Save me escrita por Vany Myuki


Capítulo 22
Mente e Coração


Notas iniciais do capítulo

Pessoas!!!
Então...faz muito tempo, certo?
Eu sei...
Eu sei...
Demorei DEMAIS mesmo. Peço desculpas por isso.
Estive muito ocupada nos últimos meses.
Meu motivo principal era o Trabalho de Conclusão de Curso da faculdade, o temido TCC.
Estive curvada sobre eles nos últimos meses, pesquisando e escrevendo, chorando e escrevendo, escrevendo e gritando, chorando de novo e assim por diante.
Sério, esse TCC é um caos! Ao menos o meu foi. Ele extraiu meu tempo, minha força, minha criatividade e vontade...peço desculpas por isso, mas não teve jeito: era o TCC ou eu não pegava o certificado kkk
Enfim...acabou a faculdade, a banca se foi e com ela o TCC e agora estou mais disponível para Save Me e minhas demais fics inacabadas. Bora dar um jeito nisso.
Provavelmente vocês vão notar o quanto estou enferrujada para escrever.
Sério. Esse capítulo ficou lixo demais ¬¬'
Estava com capítulos prontinhos no PC, mas levei uma rasteira da tecnologia e perdi tudo (inclusive meu TCC, motivo pelo qual estive ausente refazendo-o) :'(
De qualquer maneira quero deixar minhas desculpas (pela demora, pelo capítulo e pelos reviews ainda não respondidos). Foi muito mal >.
Quero também agradecer a leitora Letícia Boldrini que abraçou Save Me com todo o carinho e amor. Sério, Letícia. Você é dez! Amei cada comentário e a linda, linda, linda e linda recomendação. Do fundo do meu coração: muito obrigada ♥
É isso aí gente, estou a ativa de novo, mas um pouco enferrujada, pedindo perdões atrás de perdões pelo capítulo bosta e pelos próximos que podem vir. Vou melhorar. O hábito faz o monge, afinal de contas kkk
Bjs ;)



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P.O.V Milah

A caminhada pela floresta durou o restante da noite. Nosso pequeno e estranho grupo se empenhou em fazer o mínimo de barulho o possível, no intuito de não atrair atenção desnecessária, uma vez que sabíamos que os homens de Lexa estavam por toda parte. Callen era o único não adepto a cooperar em nenhuma situação: ele resmungava mais do que o habitual e fazia com que os pés se arrastassem lentamente, fazendo tanto barulho quanto sua posição conseguia. Eu via os olhares raivosos que Bellamy, Lars e os demais lançavam à ele. Sabia que Callen corria um perigo incomensurável ali, porém também tinha plena noção de que, se o libertássemos, ele representaria igual ou maior ameaça.

No fim das contas, por mais que eu desejasse, ninguém conseguia entender minha real situação. Eu havia me aliado à Clarke porque senti, uma característica que Callen, desde nossa infância, sempre criticara, que ela precisava de ajuda e, sendo ou não do mesmo lugar que nós, ela era humana; uma que enxergava além de lanças e espadas, Clarke enxergava a vida e, no momento, a Terra necessitava apenas disso: de uma líder que entendesse o real significado de uma vida.

Callen sempre me criticou por ser impulsiva e tentar enxergar o melhor de cada pessoa, algo que, para ele, era um ponto fraco que me tornava vulnerável e influenciada pelos outros. Mas eu nunca vi desse jeito. Eu sabia que a dureza de Callen, tendo que se empenhar em manter tudo e todos sobre sua responsabilidade desde cedo, fazia com que ele não conseguisse raciocinar de outra forma a não ser logicamente. Eu não o culpava por isso. Pelo muito contrário, via isso como um trunfo, um que resguardava-o e o protegia contra as maiores decepções da vida. Eu o via como um grande iceberg, sabendo que no fundo uma pequena fogueira crepitava, mantendo escondido sentimentos que até ele mesmo desconhecia.

Compreender Callen me fez compreender a mim mesmo e o quanto eu me via cada dia mais ligada à ele, não como uma amiga ou conselheira, mas como sua parte ilógica, que ansiava em se fundir com a outra metade, tão desprovida de vivacidade quanto a primeira era de maturidade. Via-nos como o oposto um do outro, como o suporte que daria assistência quando momentos de tormenta se aproximassem.

Mas, por algum motivo desconhecido, algo em meu pequeno e frágil castelo de areia ruiu. Não que meu amor por Callen houvesse mudado, isso estava entranhado dentro de mim, não havia motivo para contestações. Mas a perda de Tristan mexeu com uma estrutura, até então, adormecida dentro de Callen.

O homem que governava com lealdade, sacrifício e amabilidade a pequena aldeia de Condor, aquele que me deixara ver sua verdadeira essência enquanto a escondia do mundo, aquele homem bom, embora oculto pelo seu manto de sobriedade, acabara por desaparecer.

Por mais que eu me empenhasse em procurar o antigo Callen nos olhos do prisioneiro à minha frente eu simplesmente falhava em minhas tentativas. Não porque eu não estivesse verificando corretamente, mas porque ele não estava ali.

Agora só existia um Callen cujo o coração sangrava à morte do irmão; que esperava, mais do que tudo, se vingar de tudo e de todos, independente do preço que teria de pagar para fazer isso.

Essa descoberta me deixava amedrontada. Minha cabeça tentava encontrar maneiras de amenizar o impacto todo daquela situação, mas nem se eu tentasse eu conseguiria cobrir a ferida de Callen.

Olhei para frente, os olhos sonolentos se contraindo um pouco, enquanto os primeiros raios do amanhecer surgiam no céu cinzento. Ao meu lado Jasper seguia calado, o rifle nas mãos tão confortavelmente posicionado que era como se já fosse uma parte dele. Olhando-o de relance eu via que não era apenas Callen que havia sido ferido nessa batalha sangrenta entre Grounders e os Sky People. Jasper era um exemplo claro de que a Terra não havia sido acolhedora com seus sentimentos; seu psicológico parecia devastado, cego perante as maravilhas do mundo.

Mas, ainda que Jasper parecesse um sobrevivente que preferiria não estar vivo, ainda assim ele conseguia me deixar esperançosa na maioria das vezes quanto a melhora de Callen. Embora Jasper houvesse se machucado e parecesse desinteressado em se curar, ainda assim os acontecimentos faziam-no agir, pareciam-lhe despertar, pouco a pouco, a vontade de persistir na vida. Naquele momento Jasper era o exemplo que eu queria guardar junto ao peito: um homem em reconstrução; se ele estava se reerguendo, por que Callen não poderia?

Diferente de Callen, Jasper possuía muitos à sua volta, isso era um fato incontestável. Mas, agindo com minha parte ilógica, aquela que Callen sempre detestara, eu sabia que poderia ser para ele todas aquelas pessoas que Jasper possuía. Eu seria seu tudo e o curaria de todas as dores; faria-o renascer das cinzas e ver novamente o sol brilhar além das nuvens; eu só necessitava mantê-lo em segurança até que compreendesse que sua vida não era apenas mais uma, mas a que me mantinha seguindo em frente, rumo ao desconhecido.

Eu ajudaria Clarke daqui em diante no que fosse necessário, jurei lutar ao seu lado e, até que ela dissesse o contrário, eu o faria. Mas, assim como jurei algo em nome de Clarke, também jurei em nome de Callen: eu o salvaria, seria a mão que o traria das trevas e o aninharia no colo, falando palavras suaves e reconfortantes.

—Você está bem?_um sussurro me fez cair na realidade, trôpega demais para responder de imediato.

Olhei para o lado e me deparei com os olhos esbugalhados de Jasper correndo de mim para todos os lados, como se estivesse enfrentando um inimigo invisível.

Assenti levemente, incapaz de falar algo inteligente.

Para minha surpresa, Jasper apertou o rifle ainda mais contra o seu corpo, o maxilar cerrado, enquanto falava entre os dentes palavras tão baixas quanto nossas pesadas silenciosas na mata firme.

—Não se preocupe. Eu não vou deixar que o matem._em outro momento eu teria agradecido e, até mesmo, deixado meus olhos marejarem à promessa, mas, enquanto olhava intrigada para o rapaz ao meu lado, eu vi algo que fez meu estômago revirar por completo: aquele olhar vidrado e estranho que vez ou outra Callen não conseguia ocultar estava estampado visivelmente no rosto de Jasper.

Naquele momento me perguntei se eu estava errada em todas minhas suposições sobre a melhora de Jasper e, para minha total histeria, percebi que sim: Jasper podia ser tão bom quanto Callen quando o assunto era atuação.

De um modo inesperado, Jasper parecia ver em Callen a pessoa que não conseguira salvar, aquela o qual o assombrava em seus sonhos. Ele estava prometendo-me que algo igual o que ocorrera consigo não aconteceria comigo e Callen; que meu amor estava protegido pelo cano de seu rifle, apontado inusitadamente para seus amigos.

Meu coração disparou de um jeito doloroso, porque eu sabia, mesmo que cada partícula do meu ser negasse tal coisa, que eu estava destinada a recuperar não só uma alma, mas duas; duas almas atormentadas que me estendiam a mão, implorando atenção.

Minha expressão deve ter demonstrado algum tipo de compaixão, porque vi a compreensão perpassar o rosto de Jasper por um segundo, fazendo-o adiantar-se em sua caminhada. Jasper era igual a Callen em muitos aspectos, principalmente no que dizia respeito a ajuda.

Fiz uma prece silenciosa para Tristan, enquanto minhas pernas continuavam protestando pela caminhada, pedindo que me auxiliasse a ajudar Callen encontrar o caminho para a razão. À Jasper pedi, fervorosamente, que, quem quer que fosse o causante de suas feridas, me ajudasse a coloca-lo no caminho certo.

Não sei dizer se foi o tempo ou apenas minha imaginação criativa ganhando um pouco de vida devido ao sono, mas um vento reconfortante me atendeu minimamente, como se sussurrasse uma promessa;

P.O.V Clarke

Perto do meio-dia todos estavam mais do que exaustos e uma parada abrupta foi exigida por Wick que, preocupado, pediu para que Raven desse um descanso para a perna machucada. Ninguém se manifestou com palavras, mas o alívio no rosto de cada um, enquanto se sentavam a sombra de algumas árvores, era óbvio.

—Quanto tempo ainda temos de caminhada?_perguntou Bellamy ainda de pé, um pouco afastado, como se perscrutasse o local por um segundo, tentando ter certeza de que estávamos sozinhos.

—Com sorte, e o resto do dia de caminhada, provavelmente estaremos lá no começo da manhã._a careta que Lincoln fez parecia mais um pedido de desculpas do que qualquer outra coisa, efeitos do cansaço.

—Eu preciso de um banho, pessoal. Sério._a voz de Miller rompeu o pequeno silêncio que formávamos. Sua roupa estava puída e suada, efeitos colaterais de horas caminhando e um sol bastante rigoroso brilhando acima de nossas cabeças.

—Não acredito que tenha um lago ou cachoeira aqui perto, Miller. Sinto muito._falou Wick, embora seu rosto esbanjasse um sorriso cômico. Raven sorriu para ele, parecendo fascinada apenas com o simples fato de alguém, ainda que inocentemente, conseguir achar alguma graça no meio de tantas desgraças.

Reconheci aquele gesto e meu coração, respondendo feito um louco, pareceu bater um pouco mais firme, como se estivesse, finalmente, vendo o pote de ouro no fim do arco íris. De um jeito bastante estranho, vi Wick refletir a imagem que Finn tinha para Raven: amigo, companheiro, família...

Por mais egoísta que possa parecer de minha parte, não consegui não fazer meu coração se sentir um pouco mais leve, como se estivesse retirando um pouco da grande carga de culpa que levava consigo. Nada, nunca, amorteceria a culpa da morte de Finn, mas, ainda assim, não posso negar que ver Raven sorrindo para alguém, sorrindo como costumava sorrir, me fez pensar que nem tudo estava perdido. Que ainda haviam ataduras para se remover e verificar. Raven não estava curada, mas sua dor já não tinha a mesma intensidade de outrora.

Perdida em pensamentos me sobressaltei por um segundo quando Bellamy, agora certo de que nenhuma ameaça espreitava, sentara-se no chão ao meu lado, um dos braços contornando-me pelos ombros.

Sentir sua pele entrar em contato com a minha era como levar um pequeno choque pelo corpo inteiro: começava devagar, alertando cada membro, e ia se intensificando, centralizando-se direto em meu coração, acalmando-me e me apavorando com igual intensidade.

Levantei o rosto para olhá-lo e me deleitei em seu sorriso o suficiente para esquecer de todos à nossa volta.

Eu poderia ficar horas olhando-o, tentando decifrar cada linha de seu rosto e a cor enigmática de seus olhos, tudo em Bellamy parecia me despertar por completo. Eu só não sabia em que momento aquilo havia acontecido, isso ainda me deixava muito curiosa porque, quando eu tentava me lembrar, apenas via ele e só ele, um todo do meu pequeno pedaço de esperança.

—Eu acredito que perdi um grande capítulo da história!_a voz de Miller se sobressaiu alta o suficiente para fazer não só eu, mas também Bellamy o encararmos alarmados.

Para nossa completa vergonha, todos os olhos faiscavam em nossa direção, uns conspiradores, como o de Milah, e tantos outros petrificados com a cena.

Raven parecia absurdamente feliz para falar alguma coisa. Era como se já houvesse imaginado situação semelhante em algum momento, o que me deixou não apenas com mais vergonha, como também abalada por perceber que até ela já havia visto o que eu demorei meses para perceber.

—Quando isso aconteceu?_a voz de Octavia estava neutra, sem nenhuma surpresa evidente.

Vi Bellamy controlar uma careta na direção da irmã, protelando se seria imaturo demais o gesto.

—Acho que “isso”_ele enfatizou com um olhar repreendedor para a mesma_não é novidade nenhuma para ninguém._sua explicação saiu tão incontestável que eu queria saber qual parte da história eu havia perdido. Aparentemente Bellamy e eu juntos parecia nada alarmante, apenas um fato.

Octavia suspirou alto, deixando claro, sem necessitar de palavras, o quanto se opunha.

—Não liguem pra ela, Octavia anda muito azeda nos últimos meses._ralhou Raven_Acreditem: eu estou muito feliz por vocês. Estava começando a achar que teria que dar uma de cupido._argumentou, arrancando algumas risadas.

—Vocês ficam bem juntos, de verdade._complementou Wick, parecendo-me a pessoa certa para Raven naquele instante.

—A Terra pode fazer milagres._brincou Monty encarando-nos, um sorriso genuíno no rosto_Eu, no começo, nunca pensei que Clarke e Bellamy pudessem formar um bom complemento. Na verdade eu apenas rezava para que eles não matassem um ao outro, caso contrário estaríamos ferrados!

A piada pareceu divertir à todos, até mesmo Octavia deixou um pequeno sorriso escapar. Jasper e Callen eram os únicos carrancudos, amargurados demais para encontrar um resquício de divertimento no que quer que fosse.

—Monty, você está sendo bondoso em sua fala._incitou Miller_Clarke e Bellamy foi gelo contra fogo desde o princípio. Parecia uma guerra sem fim, fadada a ser épica e sangrenta. A pior parte ficava destinada à nós, pobres mortais.

Não pude evitar, quando vi já estava indagando Miller, como que para proteger-me. Proteger-nos. Corrigi-me mentalmente. Agora estávamos no plural. Eu gostava de fazer parte de um plural, o singular nunca me pareceu tão errado como naquele momento.

—Como a pior parte ficou com vocês?! Eu e Bellamy fizemos das tripas coração para manter todos vivos até o fim. Não entendo essa equação estranha, Miller.

Bellamy me apertou junto à ele, rindo entre meus cabelos.

—Nós ficamos no meio do fogo cruzado, onde um tentava se sobrepor ao outro e mostrar quem mandava na relação._brincou, fazendo Monty engasgar com a água de tanto rir.

Por alguns minutos eu e Bellamy fomos a piada do grupo, uma vez que estávamos, enfim, assumindo uma relação em meio ao caos das guerras, mortes e disputas. Éramos corajosos, segundo nossos amigos.

Mas eu não me via corajosa; me via fraca na maioria das vezes. Ter Bellamy ao meu lado era o que me tornava forte, capaz de olhar para um futuro, um que era incerto e inseguro, mas, ainda assim, um futuro.

Por um momento apenas me permiti rir e aproveitar minha pouca idade. De alguma forma amadureci muito rápido, desde a Arca, quando encarei a morte de perto, através dos olhos do meu pai; fui negligenciada a uma solitária e mandada para a Terra para morrer. Por algum milagre liderei ao lado de Bellamy e sobrevivemos. Mesmo que a vida esteja um caos e o céu pareça que cairá sobre nossas cabeças a qualquer segundo, ainda assim estamos vivos e juntos. Até mesmo quando olho para trás, para os corpos que tive que enterrar e por tantos outros que matei ou assistir morrer, ainda assim apenas consigo me lembrar da mão reconfortante segurando-me do precipício certo; a mesma mão que agora me abraçava pelos ombros e me reivindicava como sua.

A resposta estava mais clara agora que todo um filme se desenrolava em minha mente: desde o momento em que Bellamy apareceu na minha frente, vestido como um soldado da guarda e sorrindo de forma insolente, desde aquele segundo eu me apaixonei. Não conscientemente, mas ainda assim me apaixonara. Talvez tenha sido sua petulância em me desacatar, talvez sua coragem em me ameaçar, ou, apenas, sua certeza em me manter segura, mesmo quando sua mente gritava outras ordens.

Aquilo me fazia entender que não me apaixonei sozinha; Bellamy esteve no mesmo barco que eu esse tempo todo. Nosso orgulho nos cegando demais para enxergar o óbvio.

Acreditamos amar outras pessoas para tentar conter essa fagulha estranha que insistia em queimar forte quando estávamos na presença um do outro.

Pressionarmos um ao outro era uma forma de extrair o melhor do que sabíamos que existia. Nosso relacionamento já era um relacionamento antes de imaginarmos que poderia ser. Nossa conexão não começou de forma física, como acontece com a maioria dos casais, nos aprendemos a entender o outro primeiro, antes de qualquer coisa. Aprendemos a segurar a mão e a criticar, porque falávamos com verdade e paixão, uma que desconhecíamos mais que ardia forte em nosso ser.

Olhando-o, enquanto sabia que todos estavam alheios, eu via com mais nitidez essa paixão transbordar e se transformar em amor; se mostrar em sua verdadeira forma e essência. Talvez tenha sido isso que Tristan testemunhou ao me amar, mesmo que em silêncio.

A dor da perda ainda era fresca em meu coração. Tristan foi importante de um jeito que eu não conseguia entender. Ele me salvou quando eu não tinha o interesse de fazê-lo. Meu amor por ele nunca poderia ser retribuído com igual fervor, porque, assim como fora com Finn, eu já amava Bellamy há muito tempo. Bem antes de qualquer um deles. Meu coração já era dele antes que Finn o reivindicasse e por muito tempo depois disso.

Eu que era a cega da história.

Se eu houvesse percebido tudo desde o princípio talvez Finn estivesse conosco e Tristan também. Seus sentimentos nem teriam ganhado forma, porque eu estaria cem por cento certa do que Bellamy significava para mim.

Nesse meio eu poderia ter salvo não apenas Raven de toda a dor que lhe causei, mas também Callen, que estaria regendo Condor com a mesma eficácia de sempre, com o irmão ao seu lado.

Isso tudo me fazia odiar-me com toda a sinceridade do meu coração, mas, por outro lado, os “e se...” não eram e nunca seriam uma garantia de que as coisas teriam mudado o percurso. Bellamy estava certo quando dizia que deveríamos nos concentrar no agora mais do que qualquer coisa. Que deveríamos ser devotos do tempo e aproveitar cada risada, cada beijo e cada abraço como se fossem os últimos.

A ameaça de Callen era assustadora, de fato. Ele colocava toda a minha felicidade em jogo. Ameaçava destruir a única pessoa que verdadeiramente importava para mim. Mas, mesmo assim, eu não via como um laço tão forte pudesse ser rompido por vingança. Callen, no fundo, deveria ser um bom homem. Tristan não seria tão devoto ao irmão se não fosse o contrário. Deixar Callen vivo era como um lembrete constante contra Bellamy, mas ao mesmo tempo era como se Tristan estivesse me testando, testando a lealdade que confiara à mim.

Eu não sabia dizer se, quando a hora chegasse, eu teria, ao menos, noventa por cento de certeza do que fazer, mas, naquele instante, eu apenas queria manter os dois em segurança.

Olhei para Callen, sentado a certa distância, com Jasper e Milah ao seu lado, os braços machucados pelas cordas.

Meu estômago afundou de culpa. Faziam apenas algumas semanas, mas eu me vi no lugar de Callen naquele momento, com Tristan prendendo-me em prol de minha própria segurança. De uma maneira estranha, Tristan arriscou a própria vida, sem pestanejar. Ele não teria agido de forma diferente se Callen estivesse em meu lugar.

Com um suspiro de desgosto eu me levantei, Bellamy e os demais ficaram atentos na mesma hora, percebendo algo de diferente em minha expressão.

Callen, que estava virado para o lado oposto, encarando a mata, não percebeu quando me aproximei e me abaixei, as mãos indo em direção as cordas que o prendiam.

No momento em que minhas mãos começaram a trabalhar nos nós da grossa corda Callen se empertigou atento ao movimento, embora alheio à pessoa que o fazia.

Não demorou para que ele estivesse livre das cordas. O estado de seus braços, machucados e arroxeados, não amenizou minha culpa. Tristan não havia chegado tão longe comigo e, ao olhar para Lars, percebi que ele entendia exatamente o que eu estava pensando naquele momento.

Milah e Jasper pareciam incrédulos, aliás, todos pareciam extremamente perplexos com o gesto, menos Lars e Bellamy.

Callen se virou devagar. Seus olhos deixaram claros que, de todas as pessoas ali, eu era a última que ele desejava piedade. Estava bastante evidente que, para ele, era preferível eu ter-lhe cortado os pulsos ao invés de agir de forma altruísta.

Quando voltei e me sentei perto de Bellamy seu semblante estava preocupado, provavelmente por pensar em minha segurança como algo primordial, acima de qualquer coisa; mas, e percebi que era isso que me fazia amá-lo ainda mais, Bellamy trazia um sorriso orgulhoso no rosto, como se soubesse, desde o início, que não esperava outra decisão vindo de mim a não ser aquela.

Ele aprovava o que eu fizera, porque ele, como eu, sabia o que era certo, embora houvéssemos agido de forma tão errada em outros momentos. Bellamy havia aprendido a diferenciar o altruísmo e a moral; o necessário do ato humano. Callen poderia ser um assassino, poderia estar atrás de vingança, mas era um ser humano acima de qualquer coisa. Mantê-lo preso igual a um animal não era a solução.

Bellamy beijou meu rosto quando percebeu que eu já não era mais a atração principal.

—Obrigado.

O agradecimento me pegou de surpresa, me fazendo olhá-lo interrogativamente.

Bellamy passou os dedos pelos meus cabelos, repousando-os em meu rosto, enquanto seus olhos queimavam fundo em minha alma.

—Obrigado por me fazer cada dia mais humano.

Senti meu coração parar brevemente, enquanto lágrimas persistiam em tentar fazer meus olhos ficarem marejados.

Como ele poderia me agradecer por isso, quando não tinha ideia do tanto que eu lhe era agradecida?

Os lábios de Bellamy se adiantaram até minha testa e ali repousaram por segundos; naquele gesto eu percebi toda a ingenuidade, a beleza e o amor que pode florescer entre duas pessoas.

Não sei quanto tempo ficamos assim até que todos começassem a se levantar e rumar novamente para Mount Weather. Embora Bellamy houvesse aprovado meu gesto para com Callen, ainda não estava pronto para pagar para ver o que podia acontecer. Durante toda a caminhada ele ficou do meu lado, atento ao caminhar despreocupado de Callen mais a frente. Mantive a atenção redobrada. Se era Bellamy que Callen queria ele teria de passar por cima de mim para conseguir e, sinceramente, seria uma morte sem arrependimentos, porque uma coisa era certa: uma vida sem Bellamy não poderia nem ser chamada de vida.


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Notas finais do capítulo

Bjs e até o próximo (não vou demorar, eu prometo!) ;*



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