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Capítulo 8
Capítulo 7 — Joshua Martinel


Notas iniciais do capítulo

Olá ♥



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A noite já havia chegado. O céu negro iluminado com a enorme lua cheia e alguns pingos de chuva riscavam as janelas das casas do Condado de Madrin.

— Lúcia, feche a janela do seu quarto!

Joshua gritou do pé da escada. Joshua Martinel era um garoto de dezessete anos comum e naquela noite ele estava de babá da sua irmã mais nova, Lúcia, de sete anos.

— Josh, por que não fomos? — Lúcia resmungou enquanto descia as escadas usando apenas meias e um vestidinho azul com margaridas bordadas na saia.   

Joshua respirou fundo, sem paciência. Ele encostado ao armário da cozinha, mexendo no celular.

— Eu já disse Lucy. Papai e mamãe queriam uma "noite privada", sei lá, algo assim. — o rapaz deu os ombros e colocou o celular em cima do armário. — Então, o que vai ser? Hambúrguer ou pizza? Eu posso pedir os dois.

Lúcia soltou um suspiro sentando-se no último degrau da escada.

— Eu quero meu hambúrguer sem gergelim! — a menina exclamou e subiu correndo até seu quarto.

Joshua passou a mão pelo rosto e bufou enquanto resmungava algo como “eu odeio crianças”. Ele pegou o celular de volta, presumindo, é claro, que sua irmã fosse ficar entretida vendo desenhos enquanto ganhava uns minutinhos pra vagar na internet sem se preocupar em alimentar a garota. Joshua checou todas as redes sociais, e por fim, abriu a aba da internet.

Ele já tinha notado que fazia mais de um mês que ele não recebia notificações no email sobre atualização de Cemitério das Cinzas. Começou a vagar pela página inicial, olhando algumas novidades, e então, logou em sua conta.

**

www.darksidehome.com/Login

CONTA: 1269

NOME USUÁRIO: Magnus

Senha: ******-***

Conta sendo logada...

Aguarde...

Bem vindo a sua conta, Magnus!

**

Joshua seguiu até seus acompanhamentos, todas as histórias listadas tinham o símbolo de atualizadas, todas continham capítulos novos, algumas até duas vezes. Joshua mal podia esperar para lê-los, mas, ao rolar pela lista notou que a única sem atualização era a bendita cuja ele mais estava ansioso. Como o de esperada, não havia nada ali sobre Cemitério das Cinzas, ou notícia alguma sobre Anonimato.

Frustrado, ele saiu da página de acompanhamentos. Começou a vagar pelo site de forma aleatória, e então, franziu o cenho com o apitar de uma notificação. A partir daí, Joshua começou a digitar com rapidez e parecia empolgado. Por vezes soltava um sorriso ou uma risada. Em um último momento ele arqueou a sobrancelha direita e negou com a cabeça.

— Maluco. — Joshua estalou a língua e desligou o celular, pondo-o em cima do armário.

O rapaz seguiu até o telefone fixo na parede e discou os números da pizzaria. Pediu uma pizza média de metade calabresa metade mussarela e dois hambúrgueres de carne e claro, um deles sem gergelim.

Assim que pôs o telefone no gancho, a campainha tocou. Joshua deu um sobressalto devagar.

Caminhou até a porta, ainda pensando de qual maneira a pizzaria conseguiu entregar os pedidos seis segundos depois de eles serem feitos. Ele abriu a porta e não viu ninguém. Quando ele olhou para baixo, viu um pacote em cima do capacho de entrada. O rapaz se abaixou, pegou o pacote e o apertou com as mãos, então leu o destinatário da entrega: Magnus.

**

— Josh! — a voz de Lúcia ecoou do quarto dela, a voz sonolenta e manhosa.

A garota bateu a porta e vinha descendo as escadas.

— Eu dormi sem querer. Sonhei com alguns gritos seus, pedindo socorro sabe... — ela descia devagar coçando os olhos, bocejou uma vez. — já chegaram os nossos h...

Lúcia estava paralisada no meio da escada. Ela não gritou, ela entrou em choque. Encostada na parede, a criança deslizou as costas até se sentar no degrau, olhando para a cena bizarra no chão da cozinha. Não eram devaneios, tampouco sonhos os gritos que atormentaram o sono da pequena Lúcia, eles eram reais, e ela não havia escolhido momento pior para descer as escadas.

A garotinha viu coisas que jamais poderia esquecer, ela passou cerca de cinco minutos encarando uma cena que a chocaria para sempre e por fim, ela ficou observando seu irmão encostado no armário. Seus pulsos estavam cortados na vertical, os cortes chegavam até o ombro. Sua garganta também cortada fazia jus às pernas dilaceradas. Havia sangue por toda parte. Esguichado nas paredes, manchas nos armários e no chão, poças.

E a pequena Lúcia estava abraçando os próprios joelhos. Olhos arregalados e boca aberta, incapaz de emitir qualquer som. Lágrimas saiam de seus olhos, mas seu rosto estava inexpressivo. A menina estava inerte, parada como pedra. Olhar congelado, respiração baixa, lenta assim como seus batimentos. Por fora, uma quietude imensa, a casa extremamente silenciosa. Por dentro, a mente de Lúcia estava transtornada, ela escutava gritos. A garota se lembrou dos “sonhos” com os gritos do irmão. Oh, pequena Lúcia. Abandonada na escadaria de casa. O pesadelo só estava começando e a parte II teve início quando a porta da frente foi aberta, e uma vez melodiosa anunciava:

— Crianças, nós chegamos!

**

Alice teve um sono tranquilo o que era quase assustador considerando as atuais condições da garota. Ela se sentou na beira da cama e riu baixinho do fato de seus pés não tocarem totalmente o chão. A cama era um pouco alta e Alice ainda não tinha caído na graça de chegar a um metro e sessenta. A graça acabou quando Alice olhou para sua gaveta e depois quando apertou as bordas do colchão.

O misterioso caso do bilhete e da internação de Enzo Monroe.

Quando acordada e bem desperta, Alice não conseguia tirar isso da cabeça. O Galeno que viu na esquina da escola; o bilhete misterioso vindo dele; a internação do autor dono deste personagem. Eram coisas tão próximas, mas tão absurdamente distantes, mas que em alguma maneira eram conectadas na mente de Alice e quase faziam sentido.

Alice coçou os olhos e olhou o relógio, ela tinha dormido por muito tempo e estava quase passando das oito horas da noite. Logo seu estômago começou a roncar. Foi indo na pontinha dos pés, sentido os choques do chão gelado em seu corpo quente, e pegou a maçaneta da porta. Antes de abri-la, Lydia o fez, dando de cara com Alice.

— Ei, finalmente! — Lydia atravessou a porta indo até a penteadeira, abrindo a gaveta. — Estava com medo de você ir à óbito por dormir demais.

Alice piscou e deu um sorriso pequeno.

— E aí.

Lydia estava remexendo na gaveta de forma rápida e parecia um pouco desesperada, Alice voltou a sentar em sua cama, observando a prima.

— Preciso achar a minha prova de português. Acredita que a senhora Finnigan me tirou dois pontos por nada? — ela resmungava e continuava remexendo nos papéis da gaveta. — Aquela velha me odeia!

Alice esfregou o rosto, seus olhos inchados de tanto dormir.

— Ou você é só burra mesmo, Lydia.

A garota não respondeu, e continuou remexendo na gaveta que caiu no chão riscando o piso e deixando voar papel pra todo canto.

— Okay, você é realmente muito burra. — Alice riu e se agachou pra ajudar a catar os papéis.

Lydia negou, pegando cada folha do chão e abrindo com rapidez, conferindo se é sua prova, e quando vê que não é, embola de qualquer jeito dentro da gaveta. Alice congelou por um instante, observando todas aquelas folhas espalhadas que iam uma por uma até a mão de Lydia.

— Oh, droga.

Alice murmurou e começou a catar todas as folhas com rapidez, soqueando-as na gaveta.

— Eu não olhei essas ainda! — Lydia reclamou, pegando outra folha aleatória do chão.

Alice respirava rápido, limpando o chão o mais rápido possível.

— Ah, mas eu olhei! Tenho certeza que sua prova não está aqui.

— Mas você não está nem abrindo as folhas! — Lydia argumentou, negando de leve, e voltou a olhar a folha em suas mãos.

Alice continuava a catar os papéis com desespero, o chão estava quase limpo quando olhou Lydia.

— Olha, acho que vi suas provas na... — ela se auto-interrompeu quando olhou a expressão de Lydia mudar bruscamente, olhando a folha em mãos. — O que você está lendo?

Alice puxou a folha, Lydia puxou de volta. Ela ficou mais alguns segundos passando os olhos pelo que estava escrito, e encarou Alice.

— Alice, o que é isso? — sua voz estava baixa, como um sussurro. — Enzo Monroe? Numa clínica psiquiátrica? Conhecido como Anonimato em um site de histórias online?

Lydia se levantou do chão, segurando o papel com os olhos fincados em Alice, que se viu sem saída para mentir, então continuou calada, arfando devagar.

— Quem é Enzo Daniel Monroe? Por que você tem esse papel? E nem pense em dizer que ele não é seu, ninguém fica tão nervoso do nada como você a não ser que esteja escondendo algo. — Lydia respirou fundo. — Comece a falar, agora.

Lydia não era de dar ordens, nunca quis fazer o papel de irmã mais velha por que achava um saco e bem antiquado, e afinal, ela sempre achou que Alice era a mais ajuizada entre as duas. Mas naquele momento, ela sentiu que era preciso.

— Por favor, calma. — Alice se aproximou da prima, tomando o papel de suas mãos. — Fala baixo, não vamos fazer alarde.

— Tudo bem, tudo bem. — Lydia assentiu devagar. — Vamos, comece a falar.

Ambas se sentaram na cama de Alice, uma de frente pra outra.

— Foi há poucos dias, eu estava cansada da demora dos capítulos e do sumiço do Anonimato, então decidi pesquisar sobre ele e sobre o site de histórias, mas não achei nada. — Alice limpou a garganta, apertando os próprios dedos. — Bem, então cliquei no tópico de "assuntos relacionados" e descobri que há um homem internado no Instituto Westin Hills...

— Hills? Já ouvi falar... É aquele colégio que fica no centro?

Alice negou.

— Não é um colégio. É um sanatório, bem, é uma clínica psiquiátrica. Sanatório é termo pejorativo, eu acho. Enfim, Anonimato está lá. — Alice devolveu a folha amassada para sua prima. — Eu imprimi toda a página. Parece que investigaram tudo sobre ele, seu nome é Enzo Monroe, tem quarenta e quatro anos, e é esquizofrênico. Não tem família, sua mãe está morta e aparentemente ele nunca teve pai. Devem ter mexido no computador dele, aí...

Lydia lia atentamente o papel quando interrompeu Alice.

— Aqui está escrito "conhecido "popularmente" por Anonimato em um site de história na internet. Enzo era/é um escritor amador". Não acredito que é ele mesmo, meu Deus. — ela não tirava os olhos da folha, arfando de leve, a garota relia tudo três vezes por minuto.

Alice levantou a ponta do colchão e tirou um cartão dali. Segurando-o com firmeza na ponta dos dedos, ela o deixando rente ao seu corpo.

— Eu não queria contar, por que eu não sei bem o que significa, mas no mesmo dia em que eu pesquisei sobre o Anonimato e descobri essas coisas, eu achei isso em cima da penteadeira. — Alice entregou o cartão a Lydia.

A garota pegou-o.

— "Você está fora da minha lista, AlliVe.". — Lydia leu o cartão e depois olhou a prima. — Quem é AlliVe?

Alice reprimiu os lábios e afagou os braços.

— Sou eu. — ela respirou fundo. — Bem, é o meu user no site darksidehome.

Lydia prendeu seu olhar em seus próprios pés e depois fechou os olhos. Ela sentiu como se pudesse desmaiar. Ela levou a mão direita até o pescoço e massageou sua nuca devagar, inspirando três vezes, sua cabeça já doía. Lydia entregou o cartão pra Alice e massageou as têmporas, depois abriu os lindos olhos verdes, que agora têm uma sombra de preocupação.

— Lydia, você está bem? — Alice se aproximou com cuidado, tocando-lhe o ombro.

Lydia pigarreou e fitou a prima.

— Lembra do dia em que encontramos aquele cara muito estranho que dizia ser Galeno? — sua voz estava baixa como se contasse um segredo. Alice balançou a cabeça em afirmativo. — Você se lembra do que ele nos disse?

Alice soltou uma exclamação abafada mordendo os lábios.

 — “Vocês estão na minha lista”. Foi exatamente isso que ele disse. — Alice falou num tom monótono.

Lydia assentiu devagar e pegou seu celular, começando a digitar muito rápido. Alice tentou espiar.

— O que você está fazendo?

Lydia continuava concentrada na tela, e depois começou a assentir devagar.

— Fica no centro, não é longe. — murmurou baixinho, olhando o celular e depois o guardou.

— Do que você está falando? — Alice insistiu.

— Nós vamos visitar um paciente. — Lydia inspirou. — No Instituto Westin Hills.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada por vir até aqui. ♥