Entre os vales congelados, a vida se esvai. O vermelho, quente e plasmático, se expandindo sem preconceitos pelo gelo pálido em seu caminho. As terras frias do norte, antes regidas pelos ursos, antes regidas por homens tão antigos quanto as montanhas, antes regidas por deuses mais velhos que a existência, se aquietaram com o fim do ardor humano.

De lá o mundo saiu, reinos intocados pelo tempo, dos grandes braços gelados de Ymir e das gotas mornas do leite celestial. Mas nunca, no diretório do universo, que a vida devia permanecer lá. O homem dali veio e dali devia sair, uma transição necessária para que o vale se perdesse novamente na história. E a teimosia dos mais bravos homens desafiou a força e a vontade dos Æsir.

Iluminados pelos raios de Thor, homens brancos se digladiam com homens vermelhos, descendentes de deuses estranhos de outro mundo, herdeiros do Caos. A selvageria inerente do ser humano ecoa pelos fiordes de rocha escura e destrói a paz instaurada por Borr. Sob o oceano congelado abaixo do chão de neve, krakens aguardam o fim da batalha, ansiosos pelos espólios dos vitoriosos e restos dos perdedores.

Funerais de fogo e carne.

Mas não há ninguém para empilhar os corpos.

O céu negro e sem nuvens, polvilhado pelos brilhos estelares, se abre numa explosão. Roxo, verde, vermelho, dourado, azul. Embaladas pela doce canção do silêncio, valquírias aladas recolhem as almas valorosas dos escolhidos de Odin. Partículas de luz cintilam pelo mar de cores no céu, os Nove aguardam os aventureiros do outro mundo. Cantem e bebam, homens brancos, pois para a imensidão do universo vocês vieram, atraídos pela beleza de Ásgarðr. Chorem e temam, homens vermelhos, a falha de vocês os guia para o Deus Ressentido que guarda as chaves do Tártaro sob as patas de Cérberus.

Aos vales congelados, o tempo abandona. Paz aos convidados nos salões de Valhalla