Save me escrita por Vany Myuki


Capítulo 24
Retorno


Notas iniciais do capítulo

Eu só tenho que pedir desculpas para vocês por essa pausa de um ano.
Estou postando esse capítulo depois de muito hesitar.
Espero que vocês não tenham desistido da fanfic, como eu mesma imaginei fazer um dia.



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P.O.V Autora 

Um ano depois...

—Nenhum sinal dele?_a líder não encarou a figura que se encontrava na outra extremidade do cômodo, observando a multidão abaixo sem muito interesse.

—Fez um ano desde o seu desaparecimento._entregou como resposta, a voz áspera contrastando com as linhas expressivas de seu rosto, denunciando uma amargura contida de forma clara.

A líder suspirou profundamente, se erguendo de seu trono e caminhando até a moça com calma, recebendo a atenção dela pela primeira vez desde que a mesma adentrara naquela sala.

Frente a frente, enquanto seus olhos se analisavam meticulosamente, Lexa espalmou a mão na bochecha alheia, observando a garota fechar os olhos com o contato singelo.

—Um ano e sua ferida ainda se encontra aberta..._citou, suspirando fraco ao ver a garota entreabrir os olhos em sua direção_Ainda sente raiva dele, mas o ama também com a mesma intensidade que o odeia..._afirmou, franzindo o cenho à constatação.

Os olhos caramelos se tornaram tenebrosos quase que instantaneamente, mas nenhuma movimentação foi feita pela garota. Pelo contrário: ela se tornou rígida em meio ao discurso proferido por sua superior.

—Há uma linha tênue entre o ódio e o amor. Compreendo você._ditou a líder, seus olhos claros navegando em meio ao próprio mar de sentimentos.

A garota resistiu ao impulso de abaixar os olhos; de quebrar qualquer contato visual que sua líder sustentava com tanta intensidade. Era seu dever encarar aquelas verdades, mesmo que sentisse que seu interior estava entrando em colapso.

A outra mão de Lexa subiu pelo rosto da garota, segurando o mesmo em concha, impondo atenção, mesmo que a garota estivesse rendida à sua líder desde o começo.

—Ao menos você sente ódio dele. Isso é bom. Mantém a chama da esperança acesa.

A garota contraiu a mandíbula, compreendendo as palavras da líder, embora se odiasse por ver seus sentimentos tão expostos para outra pessoa.

—Você não sente ódio dela?_questionou num ímpeto, não medindo suas palavras e a quem se dirigia.

Para sua surpresa, observou um sorriso pequeno se abrir nos lábios da líder, enquanto ela aproximava-se traiçoeiramente de si e, a milímetros de distância de seu rosto, proferia a sentença mais incompreensível que a garota já imaginara testemunhar escorrer de seus lábios.

—Eu a amo.

O hálito de Lexa atingiu a garota e, sem aviso ou consentimento, a líder chocou seus lábios ao da menina, enroscando as mãos em seus cabelos e impondo um contato íntimo, mesmo que ambas se encontrassem de coração partido.

A garota correspondeu ao beijo, mas antes que pudesse aprofundá-lo como sempre acontecia, a líder se afastou, caminhando até seu trono novamente e se acomodando ali, os olhos perdidos em lembranças.

—Você tem sorte._falou após um breve período de um silêncio sepulcral_Odiá-lo faz com que você continue nutrindo esperanças de ter sua vingança._os cantos dos lábios de Lexa estavam curvados em um sorriso mediano, mas não havia vestígio de graça no mesmo.

A garota engoliu em seco, entendendo o que tanto parecia corroer Lexa por dentro: o vazio eterno de nenhum tipo de sentimento violento.

—Eu sinto muito._falou a menina, se afastando da janela e se postando em frente à líder.

Os olhos claros de Lexa se levantaram, majestosos como sempre eram, se tornando belos à medida que contrastavam com as manchas que contornava-os.

—Não sinta. Sentir é o grande mal._pela primeira vez não havia suavidade no rosto da líder, apenas uma dureza impenetrável, que, embora parecesse assustadora e pouco convidativa para quem a visse, apenas deixava explícito se tratar de uma máscara; uma que ela usava para tentar impedir que qualquer pessoa visse a confusão que se encontrava seu interior_Sentir nos torna fracos e escravos. Foi por sentir muito amor que me machuquei quando minha parceira morreu e foi por cometer esse mesmo erro novamente que me encontro perdida.

A garota assentiu, apreendendo para si os conselhos da sua líder.

Embora ela soubesse que a fala de Lexa era certa, ainda assim não poderia ir contra suas palavras, pois, para sua própria infelicidade, ela também havia caído na mesma armadilha da primeira, fadada a amar alguém que já não estava mais entre os vivos.

Sua ideia de vingança era a única coisa que a impulsionava a acordar todos os dias e procurar, exaustivamente, pelos responsáveis.

—Não tenho mais com que me preocupar._soltou a garota, percebendo o quão amarga sua voz saíra. Ela ergueu o rosto para a líder, sorrindo fraco; um repuxar de lábios que nunca poderia ser considerado válido_Eu já perdi tudo mesmo.

Lexa encarou sua súdita por alguns segundos, vendo que o fogo de um ano atrás, quando a mesma apareceu em sua porta, ainda ardia com fervorosidade; incapaz de se apagar.

—Ainda não perdeu o principal._ela pausou, vendo a garota se concentrar em suas palavras_Sua sede de vingança.

A garota assentiu sem hesitação.

Em contrapartida, Lexa sorriu; sabendo que aquela garota que tanto cultivava rancor dentro de si, era sua única chance de encontrar Clarke; sua única chance de conseguir ver a Griffin, nem que por uma última vez.

—Então os encontre, Selenia. Encontre os responsáveis pela morte de Tristan._sentenciou, ao passo que a mesma se curvava uma última vez e deixava a sala; os passos firmes denunciando uma confiança inabalada.

***

Milah retornou com a bandeja de comida intacta, a expressão triste emoldurando-lhe o rosto fino.

—Quantas vezes mais ele vai fazer isso?_grunhiu Raven, sentada na extensa mesa, enquanto bebericava, sem pressa alguma, um copo de água.

—Tem dias melhores e piores._comentou Milah com um sorriso triste, as esperanças que sempre ousava construir a cada dia que Callen a deixava se aproximar, ruindo em momentos como aquele, que sua presença parecia insuportável para o prisioneiro.

—Reconheço sua paciência, garota. Eu já teria desistido dele._comentou Octavia aparecendo no cômodo e se jogando em uma das cadeiras da mesa, alisando uma pequena adaga em um objeto maleável.

Milah nada disse; já havia cansado de tentar encontrar desculpas para continuar tentando manter Callen vivo, mesmo que superficialmente.

Um ano havia passado voando e nada que houvesse tentado fazer para ajudar o amigo havia surtido resultado. Quanto mais prisioneiro Callen se tornava, mais parecia cultivar o sentimento de raiva de tudo e de todos, principalmente de Clarke.

—Apenas desista, Milah; Callen parece ser muito cabeça dura para mudar de ideia. Um ano já se passou e nada fez com que recuasse, não acho que vá ser agora que mudará de atitude._aconselhou Raven, parecendo compadecida pela garota, enquanto Octavia apenas a analisava com a mesma expressão entediada que havia adotado nos últimos meses.

Milah queria refutar as palavras de Raven, mas não podia; não quando ela estava certa. Não quando Callen resistia a si mais do que qualquer outra pessoa.

Por fim a garota deixou seus olhos recaírem sobre a bandeja intocada, sabendo que, assim como nas últimas vezes, teria de apelar para a única pessoa que ainda conseguia reviver algum fogo dentro de Callen.

—Onde você está indo?_perguntou Octavia alto, enquanto a garota se afastava em silêncio.

Raven, em frente a Blake, apenas suspirou audível, olhando-a repreendedora.

—O que foi?_devolveu a Blake de má vontade.

—Não é óbvio?

O grande ponto de interrogação que parecia pairar sobre a cabeça de Octavia se desfez, enquanto a garota ria com escárnio.

—É claro...como é que eu não havia pensado nisso antes, não é mesmo?_e, com o tom irônico pairando entre si e a garota sentado à sua frente, Octavia se levantou em um único movimento brusco, se afastando pelo corredor rapidamente, parecendo querer cravar a adaga em suas mãos na primeira pessoa que encontrasse.

***

Ressonando baixo em meio aos lençóis desalinhados estava Bellamy; a expressão calma e em paz em nada se assemelhando as rugas que insistiam em aparecer constantemente entre suas sobrancelhas, expressando preocupação em demasia.

Clarke, ao seu lado, o observava risonha, tentando compreender como demorara tanto para perceber algo que sempre estivera nítido, mas que se tornara incompreensível aos seus olhos assombrados por fantasmas do passado.

Bellamy era agora, mais do que jamais a garota imaginara ser, sua única fonte de felicidade em meio ao presente conturbado e futuro incerto.

Mas algo estava prestes a mudar e a garota, sentindo os primeiros sintomas daquela nova onda de felicidade e inquietação, se perguntava como deveria abordar o assunto com o outro sem deixa-lo assustado; porque, mesmo que fosse algo bom, ainda assim era mais um desafio mediante aos obstáculos que teriam pela frente.

Batidas tímidas na porta fizeram com que Bellamy se remexe-se inquieto no colchão macio, enquanto a Griffin se apressava até a porta antes que o barulho pudesse acordar o Blake de seu pequeno momento de paz.

—Oi._cumprimentou baixo a garota, sorrindo em um pedido claro de desculpas, enquanto Clarke, silenciosamente, fechava a porta atrás de si e encarava a bandeja presa perto do peito da outra, como um escudo contra sua própria dor.

—Ele ainda continua com isso._não foi uma pergunta, mas Clarke viu a garota assentir minimamente, a expressão denunciando tristeza nos belos traços.

Clarke deixou um suspiro baixo escapar de seus lábios, agarrando a bandeja com cuidado e manobrando-a nos braços, enquanto sorria fraco para Milah, tentando lhe passar algum conforto, mesmo que soubesse que seria impossível naquela situação.

Sem mais nada dizer, a Griffin se afastou, seguindo pelo corredor oposto em passos lentos, sabendo que o verdadeiro problema não era estar ali e encontra-lo, mas sim observar a tristeza impregnar dia-a-dia o semblante sorridente da garota que tanto amava aquele que insistia em afastá-la.

—Olá, Miller._cumprimentou ela, enquanto o mesmo sorria fraco em sua direção e abria a cela, a mesma que um dia lembrava-se ter sido mantida prisioneira.

No canto mais afastado, mesmo que a luz cegante irradia-se por todos os lados, Callen se encontrava encostado, o olhar preso na figura da Griffin sem pudor algum, recaindo, quase que instintivamente, para seu abdômen.

Clarke serpenteou o quarto e colocou a bandeja em frente ao prisioneiro, sentando-se ao seu lado em seguida; o medo de outrora sufocado pelo tempo e pela ironia que agora se tornara sua relação com Callen.

Antes de falar qualquer coisa para a Griffin, o prisioneiro enfiou o pequeno pedaço de pão da bandeja garganta adentro, sorrindo calmamente, enquanto mastigava o alimento com cuidado.

—Você deveria ter apenas dito que queria me ver, ao invés de tratar a Milah assim. Isso a fere, Callen._anunciou a loira, encarando-o com o canto dos olhos.

O homem não se dignou a encará-la de volta, apenas continuou jantando silenciosamente, até restarem apenas migalhas de sua refeição.

—Quando vai contar pra ele?

Clarke evitou bufar em descontentamento; ela sabia que Callen havia a chamado ali apenas com um intuito, mas odiava constatar que nada em si mudava; que não conseguia nem fingir outro motivo ao invés de ir direto ao ponto.

—Eu ainda estou esperando...

—O que?_dessa vez o homem virou a cabeça em sua direção, os olhos azuis, tão idênticos ao de Tristan, pegando-a desprevenida, como sempre faziam em situações como aquela.

—Eu não sei._disse sincera.

E ela realmente não sabia.

Havia pensando nisso nas últimas três semanas desde que estivera naquela cela, mas sempre se via com receio de conversar com Bellamy e expor o novo problema que teriam de enfrentar; sabia que quando o fizesse ele entraria em pânico e todos aqueles meses de cumplicidade, onde construíram uma base sólida de uma ideia de futuro, viria abaixo.

—Acho melhor se apressar._falou o outro, sorrindo abertamente, parecendo achar graça.

Clarke sabia que Callen a detestava; sabia que planejava sua morte e dos que amava a cada minuto que mantinha-se isolado, alegrando-se com a mera ideia de vê-la destruída. Ela sabia disso muito bem, mas não conseguia evitar sentir que, ao mesmo tempo que ele seria responsável por sua maior dor, também era o único responsável por ouvi-la vezes e mais vezes.

A relação dos dois era conturbada. Se odiavam, e se não fosse o plano de Callen em atingir os que estavam ao redor da Griffin, certamente ela já teria sido alvo de suas mãos assassinas. Mas, naquele tempo em que deixaram claro serem inimigos, também deixaram claro que poderiam falar abertamente um com o outro, porque, independente do que acontecesse, um acabaria com as mãos manchadas pelo sangue do outro; enterrando seus segredos mais profundos, independente do quão perturbadores fossem.

—Por quê? Pretende mata-lo antes?_questionou a Griffin com tranquilidade; as ameaças de Callen não surtindo mais efeito em si; não porquê não sentisse medo, mas porque sabia que aconteceria, uma hora ou outra.

O sorriso que Callen lançou a si não a afetou, mesmo que a frase tenha ficado ecoando em sua mente nas noites que se seguiram àquela conversa.

—De qual dos dois estamos falando?

Como se por instinto, um que a Griffin não sabia possuir até o momento, sua mão foi de encontro a base de seu estômago, mas foi brecada pela mão alheia antes que repousasse sobre o mesmo.

Clarke abaixou os olhos para a mão de Callen sobre a sua, impedindo-a de continuar o trajeto.

—Teria coragem de machuca-lo?_perguntou baixo, a voz não tremendo ao ser proferida.

Callen riu, colocando a mão sob a da garota e pressionando-a em seu ventre, os olhos não abandonando um segundo sequer os da Griffin.

—Não tenha duvidas disso._salientou como um juramento final, deixando claro que aquele era o começo de sua tão esperada vingança.


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Notas finais do capítulo

Me digam se estão aí ainda; se ainda devo continuar ou se entro em hiatus para sempre.
Um grande obrigado por terem chegado até aqui e minhas mais profundas desculpas.
Um grande abraço.



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