Pedro se virou rapidamente ao ouvir aquela doce voz chamar seu nome, a mesma voz que a pouco já lhe conquistará, e então a viu. Não sabia o que fazer a não ser olha-la com ar apaixonado, o que fez a jovem corar e sorrir alegremente por ele realmente ter vindo ao seu encontro. (Cena) O Grande Rei não sabia como, mas a cada vez que a via, ficava mais bonita do que antes. Usava um vestido branco simples, mas que no seu corpo escultural, se tornava elegante e belo, e seus longos cabelos negros estavam soltos e cobria lhe os ombros nus. Estava simplesmente linda.

—Pensei que não vinha mais, já estava ficando preocupado!- disse o Rei Pedro ao se aproximar dela rapidamente e lhe abraçar forte.

Finalmente podia tê-la em seus braços sem ninguém para olhar ou atrapalhar. Estavam sozinhos mais uma vez, e era como se nada daquilo tivesse acontecido, como se os dois ainda estivessem naquela caverna encantada ou até mesmo cavalgando juntos. Uma sensação incrível e prazerosa tomou conta de ambos, como se eles fossem os únicos em toda Nárnia, como se não houvesse problemas para resolver e guerras para se travar.

Tudo estava em paz novamente. Sem mentiras ou tristeza. Enfim juntos, os dois conseguiam ver o melhor em tudo, pois o que sentiam era puro e verdadeiro. E o sentimento que os dois nutrem um pelo outro, é, sem sombra de dúvidas, a magia mais poderosa de todas. Mas poderosa até, do que a da feiticeira.

—Só tive alguns imprevistos pelo meio do caminho!- disse Astride ao retribuir o abraço.

—Imprevistos? O que foi que houve?- perguntou Pedro preocupado ao se separar do abraço e olhar nos olhos dela.

—Nada para se preocupar!- mentiu ela. Dava pra ver que estava preocupada e por mais que mentisse bem, Pedro percebeu sua inquietação.

—Não precisa mentir pra mim As, chega de mentiras e segredos!- disse o Grande Rei ao segurar sua mão para lhe encorajar a falar a verdade. Por um momento Astride voltou a pensar na profecia e no que seu irmão havia mencionado há poucos minutos atrás. Aquilo era um aviso, para que nenhum dos dois viesse a se machucar no futuro. Pelo menos não Pedro.

Quando ela aceitou o trabalho que seu irmão Aslan a ofereceu, Astride sabia das consequências, sabia principalmente o que teria que passar para ver Nárnia em paz novamente, e naquela época, aquilo não importava, tudo que queria era ver seu amado país e seu irmão felizes. Mas agora que conheceu Pedro e começou a sentir algo que nunca tinha experimentado antes, a dor da perda lhe parece terrível e torturante, fazendo-a pensar se realmente irá conseguir cumprir seu destino, mesmo com todas as possibilidades.

Essa incerteza a consumia por dentro, e sugava aos poucos sua força e coragem. A única coisa que tinha certeza no momento era de que amava Pedro, e faria de tudo para ficar com ele. E pra que isso acontecesse tinha que lhe contar a verdade, mesmo que não queira.  Todavia, aquele não era o momento certo.

—Outra hora talvez, quando eu mesma conseguir entender tudo que está acontecendo, prometo que contarei tudo!- disse ela forçando um sorriso. –Agora, acho que você tem muita coisa pra mim explicar primeiro, não é mesmo?- continuou agora séria.

—Claro, mas antes vamos entrar mais um pouco na caverna, está frio aqui fora!- disse ele já se virando em direção ao fundo da caverna, mas antes que pudesse o fazer, Astride o puxou pela mão.

—Não deve ir até o fundo Pedro!- alertou ela.

—Como assim?- perguntou ele sem entender.

—Você está em Nárnia há um tempo, pensei que já saberia sentir o cheiro da magia. Parece que estava enganada. - disse Astride a provoca-lo com um sorriso sapeca, sabia que Pedro não gostava que contestassem suas habilidades. Susana lhe contou bem mais coisas do que apenas como se vestir para uma festa.

—Essa caverna é realmente mágica, nunca vá até o fundo!- continuou ela.

—Tudo bem, ficaremos por aqui então!- disse ele ao olhar em volta, até achar uma rocha grande o suficiente para que ambos se sentassem, e com um gesto de mão, apontou para o local. –Primeiro as damas!- brincou ele, fazendo As rir enquanto sentava na rocha que ficava a poucos metros da caverna.

Pedro se aproximou rapidamente e sentou ao seu lado, quase colados um no outro e como um perfeito cavalheiro que sabemos que ele é, dividiu sua capa com ela, a abraçando. Astride sorriu em resposta enquanto sentia suas bochechas corarem novamente.

—Então, estou aberta a explicações!- disse ela enquanto olhava o horizonte.

Pedro ponderou alguns segundos antes de falar, de forma alguma queria magoa-la novamente, tinha que escolher e usar as palavras certas para desfazer aquele mal entendido.

—Você já deve saber, tenho certeza que a Su lhe contou. Quando fomos visitar Luna na Arquelândia, ele temia que tentassem fazer algo contra sua família, e me pediu para que cuidasse de Mary, caso ele não pudesse fazê-lo, foi então que ele propôs o casamento. -  falou Pedro devagar enquanto também olhava pro horizonte.

—Vamos, entenda! De onde eu vim, via as pessoas se casarem por muito menos, pensei que talvez o amor viesse com o tempo, então aceitei, mas isso foi antes de te conhecer.  Tudo mudou desde então, ficou claro na verdade. O que sinto por Mary é apenas amizade, sinto que tenho que cuidar dela, somente. – disse ele agora ao olhar pra Astride, que ouvia tudo atentamente.

—Eu quero você. Quero passar o resto da minha vida ao seu lado As, e eu sei que você quer a mesma coisa, o que me deixa extremamente feliz... Mas... – disse ele meio receoso voltando ao olhar para o mar.

—Mas?- repetiu Astride ao olhar pra ele curiosa.

—Você a conheceu, sabe que ela é uma boa pessoa, e acima de tudo é uma boa amiga pra mim. Não quero magoa-la entende? E ainda tem o fato de que prometi a Luna. - perguntou ele voltando novamente a olhar pra ela, que colocava a mão no rosto para que os cabelos rebeldes não a atrapalhassem. (Cena)

—Entendo Pedro, mas o que você pretende fazer?- perguntou ela meio irritada. Estava começando a achar que ele não queria abrir mão de uma, mas sim ficar com as duas.

—Não sei ainda!- respondeu Pedro vagamente.

Astride respirou fundo chateada. “Como pode? Uma hora diz que quer passar o resto da vida comigo e na outra diz que não sabe o que fazer. Céus, como é idiota!” pensou ela enquanto levantava rapidamente da rocha que estava sentada e decidida ficava de frente pra ele.

—Bom, já que não sabe o que quer, nem muito menos o que vai fazer, é melhor não nos encontrarmos mais, vou deixar você em paz para pensar no assunto. - disse ela séria e confiante, mas com uma pontinha de ciúmes na voz. E com passos firmes, Astride foi se afastando dele. –Só espero que não seja tarde demais!- sussurrou ela triste de modo que ele não escutasse.

Pedro não foi atrás dela, nem chamou por seu nome. Apenas ficou lá, sentado na rocha, vendo sua amada se afastar. O Grande Rei não tinha ideia do que fazer, havia muita coisa acontecendo e muitas ideias em sua mente, o impedindo de pensar direito. Não tinha dúvidas do que queria, mas não sabia como falar com Mary sem a magoar, não sabia nem como começar.

Mas ao vê-la se afastar, mas uma vez magoada, Pedro se encheu de coragem e soube o que tinha que fazer. Iria falar com Mary e terminaria o noivado, mas antes tinha que ir atrás da mulher que amava. O mais velho dos Pevensie se levantou rapidamente da rocha e saiu correndo atrás de Astride que a essa altura, com a pressa de seus passos, já estava longe.

—As, espera!- gritou ele enquanto corria, na esperança de que ela ainda quisesse ouvi-lo.