Invisível escrita por Dama do Caos


Capítulo 18
Desista




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Mas desista aos poucos, pra dar tempo de não desistir

*Esse capítulo é dedicado especialmente à LittleGirl e Little Herondale que recomendaram com tanto carinho a nossa história ♥ *

Clary

Ás vezes, no meio dessa confusão, aparece alguém de verdade. Alguém que te olha de um jeito único e também faz com que você se sinta assim. Alguém que vale a pena conversar e sentir saudade. Que te inspira, que alegra, que ampara. Alguém que vê alguma coisa a mais em você e acaba te fazendo acreditar nisso também. Alguém que faz você sair da zona de conforto e fazer umas loucuras apenas para ver surgir aquele sorriso brilhante que faz toda a vida valer a pena. Eu sabia o quanto aquele campeonato era importante para Jace. E vê-lo cada vez mais abatido estando afastado do que mais amava fazer, me despedaçou. Eu passei horas seguidas tentando consertar minha antiga máquina em ruínas e recuperar a gravação da confissão de Raphael e Camille porque não suportaria passar mais um minuto que fosse vendo a tristeza naqueles olhos dourados. E quando tudo enfim parecia estar no caminho certo faltou apenas um detalhe para tudo estar perfeito: Jace precisava dar a entrevista ao jornal da escola para esclarecer os rumores falsos a seu respeito e sua vida voltar aos eixos. Eu não podia deixar que isso passasse em branco pois já tinha visto pessoalmente o quanto o afetava ser invisível como eu. Ele é uma estrela brilhante, e eu estaria disposta a qualquer coisa para que sua chama nunca se apagasse. Uma vez que se torna invisível, acostuma-se com a indiferença das pessoas e eu jamais desejaria isso pra ninguém. Eu sei também que ele jamais se lembrará de mim, estarei enterrada na fase escura que ele viveu no colegial. Serei a coadjuvante de um episódio engraçado que ele contará aos seus amigos da faculdade. Ou talvez nem isso. Talvez apenas a amiga mais nova dos seus irmãos mais velhos. E pra mim está tudo bem, por algumas pessoas vale a pena ser esquecida. Não sei o exato momento em que me apaixonei por ele, mas eu sei que nunca vou me recuperar. Não me vem à memória quando que ele deixou de ser minha obsessão e passou a ser a razão para eu continuar enfrentando esse soco no estômago que é a vida. Tenho dezenas de fotos dele guardadas comigo e apenas eu vou saber o quanto desistir de tudo isso me quebrou. Estar com ele me fez querer ser protagonista das minhas fotografias e não apenas a telespectadora. Ele acordou alguma coisa dentro de mim que nada vai adormecer de novo, como alguém que respira sôfrega e insistentemente depois de um afogamento. Apesar de cada célula minha protestar de agonia, pela primeira vez na vida eu me sinto realmente viva. Eu devo demais a ele, por isso estou aqui atrás dessa câmera enfrentando como posso toda minha vontade de me recolher e fugir daqui, gravando pro jornal da escola a entrevista de Camile com Jace. Ele está radiante depois de ter ganho o jogo como eu já previra e ela ainda mais estonteante que o de costume deixando no ar a esmagadora sensação que sua presença provoca. Todas queriam estar no lugar dela, flertando com tamanha intimidade o ser mais incrível que já conhecemos. Apertei com força as unhas na palmas de minhas mãos na tentativa de me distrair do que estava acontecendo. Quase desesperada para Jace olhar pra mim atrás da câmera, do trapézio, da montanha de fios, do moletom enorme, da camada de tristeza e me reconhecer. Mas isso não acontece. Seus olhos passam por mim várias vezes, no entanto ele não me vê. E eu me pergunto por que raios isso ta doendo tanto.

Você entrou aqui dentro, entende?
No meio dos bombardeios da minha vida,
você se infiltrou do meu lado da resistência e mudou tudo desde então.
Você conheceu a garotinha assustadas por trás das muralhas,
tateou as minhas cicatrizes da guerra diária que é viver.
E depois fez como se não fosse nada,
como se eu não fosse nada.

Jace

Eu sentia o cheiro de Clary da quadra onde eu estava dando a entrevista. Meus olhos percorriam a multidão de alunas agitadas procurando alguma menorzinha de cabeça baixa encolhida num canto. Sorri inconscientemente com isso. Respondi aleatoriamente as perguntas de Camile e mesmo não prestando atenção ainda captava o duplo sentido da maioria delas. Resmunguei alguma coisa meio ríspida para ela entender que não estava disposto a entrar nos joguinhos dela. Não mais.
Clary definitivamente não estava ali. Eu sentia meu peito ser comprimido com a sensação horrível de estar longe dela, minhas mãos quase formigavam pelo desejo de se enroscarem nos dedos finos da minha pequena e maravilhosa artista. Que droga você fez comigo, Clary? Eu estou completo e irrevogavelmente apaixonado por você. Seus momentos de quietude, seu carinho pelas pessoas e paixão pela vida. Sua delicadeza e leveza, seu interesse pelos problemas dos outros. Sua risada distraída quando para no meio de uma calçada lotada de gente apressada, e fica a olhar o balanço ritmado das árvores no caminho. Como se a vida nunca perdesse a mágica para você. Enquanto isso tudo o que eu mais queria na vida era proporcionar pra você tudo de bom que esta vida pode ter. Queria que seu espírito único jamais se maculasse com a frieza das pessoas. Queria te proteger de todos, queria ser o teu cais. Queria que voltasse pra mim no fim do dia e se sentisse segura perto de mim. E se você fosse um pouquinho menos distraída perceberia, que onde quer que você passe as pessoas param pra olhar. Eu entendo o receio delas de se aproximarem de você, veja só você nem parece humana. Você nunca foi invisível pra ninguém, meu amor. Você apenas está sempre inalcançável para todos nós e logo só nos resta observar de longe. E eu sei que também não te mereço, mas agora é tarde demais para tentar me manter longe.


Ah, e sai sem eu dizer
O tanto que eu gosto
Me desmancho quando encosto em você..

O coração dispara
Tropeça, quase para
Me encaixo no teu cheiro
E ali me deixo inteiro


Minha atenção subitamente se volta a Camile quando ouço-a mencionar a minha garota.
— Pode repetir por favor? – Ela ri com aquele cinismo já bem conhecido por mim e repete a menção anterior.
— Ai ai Jacezinho, anda bem distraído anjo. Será que não é a convivência com uma certa ruivinha desastrada? – Dava para pegar a tensão no ar quando levantei meus olhos para Camile. As risadas provocadas pelas provocações dela rapidamente se esvaneceram. Mesmo ela já tão acostumada com a minha indiferença deu um passo em falso. Sentia meu sangue agitando-se como sempre acontecia antes de entrar em uma briga, minhas emoções formigando para tomarem o controle, mas aí, eu a vi.. Os orbes esverdeados envoltos naquela espessa camada de cílios avermelhados contrastando com a pele alvíssima. A ponta do nariz e os lábios igualmente rosados. O meu pequeno enorme milagre ali na minha frente, separado apenas por um amontoado de equipamentos e dois passos de distância. Não pude controlar meu rosto e sua autonomia para sorrir para Clary sempre que esta entrasse no meu campo de visão. Abaixei a cabeça ainda rindo ao sentir toda minha adrenalina pré-briga abandonar meu corpo como numa correnteza que arranca tudo de você sem dar tempo de se estabilizar. Você não se esconde mais de mim, Fairchild.

Narradora

A loira ainda atordoada, vendo que o loiro tinha levado na esportiva rapidamente se recupera e continua com as perguntas de evidente duplo sentido. Ela não ia desistir de tudo agora só por causa de um imprevisto idiota. Já tinha lutado tanto por ele, não era qualquer coisa para derrubá-la do salto. Ele nunca entenderia se ela fosse explicar, que fique claro. Jamais compreenderia que armou tudo aquilo pra ele numa tentativa de se aproximar dele o suficiente para que este a conhecesse realmente. Claro que ela ia dedurar Raphael e livrar Jace quando fosse o momento crucial, mas algum idiota conseguiu fazer a boa ação antes dela e atrapalhar tudo. Ela nem tivera o tempo necessário sozinha com Jace por culpa daquela Fotógrafa estúpida. Mas ter a ruiva ali gravando a entrevista viera bem a calhar e Camile como toda boa repórter sabe aproveitar uma boa oportunidade. – Mas apesar destes teus últimos tempos de fundo de poço, seu desempenho foi esplêndido Jace!! – Ela tenta bem humorada arrancando risadas da platéia e conclui com um sorriso lascivo – Merece até um beijo pela vitória.. – Alguns gritinhos foram ouvidos das garotas se voluntariando para presentearem o Capitão do time e um falatório geral envolveu a multidão. Jace finalmente parece estar prestando atenção na conversa e curva os lábios num sorriso de canto enquanto se aproxima perigosamente de Camile. Passa rapidamente por ela e contorna os aparelhos de vídeo e áudio até se encontrar frente a silhueta desesperada da jovem de cabelos escarlates. Ela sussurra um “não” diversas vezes para ele enquanto este se aproxima ainda mais até colocá-la a vista de todos e prendê-la firmemente pela cintura colando seus corpos deixando a diferença de altura ainda mais evidente. – Ela acha que eu mereço um beijo pela vitória, baixinha. E você, o que acha? – Clary absorve cada detalhe daquele instante e pela primeira vez não precisa de sua máquina fotográfica para registrar. O momento em que Jace a tira do chão e sela seus lábios trêmulos sem se importar com o que poderiam falar deles jamais vai sair de sua memória.

O amor é fogo. Agora se vai aquecer o seu coração ou incendiar a sua casa, nunca se sabe...
— Olá, você é Jocelyn Fairchild?
—Sim, claro! Eu.. Posso ajudar?
— [...]
—[...]
— É um prazer finalmente te conhecer, Mãe.


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Notas finais do capítulo

Eu só queria agradecer de coração pra cada leitor que tive o prazer de conhecer através de invisível. Gente, vocês fizeram a minha vida melhor de um monte de jeitos diferentes, e eu nunca serei capaz de retribuir isso da maneira que merecem. Obrigada pelas críticas e elogios. Obrigada pelo tempo. Não sou boa em despedidas, mas não creio que esta seja uma. Jamais vou parar de escrever, obrigada pela fé depositada em mim ♥
Eu vou sentir falta infinita de todo esse carinho que recebi aqui.. Obrigada ♥



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