Ruin escrita por Cabbie


Capítulo 5
Four


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, gente! Aqui está o capítulo, como o prometido.



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Capítulo Quatro

Encarei o meu reflexo no espelho, incapaz de acreditar no que havia acontecido. Respirei profundamente, contando até três. Minhas pernas, ainda fracas, movimentavam-se por conta própria.

Eu voltei à festa, encontrando com o seu olhar e tentando ignorar, a todo custo, a lembrança do beijo ainda fresca em minha memória. Eu ainda não me sentia pronta, mas, de um jeito ou de outro, eu teria de encarar a realidade, por mais estúpida que ela fosse.

Ele sorriu, e eu tive que sorrir, também. Porque, mesmo me corroendo de arrependimento, uma parte de mim queria de novo: e mais uma vez, e de novo.

Mas, depois de perceber o que eu estava fazendo, meu sorriso morreu. Eu o encarei, assustada. Depois, comecei a andar pelo caminho contrário, fugindo daquela realidade.

~ • ~

Eu havia passado o fim de semana inteiro ignorando as constantes ligações de Christina, que exigia saber o que aconteceu.

No almoço, ninguém havia reparado o quão estranha eu estava, principalmente, porque minha mãe estava ocupada demais falando animadamente sobre nossos novos vizinhos, que, até onde eu sabia, eram antigos amigos de minha mãe.

Meu pai sempre assentia, cansado da animação de minha mãe. Ela ficou a semana inteira nos lembrando de que seria um jantar importante e que todos deveriam estar presentes, até mesmo Caleb, meu irmão mais velho de alguns meses, que vivia saindo às escondidas, toda a vez em que minha mãe chamava seus amigos em casa.

Olhando de relance para o meu celular, notei que havia outra mensagem de Christina, que eu fiz questão de ignorar, mesmo que eu soubesse que ela ficaria furiosa comigo por tê-la ignorado, mais uma vez.

Ao meu lado, Caleb me deu um olhar de relance e sussurrou, para que nossos pais não escutassem:

– Ei, Tris, você está bem? – Perguntou ele, parecendo um pouco preocupado.

– Sim, tudo. Só estou um pouco cansada – menti.

Sorte a minha que Caleb não havia percebido o quão evidente minha mentira era. Ultimamente, ele tem se sentido culpado por não estar dando muita atenção a irmã caçula dele. Então, Caleb estava tentando recompensar isso ao máximo, embora eu entendesse que nem sempre eu teria meu irmão ali, para me apoiar quando eu estivesse com algum problema.

Pulei ao som de um forte estrondo. Aliás, todos na mesa olharam assustados pela batida súbita em nossa porta. Com isso, fui correndo abrir a porta, deparando-me com uma Christina furiosa.

– Por que é que você não responde minhas mensagens, sua melhor amiga insensível? – Ela perguntou, parecendo mais irritada a cada palavra.

– Eu...

– Não venha com essa, Tris. Aconteceu alguma coisa, não é? E você vai me contar o que é. A propósito, boa noite, Sr. e Sra. Prior – e sorriu amigavelmente para meu pais, puxando-me pela mão até o meu quarto.

Ela se jogou em minha cama.

– Desembucha. Estou esperando – Christina disse, um pouco menos furiosa do que antes.

Assim que eu lhe contei o que aconteceu, seu rosto tornou-se impassível. Antes, é claro, de ela ter dado um escândalo daqueles, assim que percebeu que eu não estava brincando.

– Você fez o quê? – Perguntou Christina, alarmada – Você... beijou... Tobias EATON?

Christina me encarou seriamente por alguns segundos. Depois, ela optou por parar de segurar o riso e começou a gargalhar, apesar do meu evidente espanto com a situação.

Cale a boca – eu grunhi – Argh, desse jeito, vou parar de te contar as coisas.

– Você não vai fazer isso – Christina ficou séria – Sou sua melhor amiga, lembra?

– Nesse momento, estou pensando em reconsiderar o cargo.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Christina começou a me consolar, notando o quanto eu estava constrangida com aquilo tudo.

– Olha, não é tão ruim assim, não é? Quero dizer, sim, você beijou Tobias Eaton, o cara que sempre pegou no seu pé, é verdade, mas, pelo menos, ele é um dos caras mais irresistíveis da nossa escola. Considere-se sortuda.

– Não tem como eu me considerar sortuda. O cara é um idiota. E ele consegue me irritar mais do que o Peter.

Christina fez uma careta. Eu não a culpava.

– Mais do que o Peter? – Ela exclamou, quase não acreditando.

Apesar de Peter ter feições “angelicais” e um sorriso amigável, na realidade, ele não era nem longe alguém que pudesse ser considerado “legal”. Se existisse alguém que poderia te odiar só com a simples primeira impressão, esse alguém era Peter. Até então, ele gostava de fazer da minha vida um verdadeiro inferno, sempre espalhando boatos falsos sobre mim e pegando no meu pé, mil vezes pior do que Tobias fazia.

Mas, depois da festa, eu estava constrangida demais para assumir que uma parte de mim queria chegar na segunda-feira e puxar Tobias para um beijo. Ainda assim, outra parte de mim sentia nojo só com a simples menção desse pensamento. Eu estava tendo um conflito de emoções.

– É, acho que eu exagerei. Mas, mesmo assim... Ele é Tobias Eaton, lembra? Totalmente insuportável.

– E irritante e idiota e chato – completou Christina, revirando os olhos – Que foi? Eu já conheço esse seu discurso. Mas você não pode mentir para mim, Tris. Eu consigo ver que você está mexida com essa coisa toda. Não precisa fingir que não sentiu nada com aquilo.

Eu me joguei na cama, enterrando a cabeça com as mãos. Christina me deu um tapinha de consolação no ombro, tentando soar prestativa. Logo em seguida, ela se levantou, me lançando um olhar meio preocupado.

– Você vai ficar bem? – Ela perguntou.

– Vou fazer o meu melhor para ficar.

– Essa é a linha de pensamento que eu quero que você mantenha.

Ela me deu um abraço meio desajeitado e pegou seu celular do bolso da calça jeans.

– Escuta, Tris, eu tenho uma coisa para fazer... não vou poder ficar com você – do nada, ela havia ficado tensa, como se algo grave tivesse acontecido – Mas você pode me mandar uma mensagem, caso queira desabafar e todo aquele blá, blá, blá de menina.

– Não se preocupe, não vou mais te ignorar – brinquei, mas, depois, voltei a ficar séria – Aconteceu algo com você, Christina? Você está agindo estranho.

– Não é nada – ela parecia estar tentando convencer a si mesma disso – Não é nada.

Ela saiu correndo do meu quarto. Consegui ouvi-la despedindo-se de meus pais e bater a porta, quase que violentamente.

Agora, só me restava o jantar com os amigos de minha mãe para me distrair.

~ • ~

– Você está muito bonita – elogiou minha mãe, quando eu dei uma voltinha na frente do espelho com roupa nova que ela comprara para mim.

– Razoável seria o termo correto – eu a corrigi, corando um pouco pelo elogio.

– Acho que você acabou puxando a minha autoestima – disse ela, em tom de brincadeira.

Eu usava uma blusa nova e uma calça jeans extremamente apertada. Nos meus padrões, é claro. Mas, para minha mãe, eu estava perfeitamente adorável. Tentei forçar um sorriso para deixá-la contente.

– E isso tudo para agradar aos novos vizinhos? Que nem se mudaram ainda? – Eu resmunguei, enquanto tentava puxar a minha blusa para que ela pudesse ficar um pouco mais comprida.

– Quieta – minha mãe ralhou – Você está linda, já disse.

Papai olhou para mim e deu um alto suspiro. Caleb só riu, abraçando-me por conta da vermelhidão do meu rosto.

– Ah, eles chegaram! – Mamãe exclamou, indo correndo para abrir a porta.

Todos nós estávamos vestindo roupas novas e impecáveis. Fora isso, havia o jantar, que fora preparado com a maior das perfeições. Mamãe mal conseguia conter a animação dela e, por causa disso, tive de forçar o meu melhor sorriso para fingir estar um pouco animada com tudo aquilo.

– Evelyn! – Pude escutá-la dizendo, enquanto eu, papai e Caleb íamos até a sala para cumprimentar as visitas.

Quando chegamos, senti como se meu queixo fosse parar no chão, de tão chocada que eu estava. Havia apenas uma probabilidade de isso acontecer comigo e, ainda assim, lá estava o azar, zombando de minha cara, mais uma vez.

Tobias Eaton arregalou os olhos, quase tão em choque quanto eu estava. Sua mãe, Evelyn, não havia percebido o quão estranho ele se encontrava, e continuou a conversar com minha mãe.

– Ah, ótimo – pude ouvi-lo resmungar – Que maravilha.

Evelyn se virou para ele, parecendo irritada. Com isso, Tobias deu um suspiro longo e foi até mim, provavelmente, para me cumprimentar.

Próximo demais de mim, eu queria segurar-lhe pela nuca e beijá-lo até não poder mais. A própria respiração de Tobias estava estranha, como se ele tivesse corrido uma maratona até minha casa. Seus lábios estavam a centímetros dos meus, e eu não consegui desviar o olhar, incapaz de dizer alguma coisa. Ao que me pareceu uma eternidade, ele havia me soltado e ido falar com Caleb e papai.

– Que droga – eu resmunguei, contando até dez para me acalmar.

Mamãe e Evelyn conversaram a maior parte do jantar. Fora as duas, papai também participou um pouco, embora ele fosse tímido demais para estabelecer uma conversa por mais de dois minutos. Caleb ria sem graça de algumas coisas, parecendo querer fugir dali o mais rápido possível, assim como eu, que não ia aguentar ficar na presença de Tobias por mais tempo do que aquilo.

– Tris – Tobias começou, depois de um tempo – Eu posso falar com você, em particular...?

Eu assenti, completamente entorpecida.

Eu achei que seria completamente perigoso levar Tobias ao meu quarto, então fomos até lá fora. Rapidamente, senti o vento gelado em minha pele.

Eu esperei que ele falasse. E, mesmo que por uma fração de segundos, pude observar seu rosto ficar levemente corado, assim como devia estar o meu.

– Olha – ele limpou a garganta, chegando perto de mim -, acho que devíamos, você sabe, esquecer o que aconteceu. Nós nem sequer gostamos um do outro. Eu só... Só não quero que fique... Eu só não quero que fiquemos estranhos um com o outro.

Franzi a testa.

– Você fala como se tivéssemos tido algo grande, sabe. O que aconteceu, aconteceu. Eu não esperava beijar você, Tobias. E, falando honestamente, eu não irei implorar para virar sua namorada, ou algo do tipo. Então, nem precisa ficar com esse pensamento de que eu estou gostando de você, porque eu não estou.

Ele me puxou pelo braço, mantendo-me perto dele. Meu olhar estava carregado de raiva, ainda mais, pelas palavras dele. Eu não era uma garota estúpida que ia cair de amores por ele. Até então, eu o odiava, e, naquele momento, eu me dei conta de que um beijo nunca poderia mudar isso.

– Você pode não gostar de mim, Tris, mas, nesse momento, eu estou me segurando para não beijar você. Porque tudo o que eu quero agora é te deixar sem fala e sem reação. E, apesar disso, eu estou me segurando para não fazer isso. Eu.

Eu mal conseguia acreditar no que estava ouvido. Ele encarava meus lábios descaradamente, sem nenhum intuito de me soltar. Minhas pernas já estavam bambas antes mesmo de ele começar a falar. Agora, com ele próximo de mim, seus braços já em minha cintura, e a respiração entrecortada que saía de meus lábios, tudo o que eu queria era que ele não se segurasse. Que ele me beijasse, que ele me deixasse sem fala.

– Deus, eu nunca me senti tão atraído por alguém na minha vida – ele confessou baixinho, seus lábios a centímetros dos meus – Você é tão... Eu quero tanto beijar você, e você não tem a menor ideia disso.

Eu dei um longo suspiro, movendo minhas mãos para o seu rosto.

Agora, ele estava me encarando atentamente. Com ou sem máscara, eu também me sentia atraída por ele, e esse pensamento me deixava com repulsa, porque significava que eu cederia. E eu não queria perder esse jogo ridículo que estava acontecendo entre nós dois.

E, quando eu estava pensando que ele estava prestes a me beijar, Tobias apenas deu um sorriso sarcástico e retirou os braços de minha cintura, deixando-me a mercê do frio que nos cercava. Ao fundo, eu podia ouvir a mãe do Tobias chamando-o para ir embora.

– Até segunda-feira – ele sussurrou em meu ouvido -, vizinha.

Que droga!


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Notas finais do capítulo

Comentários, favoritos, recomendações?
Até o próximo domingo, gente.



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