.V Percy

– Agora que estão quase todos os representantes presentes – anunciou Quíron, em alto e bom som – Vamos dar início à Reunião do Conselho.

Estávamos na Sala de Reunião da Casa Grande. Quíron tinha requisitado todos os representantes de Chalés (e outras pessoas) para uma reunião na Casa Grande. Todos estavam sentados em frente a uma mesa comprida de madeira. O centauro estava em uma das pontas dela, com Dionísio (representando os deuses) à sua esquerda e Rachel à sua direita.

Do lado esquerdo da mesa, a partir de Dionísio até a outra ponta, estavam: Reyna (representando os romanos), Thalia Grace (Caçadoras de Ártemis), Annabeth (Chalé de Atena), Piper McLean (Afrodite), Katie Gardner (Deméter), Pólux (Dionísio) e Butch (Íris).

Do lado direito da mesa, a partir de Rachel até a outra ponta, estavam: Frank (representando os romanos junto com Reyna), Grover (representando os seres mitológicos), Jason (Zeus/Júpiter), Eu (Poseidon), uma cadeira vazia destinada a Nico (está voltando de uma missão), Will Solace (Apolo), Clarice La Rue (Ares), mais um espaço vazio, onde Leo Valdez deveria estar, mas ele, possivelmente, estava morto (pedi para guardarmos um lugar para ele, ainda acho que ele esteja vivo); Travis Stoll (Hermes) e Clovis (Hipnos).

Na outra ponta da mesa, do lado oposto ao de Quíron, Sr. D, e Rachel, estava Carter.

Carter.

Eu vim para essa reunião, principalmente, porque soube que Carter estava aqui. Se um Mago está aqui, é porque algo grande pode estar acontecendo. Um egípcio nunca antes na história do Acampamento Meio-Sangue, já esteve em território grego ou romano. Sua presença aqui já é o suficiente para colocar todos nós em perigo.

Apesar disso, eu confiava nele. Depois das últimas aventuras que tivemos juntos, percebi que ele passava por situações muito parecidas com a minha.

Ele estava quase do mesmo jeito em que nos encontramos pela última vez, tirando o cabelo castanho, que tinha crescido ainda mais. Também era notável que ele vinha treinando mais arduamente com a espada estranha que ele usava e qualquer outra atividade física que os egípcios fazem.

Sentada ao lado de Carter, estava Zia Rashid. Uma garota bonita, com a pele cor de caramelo, cabelos negros que iam até seus ombros e olhos cor de âmbar.

Alguns semideuses ainda cochichavam. Quíron pediu silêncio a todos eles e, por fim, todos se calaram.

– Este é o primeiro encontro entre Magos e Semideuses no Acampamento Meio-Sangue – disse o centauro – Os Magos Carter e Zia estão aqui por motivos cruciais, segundo eles, uma ameaça maior do que qualquer um dos nossos mundos cairá sobre nós – Quíron olhou para todos os que estavam presentes, mas ele voltou toda a sua atenção para os Magos, do outro lado da mesa – Nossos convidados estão aqui para alertar-nos sobre os perigos que podem estar vindo.

– Isso é uma grande besteira! - exclamou o Sr. D, fuzilando os dois egípcios – Se um grande perigo estivesse por vir, nós, deuses, já teríamos sentido a aproximação de algo assim – o deus bufou – Se realmente tiver algum tipo de perigo, não é nada que não se resolva com um bando de adolescentes mal treinados!

Alguns dos semideuses olharam-no com ressentimento, mas nada disseram.

Carter apoiou os cotovelos na mesa.

– Creio que o motivo de seus deuses não sentirem o perigo se aproximando, é porque o problema não vai acontecer aqui, em seu mundo.

– Carter – eu me pronunciei – Você mesmo sabe que existe um juramento de que não devemos interferir nos problemas do seu mundo. Se não vai pre...

– Percy – Carter me interrompeu – Eu conheço o juramento e é por isso que vim avisar: Esse problema não é do seu mundo, mas também não é do nosso.

Fiquei claramente surpreso com o que ele disse. Será que existe outra mitologia por aqui?

– Você está dizendo que também podem existir deuses chineses? - perguntou Annabeth, como se tivesse lido meus pensamentos – Ou nórdicos?

– Não, vocês não estão entendendo – foi Zia Rashid, a garota ao lado de Carter que disse – a ameaça vem de um outro mundo. Um mundo parecido com este, mas sem deuses e seres mitológicos como o nosso!

– Um outro planeta? - perguntou Travis – Existe uma galáxia em que os planetas não têm nomes de deuses?

Zia estava com uma cara de quem ia tacar fogo no cabelo de Travis, mas Carter pousou sua mão sobre a dela para acalmá-la.

– Não achamos que esse outro mundo seja em outro planeta – disse o mago – não vamos descartar essa ideia, mas, com as informações que conseguimos, é mais provável que isso fosse em... Uma espécie de “universo paralelo”.

Todos começaram a falar ao mesmo tempo, cochichando ao colega ao lado e dizendo suas opiniões em voz alta. Quíron bateu com a palma da mão na mesa para chamar a atenção.

– Silêncio! - novamente, todos se calaram – Está dizendo que existe um... “mundo paralelo”, em que os deuses não existem?

– Um, não. Vários – revelou Zia.

Desta vez, os campistas permaneceram em silêncio, mas entreolharam-se com uma diversidade de expressões no rosto. Carter estava visivelmente nervoso, sua mão suava. Fiquei mais curioso em saber o que mais ele descobriu.

– Como você pode saber disso? – perguntou Jason – De onde tirou toda essa informação?

– Conseguimos nos comunicar com um deles – disse Zia – foi uma experiência interessante... Conseguimos enviar um dos nossos até o outro lado por um portal, mas tivemos que enviá-lo duas vezes. Na primeira vez, quando nosso enviado voltou, ele tinha se esquecido de tudo o que tinha acontecido do outro lado. Na segunda vez, ele foi com caneta e papel para anotar tudo. Quando voltou, ela estava, novamente, sem se lembrar do que tinha acontecido dessa vez. Ele também tinha se esquecido de anotar no papel. Apesar disso, ele conseguiu se lembrar do que aconteceu na primeira vez.

– O que ele encontrou lá? - perguntei – e, a propósito, qual era o nome dele? Do enviado.

– Foi Felix, do vigésimo primeiro Nomo. Um dos meus alunos – respondeu Carter – Ele disse que foi parar em um lugar enorme e cheio de uma névoa densa e branca. Naquele momento, ele tinha se esquecido do motivo de ter aparecido ali, ele não se lembrava de nada que tivesse acontecido durante todo aquele dia!

“Meu aprendiz seguiu em frente, tentando descobrir em que lugar estava. Ao olhar em volta, ele sempre enxergava a mesma paisagem, a névoa deixava-o incapaz de saber em que tipo de lugar ele estava. Se era uma floresta, uma casa, uma rua, um jardim, era impossível saber. Também havia o vento forte, extremamente forte, que o obrigou a andar em um passo lento. Quando ele pensava não havia nada ali, que estava inconfundivelmente perdido, alguém esbarrou nele. A névoa impediu que ele visse o homem direito, mas ele enxergava a capa preta que o homem usava. Felix estava pronto para fugir, mas o homem o segurou pelo braço.”

“O homem encheu o garoto de perguntas, e vice-versa. 'Quem é você?' 'De onde você veio?' 'Que luga é esse?' 'Como você veio parar aqui?' Etc. Enquanto conversavam, Felix descobriu que o homem tinha vindo de outro mundo, um mundo parecido com o nosso. O mesmo planeta, os mesmos países, história mundial, situação política, social e econômica, cultura, e por aí vai. Havia somente uma diferença: no mundo dele não existiam deuses egípcios, gregos ou romanos. Eles não tem semideuses ou um acampamento Meio-Sangue. Eles tem... Bruxos.”

Dessa vez, os semideuses não conseguiram se conter. Sussurraram para os campistas ao lado. Tão alto foi o barulho, que eu repensei na parte em que considerei “sussurraram” como um verbo adequado. Quíron deixou-os falarem, pois estava absorto em seus próprios pensamentos.

Notei que Annabeth estava observando Carter e Zia desconfiadamente. Olhei para os dois magos. Zia cochichava algo no ouvido de Carter, que negou com a cabeça o que quer que ela tenha falado. O mago explicou a ela algo que não pude ouvir. Enquanto ele falava, Zia percebeu que eu estava olhando. Desviei rapidamente meu olhar... E vi intensos olhos cinzentos me encarando.

Eu teria caído para trás, junto com a cadeira na qual eu me sentava, pelo susto que tomei, mas simplesmente ergui uma sobrancelha para Annabeth. A loira imitou meu movimento, com uma sobrancelha erguida. Então, dei meu melhor sorriso para ela. Ela revirou os olhos e corou levemente.

Nesse momento, o Sr. D se levantou e bateu com a palma da mão, bem forte, na mesa.

– Silêncioooooooooo! - o deus exclamou.

A voz do deus era tão loucamente poderosa, que Jason, ao meu lado, quase caiu para trás, mas eu segurei sua cadeira antes que isso pudesse acontecer. Grover não teve tanta sorte assim. Rachel teve que ajudá-lo a se levantar. Até Quíron pareceu surpreso. O resto dos campistas ficou em silêncio.

– Continuem – pediu Dionísio, mal-humorado.

Carter estava mais desconfortável quando continuou a explicação.

– O homem misterioso também disse que aquele lugar, o campo de névoa, é a única ligação entre os mundos, ele disse que todos os caminhos partem de um mundo e convergem em um só lugar: O Mundo Normal.

– Mundo Normal? Parece ser um mundo bem exótico, esse – ironizei.

– De acordo com Felix. Esse “Mundo Normal” é diferente de todos os outros mundos por um motivo.

– Por ele ser normal, eu suponho – adivinhei.

– Por ele ser mais normal. É como se fosse os nossos mundos antes de descobrirmos toda essa maluquice. Sem magia, deuses, seres mitológicos, bruxos, magos, etc.

– Se esse mundo não tem nada de especial, então porque temos de nos preocupar com ele? - perguntou Jason.

– Porque... Suspeitamos que alguém, com más intenções, planeja enviar todos nós para esse mundo – confessou Zia.

– Por que alguém quereria isso? - perguntou Will Solace – Tem alguma coisa nesse mundo que não tem em nenhum dos outros?

– Não fazemos ideia do que poderia ser, mas acho que já temos dois motivos para nos preocupar: durante o experimento com Felix, percebi que da primeira vez que ele foi ao Campo de Névoa, ele perdeu todas as memórias que ele teve do mesmo dia. Ou seja, se formos enviados para esse mundo ainda hoje, perderemos a memória de toda essa conversa e tudo o que aconteceu ou vai acontecer nesse dia.

– Então temos que impedir isso! - exclamou Clarice.

– Podemos tentar, mas nada vai impedir que isso aconteça. Já foi profetizado. “No novo mundo...

– … Acontecerá a reunião dos heróis – completou Rachel – Vi essa frase em um dos meus sonhos. Não podemos impedir que sejamos enviados para esse lugar, mas podemos adiar o momento. Mais alguma coisa a acrescentar, Carter?

– Só mais uma coisa, antes de terminar essa reunião de conselho: A pessoa que está planejando isso é, possivelmente, do meu mundo, mas estou sentindo que alguém do seu mundo também já descobriu sobre esses outros mundos, alguém com poderes e habilidades peculiares.

– E quem seria essa pessoa? - perguntei.

Nesse momento, a porta da sala de reuniões se abriu bruscamente. De um olho levemente inchado, suor cobrindo o rosto pálido e deixando os cabelos negros molhados, respirando pesadamente, mancando e apoiando o peso do corpo na espada de ferro Estige estava Nico Di Angelo.

– Quíron, Sr. D, Rachel e os dois Magos da Casa da Vida, preciso falar urgentemente com vocês... – Nico rolou seus olhos por toda a sala, encarando os campistas confusos, assustados e desconfiados – ...em particular.