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Capítulo 6
Capítulo 5 — Descanse em Paz


Notas iniciais do capítulo

Olá ♥



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Aquela segunda feira cheirava a ovos, waffles e leite morno. Era um mistério como a casa dos Ashter sempre tinha cheiro de café da manhã. Mas, naquele dia, o cheiro inundava a casa por que Catarina Ashter tinha o expediente mais tarde naquela terça-feira, então poderia preparar o café para seus filhos e sua sobrinha. Nos quartos, as crianças ainda dormiam e Alice foi a primeira a se espreguiçar. A garota bocejou de olhos fechados, esticando as curtas e finas pernas para fora da cama, deixando suas pantufas brancas com orelhinhas de gatos caírem no tapete bege.

— Lydia, vamos, levante. — Alice murmurou, coçando os olhos.

A prima se revirou na cama, cobrindo a cabeça com a coberta.

— Hm... Hã... O despertador nem tocou ainda. — Lydia afundou o rosto em seu travesseiro, falando com uma voz manhosa de sono.

Alice se levantou de vez, se livrando do cobertor. Sentou na beirada da cama da prima e sacudiu seu braço devagar.

— Tocou duas vezes, você que desligou.

Lydia não respondeu, apenas afundou ainda mais seu corpo na cama. Alice ignorou a prima, e abriu as cortinas rosadas com flores brancas, deixando o sol forte passar pela janela de vidro, invadindo o quarto.

— Meu Deus, feche essa droga! — Lydia berrou, jogando o cobertor no chão e saltando da cama violentamente, com os olhos semicerrados por causa do sol.

— Não sabia que era uma vampira. — Alice revirou os olhos, saindo do quarto, indo em direção ao banheiro do corredor.

Lydia bufou, resmungou alguns palavrões e enfim levantou-se da cama a contragosto, calçando as pantufas de Alice e amarrando os longos cabelos negros.

(...)

Depois de alguns minutos, e três brigas pelo uso do banheiro – mesmo que as meninas tivessem o seu próprio dentro do quarto, todos brigavam pelo banheiro que ficava entre os quartos, pois era o único com água quente – Soul, Alice e Lydia estavam no andar debaixo da casa, já arrumados para irem à escola. Soul estava amarrando o tênis branco, quanto Lydia colocava seu casaco vermelho sem estampa, e Alice amarrava o cabelo.

— Não vão mesmo comer? — uma mulher alta e loira saiu da cozinha quase como se desfilasse e usando uma voz doce e tranquila que combinava com sua essência de uma mulher incrível e uma mãe excepcional.

Catarina Ashter era uma mulher de cabelos curtos na altura do queixo, bastante dourados e enrolados. Naquela manhã ela trajava um blazer bege e uma saia da mesma cor, com saltos negros médios e longos brincos escuros combinando. Era a mãe de Soul e Alice, tia de Lydia.

— Não, mãe. Alguém que não vou citar o nome, Lydia, não quis levantar e atrasou todos nós. — Alice resmungou, fitando o espelho, enquanto afagava os cabelos ralos tentando, falhamente, produzir algum volume.

— Alguém que não vou citar o nome, Alice, é muito chata. — Lydia reclamou, olhando para Alice através do reflexo do espelho. — Aliás, só foram dez minutos, dá pra engolir uma torrada e sair.

Lydia caminhou em direção da cozinha a fim de pegar uma torrada, mas Soul a conteve, segurando seu braço.

— Pessoas que eu vou citar o nome, Lydia e Alice, estão me irritando. Podemos ir para a escola, agora? — Soul puxou Lydia em direção da porta e olhou Alice, indicando a porta também.

Desistindo de debater, os três saíram de casa e seguiram até a escola. Foram a pé, em silêncio, apenas ouvindo alguns pássaros e passos de pessoas sozinhas fazendo caminhada ou exercitando seus animais de estimação. Quando chegaram à enorme instituição, assentiram uns para os outros antes de atravessarem o portão e se dispersaram entre suas aulas. Mesmo sendo da mesma turma, Soul e Alice não seguiram juntos pra mesma sala, naquela manhã, Alice começaria a ensaiar para o recital do colégio. Lydia foi para sua aula de matemática, quando chegou á sua sala, notou-a vazia, estranhou esse fato e sentou-se na primeira cadeira, na segunda fileira em frente ao quadro.

A sala era média. Paredes originalmente brancas, que agora estavam manchadas pelo tempo e com ele adquiriram um tom bege. A porta de madeira rangia devagar e tinha o trinco quebrado. As mesas brancas tinham alguns rabiscos como nomes, letras de canções ou corações.

Lydia colocou sua bolsa no chão e começou a tirar seu material dela, organizando-o sobre a mesa comprida. O sinal bateu e a sala encheu instantaneamente, as últimas pessoas a passar pela porta foram Vitória Lively, Shaiane Watkins e Mayla Collet. As três estavam abaladas e com expressão quase idêntica, elas entraram de braços enlaçados, Vitória no meio. Seus olhos fundos estavam vermelhos assim como seus narizes. Seus rostos estavam inchados, como se algum mosquito as tivesse picado. Não pareciam ter dormido nadinha e suas expressões deixavam claro o quão estava intragável sequer caminhar, ombros curvados, cabeças baixas, aquelas meninas nunca estiveram tão mal antes. Juntas, elas caminharam até as carteiras do fundo, juntando três e se sentando numa mesma fila horizontal. Permaneciam em silêncio, e estavam de mãos dadas. Lydia franziu o cenho observando as colegas, mas antes de perguntar sobre ela, virou-se para trás.

— Ei, Melissa. — ela chamou a menina sentada na carteira de trás.

Melissa sorriu.

— Olá, olá.

A menina tinha longos e volumosos cabelos loiros com pontas coloridas em azul.

— Você viu a Manoela? — Lydia perguntou. — É que ela ficou com minha folha de exercícios de matemática e eu preciso deles para o próximo teste.

Melissa ponderou, inclinando a cabeça para o lado como se estivesse tentando se lembrar de algo. Logo se ajeitou e negou rapidamente.

— Ah, não a vi o final de semana todo. Acho que ela passou o fim de semana na praia. — disse a menina, enquanto colocava o caderno sobre a mesa. — Ela deve chegar mais tarde.

Melissa deu outro sorriso e virou-se pra trás. Lydia assim e voltou a se virar pra frente, batucando com a caneta de leve na mesa, de vez em quando enviando olhares pras meninas sentadas no fundo da sala.

Lydia suspirou e tornou-se a se concentrar apenas no batuque da caneta na mesa, esperando o professor de matemática chegar. O que não demorou muito, o. Sr. Johnson rompeu as conversas aleatórias que rondavam a sala assim que abriu a porta. O professor estava com a feição semelhante à do trio que entrara quase chorando, mas talvez menos nervosa e abalada. Seus olhos estavam levemente avermelhados, mas seu rosto não estava inchado, mas ainda assim carregava um ar de tristeza e aflição. Ele não disse o usual “bom dia” com um largo sorriso. Estava desanimado, desolado, sem energia alguma.

Em seguida, uma mulher entrou na sala. Alta, com roupas elegantes em tons pastéis, um salto alto e belos cabelos loiros na altura do ombro. Semblante jovial como sempre, mas abatida. Abatida como o professor Johnson. O olhar baixo, a postura levemente curvada e pareceu procurar o ar antes de nos cumprimentar. Ela era a diretora, Srta. Princenton. Diana Princeton.

A diretora nos olhou durante longos segundos, o professor se recolheu no canto da sala, com os braços rentes ao corpo, olhando para o chão. Diana tomou o ar mais uma vez, ajeitou os óculos e enfim, falou.

— Bom dia.

A turma respondeu em coro.

E então a diretora pareceu sem fala novamente. Suas mãos percorreram sua roupa, ela parecia nervosa. Ajeitou os óculos novamente.

— Crianças, eu trabalho em escolas há muitos anos, mais do que eu gostaria, na verdade. — ela deu um riso triste. — E, felizmente, em todos esses anos eu nunca tive que dar uma notícia tão triste.

Vitória fungou alto e seu choro aumentou, Shaiane e Mayla apertaram sua mão, segurando o choro o máximo que podiam. Princeton pigarreou, tentando manter a postura, mas ela não conseguia.

— Às vezes coisas são tiradas de nós da maneira mais cruel no mundo. Mas crianças, eu acredito em destino, e se as coisas nos deixam é por uma razão específica. E devemos agradecer imensamente por essas pessoas terem estado conosco algum dia e nunca terem deixado de fazer parte da nossa rotina. — os olhos de Diana já estavam imersos em água. — Se perdemos alguém é por que tivemos e se tivemos, temos sorte.

Lydia ponderou que algum professor estava saindo da escola, mas para o estado da diretora, mais fácil um professor ter falecido. Vitória abaixou a cabeça, pondo a testa na carteira, e chorou alto, sem se importar que todos ouvissem. Os alunos dividiam entre olhar a aluna em pânico e a diretora, ninguém entendia nada. Não entendiam por que o professor Johnson e a diretora Princeton estavam quase chorando como Shaiane, Mayla e Vitória.

— É com um grandíssimo pesar que eu venho lhes comunicar o falecimento de Manoela Steenberg. — Princeton esforçou-se para não correr até Vitória e abraçá-la, a menina estava quase desfalecendo em lágrimas.

O choro de Vitória aumentou mais, Shaiane e Mayla não agüentaram e soltaram um gemido doído e suas lágrimas desceram também. A turma estava paralisada, em um choque absoluto e grupal. Lydia levou as mãos ao rosto automaticamente e soltou uma exclamação alta. O professor sentou-se em sua cadeira, em silêncio. A turma inteira se locomoveu até o trio sentado ao fundo da sala, Lydia foi até lá também.

— Foi horrível. — Mayla falou entre sussurros roucos.

— Ela estava lá e... e havia tanto sangue, foi uma cena horrível. Eles cogitam suicídio... mas... Manoela era tão feliz! — Shaiane sorriu triste lembrando-se da amiga. — Ela não se mataria. A corda estava lá, ela estava pendurada na corda. Mas ela não faria isso.

A menina continuou a chorar ainda de mãos dadas com Mayla e Vitória. Um silêncio pairou na sala.

— Por que alguém a mataria? Manuzinha — Vitória riu fraco da forma que chamava a amiga. — jamais faria mal pra alguém. Jamais, jamais.

— É verdade. — Mayla fungou. — A única coisa que Manoela fazia era apertar f5 de três em três minutos esperando atualização de Cemitério das Cinzas. Sabe? Aquela história que ela amava.

E as três voltaram a chorar e ficaram ali, abraçadas, com uma dor inconsolável. Um sorrisinho se formou nos lábios de Lydia, um sorriso carregado de tristeza percebendo que também era sua história favorita. Tristemente, Lydia descobriu da pior forma possível que tinha mais em comum com Manoela do que uma folha de exercícios emprestada.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada por vir até aqui. ♥