Se eu estava desesperada quando Parrish havia avisado que iria sair e demorou horas para chegar, imagine agora quando eu tinha certeza do que estava acontecendo. Stiles havia sido sequestrado por uma loba louca e vingativa que fazia de tudo para tentar me afetar de algum jeito. E tinha conseguido, conhecia Stiles há pouco tempo, mas ele é o mais próximo de amigo que eu tive, tudo bem eu conhecia os outros, mas Stiles, Kira, Malia e Parrish tinham um espaço especial em meu coração.

Stiles tinha feito meu humor aumentar milhões de vezes, e me preencheu de alguma forma com toda o seu sarcasmo. E agora ele estava desaparecido.

Ainda estava em frente à porta no escuro da rua, franzindo meus lábios e com a mente no ar, eu estava ficando tonta e sabia exatamente o porquê. Fechei a minha cara no mesmo instante em que fechei a porta. Encarei todos os outros sem expressão alguma no rosto, e com o celular na mão.

Todos estavam em volta da mesa de jantar discutindo sobre algo, exceto Parrish que se sentia perdido ali, no meio de tantos adolescentes. Assim que ouviram que meus passos pararam, me fitaram com um quê de confusão em seus rostos.

Como resposta, olhei-os mais uma vez, e apertei o celular que estava em minhas mãos com tanta força que senti ele se entortar em minha mão. Só percebi o que tinha feito quando um baque de quando ele caiu no chão ecoou pela casa, fazendo eu encarar o aparelho deformado confusa.

Fitei Parrish que me olhava de alguma forma estranha.

— Desculpa por isso, não tive a intenção — falei sem sentimento algum. Jordan assentiu e levantou-se da cadeira aonde estava sentado, olhou-me apreensivo e dirigiu-se até mim e pegou o celular do chão.

— O que houve? — Perguntou ele.

Pisquei com sua pergunta e me dei conta do que eu teria que contar, e foi como se milhões de facas me atingissem ao mesmo tempo, Stiles estava em perigo e a culpa era toda minha.

— Stiles não atendeu o celular porque estava dormindo, minha ‘mãe’ pegou ele — chamei-a de mãe porque eles não a conheciam de outra forma, vi pela cara de Scott que a dor tomou conta dele, assim como de Lydia, provavelmente os mais próximos do garoto. — Desculpa, é tudo culpa minha... Se eu não tivesse me aproximado de vocês nada disso teria acontecido.

— Não é sua culpa, Ana, não tinha como evitar — Lydia me olhou carinhosamente e me deu um sorriso terno mesmo com a situação que a gente estava.

O apelido novo que Lydia me dera fez eu ficar renovada, juntei forças de algum lugar desconhecido e disse à mim mesma para não lamentar. Lancei um sorriso confiante para a garota e levantei meu queixo com superioridade. Eu iria matar aquela louca que eu chamava de mãe, pela segunda vez.

Subi para o meu quarto sem nem avisar, coloquei uma calça jeans e um casaco de couro, sem esquecer meus tênis. Eu estava pronta para lutar e encontrar Stiles mesmo que ele estivesse no inferno.

— Vamos, temos que encontrar Argent — Parrish puxou-me pelo braço pronto para me levar para o carro, assim que desci das escadas. Olhei para todos em despedida e nem precisei avisar o que iria fazer, já que todos estavam prestes a sair na procura de alguma pista. E pelo jeito não iriamos dormir hoje.

Entrei na viatura de Parrish e sentei-me no banco passageiro pronta para caçar, e deveria acrescentar: minhas facas estavam prontas para serem usadas.

Passei a mão sobre o painel preto daquela viatura que estava imunda e cheia de pó, e então eu disse:

— Acho que já está na hora de você comprar um carro, estou cansada de andar nessa viatura.

— Eu já tenho um carro — Jordan deu um sorriso de lado e olhou o mais rápido possível para não desviar os olhos da estrada.

— Não vejo a hora de andar nele — suspirei.

— Eu também— Parrish sussurrou, provavelmente querendo que eu não ouvisse, mal sabia ele que ouvi muito bem.

— Eu preciso ligar para o meu tio.

Saquei meu celular e digitei o número que tanto havia memorizado, demorou um pouco para atender, acho que por causa do trabalho, mas enfim ouvi sua voz.

— Miriana, algo aconteceu? Parrish está bem? Ele voltou? — Tio Thomas metralhou as perguntas pelo telefone, respondi rapidamente e dei um grande suspiro de pesar.

— Stiles está sumido, tio, e foi ela — eu disse com certa hesitação. — Eu estou a caminho da casa do sr. Argent, tentar descobrir algo.

— Ache alguma coisa, Miriana, por favor — ele sussurrou.

— Eu vou — falei, estava prestes a desligar o telefone mas algo me impediu. — E tio... fale para o xerife, procurem Stiles vocês dois, se necessário. — Pude sentir o sorriso dele do outro lado da linha. Com a minha mensagem dada, desliguei o celular e encarei a estrada escura.

.

Estávamos dentro do elevador do prédio do sr. Argent, ou apenas Argent, ou talvez Chris, eu não fazia ideia de como chama-lo.

O clima naquele cubículo não estava nada bom, estava tenso demais.

Descruzei meus braços e parei de encarar o chão do elevador, levantando meu olhar para Parrish, que surpreendente, parecia estar me olhando há algum tempo. Franzi o cenho, totalmente embasbacada. Já podia sentir todo o calor do meu corpo subindo para as minhas bochechas, mas nem por isso deixei de encara-lo. Ele continuou encarando-me, e eu juro que tive o vislumbre do sorriso mais safado que ele já deu pra mim. Durou segundos, só que mesmo assim guardei ele nas profundezas da minha memória, ele aproximou-se de mim lentamente, com um semblante concentrado estampado no rosto. Quando chegou perigosamente perto de mim, afastou meu cabelo volumoso e fez um carinho em meu pescoço, arrepiei com o gesto, pronta para parar com aquilo e pedir o meu melhor amigo de volta. Não estava na hora para isso.

O elevador alertou que havíamos chegado no andar, abrindo totalmente as portas sem nos dar privacidade alguma.

E com isso, parecia que que Parrish havia acordado de um transe, um transe profundo e desesperador. Um arrepio apoderou-se de todo o meu corpo fazendo eu estremecer, e também acordar, Parrish estava fazendo algo que não era correto, estava fazendo isso enquanto meu outro amigo estava sequestrado por uma psicopata.

Sei que não tive nada a ver com isso, mas me senti culpada.

Parrish e eu demos uma breve encarada um no outro e depois olhamos para o chão, prontos para bater na porta de Chris, que era bem na frente do elevador. Avançamos e batemos, e logo fomos atendidos por um Chris Argent totalmente arrumado, e não de pijama como eu esperava, mesmo que eu duvidasse que ele usasse pijama - pra mim ele dormia de jaqueta de couro e com uma pistola embaixo do travesseiro.

Ele nos puxou porta adentro, mas certamente olhou para os lados vendo se estávamos sendo seguidos, não entendi o motivo. Chris nos levou para uma sala, provavelmente seu escritório - que surpreendente estava bem arrumado. Largou nossas mãos e fuçou o armário que havia lá, puxando uma folha gigantesca, botando-a em cima da mesa logo depois.

— Venham — mandou ele.

— Como você sabe o que estamos procurando? — Perguntei curiosa.

— Seu tio me ligou — disse ele. — Agora venham.

Parrish foi até ele, enquanto eu caminhava até lá com certa hesitação. Quando olhei para o papel, me dei conta do que era: um mapa. Mas não era da cidade, aparentemente, porque eu poderia conhece-la pouco, mas com certeza não era desse jeito. Não tinha nome de ruas, nada.

— Por que você está com o mapa do esgoto de Beacon Hills? — Perguntou Parrish, respondendo sem a intenção a pergunta que eu me fazia: do que era aquele mapa?

— Droga, eu me esqueci! — Disse Argent, praticamente repreendendo-se pelo descuido. Puxou outro mapa de um armário da sala e abriu-o. — Vocês estão vendo? — Ele apontou para círculos vermelhos marcados, eu não entendi de primeira, mas pareceu que Parrish sim.

— O que? O que é isso? — Inquiri confusa.

Parrish fechou os olhos lentamente, os apertando com certa força, mas logo voltou ao normal e disse:

— São as pessoas que sua mãe matou — disse ele simplesmente.

— Ela matou mais pessoas do que aqueles médicos?! — Gritei exasperada, eu já deveria imaginar. Olhei para Parrish de novo, e percebi que ele sequer tinha citado isso, fitei-o com raiva. — Por que você não me falou?! — Dei um grito tão alto que Parrish estremeceu, e eu também, não sabia dessa potência. Jordan recuperou-se do susto e engoliu em seco.

— Eu não queria que você se sentisse mais culpada — ele sussurrou, e se eu ainda não estivesse brava, o daria um sorriso por se preocupar com isso.

E a partir daí, começamos a nos encarar estranhamente... de novo.

— Desculpe a interrupção, casal 20, mas continuando... — Chris finalmente se pronunciou, olhando para o mapa de novo e apontando os locais marcados. — Eu estava procurando alguma conexão entre eles, e a única coisa que achei foi isso — ele estendeu o mapa para vê-lo com atenção. E foi isso que eu fiz, olhei-o como nunca olhei um mapa antes, tentando encontrar um padrão ali.

— Todos eles têm uma linha de esgoto — murmurei, não sabendo se era daquilo que Chris queria dizer.

— Isso — ele deu um sorriso mínimo, tirando aquela carranca do rosto.

— Então você acha que ela apenas pulou do esgoto e atacou as vítimas aleatoriamente? — Perguntou Parrish com dificuldade em acreditar.

— É uma hipótese — ele disse simplesmente, e depois pegou o mapa de novo, dessa vez apontando para um círculo maior que os outros. — E aqui é o centro, tem um espaço relativamente grande, ela pode estar escondida aí.

Era uma teoria muito, muito boa, e a única que se encaixava. E como já estava amanhecendo e amanhã é lua cheia — ou seja, lobisomens mais fortes. Ela poderia ser um lobisomem também, mas estamos em maior número.

— Vamos resgatar Stiles... amanhã — disse ajeitando minha jaqueta, e olhando para os dois com um sorriso lateral no rosto, e pelo jeito, entenderam o que eu queria dizer com isso.