Comente Depois de Ler escrita por Victoria


Capítulo 14
Capítulo 13 — Drogas Não Fazem Bem à Crianças


Notas iniciais do capítulo

Olá ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/617763/chapter/14

O coração de Lydia estava batendo tão forte que ela achava que ele romperia suas costelas e saltaria para fora. Ladymoon era seu nome de usuário no site Dark Side Home, o de histórias online. E era assim que ela havia sido chamada no bilhete. Ela estava fora da lista. Assim como Alice. Galeno havia enviado aquilo, novamente. Lydia sentia um tremor peculiar em suas mãos, ela sempre foi o tipo de pessoas inabalável, e agora se sentia assustada por um bilhete anônimo.

Bom, não tão anônimo assim. O remetente era Galeno. Mas quem é Galeno além de um assassino fictício de uma história fictícia?

A respiração de Lydia estava arfante e seu olhar vagava pelo quarto, evitando focar no bilhete em suas mãos. Então ela focalizou em um canto da parede, reproduzindo fatos repetitivos em sua mente como um filme de terror.

Mais uma vez, ela não conseguia pensar ou raciocinar direito.

Lydia ouviu a porta da sala ser aberta. O tagarelar de Alice e Soul na sala de estar espalhou-se pela casa inteira. Lydia enviou um olhar nervoso para a porta do quarto que estava escancarada, e sem hesitação, correu até a porta e a fechou silenciosamente, passando a chave. Depois poderia dizer que estava dormindo e não queria ser incomodada. E assim como sua prima fazia, Lydia colocou o bilhete debaixo de seu colchão.

Ladymoon era mais uma fora lista. Mais uma de quantos? Quantas pessoas haviam sido livradas? E a pior de todas as perguntas: que lista é essa em questão?

Essa pergunta desintegrava cada partícula do corpo de Lydia, e ela podia sentir suas entranhas implodirem ao pensar nisso. Não ter respostas a agonizava.

— Lydia? — Alice bateu a porta. — Por que está trancada aí?

A prima perguntou, balançando a maçaneta da porta do lado de fora. Lydia continuou em silêncio.

— Abre logo, Lydia! — a loira soqueava a porta.

Houve mais uns segundos de silêncio mortífero do lado de dentro do quarto, até que Lydia levantou-se e em passos lentos foi até a porta e destrancou-a. Alice estava com o cabelo bagunçado e a mochila pendurada num ombro só.

— Obrigada por me deixar entrar no meu quarto. — disse Alice, passando por Lydia e jogando sua mochila em cima de sua cama. — Por que você foi embora mais cedo? Ficamos te esperando por quase vinte minutos!

Lydia olhou no relógio em cima de sua escrivaninha, Alice e Soul estavam realmente atrasados. Então negou levemente.

— Não estava me sentindo bem. Desculpe.

Alice só negou e entrou no banheiro, Lydia ficou prestando atenção no tilintar das coisas que a prima mexia no armário.

— Alice... — Lydia a chamou, num tom hesitante.

A menina saiu do banheiro, com o cabelo amarrado e sem blusa, apenas de sutiã.

Lydia não disse nada, apenas ergueu a ponta de seu colchão e tirou o bilhete, entregando-o na mão de sua prima que teve a expressão congelada no momento que seus dedos tocaram o envelope. Após alguns segundos examinando o que tinha em mãos, Alice abriu o envelope, retirou o pequeno pedaço de papel que havia dentro e o leu.

— Quando isso apareceu? — Alice perguntou erguendo os olhos até Lydia.

— Quando eu cheguei já estava na minha cama, deve ter sido pouco antes de sairmos de manhã.

Alice parecia pensar em algo. Ela mordia os lábios e varria o chão com os olhos negros. Ela foi até seu colchão, pegou seu bilhete e colocou-o sobre a penteadeira ao lado do de Lydia.

— Veja bem, o papel, o selo e a caligrafia são os mesmos. — Alice olhou com seriedade pra sua prima. — Quem mandou obviamente foi a mesma pessoa.

— Isso é uma conclusão óbvia. — Lydia sentou-se na beirada de sua cama, cruzando os braços. — Agora quem? Galeno?

A voz da garota quase falhou ao pronunciar o nome dele. Alice negou, respirando fundo.

— Já falamos sobre isso. É Galeno. Mas não o Galeno que lemos, é uma imitação estúpida. Chega de tapar os olhos, Lydia. Há alguém atrás dos leitores de Cemitério das Cinzas. Eu juntei todas as peças, finalmente. — Alice deu um sorrisinho ambicioso.

Lydia semicerrou os olhos para a prima.

— Eu recebi o bilhete quando comentei. Obviamente tem algo haver com comentários. — Alice começou a gesticular como se explicasse um trabalho escolar. — Mas, mesmo sem me conhecer, Enzo, ou Anonimato se preferir, me apontou como leitora fantasma. Fantasmas são criaturas que não aparecem. Leitores fantasmas, aqueles que não aparecem. Que não comentam.

— Faz sentido, mas...

— Não me interrompa. — Alice cortou Lydia. — Enfim, acontece que eu não sou mais uma leitora fantasma. Eu comentei naquele dia. Um feedback cheio de ódio, mas ainda sim um feedback. Esse seria o motivo para eu estar “fora da lista”?

Alice sorria a cada palavra, empolgada por estar resolvendo um mistério.

— Pare. — Lydia negou, massageando as têmporas. — Primeiramente, é loucura. Em segundo lugar, eu não comentei e recebi esse bilhete, onde está o sentido de sua teoria agora?

Alice abriu a boca para argumentar, mas a fechou. Ela estava tão convicta de sua teoria e de repente aquilo não parecia nada.

— Mas faz todo o sentido pra mim e para o motivo de que eu tenha recebido isso. — Alice insistiu.

Lydia bufou e começou a falar sem pausa.

— Mesmo que sua teoria estivesse certa, onde estão as mortes? Por que leitores de Cemitério das Cinzas estão morrendo? Eles receberam esses bilhetes como nós? E se isso que recebemos anunciar nossa morte e não nossa salvação?

Alice mordeu a língua, enquanto Lydia arfava. Ela não tinha uma resposta. Ela não havia pensado nisso.

— Eu não sei, Lydia. Eu queria muito saber e resolver isso, eu simplesmente não penso em outra coisa. — Alice enfiou seu rosto em suas mãos finas.

— Eu já disse que não falaríamos mais sobre isso. Vamos descer para almoçar e fazer nossos deveres de casa como adolescentes entediados que somos.

Lydia saiu do quarto e Alice a seguiu, fechando a porta. Após descerem as escadas, encontraram Soul vendo televisão, com a expressão distraída, como se estivesse olhando para a tela, mas vendo outra coisa. As garotas passaram por ele, sem nem sequer olhá-lo.

Alice e Lydia adentraram na cozinha e serviram-se das batatas com molho, resto do jantar do dia anterior. Retornaram à sala com seus pratos em mão e se sentaram à mesa de jantar.

— Vocês estão me evitando? — Soul perguntou, desligando a televisão e arqueando as sobrancelhas para as meninas.

Nenhuma das duas respondeu no momento. Um silêncio alastrou-se pela sala, ouvindo-se apenas o tilintar dos garfos nos pratos de vidro. Após três garfadas de batatas, Alice deu um gole em seu suco e dirigiu seu olhar à Soul.

— Eu não estou te evitando. — Alice deu os ombros e tornou a comer.

Soul revirou os olhos e se dirigiu à Lydia, que nem abriu a boca, sequer tirou os olhos do seu prato de batatas. Alice observou os dois e soltou uma risada fraca.

— Patéticos. — Alice resmungou, revirando os olhos e em seguida sussurrou para Lydia. — Devemos contar?

Soul olhou de uma para a outra.

— Contar? — ele levantou-se do sofá, caminhando até a mesa onde elas almoçavam. — O que vocês fizeram?

— Fale mais baixo, Alice! — Lydia esmurrou a mesa.

A garota deu os ombros e olhou para o irmão.

— Lydia recebeu um bilhete, aquele como o meu. — contou Alice. — De Galeno.

Inicialmente, Soul pareceu pouco surpreso. Passou as mãos pelo cabelo e depois até o rosto, esfregando-o como se estivesse tentando entender algo ou intrigado com alguma situação. O garoto sentiu um frio na espinha e começou a apertar as próprias mãos.

— Eu também recebi. — Soul foi objetivo.

Alice e Lydia trocaram olhares apreensivos.

— Você comentou? — Lydia perguntou, colocando o garfo e faca no prato.

Não. — ele balançou a cabeça negativamente. — Não acho que tenha algo a ver com comentários ou coisas do tipo.

Alice levantou-se, contrariada.

— Há sim algo a ver, me escute, eu acho que...

— Já chega, Alice! — Soul a interrompeu, exclamando com rigidez. — Nós não temos nada a ver com essa confusão. Esses bilhetes ou essa tal “lista”, eles não tem nada a ver conosco. Não se metam nisso, fiquem de fora. Pode ser perigoso.

Soul colocou seu tênis, pegou suas chaves e foi em direção à porta.

— Se não tem nada a ver conosco, por que seria perigoso? — Lydia indagou.

Soul virou-se para Lydia, com a expressão monótona, antes de sair de casa.

Apenas fiquem fora disso. — disse ele, abrindo a porta. — Eu tenho que ir agora.

—E o bilhete, onde está?! — Alice perguntou.

— Eu dei descarga nele. Vocês deveriam fazer o mesmo. — afirmou Soul, saindo de vez e batendo a porta.

No minuto que Soul saiu, Lydia se levantou da mesa e recolheu os pratos e os talheres, levando-os para a cozinha. Quando voltou para sala, foi direto em direção a escada, subindo rapidamente.

— O que foi? — Alice perguntou, enquanto observava a prima já chegar ao segundo andar da casa.

— Eu não acredito no Soul. Vou procurar o bilhete dele. — Lydia trincou o maxilar, entrando em um dos quartos e sumindo do campo de visão de Alice.

Alice revirou os olhos e sem hesitar, subiu atrás da prima que estava no último quarto do corredor, o de seu irmão. Ela observou de longe Lydia revirar as gavetas de Soul.

— Você não deveria fazer isso. — disse Alice, entrando no quarto de seu irmão e fechando a porta devagar, quase como se tivesse alguém que pudesse ouvir,

Lydia parou o que estava fazendo e encarou Alice com incredulidade.

— Sério? Não banque a falsa moralista. Vamos, me ajude a achar a droga do bilhete e vamos comparar com o nosso.

Alice abriu a boca para questionar, mas ela também estava morrendo de curiosidade para achar o bilhete que Galeno tinha deixado para seu irmão. Se é que o bilhete ainda existia. E isso tudo só a fazia temer mais, e uma frase de Lydia não saía de sua cabeça: “E se o bilhete anunciar nossa morte, e não nossa salvação?”.

Alice entrava em euforia ao se lembrar disso. Então, ela espantou os pensamentos angustiantes e levantou o colchão pesado da cama de seu irmão, começando a procurar por ali, mas lá não havia nada lá além de provas de bimestres passados, todo com nota máxima, obviamente. Lydia retirou todos os livros de Soul da estante e sacudiu-os no ar para conferir se havia algo dentro deles. Nada. Alice olhou no armário do banheiro, no criado-mudo, debaixo da cama, debaixo do guarda roupa. Nada novamente. Já Lydia abria as caixas onde Soul colecionava selos, moedas estrangeiras e guardava clipes de papel.

No fundo de uma dessas caixas, havia uma foto amassada e desbotada. Lydia logo reconheceu as pessoas na foto. Era ela, Alice e Soul. Ela tinha doze anos na época e os primos tinham onze. Ela sorriu, pegou a foto, e ficou a observando, lembrando-se do dia em que a tiraram.

— Ei, eu achei uma coisa. — Disse Alice, puxando uma sacola plástica debaixo do guarda-roupa, despertando a atenção de Lydia, que enfiou a foto no bolso.

— E o que é? — Lydia virou-se para Alice, olhando a sacola em suas mãos.

Alice deu os ombros e jogou a sacola preta no colo de Lydia, que franziu o a testa e abriu a sacola, e talvez tenha tomado um dos maiores sustos de sua vida. Dentro da sacola havia vários tubos pequeninos e transparentes dentro de pacotinhos de plástico, dentro dos tubos havia um pó branco e ralo, e no rótulo estava escrito: PCP.

Inicialmente, Lydia franziu o cenho e ficou observando os saquinhos. Então pegou seu celular e digitou rapidamente na barra de pesquisa: PCP. Vários resultados apareceram, ela clicou no primeiro deles. O rosto de Lydia embranqueceu e ela desligou o celular involuntariamente.

— O que foi, Lydia? — perguntou Alice, pegando o saquinho pequeno das mãos da prima. — O que é isso?

Após um longo suspiro, Lydia respondeu com uma voz rouca:

— São drogas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por terem vindo até aqui sz