Abri meus olhos rapidamente, o vento gelado entrava pela janela aberta, o inverno se aproximava mais rápido que eu imaginava. Puxei o cobertor até minha cabeça tentando me esquentar, já imaginava ser descoberta novamente por Rachel, ela não gostava muito de dividir o cobertor. Estranhei por ter o silêncio em troca.

— Rachel? - murmurei, descobrindo minha cabeça, o outro lado da cama estava vazio. - Rachel!

Me levantei rapidamente, a porta do banheiro estava aberta, o mesmo estava vazio. Vi Ratinho entrar no quarto miando, aparentemente estava com fome. Saí do quarto, Andrea acabara de acordar, prendia seus cabelos loiros em um rabo de cavalo mal feito.

— Bom dia… - ela murmurou, esfregando o dedo em um de seus olhos, como uma criança. - O que tem para comer?

— Viu Rachel? - perguntei, seguindo até a cozinha, a mesma estava vazia. - Ela não está aqui.

Fui até a sacada, o vento estava bem gelado naquela manhã.

— Ela deve estar no apartamento das meninas. - Andrea disse, indo até a cozinha. - Aliás, de uns dias para cá, Alex tem me ignorado, não acha?

— Alex? - perguntei, confusa. - Quem é Alex?

— Lexie. - ela respondeu, parecendo óbvio. - Britt havia comentado que ela recebe ligações às vezes, duvido ser de alguma garota, já que… Santana!

Eu não estava muito afim de ouvir Andrea falar de seu ciúme por Lexie, logo abri a porta da entrada e bati na porta em frente. Quinn surgiu com o rosado descabelado, o rosto amassado de quem acabara de acordar.

— Rachel está aí? - perguntei, entrando logo.

— Bom dia, Santana. - ela murmurou, me seguindo. - É bom ver você novamente nesta linda manhã gelada. Como você dormiu? Eu estava sonhando lindamente, até alguém bater na porta e entrar como um furacão, mas… Não, eu não vi Rachel essa manhã.

— Rachel não está em casa, Quinn. - eu olhava cada canto do apartamento, querendo ter certeza. - Eu acordei e Rachel não estava lá.

— Ela pode ter ido à padaria. - ela revirou os olhos. - Pare de ser tão cão de guarda, Santana.

— Quinn, ela demorou para dormir à noite, eu tive que fazê-la dormir, porque ela estava com medo. Agora quando acordei, não a vi lá, ela nem ao menos alimentou o gato. Rachel sempre alimenta o gato antes de tudo, antes mesmo de me alimentar.

— Já tentou ligar para o celular dela? - Brittany perguntou, já com o telefone em mãos. - Rachel nunca sai de casa sem seu celular.

Peguei o telefone de sua mão e disquei o número, ao longe ouvi o toque do seu celular, meu coração parou. Rachel não iria sair sem seu celular, era um acordo nosso, caso ela sentisse medo, era só me ligar.

— Esse não é o celular de Rachel? - Andrea entrou com o celular na mão, estranhando. - Estava na bancada da cozinha.

Precisei me apoiar no sofá para não cair no chão, meu corpo passou a tremer, tudo de ruim já se passava em minha mente. Brittany correu para me ajudar a sentar no sofá, eu sabia que estava pálida.

— Calma, Santana… - Quinn sentou ao meu lado, também se preocupando. - Rachel não pode ter ido tão longe, sabendo que nos preocuparia. Ela pode estar na portaria, ou pode ter ido à casa da Lexie, ou…

— Ou ela pode estar por aí, perdida, com medo, sem rumo…

— Não pense assim. - Andrea disse, se aproximando.

De repente o telefone de Quinn tocou, a mesma o pegou e atendeu, sua testa franziu.

— Olá, senhor Berry. - eu a encarei, meus olhos se arregalaram. - Bom dia para o senhor também. - ela se levantou, passando a caminhar pela sala. - Sim, estamos procurando por ela, achamos que esteja na portaria, mas… - seus olhos se arregalaram, ela parou de andar. - O que?

Me levantei rapidamente e puxei o telefone de sua mão, eu não conseguia ficar sem notícias.

— Senhor Berry, sou eu, Santana.

— Olá Santana. - ele disse calmamente. - Eu estava agora mesmo dizendo para Quinn sobre Rachel.

— O que tem ela?

— Rachel apareceu aqui em Lima hoje cedo, disse que estava com medo, correu para o antigo quarto e se trancou lá mesmo. Shelby tentou lhe dar algo para comer, mas ela não quer abrir a porta para nada.

— Como Rachel conseguiu chegar em Lima sozinha? - Brittany e Andrea me encaram surpresas. - Estou indo até aí, senhor Berry. Obrigada por ligar e nos avisar.

Desliguei a chamada rapidamente, ignorei as três meninas que me encaravam e corri para trocar de roupa. Eu não poderia pegar um avião de pijamas.

***

O táxi parou em frente a casa, Andrea, Lexie e eu saímos. Não consegui viajar sem que as duas ficassem me vigiando. Andrea rapidamente bateu na porta, eu dei a volta na casa e logo encontrei a casa na árvore, agradeci mentalmente por Shelby não tê-la destruído. Subi as escadas da mesma, a porta estava aberta, entrei calmamente e vi Rachel sentada no chão de madeira, seus antigos bichos de pelúcia estavam em volta da pequena mesa improvisada, ela estava sorrindo.

— Rachel… - murmurei, ela me encarou sorridente.

— Santana! - ela se levantou rapidamente e correu para me abraçar. Notei que ela usava uma de suas antigas saias rodadas. - Você veio brincar comigo?

— Brincar? - franzi minha testa para a pergunta, Rachel corou rapidamente, abaixando a cabeça. - Rachel…

— Me desculpe, não foi isso que eu quis dizer, eu… - ela sorriu acanhada. - Dino estava com saudades. - ela apontou para o coelho.

— Querida… O que você está fazendo aqui? Como veio para cá?

— Eu estou em casa. - ela murmurou, dando de ombros. - Eu vim de avião.

— Mas Rachel…

— O chá vai esfriar, querida. - ela disse, me puxando para a mesa.

Nos sentamos no chão, Rachel me serviu com chá quente e colocou alguns biscoitos de chocolate em um prato para mim. Seu sorriso era inocente, parecia não saber o porquê de estarmos ali. Afinal, nem eu mesma sabia.

— Está tudo bem aqui? - ouvimos Andrea perguntar, Rachel sorriu abertamente para ela.

— Andy! - ela se levantou e abraçou a irmã. - Eu não sabia que Santana traria companhia.

As duas se sentaram, Andrea demonstrava total confusão em sua expressão.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo?

— Está na hora do chá. - Rachel respondeu, obviamente. Eu apenas dei de ombros. - Talvez eu tenha me esquecido de lhe avisar. Quinn e Britt não vieram?

— Elas tiveram algo… importante para fazer. - respondi, a vendo devorar um biscoito. - E nós precisamos voltar para casa, Ratinho precisa de você.

— Mas eu estou em casa, Santana.

— Rachel, querida! - Shelby chamou. - Seu banho já está pronto!

— Com licença, meninas. - Rachel disse, sorrindo. - Logo estarei de volta.

Ela desceu rapidamente, Andrea olhou para mim, pedindo explicação.

— Não me olhe assim. - dei de ombros novamente. - Eu não faço ideia do que está acontecendo aqui.

— Ela simplesmente volta para Ohio e age como se nada houvesse acontecido?

— Eu preciso levá-la para casa.

Nós descemos da casa na árvore, Shelby parecia nos esperar, já que estava em frente a porta de braços cruzados. Andrea e eu entramos na casa e ela nos seguiu, logo nos sentamos no sofá ao ladod e Lexie. Não precisamos perguntar nada, Hiram parecia pronto para responder qualquer pergunta.

— Lopez… - ele murmurou, sorrindo. - É bom vê-la novamente.

— Olá, senhor Berry.

— Andrea, minha filha. - ele sorriu mais, Andrea apenas sorriu em resposta. - Eu preciso fazer uma pergunta. Está tudo bem com vocês?

— Como assim? - Andrea perguntou, estranhando.

— Bem, Rachel não liga para a mãe a dias, e de repente ela liga de manhã cedo, logo em seguida aparece em Ohio, sozinha.

— Senhor Berry… - me ajeitei no sofá. - Estávamos muito bem, melhor impossível, mas… eu não sei o que houve, que ontem durante um jogo de Baseball Rachel havia tido um de seus surtos. Quero dizer, uma ou duas vezes ao mês ela tem isso, porém ela não passa de uma crise de choro, logo ela está bem e sorridente, como sempre. Porém ontem ela gritava na frente de todos, e fugiu de todos, até mesmo de mim.

— Eu passei a noite lá, acabei dormindo no sofá. - Andrea disse. - Não lembro de ter ouvido sua voz ao telefone, muito menos de ter ouvido o som da porta quando ela saiu.

— Eu não sei o que poderia ter acontecido com ela. - murmurei, preocupada.

— Rachel apareceu aqui triste demais. - Shelby disse. - Perguntei a ela o que teria acontecido, ela simplesmente disse que precisava de mim, que não queria mais sair de casa. Eu não entendi muito bem, por isso pedi para Hiram ligar para Quinn.

— Sobre o que estão falando? - Rachel perguntou, nós olhamos para ela.

Rachel já estava nos seus 21 anos, quase chegando aos 22, mas a roupa que usava parecia ter seus 17 novamente. Um mini short branco, uma camiseta vermelha e os cabelos soltos e molhados, parecia estar no verão, embora o tempo já estivesse congelando.

— Querida… - Shelby sorriu. - Está com fome?

— Não estou com fome. - ela respondeu, cruzando seus braços. - Posso falar com você, Sant?

Me levantei rapidamente e a segui até seu quarto, ela se sentou em sua cama e mordeu seu lábio inferior, me sentei ao seu lado, esperando seu próximo passo.

— Sobre o que quer conversar? - perguntei, encarando o tapete.

— Está chateada comigo?

— Por que a pergunta? - franzi minha testa, ela bufou.

— Você não quer olhar para mim. - virei meu rosto para ela, seus olhos estavam banhados de lágrimas. - Me desculpe se lhe magoei…

— Rae… - me aproximei dela, mas ela não deixou. - Eu não estou magoada, muito menos chateada. Eu só fiquei preocupada ao acordar e descobrir que você estava em Ohio.

— Eu não quis lhe preocupar. - ela se encolheu. - M-mas… ela disse que você não me amava, disse que… ele voltaria.

— Quem disse isso, querida? - ela passou a chorar, me preocupando mais. - Rachel… eu te amo demais. Sou capaz de lhe defender até a minha morte.

— Eu não quero voltar para lá… - ela choramingou. - Eu não quero vê-lo novamente, não quero.

— M-mas…

Ela se deitou na cama, chorando cada vez mais. Eu queria lhe abraçar, lhe acolher, mas tinha medo de lhe assustar mais, de ouvi-la gritar. Antes que eu dissesse algo, Rachel passou a murmurar, seus olhos estavam fechados, parecendo querer evitar me ver.

— Ela disse que me ama… - ela resmungou. - Eu acredito nela, quero acreditar.

— Rachel…

— Saia daqui, Santana.

— M-mas…

— Saia!

Saí do quarto rapidamente, não sabia mais o que fazer, Rachel estava progredindo tão bem com o tempo. Peguei meu celular e disquei o número, pronta para fazer perguntas.