O Coveiro de Santa Edwirges e outros contos. escrita por Luccius


Capítulo 1
O olhar da serpente




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– Sinto muito lhe informar, mas a família Privitera não aceitará tal acordo.
– Mas os Principato já haviam combinado antes com sua família, vossa excelência - Retrucou Bruno. O homem já havia esgotado sua paciência com tentativas falhas de convencer Anna, a mais nova cabeça da família Privitera, a terminar com a guerra que havia acabado de culminar na morte do pai da menina. – Ou Privitera aceita os termos, ou Principato se juntará aos Grasso. Não podemos sustentar por tanto tempo uma guerra por motivos fúteis como orgulho. Os tempos são outros, pequena Anna. Quando seu pai assumiu a família, em 1950, éramos muito mais poderosos. Poderíamos, sem problemas, aniquilar tanto os Grasso quanto os Amico. Hoje, não. Eles tem o FBI nos bolsos. Seu pai se recusou a entrar no negócio de drogas, e isso nos trouxe muitos problemas. Por respeito a ele, nós mantemos a aliança, mas agora, o tempo de Giorggio acabou, e ou você acata nossas ordens, ou nós acabamos com essa guerra de formas efetivas.

– Bruno... - A jovem, ainda com as roupas do velório, olhou nos olhos do homem. Não eram apenas vinte anos de experiência no crime que os separavam. Bruno não se prendia a velhos dogmas. Anna, pelo contrário, era uma apaixonada. Desde pequena ouvia as histórias do pai, sobre grandes festas, aventuras e honra. – Tem certeza que nos traíria se eu não aceitasse seus planos estúpidos de vender drogas para crianças? Não é o que Papai iria...

– Esqueça Giorggio Privitera, Anna! Ele morreu! Com uma bala nas têmporas, não percebe que você é a próxima? E provavelmente, será morta não pelo inimigo, não por um Amico ou um Grasso, mas por um dos seus próprios. Você é uma mulher em meio a lobos, Anna. A Máfia não é feita para donzelas.

A mecha dourada balançou, enquanto os dedos de Anna tocavam seus olhos. "Não é hora de chorar", pensou. Por mais sinceras que suas intenções e esperanças fossem, Anna sabia que elas haviam morrido junto de seu pai. Anna sabia que era chamada pelos corredores da mansão de "Ruína da família", já que o bondoso Don Giorggio apenas conseguiu ter uma filha. Uma mulher. A essa altura, a única lágrima que havia escapado de seu rosto já estava seca. A última lágrima que segurava o brilho nos olhos da menina.

– Qual sua proposta, Bruno? - Respondeu, sorrindo.
– Apenas aceite a proposta dos Grasso, e tudo acaba.
– Você conversou com Julio antes de vir aqui, não? - Anna, com os olhos avermelhados, perguntou. Julio Grasso, o homem que encomendou a morte de seu pai, o Don da família Grasso. Tudo era claro...
– Anna… Me entenda… Eu sou o Don… Certas horas, são necessárias medidas… - Gaguejou. O arrepio subiu sua espinha. O tom seco da jovem, somado ao seu olhar, era algo assustador, até para quem nasceu em meio a criminosos de ralé, e subiu a posto de chefe da organização.

Havia anos, Bruno não ouvia aquele código. Da última vez, ele estava sentado na mesa do Don. Eram batidas ritmicas na mesa. 1..2..3… Um… Dois… Três… Sua mente o levou para quando o velho padeiro não podia lhe pagar a salva mensal… As batidas cessaram enquanto seu pescoço se aconchegou no garrote. Diziam que a morte era indolor… E realmente era. Seus olhos se focaram em Anna, até saltarem levemente das órbitas, e a escuridão tomar conta. O que foi feito de seu corpo, até hoje é uma incógnita, mas, dizem que na antiga mansão da família Privitera, a família chefe da Cosa Nostra em Nova Iorque, guarda segredos que nem sua chefe, Anna Privitera, se sente confortável em lembrar.

Lucc 04-09-2015 01:07


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