Odisséia Cosmopolitana escrita por Lucas Raphael


Capítulo 10
Você


Notas iniciais do capítulo

Capitulo fresquinho!



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                Pedro entrou na casa e foi direto pro banho, estava exausto e só queria dormir. A ideia do carro falante parecia apenas um filme que ele viu no dia anterior, estava distante e já duvidava que tudo aquilo havia acontecido. Com os olhos fechados, sentiu a água quente limpar a sujeira do seu corpo. Então, sentiu a perna arder e junto com a dor veio a realidade veio a tona.

                Ele olhou pra baixo e viu que havia um enorme hematoma perto do seu joelho. Devia ter acontecido na fuga do ferro-velho, não tinha certeza. Estava bem roxo e levemente ralado, e pensou que se não estivesse de calça quando isso aconteceu, poderia ter sido pior. Foi doloso limpar o machucado, mas depois de um pouco de esforço ele conseguiu.

                Estava mancando agora que tomou consciência da dor. Depois do banho, ele foi até seu quarto, ligou o ar condicionado e fechou as cortinas. Pegou seu celular na cabeceira ao lado da cama e viu que marcava seis horas da manhã. Sentiu as pálpebras pesarem e colocou um despertador o mais rápido que pode, para meio dia.

                O despertador tocou quando deu meio dia. E tocou de novo, a cada cinco minutos, três outras vezes. O jovem sequer reagiu ao som do aparelho, estava muito cansado. Ele odiava passar a noite em claro e compensar isso de dia, acha que perdia muito tempo e o dia não rendia, além de que a dor de cabeça era insuportável. Estava certo, mas uma vez que isso acontecia era difícil voltar ao normal.

                Geralmente ele fazia isso durante as férias, trocava o dia pela noite. Junto com Luiz e Raphael, passava horas a fio bebendo Budweiser e jogando videogame. Desde os dezesseis anos, as férias eram em sua maioria, iguais. Algumas vezes algum deles deixavam os outros, mas sempre voltava quando as aulas estavam próximas de recomeçar. Muitas pessoas já jogaram com eles, ali, naquela sala.

                Tinha o Paulo, um amigo do Raphael que os visitava as vezes. Apesar de serem próximos, eles não conversavam com muita frequência. Sempre que se encontravam na rua ou na faculdade eles trocavam algumas palavras, de uma maneira tão natural que parecia que eles se conheciam há anos. Ele era sempre convidado para as festas e afins, e por isso tinha uma intimidade bem grande com o grupo.

                Alana e Irecema Moraes também já haviam jogado naquela casa. As duas primas eram amigas do Luiz e do Pedro, mas já faziam alguns meses que não os via. Elas eram inseparáveis, e quando Irecema começou a namorar Luiz, as duas visitavam a casa cada vez mais frequentemente. Alana foi a única das duas que conheceu o quarto de Pedro, mas ninguém além dos dois sabia disso.          

                Mas a convidada que ficou mais tempo por ali, foi Carolina. A garota de cabelo vermelho se sentia em casa quando estava com os amigos, e por isso se sentia à vontade de visita-los quando lhe dava vontade. Adorava jogar, mas não tinha nenhum tipo de videogame. Os quatro amigos, quando reunidos, só jogavam jogos em que todos podiam participar, seja algo cooperativo ou competitivo, estarem juntos era a melhor parte. Ela também foi a ultima pessoa a visitar a casa antes deles viajarem.

                Pedro acordou seis horas depois da hora que havia programado para despertar. Estava desnorteado e assustado, não sabia onde estava, o que tinha acontecido, que horas eram ou nem mesmo quem ele era. Depois de olhar para todos os lados e não reconhecer nada, ele recobra a noção de quem é. Ao se levantar da cama, ele sente todos os músculos do corpo doerem, pode sentir o cansaço em cada articulação. Pediu um lanche pois estava faminto. Jogou-se no sofá e abriu o Netflix. Enquanto assistia a um seriado para esquecer a fome que sentia, pensou nos dois amigos e pegou o celular. Não tinha nenhuma mensagem deles. Devia estar tudo bem. Se eles não dessem sinal de vida, ligaria para eles no dia seguinte.

                Assistiu alguns episódios da sua série, comeu seu lanche, e próximo da meia noite Pedro já estava cochilando novamente. Dessa vez ele acordou bem cedo na manhã seguinte.

                No primeiro dia, Pedro passou o dia todo em casa, jogando e assistindo. Ele não havia ligado para os amigos. Ele lembrou, mas preferiu aproveitar a ocasião, eram poucas as vezes que podia ficar sozinho.

                No segundo dia, Pedro saiu com outros dois amigos.

                - Onde eles estão? – Perguntou Paulo, depois de realizar sua tacada.

                Pedro se inclinou, mirou, e acertou na bola branca com um taco. Não conseguiu derrubar nenhuma das bolas coloridas da mesa.

                - Não sei cara. – Revelou. Em seguida, tomou mais um gole do  seu copo com cerveja. – Eles começaram a inventar coisa e eu não curti, ai fiquei em casa mesmo.

                - Boto fé. Não sabe quando eles voltam também? – Pediu Paulo. Então ele encheu seu copo e tirou a garrafa de cerveja do conservante. –

                - Acho que em breve cara, eles só iam resolver uma parada do carro e já iam voltar.

                - Resolver o que do carro? O que houve? Tá muito mal explicado isso... – Paulo perguntou, curioso.

                - Cara, relaxa! Vocês sabem como eles são, quando eles colocam uma coisa na cabeça demora pra eles saírem dessa. – Pedro contou. Em seguida ele jogou, encaçapando a ultima bola.

                Mais tarde, quando só estavam Pedro e Paulo jogando sinuca, eles decidiram ir embora.

                - Pega aqui. – Pedro entregou algumas notas para o amigo, que foi pagar a conta. E foi ao banheiro, mais uma vez.

                Logo estavam os dois no carro de Paulo, que estava dando a carona.

                - Você quer ir no cinema no sábado? Vou lá com a Alexandra. Posso pedir pra ela levar alguma amiga, se você tiver a fim. – Sugeriu Paulo.

                - Pode ser, cara. Só me fala quem é a menina antes, para eu pesquisar. – Pedro disse, soltando um risinho.

                - Vai estalquer ela? Nem sabemos ainda quem que a Alexandra vai chamar, e nem se elas vão querer - - Uma batida na lateral esquerda do carro interrompeu a fala. O carro foi jogado para a direita, bateu as rodas no meio fio e parou após percorrer mais trinta metros.

                Os dois ficaram desnorteados, sem entender o que havia acontecido. Paulo foi o primeiro a perceber: Mais a sua frente, o carro que havia causado a batida, havia batido no poste de energia. Ele tentou abrir a porta mas não conseguiu inicialmente pois o estrago havia sido grande, e depois de dois chutes, ela se abriu, com muita dificuldade.

                Pedro também desceu e tentou raciocinar, mas seu coração estava muito acelerado e sua mente ainda não havia se recuperado do susto. Pensou em ligar para a polícia ou os bombeiros, mas antes que o fizesse, uma mulher que morava em frente de onde estavam já havia ligado.

                Eles haviam saído do bar as onze horas da noite e só conseguiram chegar em casa as duas da manhã. Foram levados para a delegacia depois da colisão, e depois de muita burocracia, chegaram a conclusão de que o outro motorista estava drogado.

                - O cara vai pagar, obviamente. Mas vai demorar pelo menos algumas semanas pro carro ficar pronto, pela merda que o babaca fez. Não. Tudo bem. Boa noite, beijos. – Paulo desligou o celular. – A Alexandra estava preocupada, demorei pra responder ela aquela hora na delegacia mas ta tudo certo.

                - Que vacilo. – Pedro bocejou enquanto falava. – Cara, lamento pelo carro. Se ainda for ter o cinema no sábado me avisa. Boa noite pra você.

                - Beleza. Acho difícil agora, se carro. Boa noite, bro. – Paulo apertou a mão do amigo antes dele descer do táxi.

                Pedro entrou em sua casa, tão cansado e sonolento, que não percebeu algumas sutis mudanças dentro de sua casa, como por exemplo, algumas cadeiras em volta da mesa, cadeiras que geralmente ficavam espalhadas pela casa da maneira mais bagunçada possível, ou então o computador de mesa que ficava na sala. O monitor ficava virado levemente para a direita, já que os garotos da casa se inclinavam na cadeira para ficaram mais confortáveis, estava reto.

                Haviam outras inúmeras pequenas mudanças na casa, mas nenhuma foi percebida. Não era sua culpa, estava com sono de mais para perceber isso, e mesmo que estivesse bem sóbrio e atento, dificilmente iria notá-las.

                Tropeçou ao tirar os tênis com os pés, e quase caiu quando tirou o cinto. Adormeceu na cama enquanto tentava tirar as meias. 

                Pedro teve um sonho esquisito aquela noite. Lá, ele viu sua mãe, seu pai, Lucas e Raphael, todos dentro do carro, e ele já não falava mais. Eles todos discutiam dentro do veículo e Pedro tentava se aproximar para parar com a briga, mas quando mais tentava se aproximar, mais imóvel ele ficava. Ele acenava e chamava por eles, mas eles não paravam, e ingnoravam ele completamente, como se nem existisse. De repente Raphael, que estava no banco do motorista, liga a ignição e com um olhar maníaco acelera o carro na direção de Pedro. Seu coração acelera e ele sente tudo tremer.

                - PEDRO! – Ele ouviu gritar. Estava de olhos fechados, agoniado.

                - PEDRO! ACORDA! – Sendo sacudido mais uma vez, o rapaz começou a perceber que era um sonho. Seu peito doia com o coração acelerado e a cabeça doia. Abriu os olhos e ficou cego momentaneamente pois a luz do quarto estava acessa. Esfregou os olhos e tomou um susto, quando percebeu que não estava sozinho no quarto. Seria Raphael? Ou Luiz?

                - Presta atenção em mim, garoto. – Disse a figura. Pedro o encarou e tomou um segundo susto: uma pistola estava a centímetros do seu rosto. Tentou desviar o olhar e ver quem era o homem, e não o reconheceu. O homem estava com o rosto todo machucado,  como se tivesse brigado com um gangue. – Se veste, rápido.

                Pedro não queria saber se o homem estaria disposto a atirar nele, então se pôs a arrumar-se logo. Quando calçou os tênis, virou-se para o homem que encontrava-se  parado na porta. Pedro viu nos olhos do sequestrador uma rápida fagulha de reconhecimento; ele era familiar.

                - Vamos pra fora, agora. – Disse ele. Pedro foi logo atrás. – Nem pense nisso. – Pedro estava olhando para uma faca que estava em cima da mesa. – Escuta, muleque, preciso do seu carro. – Com a mão livre, ele tira uma bexiga com algum liquido dentro e joga na porta do quarto de Pedro. – E você vai me ajudar a achar os seus dois amigos. – Pegou outra bexiga e jogou no botijão de gás, lá na cozinha. – Entendeu? -  Enquanto o homem esperava que Pedro processasse tudo que acabara de dizer, sacou seu ultimo balão e jogou em cima do computador, e só então que Pedro percebeu que era gasolina.

                - Não! Não fa— A suplicia de Pedro para que ele não bote fogo na casa é interrompida quando a coronha da arma lhe rasga a bochecha, com um impacto doloroso.

                - Agora me dê as respostas! – O homem puxa Pedro pela gola e empurra para a calçada. Ele puxa um esqueiro, e depois de acendê-lo, joga no computador que inflama no mesmo momento. – Entra no carro!

                Pedro correu para o veiculo que estava estacionado na rua e entrou no carona.             Ainda muito assustado, ele viu o homem dar a volta e entrar no carro. Ele havia guardado a pistola, era a chance dele reagir e fugir, queria chamar a polícia. Olhou ao seu redor e percebeu que as ruas estavam vazias, e o sol estava nascendo. Mas um frio lhe impediu de fazer alguma coisa, o homem mesmo que não estivesse armado, tinha quase dois metros de altura e era bem grande, poderia nocauteá-lo com facilidade.

                - Onde vocês passaram antes de você se separar deles? – O motorista misterioso perguntou, aparentemente mais calmo.

                Não sabia se devia responder ou mentir, não queria envolver Carolina no meio desse problema. Mas se ele realmente só quer o carro, cooperar com ele não vai ser problema. Melhor perder o carro do que a vida.

                -Nós fomos ver uma amiga nossa... Luiz tinha se machucado... –Pedro estava nervoso demais para continuar, mas não foi preciso.

                - Ah, sim! Vamos visitar a Carolina...


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Notas finais do capítulo

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