Epifania // Hiatus escrita por boredkav


Capítulo 2
Adiantamento


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pela demora ^^



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Ao abrir meus olhos, a primeira coisa que percebi foi o teto. Ele não era o que eu esperava. Não era branco e simples, mas sim largo e cheio de luzes estranhas. Tentei me levantar, mas minhas mãos e pernas estavam presas nas quatro pontas da cama. Se é que eu poderia chamar isso de cama. Era duro como pedra. Aquelas travas se soltavam todos os dias na mesma hora. Não era uma prisão. Bem, era o que eles nos faziam acreditar.

Hoje eu completava 13 anos e por isso Eles me vestiram de forma diferente, como todos os anos. As exatas sete da manha como esperava, eu ouvi o sinal tocando. Era forte e meus ouvidos sempre doíam com esse som. As trancas se soltaram e eu pude me mover normalmente. Ao me levantar senti uma forte dor na nuca. Então eles fizerem de novo.

Ao sair do meu quarto que eu poderia facilmente chamar de prisão cheguei ao salão principal. Esse era o nome que nos foi ensinado, mas era uma imensa floresta. Sim, uma floresta. As arvores eram absurdamente grandes, quase não podia ver seu topo. E se desse para contar eu diria que esse local tem 1100 m2. No total havia 18 portas espalhadas pelas laterais. A cada porta era o quarto de uma criança.

Quase todos os dias frequentávamos aquele local. De noite Eles nos levam para algum lugar, aplicam alguma coisa em nossa nuca e de manha cedo nos soltam no salão principal. Não nos disponibilizam roupas, alimentos e água. Fazem-nos sobreviver com o que a floresta nos oferece. Em alguns dias Eles nos trancam em nossos quartos e nos ensinam sobre tudo que devemos saber. Táticas de sobrevivência, estratégia e teatro. Vários idiomas, Matemática e Historia. Em nosso quarto tem uma mesa e nos dias de estudo a porta não se abre. Mas se hoje nos soltaram aqui então querem testar alguma coisa. No centro do salão tem um lago. Era a única fonte de água.

Todos nos formos instruídos a não nos comunicarmos uns com os outros. Eles dizem que pode ser perigoso. Ainda não entendo o porquê. Mas só porque dizem não quer dizer que devo seguir. Das 17 crianças eu falava apenas com três delas. O Bernardo, o Caleb e a Emilly. Com o tempo nos tornamos bons amigos, mas Eles não sabem. Como era proibido nós tentávamos não nos destacar. As vezes algumas crianças somem e outras aparecem, talvez tenha outro lugar assim por ai.

Dirigi-me ao local em que sempre nos encontramos bem próximo ao lago, mas entre as arvores. Ao chegar lá apenas o Bernardo havia chegado, nossos quartos são os mais próximos do local.

Logo que me viu perguntou.

– Ei Vincent, você também sentiu? Eles fizeram outra vez – Deu uma pausa e passou a mão na nuca – A cada dia que eles fazem isso em meu pescoço sinto que algo está diferente. Você também sente isso? – Continuou me olhando e ele tinha o olhar assustado. Apesar de seu grande tamanho, ele dava uns dois de mim. Sua pele escura, seus olhos pretos e seu cabelo escuro e ondulado sempre jogado para o lado esquerdo era uma boa combinação para sua personalidade.

– Sim. Eu percebi, mas não sinto nada diferente. Apenas a dor rotineira que causa. –Minha resposta não parece ter lhe agradado. Não posso fazer nada, eu não sinto a diferença. – Acho que devemos esperar o Caleb e a Emilly e ai podemos perguntar se eles sentem isso também, o que acha?

Ele sabia que não tinha escolha por isso aceitou. Sentamos-nos e continuamos parados olhando ao redor e jogando conversa fora sobre o que aprendemos na aula do dia anterior.

Quando avistei os dois de longe a sirene tocou outra vez. Não era para tocar a essa hora, o próximo deveria ser somente de noite para voltarmos ao quarto. Após silenciar o céu se apagou e ficamos na escuridão. É claro que eu sabia que aquilo não era uma floresta de verdade. Eles devem ter montado todo esse local e querem provar algo nos trancando aqui.

O Bernardo e eu começamos a correr em direção aos dois que ficaram parados olhando em choque para o céu falso. Talvez eles não tivessem percebido. E quando estávamos pertos o suficiente para ouvi-los, Emilly se manifestou.

– Isso nunca aconteceu antes, o que vocês acham que aconteceu? – Ela me olhou nos olhos e esperou. Ela acha que eu tenha a resposta? Ela percebeu que eu não tinha nada para dizer. Até que o Caleb gritou:

– Olhem! – Na direção em que o Bernardo e eu viemos várias pessoas apareceram elas usavam a mesma roupa branca dos pés a cabeça. Em mãos Eles possuíam uma espécie de arma.

E do nada começaram a atirar em todas as crianças pelo caminho. Sua roupa ficou manchada de sangue. Essa é a primeira vez que vejo, é mais claro do que eu pensava. Desde pequenos fomos isolados e Eles nos criaram aqui, então porque acabar com isso agora?

Tentamos nos esconder entre as arvores, mas Eles sabem exatamente onde estamos. Se eles sabem onde estamos então não adianta nos escondermos, olhei para a Emily e ela pareceu entender. Ela pegou a mão do Bernardo que estava de joelho com a cabeça entre as mãos e saiu correndo. Caleb passou por mim e atingiu um deles que veio escondido por detrás de mim. Só tive tempo de sussurrar um “Obrigado” e então estávamos correndo juntos. O salão principal não era tão grande então logo chegamos ao final.

Algumas das crianças tentaram resistir e o centro do salão se tornou em uma grande batalha. Caleb resolveu se juntar, ele amava lutar e nos disse que ganharia tempo até resolvermos o que faríamos. Essa era a primeira vez que o vi lutando. Nossas aulas de lutas são separadas, pelo que ouvi dos três parece que cada um de nos usamos técnicas diferentes. Ele retirou duas adagas escondidas nas suas costas e começou a atacar. Seu rosto não possuía nenhuma expressão. O modo como ele lutava dava medo.

Olhando a situação de fora parecia mais um massacre do que um simples treinamento. O que diabos eles querem de nos? Algumas das crianças atacavam enquanto outras corriam, mesmo não tendo para onde ir. Até que a Emilly disse:

– Eu tenho uma ideia, mas não sei se vocês vão aceitar. Há algum tempo atrás eu descobri um modo de sair daqui. Ainda não tive a oportunidade de testar, mas agora que a energia se foi é um bom momento. O que acham? – ela me olhava com ar de expectativa. Ela realmente sabe um caminho. – Mas tem que ser rápido, olhe – Ela apontou da direção do massacre e ele estava chegando perto. Perto demais. Uma a uma, as crianças iam caindo e eu não tinha tempo. Caleb já estava sendo pressionado então fiz a única escolha que tinha e lhe respondi alto e claro:

– Se você realmente sabe um caminho então é melhor irmos rápido – Ela pareceu gostar da minha ideia e nos guiou em direção ao lago.

Assim que nos viramos dei um sinal com a mão para o Caleb se juntar a nos. Ele deferiu um golpe certeiro na garganta de seu oponente e se juntou a nos. E com isso Emilly continuou:

– Abaixo do lago à aproximadamente uns sete metros existe uma porta. Ela normalmente fica trancada, mas agora que estamos sem luz ela deve abrir – Ela falava cada palavra com confiança. Tenho que lhe perguntar como ela sabe disso, mas esse não é o momento. E continuou – Eu posso segurar a respiração por cerca de cinco minutos, e vocês? – Todos pareciam poder ficar mais ou menos o mesmo tempo. Caleb e Bernardo próximo de quatro. E eu poderia até seis. Ela foi à frente e disse que não era longe, mas ela não saberia dizer o que viria depois.

Primeiro a Emilly depois o Bernardo. Ele não pareceu ter duvida de sua escolha, mas eu tenho. Caleb também parecia ter, ele encarou o lago como se ele fosse o inimigo e não as pessoas atrás de nós. Ele me olhou no fundo dos meus olhos. Ele estava pálido, mais que o normal. Caleb era o que mais tinha marcas que o diferenciavam dos outros dezessetes. Além da sua pele incrivelmente branca e corpo magro ele possui olhos azuis. Tão claro que quase eram transparentes. E seu cabelo escuro quebrava a palidez, mas isso parecia deixa-lo mais branco.

– Vince, você acha que é certo segui-la? Isso parece meio suspeito – Meio? Isso é totalmente suspeito.

– Eu não sei, mas essa é a única escolha que temos. Treinaram-nos por tantos anos e de tantas formas diferentes – Eu não podia aceitar isso. Porque tive que passar por toda aquela dor? – Sabe Caleb, isso tudo pode tá uma bagunça, mas no fundo tenho que ficar feliz. Eu estou saindo desse lugar. Eu estou saindo daqui e espero que você me acompanhe já que você parece ser o único em sã consciência aqui – Lhe dei um sorriso, pois estava falando a verdade. Emilly era a confiante que sempre age antes de pensar e nunca se arrepende. Bernardo era o que sempre nos repreendia e seu lado gentil já nos ajudou em momentos difíceis e o Caleb era o que pensava claramente em situações desesperadoras, sua calma me assusta. Nunca poderei compreendê-lo. E eu? Bem, eu era o que sobrava. Então eu acho que devo ser o líder?! O que faz as decisões no final do desastre?!

Já levei muita culpa pelas ações da Emilly. Antes de agir ela sempre parece me pedir permissão com aqueles belos olhos castanhos. Não parece ter diferença entre a cor dos olhos e do cabelo e ela os mantinha próximos à cintura. Mas apesar de tudo o que ela faz, no momento em que ela me olhou ela parecia sincera, então porque não acreditar?

E então me lembrei de um dia a muitos meses atrás eu recebi uma estranha mensagem em meu quarto. Estava escrito em uma folha branca. A letra jogada para o lado não me era conhecida e dizia:

"Está próximo, quando a oportunidade surgir não hesite. Se hesitar no momento errado isso causará sua morte. Lembre-se disso.

Davi."

Esse claramente parecia o momento em que essa pessoa me avisou. Eu deveria acreditar nela? Atrás de mim o som dos tiros ficou mais alto e decidi seguir em frente. Teria que pensar sobre isso mais tarde.

Corri em direção ao lago, peguei a mão do Caleb e pulei.

Enquanto afundava eu tentava não pensar no quanto eu poderia me arrepender ou no quanto eu poderia ganhar daquele estranho impulso de sobrevivência que correu pelas minhas veias. A queimação foi forte. Olhei para os meus braços e o vi mais claro, as minhas veias não eram mais verdes eram uma espécie de amarelo brilhante e a dor que senti quando entrei em contato com a água foi quase insuportável. O mesmo aconteceu com o Caleb.

E pela primeira vez em todos aqueles anos eu vi medo em seu rosto.


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