Werewolf Fever escrita por Petr0va


Capítulo 4
03 - Um Ano




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— Miriana, quero te mostrar um lugar! — Ouvi um ruído lá de baixo, pisquei meus olhos repetitivamente tentando se acostumar com a luz e bocejei, me levantando de cima dos papéis nos quais estava dormindo. Sério que eu dormi em cima de papeis? Parecia tão... nerd.

Fui até o espelho e me encarei, eu estava completamente inchada, bocejei de novo e comecei a distribuir tapas leves na minha cara para ver se dava uma melhorada.

Desci as escadas que pareciam tão longas agora e encarei meu tio com um uniforme de policial, eu estava completamente confusa.

— Por que você tá vestido assim? — Perguntei grogue.

— Porque eu vou à delegacia trabalhar — ele disse como se fosse óbvio, e pensando bem, era. Me dei um tapa na testa mentalmente, o sono realmente havia afetado meu raciocínio.

— Certo — balancei a cabeça. — E você veio para me mostrar o uniforme?

— Não... Você só vai saber o que é quando entrar naquele carro e chegar aonde devemos ir.

Não tinha nem forças para protestar, passei pelo meu tio e peguei as chaves do carro no balcão, saí de casa e fui até a caminhonete velha, destrancando a porta e sentando lá, ligando o rádio depois para esperar tio Thommy.

Ele entrou confuso no carro, me encarou e aumentou o rádio depois, para ouvir melhor a sua música preferida, Patience do Guns N’ Roses. Ele deu partida no carro e começou a encarar a rua.

— O que você estava procurando na caixa? — Perguntou ele me olhando rapidamente em expectativa.

— Uma garota perguntou de onde eu era, e para minha surpresa, eu não sabia.

— Isso não responde minha pergunta.

— Minha certidão de nascimento — disse, e logo depois me lembrei do que eu havia descoberto, e estava morrendo de vontade de compartilhar com ele. — E adivinha? Eu sou de Beacon Hills, apenas imagine minha surpresa quando li isso naquela folha.

— Isso é incrível! — Ele exclamou. — Eu não imaginava isso.

— É claro, você não sabe nada sobre mim — sussurrei mais pra mim mesma do que pra ele, encarando a realidade que eu tinha esquecido. Mesmo tendo passado um ano juntos, não queria dizer que ele sabia tudo sobre mim, ele não tinha vivido 17 anos comigo. Não sabia os mínimos detalhes, e isso me chateava. Eu queria saber muito mais sobre o meu tio, e tenho certeza que ele queria saber mais sobre mim também, mas o problema era que eu queria saber o mais rápido possível, antes que ele note que botou uma estranha — e assassina — para dentro de sua casa.

— É claro que eu não sei que você odeia cebola, que fica catando ela da pizza.

Levantei minha cabeça e encarei-o com as sobrancelhas arqueadas, talvez ele nem estivesse vendo, mas eu não me importava.

— É por isso que você não bota mais cebola na comida? — Perguntei.

— Sabe o quão irritante é ver você catando cada pedaço mínimo da cebola?

Sorri de orelha a orelha para o velho não tão velho assim, e pelo jeito ele estava sorrindo também. Ele sabia exatamente como me provocar.

— Faz um ano, não é? — Inquiriu ele já sério depois de algum tempo em silêncio.

— O que?

— Seus pais — ele engoliu em seco.

A realidade me atingiu novamente, bem na minha cara, fazendo eu cair com tudo no chão do arrependimento. É, fazia um ano. Um ano que eu havia olhado para a grande lua cheia que tinha naquela noite, um ano que eu havia pulado em cima da minha mãe, um ano que eu havia escovado meus dentes para tentar tirar os restos deles. A culpa veio rapidamente, mesmo que não tenha sido completamente eu que fizera, mas sim um animal, e infelizmente ele era eu também. Olhei para o meu tio hesitante, ele não precisava tocar nesse assunto, mas talvez foi necessário.

— Sim — falei simplesmente.

— Eu sei que foi um lobisomem que fez aquilo.

Arregalei meus olhos instantaneamente, será que aquela conversa iria chegar logo agora? O assunto parecia tão distante antes, como se meu tio realmente tivesse esquecido disso, mas não. E agora eu teria que arcar com as consequências, porque logo agora meu tio decidiu enfrentar a verdade, e a verdade, infelizmente, doía.

— Mas já era hora, uma hora eles iriam se vingar.

Eles? Perguntei pra mim mesma. Mas um alivio passou pelo meu corpo, assim como a curiosidade, eles quem? Lobisomens?

— Por que?

— Seus pais eram caçadores — ele falou normalmente, como se as pessoas que eles haviam matado não o atingisse. Eu sabia exatamente o que caçadores faziam, mas ignoraria isso enquanto fosse necessário.

— Por isso você sabe tanto sobre lobisomens?

— Não, eu sei porque já fui um caçador — ele falou desviando os olhos da estrada e me olhando de novo para ver minha reação.

— E por que não está caçando?

— Porque eles me expulsaram.

— Por que? — Até eu já estava começando a me irritar de tantas perguntas que eu estava fazendo, mas aquele momento era exatamente para aquilo. Eu estava esperando por respostas faz tempo, e finalmente meu tio estava disponibilizando-as, e eu não iria estragar essa chance.

— Porque eu me apaixonei pelo inimigo.

Uol. Só isso, apenas uol. Não sabia o que falar, eram muitas revelações para uma noite só. Mas ele ser expulso com certeza foi melhor do que ser morto, assim como falava as regras dos caçadores. Trair seu “povo” era praticamente pedir pra morrer, e era exatamente isso que meu tio fez. Não podia culpa-lo, eu sabia como o perigo era atraente.

— Todos nós somos de Beacon Hills. Eu, sua mãe, seu pai, toda nossa família — ele continuou antes d’eu fazer uma pergunta. — Ela era tão única, não tinha como não me apaixonar. E ao invés deles me matarem, mataram ela. Ela tinha filhos, Miriana.

Olhei para ele incrédula, porém sem demonstrar emoção alguma, eu só não sabia o que falar. Pelo jeito, eu não era a única assassina da casa aonde eu morava. Eu estava cercada por eles, e agora já não me sentia tão culpada, eu havia matado assassinos, caçadores. Poderia me chamar de uma vigilante agora. Mas só quero me lembrar disso com frieza, e não me importar mais. Mas isso não iria funcionar, era impossível eu “não ligar”. Quem sabe eu seja fraca por isso, mas eu gosto, eu gosto de me importar com os outros e com as minhas ações, talvez isso que não me faz perder o controle ultimamente, porque eu me importava.

— Você matou... matou um deles? — Perguntei baixinho.

— Lobisomens? Não... Não tive coragem — disse tio Thomas.

Olhei pra ele um pouco surpresa e orgulhosa, mas depois de perceber a verdade, olhei para baixo.

Eu tinha mais sangue nas mãos do que meu próprio tio.

— Chegamos — ele avisou.

Olhei para fora da janela da caminhonete velha e vi a delegacia, eu nunca tinha ido em uma antes, não me interessava. E como o clima de perguntas curiosas sobre a vida do meu tio havia passado, eu desci do carro e encarei a delegacia iluminada de Beacon Hills.

— Por que estamos aqui? — Perguntei.

— Você vai conhecer alguns amigos meus.

Isso era interessante, conhecer um pouco mais do passado do meu tio, era estranho não saber praticamente nada da vida de quem está morando junto com você. Mas não podia julga-lo por não me contar, eu tive prévias, e pude saber que seu passado é muito escuro e sangrento.

Caminhava até a delegacia com meu tio logo atrás de mim, dava passos lentos, a delegacia não iria fugir do lugar onde estava. Cheguei lá dentro e me deparei com um delegacia pra lá de desorganizada, e eu estava apenas na recepção, já estava imaginando como deveria ser por dentro.

— Posso ajudar? — Perguntou uma moça loira, provavelmente com 20 anos ou mais, parecia muito nova para o ambiente que envolvia assassinatos e essas coisas, ou talvez eu estivesse errada e por ser uma cidade pequena não ocorria nada disso. Melhor pra ela.

— Não, Kimberly, obrigada. Essa é a minha sobrinha que tanto falei — ele falou se aproximando de mim e botando suas mãos nos meus ombros em um quase abraço por trás. — Diga “olá”, Miriana.

— Olá, Kimberly — sorri, não havia motivos para ser grosseira e falar que odiava todo mundo, a única maneira era sorrir.

— Oi — ela disse bem baixinho, a garota parecia ser simpática, e possivelmente uma boa amiga. Ou não, as aparências enganam.

Tio Thommy me tirou dali grosseiramente e me arrastou para outro canto, entrei em uma porta e olhei a cômodo todo, havia várias mesas distribuídas por ali e em cima computadores, ele continuou me empurrando até chegar na frente de uma porta de vidro, e eu sabia quem estaria ali, já que a palavra “Xerife” estava escrita em letras bem chamativas.

Um homem que tinha aparentemente a idade do meu tio saiu lá de dentro, fazendo eu estremecer pelo susto. Ele olhou para meu tio confuso, talvez pela pessoa que ele segurava, mais conhecida como eu. Mas depois abriu um sorriso amigável.

— Essa é a Miriana que você tanto fala, Thomas? — Ele perguntou animado, ainda com o sorriso no rosto.

— Sim, meu amigo, ela própria — ele soltou-me, mandando mentalmente que eu cumprimentasse o homem na minha frente.

— Prazer... Xerife — falei com um pouco de dificuldade já que inicialmente não sabia como chama-lo. — Eu sou Miriana Wilhealm — estendi minha mão. Usei o sobrenome do meu tio — assim como o da minha mãe — não sei o porquê, apenas parecia o certo.

— O prazer é meu, menina bonita — disse ele simpático, eu abri um amplo sorriso, o cara parecia ser gente boa. O que me chateava, todo mundo nessa cidade parecia ser gente boa, não tinha nenhum vilão para eu combater na mente, nenhuma pessoa idiota o suficiente para eu odiar.

— Ele é meu amigo desde o ensino médio, Miriana, nos mantemos firmes até agora — meu tio falou orgulhoso e sorriu pra mim, assim como o xerife que assentiu.

O xerife olhou através de mim e seu sorriso murchou, olhei para trás confusa e deparei-me com um dos garotos que havia conhecido hoje, estranho.

— Stiles, certo? — Perguntei quando ele já estava próximo, uma tentativa falha de cumprimenta-lo adequadamente.

— Miriana, oi — ele disse sem nenhuma dificuldade, o que fez eu me sentir mal, o meu nome era estranho e complicado e ele havia se lembrado, ou talvez era eu que tinha uma memória horrível.

— O que você está fazendo aqui? — Inquiri curiosa.

— Visitando meu pai — disse ele, aproximando-se do xerife e dando palmadas carinhosas em seu ombro. Olhando de perto, eles realmente se pareciam. — E você, o que está fazendo aqui?

— Meu tio queria me mostrar o novo local de trabalho — olhei para meu tio com um sorriso.

— Então você é a tal “Mariana” que meu pai tem falado?

Olhei para ele confusa por uns segundos mas logo depois entendi. O Xerife não tinha culpa de não lembrar-se do meu nome, ele era totalmente diferente e era fácil de ser confundido com outro. Sorri depois e dei uma leve gargalhada.

Meu tio avistou alguém e chamou-o com a mão, o homem aproximou-se com dúvida e olhou para tio Thomas. O cara estava totalmente fardado de policial, assim como meu tio. Ele era outro que parecia jovem demais para o trabalho da delegacia.

— Esse é Parrish — meu tio disse virando-o pra mim. — Eu vi esse garoto nascer — ele disse orgulhoso.

Fitei o rapaz por alguns segundos e depois estendi minha mão para cumprimenta-lo assim como tinha feito com o xerife, ele fitou-me também e depois aceitou o cumprimento.

— Olá, Miriana — ele falou meu nome como se dançasse pela sua língua, com um sorriso simpático no rosto.

— Senhor Stilinski, temos novidades, e ruins, péssimas.

Olhei para o meu lado para ver a dona da voz e deparei-me com a ruiva que estava impecável, seria ela funcionária da delegacia também?

— Miriana! — Exclamou ela logo depois de tirar a faceta preocupada que estava antes de me ver.

— Lydia, olá — cumprimentei-a, e depois notando que meu tio a olhava com curiosidade, provavelmente surpreso por eu ter reconhecido alguém lá dentro. — Essa é Lydia, tio. Uma das garotas que conheci hoje — disse fazendo Thomas virar-se para Lydia. Aquilo já estava se tornando uma reunião, só faltava aparecer Kira e Scott.

— Obrigada por fazer amizade com minha sobrinha na escola, não sabe como é difícil para ela — disse meu tio, fazendo eu arregalar meus olhos e belisca-lo. Meu tio não precisava falar meus problemas sociais agora, no meio de uma delegacia, e por isso dei uma risada desconfortável depois.

— Você trabalha aqui? — Perguntei para a ruiva.

— Não, só acertando algumas coisinhas — disse ela.

— Isso me fez lembrar algo. Venham crianças — o xerife Stilinski puxou Lydia e Stiles para dentro da sua sala — Desculpe, Thomas, mas realmente é importante. Nós falamos depois. — O xerife Stilinski deu um pequeno sorriso e logo depois arrastou Parrish do lado do meu tio e levou-o para lá também, fechando a porta bruscamente depois.

O que vocês querem falar? — Ouvi o xerife perguntar de dentro da sala.

Botei meus cabelos atrás da orelha na tentativa de ouvir melhor, mas meu tio já estava se afastando, abaixei-me e fingi que estava amarrando o cadarço dos meus tênis, não queria perder a conversa e ficar sem saber o que era todo aquele alarme, queria saber se havia perigo em algum lugar, me negava a achar essa cidade tranquila, tinha que ter algo.

Kate está de volta — disse Stiles em um sussurro, provavelmente apavorado.

O que ela quer? Por que ela não desiste de vez? — Perguntou o xerife alarmado.

Ele está ameaçando a irmã do Derek, por ter matado ela — disse Lydia dessa vez.

Mas não foi Cora quem a matou. Tem certeza que é Kate? — Inquiriu o xerife.

Sim, é a única pessoa que se encaixa, o jeito que ela mata as vítimas. Talvez ela apenas tenha se esquecido que Peter a matou.

Ela é louca — observou o xerife.

Não, aquela werejaguar é uma psicopata! — Exclamou Lydia.

Eu achei aquilo o suficiente por ora, fiquei alguns segundos no chão ainda inquieta com tudo aquilo, até que enfim levantei-me e encarei meu tio de costas.

Quem era Derek? Perguntava-me, e principalmente: O que era um werejaguar?

Aproximei-me do meu tio e chamei a atenção dele tocando suas costas, ele virou-se e me fitou com uma cara de questionamento.

— Eu estava pensando, será que eu poderia fazer um estágio aqui?


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler até aqui! Comente o que achou do capítulo, favorite se quiser! Até a próxima atualização.