— NÃO! Eu posso muito bem segurar essa caixa sozinha. – Falei batendo o pé no chão. – Tenho duas mãos e elas funcionam muito bem.

Os criados tentavam de todas as formas pegar a caixa.

— Mas alteza... esse é o meu dever. – Um deles retrucou nervoso sem saber o que fazer.

Tá, eu confesso.

Aquela cena era vergonhosa até para mim mesmo, mas em minha defesa, eu jamais entregaria a caixa com uma espada para um dos criados.

Meus pais, Marilyn, rainha América e rei Maxon assistiam tudo perplexos, enquanto Ahren se divertia com o momento.

— Não adianta insistir, procure outra coisa para segurar. – Segurei a caixa como se fosse a minha vida.

— Paul, deixe-a carregar a caixa. – Rainha América finalmente se pronunciou. – Leve as outras malas para os quartos.

Sorri vitoriosa e lancei uma piscadela para o criado. O mesmo ficou envergonhado e seguiu as ordens da rainha.

Acho que causei uma excelente impressão nos funcionários do castelo, pois eles ficaram me olhando como se vissem uma aberração. Missão concluída.

— Nicole? – O rei Maxon me chamou. – Embora você já conheça o castelo, Ahren irá lhe mostrar seu novo quarto.

— Novo quarto? – Questionei curiosa.

— Eu sei que pode parecer um sonho para você, mas seu novo quarto fica ao lado do meu, ficaremos ainda mais próximos. – Ahren sorriu cinicamente.

— Sonho? Isso parece mais um pesadelo. – Retruquei revoltada.– Vocês não têm outro quarto? Um que de preferência fique do outro lado do mundo.

— Nicole, tenha modos. – Minha mãe repreendeu. – Acompanhe o príncipe Ahren e vá conhecer seu novo quarto.

Quem precisa de inimigos nessas horas?

Mesmo emburrada, puxei Marilyn com minha mão livre, enquanto a outra mão segurava a caixa e me aproximei do idiota.

— Antes que eu me esqueça... – A Rainha América obteve nossas atenções. – Mais tarde vamos fazer o anúncio oficial do noivado para toda Illéa.

Noivado? Comoassim? Eu mal cheguei.

— Por que tão rápido?

— O casamento está marcado para o próximo mês. – Rei Klaus respondeu minha pergunta. – Precisamos acelerar o processo.

Cheguei na conclusão que estou pagando todos os meus pecados parceladamente.

— Podemos conhecer seu quarto, noivinha?

— Eu mereço.

Bufei de raiva e entrei com passos pesados na entrada do castelo. Pelo canto do olho, consegui ver Marilyn tentando conter um sorriso.

(...)

O castelo, praticamente, não havia mudado nada durante todo esse tempo. Até os funcionários pareciam ser os mesmo que conheci dois anos atrás.

A única coisa diferente era meu "novo quarto", agora ele ficava no mesmo corredor dos demais quartos da família real.

— O que você achou? – Perguntou ao meu lado.

— Bonzinho... mas prefiro meu antigo quarto. - Respondi observando as flores brancas desenhadas na parede azul.

— Você vai deixar de preferir quando começarmos a dormir na mesma cama. – Revirei os olhos e dei uma cotovelada em sua barriga. – Ai... qual o seu fetiche por me machucar?

— Sei lá... é divertido.

Antes que ele pudesse retrucar, uma criada entrou no quarto.

— Vossa alteza, telefone para o senhor. – Falou envergonhada.

— Diga que estou ocupado. – Sua atenção estava voltada para mim.

— Ela disse que era importante. – Ahren abriu um sorriso contido. Ela? Ótimo, além de estar em um relacionamento forjado, ainda terei o privilégio de ser traída constantemente.

— Avise que estou indo. – A criada saiu timidamente. – É sempre bom ficar com você, docinho, mas preciso resolver algumas pendências. 

— Já vai tarde. – Ele se retirou do quarto, não antes de soltar uma piscadela em minha direção. 

Revirei os olhos.

Marilyn, que tinha se enfiado dentro do closet desde que chegamos no quarto, finalmente voltou.

— Docinho? – A loira questionou com um sorriso malicioso no rosto.

— Sem comentários. – Joguei uma almofada nela. – Eu odeio esse babaca.

(...)

Depois de ter escondido a caixa com a espada, fiquei imensamente orgulhosa da minha capacidade de escolher esconderijos secretos. Nem Marilyn acharia.

Nós duas organizamos todas as coisas tanto no quarto quanto no closet, esvaziando todas as malas. Por fim, enquanto Marilyn separava minha roupa para o anúncio do noivado, eu decidi andar um pouco pelo castelo.

No momento em que virei em um corredor, numa breve distração, meu corpo foi chocado com outro desconhecido e meu destino foi o chão duro, senti uma rápida tontura até conseguir focar o que estava na minha frente.

— Hey. Você está bem? – Acho que me apaixonei. Mentira. Ele era bonito, mas meu coraçãozinho era trabalhoso demais para ter sentimentos românticos.

— Minhas pernas estão dormentes, fora isso acho que estou bem. – Observei o garoto loiro ficar ligeiramente preocupado, enquanto endireitava seus óculos.

— Eu sinto muito. – Mas eu não. Ele estendeu a mão em minha direção. – Eu posso te carregar até a enfermaria.

Me julguem, mas aquilo era uma oportunidade valiosa e eu não iria desperdiçar.

— Bom, se não tiver problemas, você poderia me carregar até meu quarto? Lá eu faço uma compressa de gelo.

— Você tem certeza? – Acenei com a cabeça. – Tudo bem então...

O garoto passou seus braços pelas minhas pernas e me sustentou no seu colo. Tentei esconder minha cara de felicidade e satisfação.

— Onde fica seu quarto? – Perguntou.

— Fica exatamente do lado do quarto da anta, quer dizer... do príncipe Ahren.

Observei o loiro soltar uma risada de contentamento e começar a andar pelos corredores.

— Pelo visto você já conhece o Schreave.

— Infelizmente a vida não é justa, então eu meio que vou casar com ele. – Reparei ele arqueando as sobrancelhas.

— Então você é a comentada princesa Nicole? As pessoas passaram semanas falando da sua chegada.

— Pois é, né. – Resmunguei. – E você? Qual é o seu nome?

— Kile Woodwork. – Woodwork, esse nome era familiar. – Então... você e Ahren se dão bem?

— Absolutamente. Nosso relacionamento é tão harmonioso. – Falei transbordando de sarcasmo. – Não estranhe se ocorrer uma futura guerra em Illéa.

— Não fico tão surpreso. – Comentou sorrindo. – Ahren não é uma pessoa fácil de lidar.

— E você? De onde teve o desprazer de conhecê-lo?

— Fomos criados juntos, eu, Ahren e Eadlyn... nossos pais são amigos de longa data.

Um guarda que ia passando ao nosso lado, observou a cena com curiosidade.

— Aconteceu alguma coisa, Kile?

— Eu virei em um dos corredor, não vi a senhorita e acabei colidindo nela.

— Na verdade, a culpa é totalmente minha, senhor guarda, desde criança não adquiri um bom equilíbrio e até hoje sofro por isso. – Respondi, atraindo a atenção dos dois. – Inclusive, agora já me sinto melhor e posso ir andando até meu quarto.

— Você está bem mesmo? – O loiro perguntou apreensivo. 

— Estou sim. – Coloquei um sorriso amarelo e tentei ser convincente. – Pode me colocar no chão.

Meus pés voltaram a ter contato com o solo e seus braços se afastaram.

— Então... – Kile coçou a cabeça e o guarda permaneceu nos encarando em silêncio.

— Então eu vou indo, te vejo por aí. – Falei me afastando, indo em direção do quarto, não antes de acenar para o loiro.

Talvez Illéa não seja algo tão ruim assim...

(...)