Invisível escrita por Dama do Caos


Capítulo 15
Não alise-me com facas de realidade




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Crave-as em mim ou deixe-me viver.

evaporei tristezas
acumulei lagrimas
chovi à noite toda

— Sebastian, pela última vez.. Você não pode chegar nela assim. – O homem de cabelos escuros bateu com os punhos na mesa de seu escritório, alterado. A sua frente seu filho primogênito andava de um lado para o outro, tão nervoso quanto ele. – Pai, o senhor precisa entender! É a minha família, é meu sangue.. Eu passei dezoito anos sem fazer idéia de que ela existia, e a culpa é sua! – Sua voz falhou na última frase, mas ele continuava tão decidido quanto antes.  – Se você ficou sem saber disso é porque era o melhor pra você meu filho, por favor preciso que entenda. Eu sempre fiz o melhor que pude por você, desde que.. Desde que ela nos abandonou. – Os orbes negros fitaram o homem mais velho, vacilantes. Sebastian sentia o choro estrangulando sua garganta, mas ele não era mais um garotinho. Valentim não o manipulava mais, não como antes.
Fechou a porta antes de sair.
 Ele sentia saudades de alguém que nunca conheceu, que nunca teve. E aquilo era tão confuso e novo que o fazia sorrir ansioso só de pensar na possibilidade de vê-la. De conhecê-la. De senti-la..

Mãe, estou chegando.

POV ALEC

 

Nunca me agradou isso de ser opção. De ninguém. Mesmo que fosse a primeira. É ilusão minha sonhar em ser o único motivo? ..

                                                                                                                                                                           

As mulheres naquela sala estavam histéricas. Faltava alguns poucos minutos para a festa, e a organização estava caótica. Depois da ida ao shopping, Clary começou a produzir as meninas. E eu tinha que admitir, até mesmo isso ela fazia de maneira graciosa. Maquiava os rostos delas como se fossem genuínas obras de arte, logo aquelas meninas tão vazias, tão fúteis. Minha cabeça pendeu involuntariamente para trás na poltrona onde eu estava sentado, exteriorizando meu desagrado. E ainda tinha o assunto “bane”.

 Na primeira vez que eu o vi, tudo ficou estranhamente quieto dentro da minha cabeça. Todos os tiques, o desconforto, e as imagens soltas na minha mente, se silenciaram. Para quem sofre de Transtorno Obsessivo Compulsivo, são raríssimos os momentos de quietude, calmaria. Quando eu o vi pela primeira vez, os lábios repuxados num sorriso irônico enquanto confrontava o Santiago, os olhos de um tom de mel beirando o dourado, acesos. Era isso que ele fazia comigo, ele silenciava meu lado racional ao mesmo tempo que deixava uma destruição dentro de mim, como se de repente todo meu corpo resolvesse me trair. Cada célula minha se sentia atraída por ele e eu não fazia nem idéia de como curar isso. Magnus Bane era uma doença, definitivamente. Eu me sentia ansioso para vê-lo de novo na segunda de manhã. Consegue entender isso? Ele fazia a droga de uma segunda feira, parecer um sábado a tarde. Ah, eu o abominava com todas as minhas forças. – Tudo bem pequena, agora minha vez de te arrumar. Vamos. – As meninas amuaram, no entanto ninguém ousou discordar de mim, sabiam que eu as detestava e não fazia esforço nenhum pra mudar isso. Levei Clary até meu quarto enquanto fui buscar algumas coisas no quarto da minha mãe. Nada pessoal, mas eu não uso maquiagem. Minha mãe ao saber que Clary está aqui em casa, insistiu em me acompanhar. Ela tem um encanto especial pela minha ruivinha, e é quase compreensível, afinal todos se apaixonam por ela assim que a conhecem. E eu odiava isso também. Chame-me de ciumento, mas ela era a minha menina, ninguém mais tinha que se meter nisso. Entrei no quarto, mas tudo está estranhamente quieto e vazio.

POV NARRADOR

Alec franziu o cenho confuso procurando pelos vestígios da cabeleira ruiva, sem sucesso. Seu olhar se detém num amontoado desconfiável de cobertores, onde ele encontra uma Clary adormecida de exaustão. Balança a cabeça rindo enquanto sua mãe entra no quarto e começa um escândalo sobre como estavam cansando a menina dela, e acaba acordando Clary que já desperta assustada. Mãe e filho trocam uma risada divertida e vão pra cima da escarlate recém acordada , sem piedade. Enquanto a mais velha dá pequenas batidinhas nas suas bochechas com um pó, Clary acha graça dos movimentos que provocam cócegas e nem percebe quando Alec começa vesti-la, até ser tarde demais. – E-ei que negócio é esse? Eu não vou vestida assim. – Ela resmunga já tentando se livrar das peças. – Vai sim mocinha, quero nem saber. – Alec vai re-abotoando os botões que ela tentava se livrar. – Mas Alec, misericórdia Alec.

POV CLARY

As vezes eu tento não pensar muito seriamente sobre a vida sabe? Deixo que ela se movimente fluida e autônoma, como ela sempre fez independente do meu querer. Em alguns dias, permito-me ser arrastada, tragada e consumida por ela sem fazer nenhum alarde quanto a isso. O fato é: não conseguimos -definitivamente- não conseguimos ter o controle sobre cada pequeno acontecimento ou desvio que ocorre em nossas vidas.

O som estava muito alto, o cheiro de bebidas intenso demais, tinha pessoas de sobra e espaço de menos. Eu queria fugir dali com todas as forças que tinha.

Meu deus, por que me fez assim?

Alec estava com o braço enlaçado no meu, talvez por isso senti quando ele ficou tenso e me apertou com mais força que o normal. Procurei por seja lá o que, que atormentara meu amigo, mas de repente estava todo mundo obstruindo minha visão. Droga. – Alec, o que foi? – Ele nem pisca, e subitamente começo a me sentir sufocada. Até que finalmente avisto,  o Sr Bane, cercado pelas garotas da escola, e algumas que não conhecia. Não entendi o que perturbara Alec, mesmo um cego perceberia que o psicólogo estava incomodado, se não enojado com suas companhias. Sinto Alec se afastar de mim bruscamente e sumir entre a multidão. Demorei um pouco pra entender a situação, e uma onda de desespero se apoderou de mim. Eu estava sozinha. Sozinha no meio de dezenas de pessoas que pareciam querer me engolir. Meus lábios estão trêmulos. E eu sei disso porque não consigo formular palavra nenhuma enquanto tento pedir licença e sair dali. Alguém me intercepta e já sinto calafrios antes mesmo de me virar – Oi! Você é Clary, não é? – Procuro no rosto a minha frente alguma familiaridade, mas.. Nunca o vi na vida. Tão alto como Alec, os cabelos escuros cheio de cachos contrastando com a pele clara. Ele também usa óculos. Acho que seus olhos são verdes como os meus. – Eu sou Simon! Simon Lewis.. Faz um tempo que eu queria te conhecer. – Ele diz sorrindo. Sorrindo tão falso quanto Magnus Bane está sorrindo para as garotas que se jogam em cima dele enquanto procura agoniado por alguém no salão. Tão fraco quanto os raios solares mornos, depois da tempestade. Tão forçado quanto minha ida aquela festa. E naquele momento eu entendo, Simon é igual a mim. Sorrio de volta e continuo meu caminho. Olho pra trás um instante e o encontro olhando pra mim com um sorriso diferente no rosto, estranho, verdadeiro. Ele acena e vira as costas, seguindo o seu caminho também.

Os pedaços que deixamos pelo caminho já não nos completam mais.

POV SIMON

A garota ruiva some entre a multidão. Ela é realmente tão bonita quanto eu me lembrava. Mas ela não era Isabele Lightwood. Me encosto na parede do lado de fora do ambiente carregado onde eu a encontrei, e rio de meu infortúnio. Me apaixonei pela garota mais difícil que esse mundo já teve, o sorriso dela.. Ah.. O sorriso dela, tão quente, tão vivo. O jeito que ela tira os fios negros do rosto, o modo como o vestido se ajustou em suas curvas perfeitas, a maneira que ela me convence de fazer qualquer coisa só de olhar nos meus olhos. Eu não sou nada quando estou perto da Lightwood, ao mesmo tempo que sou capaz de qualquer coisa que ela queira. Olhe só, eu aqui. Ela “organizou” tudo para eu encontrar Clary essa noite, combinou com Alexi seu irmão pra tudo dar certo. E deu.

Deus, como deu!

Eu to aqui pro lado de fora, por que do lado de dentro eu não sei ficar, nunca sei, nunca sei.

Fecho meus olhos e posso senti-la perto de mim. – Simon! – E ela ta me olhando estranha, com seus orbes luminosos como se lá dentro o segredo do universo estivesse escondido. – Oi Izzi. – Eu to desanimado. Ela percebe, ela sempre percebe. – O que aconteceu? Não achou Clary? – E ainda por cima eu a fiz crer que sou apaixonado pela sua amiga ruiva. Suspiro frustrado com tudo isso. Ela nunca me notaria, eu sempre soube disso, por isso envolvi a moça Clary nisso tudo. Afinal, o que eu Simon Lewis teria de interessante para Isabele Lightwood? – Achei sim. – Respondo finalmente. Ela parece confusa. – E onde ela está? Por que não está com ela? – Porque eu amo você Izzi. Mas eu digo essa parte dentro da minha cabeça, e só eu pude ouvir. – Eu não te entendo. – Ela insiste. É claro que você não me entende, essa porra não está doendo em você. — Acho que não era pra ser. – Eu digo forçando meu rosto a montar um sorriso com o que ainda está inteiro dentro de mim. O clima fica pesado. Sinto que deveria acrescentar mais alguma coisa. – acho que agora você está livre de mim. – Eu comento rindo levemente da verdade mais dura que já tive que dizer. Ela não ia morrer, ia? Então porque este maldito aperto de saudade aqui dentro? Como se eu já a tivesse perdido. Eu não tinha o direito de continuar tomando o tempo dela.


POV IZZI

E nesse instante foi como se alguém maldosamente estivesse dando um nó cego nos meus órgãos internos e apertando, apertando.. Eu não queria acordar de manhã e não ligar pra ele, não queria parar de fechar meus olhos e imaginá-lo sorrindo re-colocando os óculos sobre o nariz fino, com aquelas covinhas se formando quando ele sorri envergonhado. – A gente pode achar outra, q-quer dizer, uma que seja do seu tipo. – Eu sugiro a coisa mais idiota que me vêm a mente, e tenho vontade de me bater. Ele parece pensar uns instantes antes de negar com um aceno. – É melhor não Isabele. – Meu nome nunca tinha soado tão frio assim antes. Eu sinto que estou preste a desabar, mas quando ele se vira para ir embora eu não respondo por mim, apenas quando puxo-o de volta de encontro comigo que percebo a merda que eu fiz. Ele pisca surpreso com a falta de espaço que eu deixei entre nós. Sinto minhas bochechas queimando, quando tento pronunciar alguma coisa que o faça ficar. – E-eu.. A gente pode achar outra pessoa Simon. – Do fundo do inferno eu me pergunto, por que diabos eu continuo insistindo nessa idéia? Ele fixa seus orbes esverdeados em mim e havia dor neles. Ele estava sofrendo.  Eu estava fazendo-o sofrer. Minha presença devia ser realmente insuportável. Fecho meus olhos segurando as lágrimas dentro deles, e me afasto. – Desculpa. Você deve ter outra garota em mente, e eu aqui atrapalhando. – Me ouço murmurando, no entanto era como se fosse outra pessoa respondendo por mim. Eu ouço sua risada sarcástica, e algo dentro de mim se enfurece. Eu amava aquele idiota e ele estava rindo de mim. Ninguém ri de um Lighwood. Viro-me para ele e tento socar a cara desse infeliz que acha que pode brincar comigo. Meus punhos são segurados ainda no ar, e de repente eu estava tão cansada de lutar com tudo, que finalmente deixo minhas lágrimas caírem. Me solto dele. Eu nem deveria ter saído de casa hoje. Nem nunca.  Ele está sério quando diz alto o suficiente para eu ouvir mesmo com os metros de distância que eu já tinha me distanciado dele. – A única garota que eu tive em mente desde o momento em que a vi acaba de tentar me socar. E ela ta certa em fazer isso, eu mereço mesmo uma surra. Eu a fiz falar inutilmente sobre sua amiga, quando na verdade a única que consegue mexer comigo é ela mesma. Eu te amo Isabele, desculpe te fazer perder tempo comigo, eu nunca quis te atrapalhar.. –Engulo meu estômago. Meus olhos se levantam bruscamente para o seu rosto, mas eu sou uma confusão de eletricidade, zunindo com vida relâmpago, quente e fria, e meu coração é errante. Estou tremendo em seus braços e meus lábios se apartaram por nenhuma razão. Sua boca atenua-se em um sorriso. Meus ossos desapareceram. Estou girando de desejo. Seu nariz está tocando meu nariz, seus lábios a um suspiro de distância seus olhos já me devorando e eu sou uma poça d’água sem braços e pernas. – E-eu..– É só o que consigo responder quando ele se aproxima novamente. Eu sei que estou chorando de novo (se é que em algum momento eu tinha parado) e ele me abraça timidamente, secando minhas lágrimas e sussurrando pedidos de desculpas. Eu o abraço com força, com todo amor que coube dentro de mim, eu o abraço para não mais deixá-lo ir embora. – Eu odeio quando você vai Simon, então por favor, fica.. – Ele sorri contra o meu cabelo e ergue meu queixo com um das mãos enquanto a outra segura minha cintura me trazendo ainda mais para perto. – Eu te amo. – Eu digo as palavras que eu nunca digo pra ninguém, e é nesse momento que eu sei que vamos durar. Ele me beija, e é como se os dias e as noites passassem por nós, queimando tudo em volta, mas nos deixando intactos. Uma, duas vezes, até que eu tenha tido a sensação do gosto e perceba nunca terei o bastante. Ele está por toda parte acima das minhas costas sobre os meus braços e de repente ele está me beijando com mais força, com mais intensidade, com uma necessidade urgente e fervorosa que jamais conheci.

O Sol nasce, descansa, brilha em seu rosto, e ele quase sorri, quase não consegue enfrentar meus olhos. Seus músculos relaxam, seus ombros encontram alivio no peso de um novo tipo de milagre e ele solta o ar dos pulmões. Ele toca meu rosto, toca meus lábios, toca a ponta de meu queixo e eu pisco e ele está me beijando, de novo e de novo. Só rezo baixinho pra não estar sonhando.


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Notas finais do capítulo

Eii obrigado a todos que me ajudam divulgar essa historia de alguma forma, comentando, recomendando, favoritando *---* ei leu até aqui, diz pra mim o que ta achando?