Sinto inveja dessa Ellen, passa o tempo ao seu lado e eu tenho que dividir um barracão fedorento com quase 100 homens. É ruim quando alguém entra em “sintonia” consigo mesmo. Acredite, já vi mais de um acordar naquele estado, mesmo depois de ver tanto coisa ruim do lado de fora eles ainda conseguem serem eles mesmos. Um dia desses estávamos numa fogueira, fazendo a ronda quando um deles perguntou se havia alguém nos esperando em casa. Eu conheci cinco gerações de uma família por fotos na carteira de um dos homens mais velhos que vi servindo a guerra. “Eu tenho sete netos e quatorze bisnetos” ele dizia orgulhoso enquanto nos contava histórias sobre os dias de sua juventude. Ele contou que o último desejo de sua vida era ver a guerra acabar para que a neta mais nova cresça em um mundo sem “os malditos nazistas”, o outro, que contou ter a melhor esposa do mundo disse que até da sogra sentia falta, de jogar cartas com os seus pais nos almoços de família enquanto sentia uma inveja corroer por dentro, pois a esposa é estéreo e a irmã dela tem cerca de 5 filhos, dois garotos e trigêmeas. “É um horror vê-los correndo” ele disse. Um novato que chegou há duas semanas disse que sente falta da mãe, quase riram dele, mas quando ele mostrou uma foto da mulher até o velho ficou animado. Uma ex-modelo dessas revistas que você lê. Ele só veio para a guerra porque queria mostrar ao pai que havia se tornado homem. Eu o chamei de imbecil. Ele não negou.

E quando chegou minha vez, eu só falei sobre você – não do mesmo jeito, afinal se me descobrirem me matam enquanto durmo, Mike e Nile eram os únicos que sabem a verdade sobre você. E ambos já se foram. Contei que havia te conhecido em um bar, e usava um vestido preto com franjas com um decote provocante nas costas, - não contei a eles sobre os seios falsos e pequenos que estava usando - e seus sapatos que combinavam com o batom que usava. Meu coração naquela noite quase explodiu quando te vi caminhando até o palco, o timbre da sua voz contra o microfone e de como me olhou do outro lado do bar no final da música me fizeram acreditar em amor à primeira vista. E Rivaille, é tudo verdade. Eu te amei desde o momento em que te vi, e percebi que seria para sempre no primeiro “não” quando lhe convidei para sair; e das várias e insistentes vezes que te seguia até seu camarim. Eu ainda tenho o cartão com o cheiro do seu perfume. E quando mostrei a eles eu ouvi um “você é um homem de sorte", eu sorri pela primeira vez em semanas. Eu sorri porque sei que você estará me esperando quando o navio voltar. Sorri porque tenho tudo de que preciso em seus braços.

Eu te amo Rivaille.

Em pouco tempo eu estarei ao seu lado, apenas me espere.