O Sr. Raymond Steele via a mulher dia após dia sucumbir à doença sem poder fazer nada, pois tudo que estava ao alcance de suas posses ele já tinha feito, mesmo assim sua amada Carla não reagia e isso o dilacerava por dentro.

Não tinha vontade de fazer nada sem sua esposa que definhava na confortável cama do quarto do casal e pela primeira vez na vida, Sr. Raymond sentiu-se totalmente perdido.

A enfermidade da esposa fazia com que ele saísse de casa nas horas mais estranha, simplesmente para pensar na esposa enferma e Anastásia fazia questão de acompanhar o pai, para não deixá-lo sozinho.

– Mamãe vai ficar boa, papai.- Ela tentava tranquiliza-lo. E assim os dias naquela casa passavam em uma atmosfera de muita tristeza.

Finalmente ao acordar em uma manhã chuvosa, Sr. Raymond, encontrou a esposa morta a seu lado.

Assim como ele, as filhas não conseguiam acreditar no que tinha acontecido. Apesar do esforço delas, o velho Sr. Raymond entregou-se a um desespero tão grande que não tinha nada que o consolasse.

– Não podemos deixá-lo sozinho. –Anastásia recomendou a Katherine.

As duas se revezavam na tarefa de cuidar do pai.

Após o enterro, ciente de que jamais veria a esposa que tanto adorava outra vez, ele resolveu partir.

– Vou para Barcelona.- Ele declara, após Anastásia ter perguntado para onde pretendia ir.

Ele ficou ausente por vários meses. Apesar das cartas que as duas enviavam com frequência, ele quase nunca respondia.

Então, após um período sem notícias, uma carta chegou quando elas acabavam de voltar de uma cavalgada.

– Uma carta do papai!- Anastásia exclamou esperançosa.- Graças a Deus! Esse tempo sem notícias já estava me atando de preocupação.

–Talvez tenha decidido voltar pra casa. – Katherine falou com animação.

Anastásia abriu o envelope e começou a ler a carta do pai.

– Leia em voz alta. Pede Katherine.

Como Anastásia nada disse, Katherine pegou a carta de suas mãos e começou a ler.

Após algum tempo exclamou.

– Eu não acredito! Como papai... pôde se apaixonar...assim tão... depressa, depois da morte de...mamãe?

Kate, como a irmã a chamava carinhosamente, não conseguiu falar mais nada, deixando que as lágrimas rolassem em seu rosto.

– Papai, esqueceu mamãe!- Ela soluçava.

Anastásia passou o braço em torno do ombro da irmã.

– Ele jamais esquecerá mamãe- ela garantiu.- Ele só vai se casar porque não consegue viver sozinho.

Três meses depois Raymond Steele retornou de Barcelona, acompanhado da esposa.

Anastásia e Katherine limitaram-se a fita-lo com os olhos cheio de surpresa, como se estivessem sonhando.

Consuelo era completamente diferente da mãe.

Apesar de não pertencer à aristocracia, ela possuía o charme , fascínio e encantamento capazes de atrair qualquer homem.

Consuelo chegou usando sapatos de salto muito alto e roupas completamente provocantes nunca vistas por aquelas bandas. Era óbvio que o pai achara irresistível.

Ele não conseguia desviar os olhos do rosto da mulher. Consuelo flertava com ele de maneira tão escandalosa que não passava despercebido a Anastásia. A jovem esposa de Sr. Raymond era espirituosa e divertida. Seus olhos brilhavam como o fogo da paixão, deixando o marido completamente a mercê de seus caprichos.

Anastásia era adulta o suficiente para entender porque seu pai se esquecera de toda a tristeza que sentira a morte da esposa. Na verdade ele não era mais o mesmo homem que Anastásia conhecera e aprendera a mar desde criança.

Por amor ao pai, Anastásia e Katherine tentaram entender e gostar da madrasta. Mas era evidente que Consuelo não se importava nem um pouco em agradar as garotas.

Sua única preocupação era manter o marido cada vez mais apaixonado. Consuelo aceitava os presentes que o esposo lhe dava como prova de seu amor. Joias, casacos de pele, roupas de todos os tipos chegavam de Londres com frequência .Ela parecia cada vez querer mais.

O marido lhe oferecia presentes caros como se com isso pudesse pagar pelo prazer que lhe proporcionava.

Anastásia tinha certeza que o pai se sentia agradecido. Mas era evidente que ele se esquivava de apresenta-la a seus amigos e vizinhos. Essa era a razão para ele não a levara a Londres assim que chegara à Inglaterra.

Assim que se instalaram em casa ele apresentou todas as desculpas para não convidar os amigos para jantar e recusava todos os convites feito por eles e isso começou a deixar Consuelo impaciente, então começou a chamar o marido para ir para Londres. Sempre reclamando que a vida no campo era enfadonha com exceção, claro, dele e com isso uma semana depois ele reuniu as filhas e anunciou que partiriam para Barcelona.

Em uma conversa Anastásia lembrou ao pai que a mãe planejara levar Katherine na próxima temporada em Londres. Ela sabia que o pai havia se esquecido e então continuou.

– Em minha vez de ser apresentada no castelo, eu não pude ir, pois vovó havia morrido e estávamos em luto. Mas mamãe prometeu que iríamos a Londres no mês de abril, para sermos apresentadas no castelo.

– Sim, é claro que lembro- ele replicou com impaciência.- Prometo leva-las a Londres tão logo volte de Barcelona.

– Vai voltar a tempo para o Natal?- Anastásia perguntou.- Quando as festas de final de ano acabarem, o senhor poderá escrever a seus amigos dizendo que iremos para Londres. Sei que Mamãe fez uma lista.

– É claro que sim- ele concordou.- mas falaremos sobre isso depois. Agora, por favor, tome conta de tudo durante a minha ausência.

– Farei isso papai- ela prometeu.- mas vou sentir tanto a sua falta...

Havia melancolia na voz de Anastásia.

Anastásia sentia o pai se afastar e nada podia fazer, a não ser lamentar.

E mais uma vez, Anastásia o indagou sobre voltar para o Natal, ele prometeu que viria e que só estava indo embora porque Consuelo havia detestado o frio da Inglaterra.

As garotas passaram o Natal sozinhas.