Capítulo 2

Quando pousamos na base alemã, por mais que amasse o que fazia no Afeganistão, o alívio que bateu em mim foi imediato. A viagem havia sido extremamente longa, mas meu cansaço era tanto que me permiti ficar acordada em poucos momentos. Emmett havia acenado para mim ao longe e quando ia descendo as escadas do avião, senti uma mão no meu ombro e sorri.

– Tenente – o cumprimentei.

– Doutora. Como vai?

– Muito bem. Essa viagem me rejuvenesceu. Não dormia tanto assim há um bom tempo.

– Percebi e não quis atrapalhá-la. – ele riu – Posso fazer uma observação, com todo meu respeito?

– Claro, tenente.

– Achei que fosse impossível isso acontecer, mas a senhorita consegue ficar ainda mais linda vestindo sua farda, óculos aviador e coturno – e sorrindo ainda mais, ele se afastou – Espero encontrá-la na festa mais tarde.

Não pude evitar e comecei a rir, com Jane na minha cola.

– Que gato! Se eu não fosse casada... – ela suspirou – É da Equipe B?

– Sim... Cuidei dele essa semana. É durão, mal está usando as ataduras. – rolei os olhos, observando de longe.

– Eles são sempre assim.

– Hey, você vai ficar pra festa mais tarde?

– Eu vou, mas só porque não estou afim de pegar um voo hoje ainda. A verdade é que a saudade do meu marido está quase me matando – suspirou – Não está com saudades de Jasper?

– Estou, mas... Acho que me acostumei. – dei de ombros, fazendo Jane me lançar um olhar desconfiado, mas sem dizer uma só palavra.

Assim que chegamos à base, logo me acomodei, recebendo o Major responsável pelo nosso pelotão logo depois.

– Brandon, foi um excelente trabalho.

– Obrigada, senhor.

– Fico muito honrado de você ter feito parte da nossa equipe. Espero encontrá-la em Washington. O nosso país tem uma dívida com você.

– Dívida alguma, senhor. O prazer em pertencer a essa equipe foi todo meu. Aprendi muito com todos.

– Fico feliz. Estou dispensando você e a Watson para a festa de mais tarde. Não é de costume fazermos isso, mas abrirei uma exceção para o toque de recolher essa noite. Tanto a Equipe A quanto a B são merecedoras de um descanso agora. Missão cumprida, Brandon. Meus parabéns!

– Obrigada, senhor. Obrigada, por tudo.

Bati continência para ele, que fez o mesmo, se retirando logo depois. Jane me olhou e sorriu.

– Ele realmente gosta de você.

– Estou na equipe dele tem três anos, Jane. Você tem noção do que é uma pessoa renovar seu alistamento por três anos seguidos? Pessoas chegaram, foram embora, mas eu fiquei. É normal. – e rimos.

– O que vai vestir? – ela perguntou.

– Não sei, pra falar a verdade esqueci o que é não vestir uma farda. Antigamente eu só usava as melhores roupas, então entrei pra faculdade e só soube usar roupas simples e jalecos, logo depois fui para residência e não usei nada além de um uniforme, seguido disso passei três anos da minha vida vestido fardas, eu sequer sei que as mulheres estão usando, que tal uma burca?– bufei e Jane gargalhou

– Vista algo leve, e sexy, por favor. Já deu pra perceber que o Tenente McCarty está interessado em você.

– Jane, você sabe que eu sou comprometida.

– Alice, francamente! Eu sou comprometida. Você apenas tem... Alguém. Só acho que depois de tanto tempo na guerra, não deve privar sua vida de momentos prazerosos.

– Que seria...

– Uma boa noite de sexo com o tenente gostosão, obviamente.

Nos encaramos por um momento, sérias, e quando percebemos já estávamos deitadas na cama rolando de tanto rir.

(...)

Já se passava das sete da noite quando começamos nos arrumar. Eu havia escolhido um vestido branco rendado e sapatilhas para usar e resolvi deixar meus cabelos soltos, pois já ficavam presos demais.

Meus cabelos haviam crescido bastante nos últimos três anos. Quando eu havia me alistado eles mal batiam nos ombros e agora já passavam do meio das costas.

Assim que terminei de me arrumar, aguardei Jane ao lado de fora do quarto, conversando com mais algumas garotas. Umas médicas, outras soldados. Era diferente ver todas assim, arrumadas, produzidas, já que nos víamos apenas de farda e cobertas de pó na maior parte do tempo.

Quando Jane ficou pronta, encontramos os rapazes na entrada da base, todos bem arrumados e perfumados, o que fez algumas meninas (principalmente as solteiras) entrarem em estado de alerta no mesmo momento.

Emmett estava ainda mais bonito, se é que isso era possível. Usava uma calça jeans preta, sapatênis também pretos e uma camisa gola polo branca. Ao me ver, sorriu e caminhou até mim, assoviando.

– Está esplendida, Doutora Brandon.

– Digo o mesmo, McCarty.

– É diferente ver vocês todas arrumadas. Se mostram mais bonitas do que já são. É engraçado que quando estamos tão fora do mundo “real”, a gente aprende a valorizar a beleza feminina.

– Fico feliz que tenha tido essa lição, Tenente. – sorri – Agora se me permite, tenho que pegar o meu táxi.

– Ah, sim, claro... Nos vemos no bar.

Afirmei que sim com a cabeça e acompanhei algumas meninas em um dos táxis que havia acabado de chegar. O caminho até um famoso e boêmio bar de Berlim não era longo. Levamos dez minutos ou quinze no máximo para chegarmos até lá.

Como estávamos em um grande número, havíamos reservado toda uma parte do bar para que ficássemos a vontade. Ao nos acomodarmos nas mesas, logo vi os rapazes pedindo uma rodada de canecas de chopp e logo percebi que a noite seria realmente longa.

Algumas canecas de chopp depois

Já não estávamos mais em um bom número de pessoas. A maioria, por passar muito tempo sem beber, já tinha voltado para a base por se sentirem alterados demais. A verdade é que quando se está no exército, a tendência a ter um bom comportamento acaba fluindo por todas as partes da nossa vida.

Eu podia observar Emmett se aproximando de mim, já que o espaço das garotas ao meu lado estava vazio.

– Bom, eles também estão indo embora – ele fez uma careta – Eu não estou afim, então se por um acaso você também não estiver, seremos a salvação um do outro.

Olhei pra ele de uma forma sedutora e sorri.

– O que você propõe?

Tudo bem, se fosse em um outra ocasião em que eu não estivesse bastante alterada pela forte cerveja alemã, eu provavelmente não teria dito aquilo, daquela forma e olhando-o daquele jeito, mas como as circunstâncias não eram essas...

– Acho que deveríamos comprar um bom vinho, nos sentarmos na Pariser Platz e beber até quando der. Assim eu posso aproveitar e conhecer a pessoa fascinante que você parece ser.

– Devo dizer que a ideia me agrada pra valer. – sorrio, me levantando – Acho que devemos ir.

A Pariser Platz era um dos maiores pontos turísticos de Berlim, se não fosse o maior. Tinha uma bela praça onde geralmente casais aproveitavam para passear durante a noite. Não estávamos muito distante de lá, talvez apenas umas duas quadras, o que nos fez optar por ir a pé. Emmett me contava sobre sua vida, dizendo ter nascido em Wilmington, na Carolina do Norte.

– E como é lá?

– Bom, é o interior. – ele riu – Um lugar maravilhoso para se viver. Quando estou em casa eu ajudo com os cavalos, pego minha barraca de camping e me infiltro no meio do mato, já que não sei muito bem conviver em sociedade mais. – ele gargalha.

– E por que se alistou?

– Meu pai foi capitão do exército. Quis fazer parte desde que me reconheço por gente, mas não pra viver a vida alistado em missões, como ele. Eu via o quanto minha mãe sofria enquanto ele ficava fora. Mas eu queria fazer parte, sabe? Queria pode dizer que fiz alguma coisa pelo meu país.

– Eu entendo completamente. Há quantos anos está alistado?

– Estou há dez anos no exercido, Doutora Brandon.

– Isso tudo? Sério que está esse tempo todo na guerra? – perguntei boquiaberta.

– Oh, não! – ele riu – Na guerra mesmo estou apenas há quatro anos.

– E antes, onde serviu?

– Na Louisiana. Passei seis anos lá, logo depois minha unidade foi mandada para a Alemanha. Passei um ano na Infantaria e logo após fui mandado pra guerra.

– E o que achou da experiência?

Senti Emmett encolher os ombros, um tanto acanhado, mas logo depois se recompondo.

– Não gosto de falar muito sobre, mas digamos que não tem uma só noite em que eu tenha calma e não tenha pesadelos.

– Lamento. – falei sinceramente.

– E você, Alice? Casada? Tem filhos? Mora sozinha?

– Morava sozinha antes de vir embora pra cá, mas agora não sei onde irei morar. Pedi para minha cunhada ver alguns apartamentos pequenos para mim. Aliás, não tenho filhos, somente uma sobrinha que ainda nem conheço. E sou noiva.

– Wow! – ele fez uma cara de decepção, sentando-se num banco – Devo afirmar que agora fiquei chateado.

– Ficou? – perguntei, chocada.

– Sim, fiquei, mas já que foi sincera comigo... Bom, eu também estou noivo. Noivo de uma mulher que eu vi apenas duas vezes por ano em quatro anos. Você tem noção?

– Bom... Você gosta dela?

– Gosto, mas não sei se amo, exatamente. Eu e ela somos extremamente diferentes.

– Como ela é? – perguntei, dando de ombros.

– Lembra uma capa da Vogue. – riu – Loira, alta, nariz empinado, ama um shopping e também é médica, mas não como você, ela é dermatologista.

– Parece até que descreveu minha irmã agora – falei rindo – Ela também é exatamente assim, e por coincidência, ela é Dermato também. E vocês são diferentes no que? Porque pra mim você também dá uma boa imagem de capa de revista.

– Ela é... Superficial demais. Urbana demais. Extravagante demais. Você consegue me entender? Eu cresci em cidade pequena, andando em cavalos, conhecendo as pessoas a minha volta. Ela agora mora em cidade pequena, mas nasceu e viveu a vida inteira em cidade grande. Somos opostos demais. Gosto de namorar garotas que eu possa cuidar, mas que saibam cuidar de si mesmas ao mesmo tempo, entende? Garotas simples. Não mandar e sim cuidar. Gosto de garotas normais... Delicadas... E isso não é o caso dela.

– E por que noivou, então?

– Nos conhecíamos já tinha dois anos, eu a via em todas as minhas duas licenças, e eu realmente gostava dela. Quando vim embora achei que ficar noivo fosse a coisa certa a se fazer.

– Mas agora já não sabe se é isso que quer?

– Exatamente.

– Entendo completamente – sorri amargurada – Estamos no mesmo barco.

– Bom, de qualquer forma estou esperando só voltar para nosso país e ver como estarão as coisas.

– Eu te desejo boa sorte.

– Obrigado, mas... Eu não posso fazer o mesmo. – ele quase sussurrou.

– O mesmo? Como assim?

– Não quero que tenha boa sorte com seu namorado, uma vez que estou completamente louco pra te beijar desde quando cuidou de mim no acampamento.

Abaixei a cabeça um tanto desconcertada e chocada com a confissão.

– Desculpe, não quis constrangê-la.

– Não me deixou constrangida, Emmett.

– O que foi então?

– Apenas me perguntei o porque de não ter me beijado até agora.

Emmett abriu um sorriso maravilhoso e com uma força que somente um soldado poderia ter, me puxou para si, enlaçando minha cintura com seus braços e me olhando nos olhos. A conexão foi imediata. Se Bella, minha cunhada e melhor amiga, estivesse aqui, com certeza diria que nós tínhamos uma química.

Como imãs que se atraem, levantei meu rosto para o dele. Minhas mãos erguendo-se, como se tivessem vida própria, se embrenharam pelos cabelos macios, como tinham desejado desde a primeira vez que eu o vi, naquela longínqua tarde.

Desejei ter alguma culpa por conta de Jasper, mas não conseguia sentir absolutamente nada. Com um suspiro, Emmett fechou os olhos. Parecia que nada mais existia no mundo a não ser nós dois, imersos em nossa bolha, naquela noite fresca e escura na Alemanha.

Ele separou seus lábios dos meus, descendo seus beijos por meu queixo, maxilar e pescoço, fazendo minha pele se arrepiar. E quando finalmente seus olhos claros olharam dentro dos meus, não foi preciso dizer mais nada. Sabíamos exatamente para onde ir.