Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 18
XVII: Thunder Wave


Notas iniciais do capítulo

Weeee!
Estou de volta, sim, pronto para postar mais um capítulo.
Continuo sem ter muito o que dizer por aqui, além do fato de que ando tendo pesadelos com fantasmas.
Vamos ver se hoje eles começam a se revelar depois desse capítulo.

p.s> Eu poderia estar comemorando por ter chego a 1000 visualizações. Não o faço porque sei que uns 500 desses não passaram do índice. Talvez por isso eu tenha tomado meu tempo pra re-escrever a sinopse (que convenhamos, estava ruim mesmo)



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Algumas horas de caminhada se passaram sem que nada de excepcional acontecesse naquela manhã que estava prestes a terminar. Himiko aos poucos se acostumava às longas distâncias que percorria em sua viagem, as pernas ainda despreparadas para as tantas horas de jornada, apesar de seu corpo começar a responder melhor ao cansaço.

O mesmo não podia ser dito de seus Pokémon; a treinadora fazia questão de mantê-los enclausurados. A justificativa, que consideravam plausível, era de que se cansariam à toa; a resistência que eles poderiam adquirir não compensaria o cansaço, em especial porque eles deveriam estar bem dispostos no caso de algum Pokémon selvagem aparecer. Apesar de que a verdadeira motivação para ela mantê-los em suas pokébolas era a paz mental que pretendia manter. Acostumara-se com a solidão devido aos anos; mesmo que tivesse com quem conversar novamente, preferia lidar com o silêncio.

Pesava também o caminho principal entre as cidades de Slateport e Mauville estar bloqueado por conta de obras. A ponte, construída em linha reta a uma dezena de metros acima do solo, era o caminho mais curto entre as duas cidades; apesar de não ser o percurso mais adequado para pedestres, ela poderia chegar ao seu destino em cerca de quatro a cinco horas. A outra opção era seguir uma trilha, talvez seca, que passava por dentro do mangue que tomava boa parte do trajeto, o qual exigiria muito mais cuidado e disposição de quem se dispusesse a atravessá-lo. Não só o caminho sinuoso poderia apresentar armadilhas naturais, como o ambiente era propício para Pokémon selvagens, alguns nada amistosos. E mesmo caminhando durante toda a manhã, sequer havia adentrado à parte lamacenta do trajeto.

A realidade se mostrou um pouco diferente da expectativa; a terra escura começava a se confundir com o lodo característico e o odor acentuado começava a ser percebido, mas Himiko não encontrara nenhum Pokémon até o momento; a situação, inusitada, era vista com bons olhos pela treinadora, por mais que seu instinto apontasse que algo estava errado.

E por mais que desejasse estar enganada, não conseguiu evitar a surpresa quando aconteceu.

Himiko caiu ao chão de súbito, apesar de não ter sentido nenhum impacto. Suas pernas simplesmente falharam em manter o peso do corpo, os músculos da garota relaxando contra sua própria vontade. Ela teve dificuldade semelhante com seus braços, mal conseguindo colocá-los a sua frente para proteger-se do impacto.

Apesar de não ter ouvido nenhum barulho, ela imaginava se tratar de algum Pokémon selvagem. A sua decisão de viajar sem que um de seus Pokémon lhe acompanhasse fora da pokébola mostrara seu preço. A fraqueza nos músculos logo passou, de modo que Himiko alcançou a pokébola de Futa em seu cinto, libertando-o.

Cinco minutos se passaram, a jovem tentando retomar o seu ritmo, esperando. O suposto Pokémon, porém, não retornou, para a surpresa de ambos.

— Não foi nada… Acho que você está cansada. — Futa alertou. — Você não dormiu bem ontem, eu sei.

— Talvez… Mesmo assim, fique por perto. Se for um Pokémon, ele vai voltar.

— Não acha que é melhor tentar descansar um pouco?

Himiko não respondeu. Apenas se virou de volta para o mangue, disposta a seguir viagem. Não estava duvidando do Kirlia, apenas tinha certeza de que o acidente fora causado por um Pokémon selvagem; nada do que ele dissesse iria mudar sua concepção.

Nem uma segunda queda, idêntica à primeira, antes que a treinadora desse dez passos para a frente.

— Eu te falei, Himiko, você está fraca.

— Não pode ser! Eu tenho certeza que isso é coisa de algum Pokémon selvagem!

— Seja razoável, Himiko, você acha mesmo que tem…

Futa parou de falar de súbito. A treinadora resistia, sem sucesso, à tentação de rir do que vira; o Kirlia assumira uma posição engraçada demais para que ela se aguentasse. Ele tentava se equilibrar com seus poderes psíquicos ao mesmo tempo que suas pernas fraquejavam, quase levando-o também ao chão.

— Futa!

— Me desculpe, Himiko, eu errei. Isso foi uma onda elétrica, sem dúvida!

Ambos olhavam para os lados, em busca de algum sinal de um Pokémon. Não havia local aonde ele pudesse estar escondido; a grama que crescia pelo local não era alta o suficiente para ocultar algum provável espécime elétrico, em especial com suas cores mais brilhantes e chamativas.

Aquele que se escondia, porém, não conseguiu se conter, revelando sua posição com uma risada característica.

— Muito engraçado… — Himiko comentou ironicamente, levantando-se; percebera uma forma esverdeada que se misturava com facilidade à grama, em especial por estar em uma pequena depressão do solo, invisível a um olhar menos atento. — Futa, dê um jeito nele.

O olhar do Kirlia denunciava o que estava prestes a acontecer; o sadismo era visível em sua expressão, algo nunca presenciado por Himiko, nem mesmo quando ele a atacou durante um treinamento malsucedido.

No instante seguinte, o Electrike começou a flutuar, seu rabo apontando para o chão. Ele pairava uns três metros acima do solo; sem aviso, começou a girar em torno de seu próprio eixo, resmungando alto.

— Himiko, vem cá, escuta só isso…

Compreendendo o pedido de seu Pokémon, ela foi até ele, tocando seu ombro; os insultos proferidos pelo canídeo imediatamente se tornaram compreensíveis.

— Me larga, seu cretino! Não sabe brincar não? Espera só eu voltar pro chão pra ver o que eu faço com você, seu cabeça de ervilha!

Futa e Himiko se entreolhavam, como quem decidiam ao mesmo tempo o que fazer com o Electrike.

— Ah, não, isso aí é golpe baixo! Larga essa pokébola e me solta pra eu te dar uns…

Himiko pegava uma pokébola vazia de sua mochila, atirando-a em seguida no Pokémon canídeo, que se debateu como podia. Levou quase um minuto até que o processo fosse concluído, confirmando a captura do Electrike pela treinadora, que o libertou logo em seguida.

— Não sabe nem tirar uma brincadeira… você é muito chata, sabia?

— Pode ir parando por aí, pequeno. — Himiko tomava as rédeas da situação.

— Eu não pedi pra ser capturado, se você acha que eu vou te obedecer só por causa de uma pokébola você tá engana… Ei, me coloca no chão, seu protótipo de bailarina!

— Nada disso! — insistiu a treinadora, ao mesmo tempo em que Futa tornava a suspendê-lo com seus poderes psíquicos. — Você vai ficar aí e me ouvir, queira ou não!

— Eu já te falei, não pedi pra ser capturado. Eu tenho coisas pra resolver por aqui, não vou abandonar a manada por causa de uma humana que se acha a dona do mundo!

— E o que você quer que eu faça? Não vou capturar uma matilha inteira pra fazer capricho pra um Pokémon…

— Pera aí… você tá entendendo tudo o que eu falo?

Himiko perdeu o ritmo da reação. O resto de seu time sabia do vínculo mental entre ela e Futa; o mesmo não podia ser dito do Electrike, que nada conhecia a respeito deles. Para o Pokémon, a surpresa em ter suas palavras compreendidas (e respondidas) era justificável, apesar de que a jovem não se atentara a esse detalhe.

— Mais até do que você pensa…

— Isso pode ser divertido. Vamos fazer um acordo…

— Você não está em posição de barganhar nada aqui!

— Eu ajudo quem me ajuda; você me dá uma mão com meus problemas e eu prometo ser um Pokémon leal pro resto da sua vida.

— E se eu não quiser?

— Eu posso fazer você se arrepender de ter me capturado… DÁ PRA PARAR COM ISSO! JÁ PERDEU A GRAÇA!

Futa se divertia fazendo o Pokémon elétrico rodopiar pelo ar, em movimentos rápidos e circulares; era questão de tempo até que a tontura o deixasse realmente atordoado.

— Menos, Futa. — Himiko ordenou, fazendo com que ele parasse de controlar o Pokémon elétrico, que agora se virava para ela. A treinadora fez o mesmo. — Você disse que quer que eu ajude sua matilha… O que quer que eu faça?

— Eu explico no caminho… assim que esse perna de palito me colocar no chão!

— Eu peço pra ele te soltar, mas tem uma condição. — Himiko retrucou. — Você vai parar com essa malcriação, ou então acabou o acordo.

O Electrike encarava a treinadora, cabisbaixo.

— Tá bom…

— Ótimo, já temos um bom começo. Futa, coloque-o no chão. Mas fique atento, se ele aprontar alguma coisa, já sabe…

— Qual é, você não confia em mim? — retrucou o canídeo.

— Ainda não. Mas estou disposta a tentar em breve.

Os três começaram então a caminhar por uma trilha lateral e de difícil acesso, em direção oposta ao mangue.

— Eu ainda não acredito que deixei que me capturassem…

— Pois eu acho merecido! — Futa provocava o Electrike, que ia à frente. — Quem mandou ficar brincando com magnetismo?

— Vai ficar me dando lição de moral? Você não é meu pai pra falar desse jeito comigo!

— Pessoal, já deu. — Himiko se impôs. — Ficar discutindo não vai mudar o que já aconteceu…

— Tá vendo, Kirlia? Até sua treinadora concorda.

— Isso vale pra você também… — a jovem retrucou. — Aliás, qual seu nome?

— Ikazuchi, minha senhora. — O Electrike disse, no tom mais sarcástico que conseguiu fazer. — Kazu para os íntimos.

— Então… Ikazuchi. — Ela falou pausadamente, separando as sílabas, em resposta à ironia. — Você que é o novato aqui, então trate de andar na linha e…

— Pelo tolete do Gulpin! — o Electrike interrompeu.

— O que houve?

— Eles estão atacando a aldeia!

Himiko olhou para a frente, sem enxergar nada de anormal que pudesse sugerir a presença de alguma aldeia, ou mesmo de Pokémon selvagens.

— Como você sabe?

— Eu escutei. Temos que correr!

Não era como se eles não tivessem pressa; a treinadora em especial, pois pensava que quanto mais cedo resolvesse essa situação inusitada em que se metera, mais cedo poderia retomar sua jornada. Atendendo ao pedido de Ikazuchi, contudo, apertaram ainda mais o passo por entre as árvores que cresciam pelo solo relativamente firme, seguindo-o até uma pequena clareira. Esta apresentava uma entrada subterrânea, a qual passaria despercebida pela treinadora não fossem as faíscas que emanavam de sua entrada.

— Me ajude aqui, eu vou entrar! — gritou o Pokémon elétrico.

— O que quer que eu faça? — respondeu a treinadora.

— Sei lá, qualquer coisa!

— Não acho que devíamos nos meter, Himiko! — Futa questionou, enquanto o Electrike se afastava, adentrando à pequena gruta. — Isso me parece briga por território.

— Você deve saber tão bem quanto eu, não queria ter vindo…

— Então, por que veio?

— Não quero cometer o mesmo erro de novo. Já causei danos demais por não ouvir meus Pokémon quando eles mais precisavam de mim… inclusive você…

— Eu te entendo… — Futa baixava a cabeça. O bom-senso conflitava com a vontade de sua treinadora de ajudar, assim como sabia que qualquer que fosse a decisão dela, alguém acabaria mal. — Mas você não acha que está indo lon…

A frase de Futa foi interrompida por uma pequena explosão, vindo de dentro da gruta. Uma forma marrom, relativamente oval, era lançada para fora com velocidade, atingindo uma das árvores à direita da dupla antes de cair desfalecida ao solo.

Era, a um olhar mais atento, um Pokémon. Futa foi o primeiro a perceber, notando uma mancha azulada que podia ser vista por um buraco em seu casco, definitivamente chamuscado. O estrago era visível; o Squirtle provavelmente não tornaria a se mover.

Himiko encarava o grande buraco que se abrira aonde antes ficava a entrada do esconderijo. Duas ou três dezenas de Pokémon combatiam entre si. De um lado, uma pequena horda de Electrike, incluindo Ikazuchi; do outro, quatro ou cinco espécies diferentes se uniam contra os lobos elétricos, pelo menos três deles para cada Electrike. Ainda assim, os primeiros estavam em vantagem no combate. Talvez por estarem mais unidos, conseguiam se defender dos golpes com mais facilidade.

— Uh-oh… — Futa exclamou, sem saber o que pensar. Sua hipótese se mostrara correta, um claro sinal de que não deveriam participar da briga.

Himiko parecia compartilhar da opinião de seu Pokémon. Arrependera-se de seguir Ikazuchi até lá; algo lhe dizia que deveria ter mantido o pulso firme com o Electrike enquanto podia. Pensou em recuar, chamando-o de volta para a pokébola, mas não o fez; tinha medo de ser notada pelos outros Pokémon que ainda se encontravam lutando entre si.

Não que isso fosse necessário para que o pior acontecesse.

Pois ela foi notada por outro dos Squirtle que ainda estavam em combate. E para piorar ainda mais a situação, ele imediatamente chamou a atenção dos outros para o fato.

— Humanos!

Todos os Pokémon presentes (incluindo os Electrike) se viraram para a jovem, interrompendo o duelo.

— Deixem ela em paz! — Ikazuchi gritou, sendo o único a se colocar a favor da treinadora.

A resposta a ele foi imediata, na forma de chamas que partiam de um Pokémon alaranjado, quase acertando-o

— Você e seus amigos não tem direito de decidir nada aqui! — o Charmander gritou, irritado. — Não depois de destruir o nosso ninho.

— Como é que é? — gritou de volta outro Electrike, de pelagem notadamente mais clara. Aparentemente, a única fêmea do grupo. — Foram vocês quem começaram essa guerra de território!

— Nós sempre vivemos aqui na floresta, seus espoletados! — O Squirtle remanescente se defendia. — Estávamos muito bem por aqui até vocês chegarem.

— Explique então os ovos torrados, já te provamos que foi um ataque de chamas! — a Electrike rebateu. — Você também tem família, imagine se fossem os da sua ninhada!

Himiko assistia aos Pokémon tornarem a brigar, ignorando outra vez a presença humana no ambiente. Futa resistia à tentação de intervir na briga com sua barreira psíquica; a briga era afinal desnecessária, porém não de sua conta.

As coisas começaram a mudar no momento em que o Charmander foi lançado aos pés da jovem por um ataque elétrico, sua cauda quase chamuscando as vestes dela.

— Kirlia, nos ajude. — implorou ele, com dificuldade para se levantar. — Se continuarem assim, eles irão matar todos da nossa aldeia!

O lagarto de fogo não tinha como saber que a garota entendia tudo o que estava acontecendo, especialmente após ela olhar para o lado, só então notando que o Pokémon lançado pela primeira explosão havia morrido. Caso soubesse, o Charmander teria muito a agradecer em breve.

— Futa! — ordenou Himiko. — Separe-os!

— Eu não acho certo que tomemos parte…

— E você prefere que eles morram? — gritou a jovem.

Ele tomou um susto com a reação de sua treinadora antes de tomar a atitude que lhe fora ordenada. Um campo de força esverdeado, semitransparente, absorvia os raios e chamas que eram lançados entre os Pokémon que se encontravam no que restara da gruta, agora apenas um buraco no meio das árvores. Eles somente se acalmaram ao perceber que cada um dos grupos estava isolado e rodeado pelo filtro luminoso, sem possibilidade de reagir.

— Obrigado. — respondeu o Charmander, novamente de pé. — Segure as pontas um pouco que eu resolvo com eles.

Futa chegaria a ficar fadigado, considerando a demora que se deu na discussão entre os Pokémon. Não importava o que o lagarto falasse, nenhum dos lados parecia disposto a entrar em um acordo, por melhores que fossem os argumentos. Também questionavam o porquê de haver um humano interferindo nos assuntos deles:

— Fui eu quem trouxe ela aqui. — confessou Ikazuchi. — Já estamos brigando a alguns dias, achei que podíamos resolver isso numa boa.

— Achou errado! — respondeu um Pokémon esverdeado, também reptiliano. Apesar da aparência dócil, era o maior dos Pokémon ali presentes, e combatia como tal. — Aliás, me impressiona de você conseguir fazer alguma coisa séria uma vez na vida, achei que nunca iria amadurecer!

— Amigos, desse jeito nunca vamos nos entender! — o Charmander interviu. — Pouco importa quem está ou não está aqui, o Strain é o terceiro dos nossos que morre por causa dessa briga, é isso mesmo que vocês querem?

— Cala a boca, Nagrev! — a resposta torta veio de Ikazuchi. — Você é muito certinho, me dá nojo!

— Vem calar, seu pirralho… ah, é, você agora foi adestrado, não é? Quem sabe assim começa a tomar jeito nessa vida…

O lagarto de fogo agradecia mentalmente pela intervenção na briga, ou teria sido atingido por um golpe elétrico de Ikazuchi. Por Futa ter isolado o Electrike com seus poderes, contudo, o único resultado de sua atitude foi demonstrar sua intenção de atacar.

— Ei, Nagrev, você que vive com os Squirtle, nunca pediu pra eles lavarem essa sua boca suja?

Os outros Pokémon ali isolados já haviam parado de tentar brigar, apenas assistindo aos dois que discutiam como duas crianças.

— Agradeça ao seu amiguinho e a dona dele por essa barreira, ou você estaria queimado agora, cachorrinho!

— Eu se fosse você não falaria assim deles, babacão!

— Hm, claro. O que ela vai fazer, me trancar na casinha de cachorro igual ela deve fazer com você?

Himiko estava ficando de saco cheio daquela briga, ainda que não pudesse fazer muita coisa a respeito. Não podia chamar de volta seu Electrike, pois a barreira a impedia e, se Futa a desfizesse, eles se matariam mais rápido do que a treinadora poderia usar sua pokébola. Caso atacasse o Charmander, os outros Pokémon da aldeia iriam se virar contra ela, o que não seria muito sensato. Sentindo-se ofendida com a última frase deste, porém, ela tomou uma atitude da qual iria se arrepender muito em breve.

Pois atacar um Pokémon selvagem não era a única maneira de silenciá-lo.

A garota o fez atirando uma pokébola em sua cabeça, que acertou-o em cheio.

Todos (inclusive Futa) olhavam para a treinadora, surpresos. Ikazuchi começou a rir enquanto o lagarto se debatia, ainda tentando evitar a captura. O restante da aldeia olhava para a esfera que chacoalhava no chão, descrentes do que viam.

Talvez se ele não estivesse tão cansado após o embate com os Electrike, conseguiria se safar naquele momento. Ao apagar da luz avermelhada, sinalização da captura do Charmander, os Pokémon voltaram a discutir, talvez menos acalorados do que antes.

— Ela fez mesmo isso? — perguntou um outro Charmander, menor que o espécime o qual havia sido capturado.

— Achei foi pouco! — o reptiliano esverdeado respondeu, aparentemente aliviado. — Ele é muito pavio curto pra ser chefe, eu devo dar conta dessa briga melhor que ele…

— Vai nessa… — Ikazuchi respondeu, do outro lado da barreira, ainda sem conter as risadas. Acabou engolindo em seco quando se viu pendurado de cabeça pra baixo novamente, dessa vez por um cipó que vinha do Pokémon esverdeado, que atravessava a barreira como se ela não existisse, destruindo-a.

— Você fique quieto aí, moleque. Quem dá as ordens aqui sou eu… e não é como se fizesse diferença agora que você foi capturado também… — ele atirou o Electrike para o lado, na direção de Himiko, que ainda se situava por ali. — Quanto aos outros, no que depender de mim serão bem-vindos. Temos de nos unir nesses tempos difíceis, eu estou disposto a colocar nossas diferenças de lado por um pouco de paz. Quem está comigo?

— Vamos embora! — a sugestão partiu, não tão surpreendentemente, de Ikazuchi, que se levantava; sua expressão denunciava o seu desespero. — Quanto antes partirmos, melhor.

— Também acho… — Futa completou. — Vamos voltar para as pokébolas e…

— Ainda não. — respondeu o Electrike, ao que foi imediatamente compreendido.

Himiko era dentre eles quem mais desejava se ver longe da confusão; não precisou ouvir duas vezes que era o momento ideal para partir, enquanto os outros Pokémon ainda argumentavam entre si.

Não levou nem dois minutos de caminhada para que Ikazuchi demonstrasse o porquê dele não querer voltar para a pokébola.

— Sua idiota! — ele gritou com sua treinadora, visivelmente irritado, no instante em que percebeu que não seria ouvido pelos outros Pokémon da aldeia. — Eu te chamo pra ajudar e você só complica as coisas! Pra quê capturar o Nagrev?

— Não foi ele quem começou a briga? — respondeu ela. — Olhe como as coisas estão se resolvendo agora…

— VOCÊ FICOU LOUCA! O Nagrev era o único motivo para que eles não tivessem nos matado antes!

— Me pareceu que o Chikorita tem mais maturidade…

— O Teluk é um babacão, ninguém respeita ele. Não dou uma hora até que eles comecem a atacar a si mesmos…

— Mas eles não eram seus rivais? Por que se importa tanto?

— Existe uma diferença entre ver seu rival derrotado e ver ele morto. Não acredito que eles consigam se controlar por tempo o bastante…

Himiko ficou pensativa, tentando entender o que acontecia, por mais confuso que lhe parecesse. Talvez fosse alguma influência de Futa, mas ela logo conseguia perceber o que seu Pokémon tentava esconder.

— Será que isso não tem nada a ver com você não gostar desse Charmander em particular?

— Não é nada disso! — respondeu ele, imediatamente, com a voz levemente esganiçada. — É que o lugar dele é na aldeia, ele é durão e… sabe…

Himiko caiu na gargalhada. A voz de seu Pokémon falhava, a expressão dele era de quem havia sido pego na mentira. A breve discussão entre os dois Pokémon instantes antes era prova suficiente de que tinham uma rivalidade antiga; agora estariam juntos, sob o comando da mesma treinadora.

— Fala sério, Kazu! Eu só te conheço faz umas duas horas e já sei mais sobre você do que você mesmo!

— Cala a boca! — retrucou ele, misturando a chateação com o riso, que também não conseguia controlar.

Talvez ele estivesse certo e os Pokémon que viviam naquela região acabassem por terminar de se matar. Mas Himiko não mais se preocupava com o desfecho, pois sabia que não era da conta dela, enquanto retornavam pelo caminho que vieram, agora consciente de que não conseguiria chegar a Mauville a tempo para dormir.

Curiosamente, Ikazuchi logo compartilharia do mesmo sentimento.

 


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Notas finais do capítulo

Mas o que é isso? Capturas acontecendo?
Não se surpreenda tanto. Eu não falei que a fic estava em uma nova fase? Nem tudo vai mudar, entretanto, apesar de que com ela recuperando a auto-confiança, as coisas devem fluir melhor. Pelo menos por enquanto.

Notas do in-game:
Basicamente, passei o capítulo explorando a nova rota (ou melhor, as novas rotas) disponíveis. Alguns poucos jogadores devem se lembrar de um local chamado Altering Cave, que normalmente é uma caverna cheia de Zubats até que você use um card e-reader. Basicamente, nessa versão editaram a Altering Cave pra colocar uma variedade maior de pokémon, e…

Status do time:
Pokémon: 5
Futa (Kirlia) Lv. 25; Bold, Synchronize.
Monk (Bellsprout) Lv. 24; Bold, Chlorophyll
Nuri (Swellow), Lv.25; Mild, Guts
*Ikazuchi (Electrike), Lv.16, Serious, Lightning Rod
*Nagrev (Charmander), Lv.14, Naive, Blaze

A propósito, você leitor deve ter percebido que não estou levando as natures em consideração pra personalidade dos pokémon…



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