Odisséia Cosmopolitana escrita por Lucas Raphael


Capítulo 3
Sebastião


Notas iniciais do capítulo

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Depois de mais de duas horas sentado em cima de uma rocha no acostamento da rodovia, Pedro havia chegado a três conclusões principais:

Primeiro: O carro, definitivamente, estava vivo.

Segundo: Ele diz ser um homem, humano, que não tem ideia de como chegou a sua atual situação.

E por fim, sabia também que sua viagem planejada jamais aconteceria.

Pedro era o único entre os amigos que vira logo de cara que algo estava extremamente errado. Errado numa percepção diferente de "o carro está vivo". Não acreditava que algo bom poderia vir daquilo, só conseguia pensar em executivos ricos e poderosos processando-os por um motivo qualquer, apenas para colocarem as mãos naquele objeto singular. Isso era apenas uma das coisas que lhe passavam na cabeça, que lhe indicava que algo estava extremamente errado.

Jamais se conformara do fato de que havia sido o último a integrar o grupo de amigos, já que PH sempre dava prioridade ao Drake e vice-versa. Por conta disso, havia aberto mão de suas vontades diversas vezes, e sabia também, que o fará novamente outras tantas vezes. Gostava dos amigos, mas havia uma amizade especial entre os dois que ele jamais poderia alcançar. Não se importava (muito).

Seu silêncio durante toda a conversa se devia em parte por não saber como expor seu pensamento contrário ao carro, e em parte por, mesmo sabendo que nada de bom viria dele, estar fascinado com a descoberta do carro vivo.

Seus amigos haviam contado sobre como conseguiram o pendrive, o mendigo, o bar, e o helicóptero.

O helicóptero que caiu no restaurante, vocês disseram que não parecia ser da televisão. Por que acham isso?— Perguntou o carro, tirando Pedro de seu devaneio.

— Não era. Os da televisão são bem pequenos e compactos. Aquele lá era um monstro capaz de carregar um tanque pendurado se quiser. – Drake disse enquanto andava para lá e para cá. Não conseguia ficar parado quando estava ansioso ou excitado.

Preciso ver esse helicóptero. Acredito que se eu souber de onde ele veio, talvez eu descubra o que aconteceu comigo.— O carro explicou.

Raphael parecia impaciente.

— Por que você não nos conta quem você é? Não quero ser rude, mas o carro ainda é meu e está atrasando nossa viagem.

Desculpe, mas não posso me comprometer agora. Se me ajudarem, inevitavelmente irão saber de tudo. Tem coisas que eu realmente não posso contar, mas também tem coisas que eu sei tanto quanto vocês.

Era um bom argumento. Drake estava decidido a ajudar a máquina, a curiosidade fora sempre uma de suas características mais marcantes.

— Os destroços estão no ferro-velho do Sebastião. Não poderemos ir lá tranquilamente sem tomar chumbo na cabeça.

— Nós vamos voltar para Sinop, então? Ajudar a Super Máquina mesmo? Que seja. Eu quero muito ver até onde isso vai dar. – Raphael completou.

Não escutaram música ao rodar o caminho de volta á cidade de partida. O carro (Jorge Chimithi, como se denominava) não havia controle sobre sua voz e sobre o rádio ao mesmo tempo, tornando o percurso bem silencioso.

Hãm, Raphael, não é?— Jorge comentou. Não era um homem tímido, mas as circunstancias não eram muito acolhedoras naquele momento.

— Eu mesmo. – Disse o jovem que estava no banco de motorista do carro, mas que não estava dirigindo.

O Luis disse que irão levar tiros no ferro-velho. Pode me dizer por quê?

Era uma longa história.

— Resumidamente, Raphael dormiu com a mulher do dono, e ele descobriu. – Contou Drake.

Em uma calourada aleatória, aproximadamente a dez meses atrás, Pedro havia desafiado Raphael a pegar a mulher mais feia que estivesse por ali. O desafio (ou teria sido o álcool?) animou-o tanto que ele decidiu aceitar. Junto deles havia alguns outros amigos, e um deles, o Daniel, disse que sabia exatamente quem era a tal mulher que o faria vencer.

Demorou muito tempo para que o grupo achasse essa mulher, pois procurar uma mulher extremamente feia, no meio de uma multidão de pessoas bêbadas, enquanto se está bêbado, no escuro, não é uma tarefa nada fácil.

Raphael já havia se arrependido de dormir com certas mulheres, mas o arrependimento daquela era diferente. "Quem dera fosse só por causa dela", havia pensado algumas semanas depois, mas havia também o marido dela. Havia levado ela para a casa dela após a festa, mas nada de concreto chegara a acontecer, pois os dois caíram no sono assim que começaram a se despir. Acordara ainda bêbado, cerca de duas horas depois com belo de um murro no meio da cara.

— Quem você pensa que é pra por a mão na minha mulher, seu escroto?! – Berrou o homem que acabara de lhe socar.

O nome do indivíduo em fúria era Sebastião. Ele era o dono do único ferro-velho da cidade que frequentemente era confundido com lixão. Pesava mais de cento e trinta quilos, e era quase careca. Essa raiva descomunal que estava sentido era muito frequente, já que quase todo final de semana sua querida esposa Elisângela ia festar, e sempre levava os homens para dormir em sua própria casa, onde coincidentemente vive seu marido.

Algumas vezes Sebastião ia com ela, beber, dançar e pular, mas ele sempre acaba perdendo-a de vista.

Desnorteado e sem ver nada, Raphael tateia desesperadamente para todas as direções tentando entender o que estava acontecendo. Estava bêbado, isso havia descoberto assim que tentou ficar de pé.

— Responde, seu merda! – Rugiu o marido, que só não o acertou novamente pois sua mulher havia se jogado em seu abraço.

— Querido! Esse homem tentou me estuprar! – Ela falara, sem convicção na voz.

Sebastião sabia que era uma mentira, mas fingia acreditar.

Agora um pouco mais lúcido, Raphael conseguiu pular pela porta do quarto e correu para fora da casa. Identificou-se no ferro-velho. Avistou ao longe o grande portão do local. Não sabia dizer ao certo a distância, podia estar a cinquenta metros de distância ou a quinhentos.

Correu o mais rápido que pode e atravessou o portão maior, que era destinado a entrada de veículos. Estava meio aberto, e do lado de fora estava o carro de Sebastião, com os faróis ainda ligados.

"Cadê o Dolly?" pensou por um momento. Ficou parado do lado de fora procurando por seu carro, até que o barulho de um tiro o fez se lembrar que devia estar em pânico. O homem havia saído da casa e agora estava com uma espingarda velha nas mãos, dando tiros na direção de Raphael.

O desespero voltou e ele se pôs a correr novamente, com a mente mais sóbria do que nunca. Correu por incríveis 20 minutos antes de chegar em um posto de gasolina. Não havia sido notado, pois os únicos dois funcionários do posto estavam conversando com um caminhoneiro que havia feito uma parada para abastecer. Cambaleou ofegante para o banheiro feminino onde caiu de joelhos e botou todo o vômito para fora.

Após expulsar tudo que havia na barriga, puxou a descarga e sentou encostado na parede. Olhou sua situação atual: Estava de calças jeans, e apenas de meias brancas, agora pretas. Passou a mão nos bolsos e sentiu seu celular sem bateria de um lado, e a carteira do outro. Ficou aliviado.

Num último esforço, esticou as mãos para a porta do banheiro e trancou-se. Caiu no sono assim que girou a chave.

Acordou no susto novamente, mas dessa vez era alguém batendo na porta do banheiro. Abriu a porta e viu uma senhora irritada, que era a faxineira.

— Desculpe a demora. Pode usar. – E saiu apressado. Passou em frente a conveniência do posto. Era quase meio dia, e tomou um susto quando percebeu que o homem atrás do vidro era ele mesmo. Estava todo sujo, com a cara toda ensanguentada. "Que merda", pensou.

Sebastião não conhecia Raphael, mas dois dias depois do ocorrido, ele o reconhecera com o nariz quebrado.

— Eu não dormi com ela, você sabe disso, cara. – Lembrou Raphael.

Jorge sabia que não adiantava insistir que eles não iriam contar. Era recíproco, eles só iriam compartilhar entre si o necessário, nada mais.

Pouco tempo depois, eles já estavam novamente em Sinop, com um plano em mãos.

— Temos que esperar até meia noite, pelo menos, para garantir que ele esteja dormindo. Então faremos um buraco na cerca e um de nós (Raphael deu uma rápida olhada para Pedro) entra lá pra pegar as chaves do portão. Ai é só por o Jorge lá dentro.

Ninguém discordou do plano.

Era um plano horrível, todos sabiam, mas ninguém propôs algo melhor. Jorge só precisava ver o destroço do helicóptero, não parece ser complicado. O que pode dar errado?

Longe dali, numa localização secreta...

(Conversa traduzida do Russo)

— Como está a operação, Major? – Chiou a voz vinda do comunicador. Esse meio era necessário para evitar espiões.

— Tudo certo. Minha equipe está enfrentando certas dificuldades para rastrear o programa, mas eu fui informado que em menos de 29 horas teremos uma localização precisa.

— Como assim?! Ontem você nos informou de que faltavam apenas algumas horas, e agora esse tempo aumentou? – a voz no comunicador começou a ficar impaciente.

— Como eu já disse, o aparelho parece estar em constante movimento, que torna o rastreio mais complicado. E agora parece que está sofrendo uma interferência que estamos tentando determinar o que é exatamente. Tenho certeza que vamos descobrir logo, senhor.

— Apesar de termos urgência, peço para que não se precipite e garanta que a missão seja bem sucedida. Calcule cada movimento seu e garanta nossa vitória. – Disse.

— Sim senhor, nós venceremos.

— É bom mesmo, para você e para todos nós. Sabe que só haverá uma operação de extração caso a missão seja concluída. Desligo. – E o chiado silenciou-se.

O Major ficou em seu aposento por mais alguns minutos. Estava decidindo se devia contar ou não para seus soldados que, eles só voltariam para casa se a missão fosse bem sucedida. E eles eram os únicos capazes e terminar isso. Talvez eles agissem melhor sob pressão. Decidiu dormir e pensar sobre o assunto no dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

Novo capitulo em breve!



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