Garoto de Papel (Hiato) escrita por Risoto


Capítulo 2
Só para termos uma ideia


Notas iniciais do capítulo

*jurosolenemtenãofazernadadebom*
OIEEEEEEE, OLHA QUEM CHEGOU.
Então gente bonita, consegui minha beta! Ela é uma graça, e não demora nada para enviar o capítulo pronto. Se demorar para postar a culpa é minha mesmo huehuehue.
Enfim, boa leitura ^^



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O modo como a caneta preta desliza pelo papel, o som das teclas enquanto digito, tudo isso me deixa com uma sensação de satisfação pessoal. O sol ainda não nasceu. Posso ver pela janela as cores quentes da alvorada despontando e colorindo o negrume que antes preenchia o céu.

Ainda visto meu pijama. Sinto o vento frio bater levemente em minhas pernas e barriga, já que a blusa levantou. Coloco um ponto final e observo, satisfeita, meu trabalho. Mais um capítulo pronto.

"Através do Espelho" é uma de minhas histórias de fantasia preferida. Guardei meus mapas da terra de Lorb, as fichas de personagem e os resumos dos capítulos na devida pasta da história. Fecho as abas com o dicionário de sinônimos e o dicionário da Língua Portuguesa do meu navegador, enquanto desligo o computador. Olho o relógio. 5h52min da madrugada.

Ainda é muito cedo para começar a me arrumar. A insônia chegou com força ontem à noite. Então peguei minha história e escrevi um capítulo. Agora a inspiração se esgotou. Passei o olho vagamente por todas as pastas das 10 histórias que já passaram por minha cabeça. Meu olhar se fixou quase que imediatamente em minha preferida.

"Sempre nos amamos" é um terrível clichê. Dois amigos que se apaixonam com o tempo, Daniel e Letícia. Por que então eu era tão fissurada a essa história?

Porque era a minha história.

Okay, talvez não exatamente a minha propriamente dita. É a que eu gostaria que fosse. Daniel é meu garoto dos sonhos; Letícia, quase minha sósia. Meus sentimentos postos num papel. Queria que fosse verdade. Queria que Daniel fosse real.

Estiquei a mão para segurar a pasta. Agarrei o bolo de folhas que compunham o primeiro capítulo. Perdi-me em minhas próprias palavras. Daniel me fascinava. Sempre me pego estudando seu comportamento, como se não tivesse criado-o.

Só me dei conta do horário quando o sol bateu em minhas mãos frígidas. O relógio na parede marcava 6h43min. Levantei-me preguiçosamente, me troquei e desci, arrastando os pés.

Minha mãe estava na cozinha, com os cabelos castanhos cintilando à luz do sol nascente. Apanhei um iogurte de chocolate na geladeira, enquanto dava um “bom-dia” murmurante. Ela me sorriu e continuou a comer seu cereal.

Ana Luisa é o nome dela. Ela é linda. Cabelos na altura dos ombros, olhos ligeiramente verdes, que eu tive a infelicidade de não herdar. Traços de uma beleza incomum, mas arrebatadora. Já eu, sou só uma cópia malfeita, cabelos com um corte repicado em ângulos estranhos, que eu mesma fiz em casa. Olhos castanhos de meu pai. Lábios finos e rosto um tanto redondo demais.

Apesar disso, me sinto bem comigo mesma. Não tenho a intenção de chamar a atenção. Por mais que eu escreva sobre esse sentimento tão obscuro que se chama amor, não acredito que ele possa deixar as pessoas em sua plenitude. Quando era pequena, tinha um bloqueio demasiado grande em relação a esse sentimento. Repudiava qualquer coisa que meramente lembrasse amor. Agora, só fujo o máximo possível.

Ouço a campainha soar. Rastejei até a porta, e quando a abri, me deparei com Mel, minha melhor amiga, de cabelos ruivos e curtinhos, olhos mel, como seu nome, e sorriso fácil.

— Entra logo. Está adiantada. — murmurei, os olhos pesando.

— Não, você está atrasada. — ela me analisou de cima a baixo, e concluiu: — Passou a noite em claro.

Não era uma pergunta, mas sim uma afirmação. Não esperou minha resposta, apenas se dirigiu até minha mãe e a cumprimentou.

— Oh, Melissa, querida, já vamos sair, vou pegar minhas chaves. — e se levantou apressada.

Mel voltou seu olhar para meus olhos arroxeados de sono.

— Tem que parar de fazer isso, fofolete.

— Ah, mas o capítulo ficou maravilhoso, Mel! — captei seu olhar esperançoso, e fiz um muxoxo. — Mas você sabe que não irei lhe mostrar.

— Não entendo por que você não mostra a ninguém suas histórias, Lana. Devem ser incríveis.

— Mel, já te disse mil vezes... É uma espécie de bloqueio meu...

Não consegui terminar, porque minha mãe irrompeu no cômodo com seu habitual sorriso “digno de comercial de Colgate”, chamando-nos e chacoalhando as chaves. Levantei em um pulo. Que timing perfeito.

*

Guilherme nos esperava na porta. Estava sentado no chão, mexendo no celular. Quando seus olhos se encontraram com os de Mel, ele sorriu.

Vamos explicar umas coisas. Eles são complicados. Mel, com seu jeitinho inocente e doce, conquistou Guilherme. Vou confessar: A história dos dois me inspirou para criar meu clichê em "Sempre Nos Amamos". Sempre fomos melhores amigos, e com o passar dos anos, os dois começaram a nutrir sentimentos um pelo outro. Só que, mesmo que as duas partes tenham certeza dos sentimentos que nutrem, não fazem nada a respeito. Sempre que pergunto para Mel ou Gui por que, eles me respondem que “não é tão simples”. Mas, para mim, é o mais simples possível.

Guilherme esticou os braços, pedindo com os olhos para que alguém o ajudasse. Afastei-me ligeiramente, deixando que Mel o fizesse. Quando ele se levantou, seus corpos ficaram a centímetros de distância. Dei um sorrisinho e avancei pelos portões da escola, deixando os dois sozinhos.

Uma coisa que você tem que entender sobre mim é que eu mudei muito desde meus seis anos. Naquela época, eu achava que o amor não existia. Hoje, só acho que ele não vale a pena. Vejo exemplos muito comoventes de casais que realmente chegaram a se amar, mas... Eles quase nunca duram. Esse sentimento que se alastra por nossos peitos e nos faz sorrir sem motivo machuca.

E, antes que alguém possa sequer perguntar como eu sei disso, saiba que, sim, eu já amei uma pessoa. Nunca nem cheguei a conversar com ela, mas sua presença me deixava feliz. Eu tinha 14 anos, três anos atrás. Ele tinha 17 anos. Um sorriso gentil. Educado, amigável. Seguro. Trazia estabilidade. Tudo o que eu sempre quis.

Só que ele foi para faculdade, então não deu certo. Fiquei destroçada por um tempo, mas isso me ensinou que o amor existe sim. Só não vale o esforço.

Desacelerei o passo, deixando os dois me alcançarem. Sentamos num canto do pátio, e pude ver Gui segurando a mão de Mel.

— Laninha, amor da minha vida, que dia é hoje? — o garoto questionou, com um sorriso no rosto. Peguei meu celular, calmamente, e olhei a data.

— 20 de Março. — respondi monotonamente.

— Sabe o que significa? — Mel continuou, sorrindo.

— Que hoje é segunda e eu realmente não estou a fim de ter Físico-Química.

— Não, sua besta! — a ruiva rolou os olhos, com impaciência. — Quer dizer que seu aniversário é daqui oito dias! O que você vai fazer?

— Ah, pensei em irmos ao Johnny Rockets ou algo do tipo.

— Mas nós fazemos isso sempre! — replicou Gui, irritadiço. — Temos que fazer algo diferente no seu aniversário! — Mel concordou, mirando-me inquisidoramente.

Os dois me sondaram até o sinal soar, e eu neguei com veemência. Nada que envolvesse uma complexidade maior do que caminhar até o shopping me fazia gemer de preguiça.

Além do mais, o que de tão extraordinário poderia acontecer no meu aniversário?


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Notas finais do capítulo

Entãããão, esse capítulo foi mais uma apresentação geral dos personagens, a proposta principal vai começar lá pelo capítulo quatro ou cinco, não me lembro.
E ai, o que acharam? Comentem e deixe uma autora muito feliz.

Beijão com Nutella

*malfeitofeito*