– MEU DEUS! – Sophie gritou no final da sala – OH MEU DEUS!

– O que foi, loira? – Dean perguntou.

– EU ACHEI! EU ACHEI! – Ela se levantou e começou a apontar o livro – EU SEI O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM A MEGHAN... – Então ela diminuiu sua animação – Opa...

– O que você descobriu? – Perguntei com um leve temor.

Sophie engoliu em seco e se virou para mim, aquela cara me dizia que não teríamos boas notícias.

– Fala logo! – Dean esperneou.

– Não grite comigo! – Sophie devolveu no mesmo tom.

– Se importam em falar de uma vez? – Eu pedi.

Castiel não teve a mesma paciência, pegou o livro das mãos de Sophie e eu quase surtei de ansiedade com o movimento de suas íris azuis indo de cima a baixo na página.

– Ela não vai fazer isso. – Castiel fechou o livro e o jogou em cima da mesa – Está fora de cogitação.

– O quê? – Eu fui até ele – Qual o problema?

– Eu explico... – Sophie falou – Bom, de acordo com o livro, um receptáculo de um Deus é feito para servir unicamente a apenas uma entidade divina... Se ocorrer a possessão, tudo certo, perfeito... Se ocorrer do Deus abandonar o corpo, ele fica bloqueado para outros possíveis usuários, ele se torna exclusivo para o primeiro que o possuir.

– Todos os anjos eram possíveis usuários antes de Metatron? – Sam indagou.

– Aparentemente, sim... Mas isso não é tudo. – Ela engoliu em seco, olhou de Castiel para mim e continuou a falar – Você não é o único receptáculo existente...

– Têm outros? Nesse momento tem mais receptáculos andando por aí? – Claire arregalou os olhos.

– Por enquanto, não... Mas é como o caso dos Profetas. – Ela indicou o Kevin.

– Eu já estou ficando confuso aqui, o que receptáculos têm em relação com os Profetas? – Dean foi para o lado da Sophie e pegou suas anotações.

– Não é óbvio, Dean? – Castiel praticamente gritou – Ela teria que morrer para o próximo receptáculo sem dono se revelar! Sabe o que significa?

– Que se outros anjos iguais à Metatron souberem disso vão me matar para pegar o próximo receptáculo. – Deduzi.

Todos ficaram em silêncio e Sophie assentiu. Era só o que me faltava! Por um lado era ótimo, afinal a única criatura que poderia me possuir estava presa no Céu, mas por outro lado, eu era totalmente descartável para qualquer outro anjo megalomaníaco que quisesse tomar o controle. No último caso, eu poderia morrer e ser ressuscitada, talvez desse certo.

– Então tudo que podemos fazer é proteger a Meghan dos anjos! – Gabriel ressaltou.

– O quê? Não! Isso está ficando ridículo! Vocês não podem me proteger de tudo!

– Er, com licença. – Jordan ergueu uma mão, já havia até esquecido que ele estava ali – Eu acabei de chegar, mas parece que as coisas por aqui estão complicadas e eu não quero piorar a situação.

– Talvez seja melhor te levar para outro lugar mesmo... – Gabriel concordou e se virou para ele.

– Não! Eu disse que iria ajudar vocês!

– Esperem! Vamos ficar todos calmos! – Sam levantou-se – Gabriel, o seu filho pode ficar aqui. A Claire pode levá-lo para algum quarto e ajudá-lo a se instalar.

– Claro, eu faço isso. – Ela se levantou da poltrona que estava, deu um leve sorriso para o Nephilim e o indicou para o corredor.

– Agora nós vamos conversar civilizadamente sobre a situação da Meghan. – Sam olhou fixamente para o Castiel – Cass, por que você ficou tão nervoso? É só mantê-la longe dos anjos... Coisa que ela já está fazendo naturalmente.

– Porque eu a conheço. – O anjo estreitou o olhar na minha direção – Ela vai querer ser morta e ressuscitada só para se livrar disso.

– Eu? Eu... Eu não! – Dei um passo para trás – Fique fora da minha mente, Castiel!

– Sabe que eu nunca entrei na sua mente e mesmo que eu quisesse, não posso mais... No entanto, você acabou de comprovar minha teoria.

– Meghan! Isso é burrice! – Dean exclamou.

Todos na sala se viraram para ele, essa era a última coisa que ele poderia falar considerando o número de vezes que ele morreu em prol de um bem maior.

– Dean, você acabou de perder uma boa chance de ficar calado. – Kevin falou.

– Fica na sua, nerd. – O loiro devolveu.

– Gente, vocês são sempre pessimistas assim? – Sophie perguntou e pegou o alfarrábio – Esqueceram que nesse livro pode ter muitas informações certas e também pode não ter nada certo?

– Essa não! Ela tem razão! E se estiver errado e todo esse trabalho foi em vão? – Me virei para os garotos.

– Mas que droga! Todo esse tempo pesquisando para ficar na dúvida! – Sam sentou na cadeira e colocou o rosto entre as mãos.

– Ai, pelo amor de Deus! Vocês levam tudo ao extremo! – Sophie revirou os olhos – Não tem um modo de descobrir se essa informação é correta?

– Não somos especialistas em Deuses ainda. – Kevin deu uma risada.

Sam ergueu o rosto, assim como eu e Dean. Nós não éramos especialistas em Deuses, mas conhecíamos uma pessoa que se dizia ser.

– O que foi? – Castiel nos perguntou.

– Aquela garota louca que conhecemos no hotel em Indiana, a tal de Audrey. – Dean explicou – Ela é uma caçadora de Deuses, pode nos ajudar.

– É, o Sam tem o telefone dela! – Eu fui até o Alce – Vai lá, liga para ela.

– O que te faz pensar que eu salvei o número dela? – Ele ergueu uma sobrancelha.

– E não salvou?

– Salvei.

Sam pegou o celular, procurou em sua agenda e colocou para chamar. Pedi para que ele colocasse no viva-voz.

– Aposto que ele já ligou umas três vezes para ela. – Eu provoquei.

– Calada...

– Alô? – A voz animada atendeu do outro lado.

– Audrey? – Sam perguntou.

– Sim, quem deseja?

– É o Sam.

– Que Sam?

– Sam Winchester. Nos conhecemos outro dia em Indiana, durante um caso com Deuses.

– Ah! O carinha alto do cabelo bonito! Achei que nunca me ligaria...

– É, nós estamos precisando da sua ajuda, na verdade é uma dúvida.

– Sério? Achei que me convidaria para sair!

Eu, Dean, Gabriel, Sophie e Kevin estávamos nos segurando para não rir da cara do Sam. O coitado estava todo desconcertado com a sinceridade de Audrey.

– Er... Acho que seria melhor em outra hora, estamos com um problema urgente. – Ele tentou desconversar.

– Eu estou brincando com você, Sam. – Audrey deu uma risadinha – Fala qual o problema.

– O que você sabe sobre o Receptáculo de Deus?

– Bastante coisa... O que você quer saber especificamente?

– Sam, é melhor não falar isso por telefone. – Eu sugeri.

– Quem está aí? É a ruiva?

– Sim, sou eu! Olá Audrey... Nós poderíamos encontrar você em algum lugar para conversar melhor?

– Claro! Mas eu estou em Phoenix no momento, só estarei desocupada dentro de dois dias.

– Sem problemas, assim que você puder, nos avise. – Dean confirmou.

– Ah, olá pra você também, bonitão! – Ela cumprimentou Dean e Sophie franziu o cenho – Tudo bem, gente. Eu ligarei para esse mesmo número. Agora tenho que ir, até mais... Falo com você depois, Sam!

Ela desligou e Sam guardou o celular dentro do bolso da camisa. Sophie estava com os braços cruzados e encarando o Dean, eu podia apostar um rim que ela estava com ciúmes pelo modo como a Audrey falou com ele. Mas a tensão ali já estava tão elevada que preferi ficar calada.

Castiel permanecia sério, ele tinha medo que eu fizesse alguma bobagem... Que nem era tanta bobagem assim, ele poderia me ressuscitar em um estalar de dedos. Me aproximei dele e toquei seu ombro, ele me olhou como se me implorasse por algo.

– Meghan...

– Eu não farei nada. – O prometi.

– Bom, só nos resta esperar agora. – Gabriel se pronunciou – E esperar que a informação do livro não esteja tão correta assim...

– Sim, muito obrigada por terem traduzido... – Eu agradeci olhando de Sam para Sophie e Kevin – Acho que seu trabalho acabou por aqui, nerd.

– É... – Ele concordou – Mas foi muito bom rever vocês.

– Apesar das circunstâncias. – Eu ri ao abraçar Kevin.

– Depois disso tudo, eu vou dormir! – Sam falou – Amanhã acordaremos cedo para levar o Kevin de volta à faculdade... E er... A Sophie?

– O quê? – Dean questionou.

– É, nós traduzimos o que vocês queriam do livro, não precisam mais dele ou de mim. – Ela falou com uma pontinha de tristeza na voz.

– Mas... Você não precisa ir agora! – Ele se aproximou – Digo, talvez precisemos de algo a mais do livro.

– Ah! Pela mãe do guarda! Diga logo que quer que ela fique aqui! – Eu dei um tapa na cabeça dele.

Sophie ficou olhando para Dean esperando que ele falasse algo. Mas do jeito que o Winchester era lento e orgulhoso, ficaria enrolando e nunca diria o que estava sentindo.

– Talvez devêssemos dar um tempo a eles... – Castiel sugeriu.

Nós saímos da sala e deixamos apenas os dois loiros lá, Kevin foi para o seu quarto e Sam fez o mesmo. Ao fundo do corredor ouvimos algumas vozes e deduzimos serem Jordan e Claire conversando, pelo menos eles se deram bem.

– Eu vou voltar para o céu, muito obrigado por tudo, Cherry pie! – Gabriel me abraçou.

– Não tão rápido. – Castiel o segurou pelo braço – Precisamos conversar, Gabriel.

– Tudo bem, eu acho justo. – O baixinho concordou e os dois sumiram deixando apenas o barulho de suas asas para trás.

– Que bonito! E me deixam aqui sozinha! – Joguei meus braços para cima.

Dei uma passadinha no quarto que Jordan estava ocupando, ele e Claire estavam conversando animadamente sobre algo e não quis atrapalhar, a cama dele já estava coberta de embalagens de doces e, portanto, não iriam dormir tão cedo.

Tomei um banho quente e tentei colocar as ideias no lugar, o estresse estava me corroendo por dentro e eu não estava agüentando a inundação de novas informações no meu cérebro. Finalmente descobri o que estava acontecendo, mas não era algo reversível... Pelo menos não em vida! Crowley e Abaddon ainda estavam tramando algo e eu sentia que logo iriam colocar em prática, precisávamos achar Caim o mais rápido possível, ele era o próximo item na minha lista de afazeres.

Depois do banho, me preparei para dormir. Estava tão exausta que mal notei o momento em que apaguei... Mas naquela noite, eu preferia não ter dormido. Principalmente depois do maldito pesadelo que tive.

Eu estava jogada no chão formado por paralelepípedos, sentia uma dor terrível nos meus ombros e nos meus joelhos, a iluminação era fraca, apenas alguns feixes de luz entravam através do teto vazado. O local era sufocante e eu estava com uma maldita sensação de déjà vu.

– Levante-se, sunshine! – Aquela voz carregada no sotaque gritou ao meu lado.

– Crowley? – Tentei olhar na direção da voz.

Lá estava ele, o Rei do Inferno em seu trono, muito bem acomodado com um celular em mãos.

– Qual o nível da sua dor? Espero que alto... – Ele estreitou os olhos para mim – Você está péssima.

– O que você quer? – Murmurei tentando me levantar, mas não tinha força nenhuma.

– Que você sofra! – Ele esbravejou – Cumpra seu destino, veja todos que você ama morrendo e fique sozinha pela eternidade!

Crowley veio marchando até mim e me arrastou pelos cabelos até um tipo de fosso ao fundo da sala, lá haviam seis corpos semi soterrados na areia escura... Os corpos eram de Sam, Dean, Bobby, Claire e Kyle.

– Não! NÃO! ME LARGUE! – Tentei empurrá-lo, mas ele me jogou no fosso.

Caí entre Sam e Dean, pálidos, com os olhos abertos e sem vida. Mais a frente estavam Bobby e Claire na mesma situação e no outro canto estava o meu irmão, exatamente igual ao dia que morreu pela segunda vez, com uma faca em seu coração.

– Por favor, Dean... Sam... – Tentei chamá-los mas era em vão.

– Todos eles morreram por sua causa! – Crowley gritou – E aqui vai mais um.

Ele lançou o corpo de Gabriel no buraco e o arcanjo caiu com uma Espada Angelical fincada em seu peito. Eu não podia fazer mais nada, o fosso tinha mais de 4 metros de profundidade, era úmido e frio. Apenas me encolhi no canto e escondi meu rosto entre meus joelhos.

Quando ergui minha cabeça, não estava mais naquele lugar. Estava em um galpão abandonado, assim como aquele em que o Djinn me deixou. Eu estava acorrentada em uma cadeira e não conseguia nem mexer meus braços direito.

– Ei, mocinha! – Uma voz feminina me chamou, quando me virei era Abaddon.

Ela estava me olhando por cima do ombro e na sua frente estava Castiel, ele me lançava um olhar severo e ameaçador.

– Cass! – Eu o chamei – Castiel! Me ajude!

– Ele não vai te ajudar, querida. – Abaddon segurou o queixo do anjo e apertou com suas unhas – Ele não quer mais você... Ele te acha uma fracassada problemática... Ele é meu!

E dizendo isso, ela puxou o rosto do anjo e o beijou. Por um segundo desejei que arrancassem meus olhos fora e pisassem, no outro eu só sentia a dor de ser rejeitada. Castiel retribuía o beijo com volúpia e não demorou muito para que Abaddon levasse suas mãos até o sobretudo do anjo e o rasgasse.

– PAREM! – Eu fechei os olhos com força – Cass!

Foi aí que eu dei um pulo e acordei. Castiel estava ajoelhado ao meu lado com uma expressão bem preocupada e segurava meu ombro e minha mão.

– Meghan, foi só um pesadelo... – Ele tentou se aproximar de mim e eu o empurrei – O que houve?

– Você...

– Estou aqui, não se preocupe! – O anjo segurou meu rosto e falou com firmeza.

– Onde estão os outros? Sam e Dean? – Eu saltei para fora da cama e corri até a porta – Claire, Bobby... Gabriel.

– Ei! – Ele surgiu na minha frente – Está tudo bem! Sam está dormindo, Claire também, Gabriel está no céu e tenho certeza que Bobby Singer está em perfeito estado.

– E o Dean?

– Er... Está com a Sophie. – Ele abaixou o olhar, visivelmente constrangido.

– Ah! – Eu entendi rapidamente.

Ele me levou de volta para cama, sentou ao meu lado e me pediu para que eu contasse com o quê havia sonhado. Eu expliquei tudo, incluindo o final por mais que doesse, e ele me assegurou que não fora real, que era apenas o meu subconsciente trabalhando.

– Precisamos encontrar Caim. – Eu disse ao deitar novamente.

– Nós iremos, não fique preocupada com isso... As coisas vão se resolver logo. – Ele me prometeu.

– Eu espero.