Nem Todo Mundo Odeia o Chris - 3ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 7
Todo Mundo Odeia Hóspedes


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!
Sumida eu, né? E cara de pau também...
Só tenho algo a dizer a vocês... Estou de féeeeeeeeeeeriaaaaaaaasss!
Aproveitem o capítulo...
^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/594075/chapter/7

POV. CHRIS (Brooklyn - 1985)

“Vai ser horrível.” Lizzy riu do exagero do Greg.

“Só vai ser horrível se você ficar mentalizando isso.”

Estávamos sentados na calçada da escola, só esperando o sinal do fim do intervalo tocar, e ouvindo o Greg reclamar de como seria sua semana na casa da avó porque o pai ia viajar. Eu entendia o drama. Lizzy e eu já tínhamos ido na casa da avó dele em seu aniversário de 16 anos. Ele estava lá por outra viagem do pai e a gente resgatou ele do ‘martírio escoteiro’. Saímos para o cinema e depois uma pizza. Segundo ele, foi o melhor aniversário em eras.

Voltando ao presente, Greg fez uma careta e rolou os olhos, não acreditando no otimismo da Lizzy.

“Você já viu o que eu tenho que aguentar lá, então como consegue ser tão otimista? É ir contra a realidade.” Lizzy trocou um olhar comigo e eu soube que vinha algo.

“E se você não tivesse que ir para lá?” Ele riu, sarcástico.

“É o meu sonho. Mas eu ficaria aonde? Embaixo da ponte do Brooklyn?” Lizzy me olhou e sorriu, sabendo a resposta na ponta da língua.

“Claro que não. Ficaria lá em casa.”

Greg olhou para ela e depois virou para me olhar, como se questionasse se eu estava sabendo daquilo. Balancei a cabeça.

“Não me olha desse jeito. Só soube do plano cinco segundos antes de você.” Desviando os olhos de mim, ele encarou a Lizzy, esperançoso.

“É sério mesmo? Posso ficar na sua casa?”

“Claro. Tem espaço mais que suficiente. Chris já foi dormir lá em casa há mais ou menos um mês. Eu só tenho que falar com a minha mãe para não ser uma surpresa tão grande.” Greg sorriu como se tivesse ganhado na loteria.

“Valeu, Lizzy.”

Em um gesto rápido, ele a abraçou e ela retribuiu, sorrindo. Senti certo desconforto e desviei os olhos, desejando que o sinal do fim do intervalo tocasse repentinamente. Verdade seja dita, ele tocou naquele momento e eu observei eles se separarem com certo alívio.

"Então eu vou ligar para a minha mãe assim que acabar a aula para avisar que você está indo, ok?” Ele assentiu e nós levantamos para voltar para a sala.

O fim da aula não demorou muito e logo a Lizzy e o Greg já tinham ligado para os seus pais e eles haviam concordado em deixar o Greg passar a semana na casa da Lizzy. Sentindo um pouco de desconforto, achei melhor não falar nada sobre o assunto. Não queria que eles percebessem que eu não estava realmente feliz com aquela história. Durante a aula, eu até tinha pensado em dizer que o Greg podia ficar na minha casa, mas minha mãe não era a pessoa mais receptiva do planeta, principalmente quando era algo que trazia despesa. Torcendo levemente o nariz, tentei esconder meu desconforto ficando um pouco distante, encostado na parede da escola, enquanto eles acertavam os detalhes.

Poucos minutos depois, o Greg saiu correndo na direção da parada do ônibus dele, e eu me desencostei da parede, indo falar com a Lizzy.

“E ai? Ele não vai com a gente?”

“Não. Ele precisa passar em casa e pegar as coisas. O pai dele vai passar lá em casa e deixar ele quando for viajar.”

“Hm.” Resmunguei e, felizmente, ela não perguntou o porquê.

Fomos para casa, eu almocei rápido e corri para o Doc’s. Mais ou menos às quatro da tarde, a sineta do Doc's tocou e eu ergui a cabeça para ver os dois entrando. Lizzy falou com o Doc e apresentou o Greg para ele. Depois eles foram para o fundo da loja, onde eu estava colocando produtos nas prateleiras. Greg olhava tudo como se fosse a coisa mais legal do mundo. Lizzy olhou ele pelo canto do olho e sinalizou para mim. Ri de leve da cara de bobo dele.

“E ai? Vieram para passar meu tempo?” Ela deu de ombros, expressão fingida de descaso.

“Pode ser. O comediante lá de casa voltou a trabalhar, então a gente veio matar o tempo por aqui.”

“Seu pai voltou a trabalhar hoje?”

“Foi. Ah, o Greg quase foi roubado pelo Jerome.” Olhei para ele, cético.

“Me diz que você não deu um dólar para ele.” Ele me olhou, meio envergonhado.

“Não.” Lizzy riu, cutucando ele nas costelas.

“Teria dado se eu não tivesse te puxado para longe. O Jerome é o maior mala sem alça do bairro. O povo fala que é o Perigo, mas o Jerome é pior. Pelo menos o Perigo vende coisas.”

“Coisas roubadas, você quer dizer.”

“Segundo ele, são recuperadas.” Ri com sarcasmo.

“Ah tá. Vai nessa…”

Conversa vem e vai, eles se sentaram ao meu lado no chão e continuamos conversando enquanto eu enchia as prateleiras. Quando já estavam todas cheias, eles se despediram. Lizzy disse que ia dar uma volta no bairro com o Greg. Acenei um ‘tchau’ meio desanimado e observei eles subirem a rua pelo espelho da porta. Pelo canto dos olhos, vi o Doc me observando mas ignorei. Ele tinha mania de perceber coisas que não devia. E, como sempre, ele falava as coisas do nada.

“Sabe, Chris, eu tive uma vida cheia de altos e baixos amorosos, e acabei descobrindo que o ciúme é uma arma muito poderosa para revelar o que se sente.” Olhei para ele, sem entender realmente o que ele estava falando.

“Como assim, Doc?” Ele suspirou e continuou falando como se ensinasse o alfabeto a uma criança.

“Às vezes, nós sentimos coisas que nem nos damos conta de que sentimos. Só quando nos sentimos ameaçados é que realmente o sentimento aflora. Talvez você não consiga me entender agora, mas tenho a impressão de que logo entenderá.” Dito isso, ele disse que ia descer para fazer um sanduíche, me deixando ainda mais confuso do que eu já estava.

A tarde passou rápido depois da conversa estranha do Doc, e o assunto ainda me incomodava enquanto eu subia a rua em direção à minha casa.

Ele estava falando de que sentimento? O que eu sinto pela Tasha? Não, ele fala claramente quando é sobre a Tasha. Então era sobre o quê? De repente, um luz acendeu na minha cabeça. Será que ele estava falando sobre a Lizzy e o Greg? Logo que o pensamento me ocorreu, eu ri por dentro. A Lizzy não gostaria de um cara como o Greg. Não faz o tipo dela. Pensando melhor, qual é o tipo da Lizzy? Franzi o cenho, pensativo.

Não tinha muito a ver com o que o Doc tinha falado, mas eu fiquei curioso. Ela não gostava de caras idiotas; eu sabia disso porque ela nunca tinha dado a menor bola para o Jerome. Um segundo depois lembrei que ela até que tinha gostado do Bernard Yao. É… por mais que eu odeie admitir, ele é inteligente, luta bem e várias meninas da escola se matam por ele. Até a chata da Lisa gosta dele. Mas a Lizzy não gosta… ela gosta de outra pessoa. Ela mesma disse isso. Mas quem?

Aquela dúvida ainda me consumia por dentro mas, apesar da curiosidade, nunca tinha criado coragem para perguntar a ela. Afinal, se eu perguntasse ela ia querer saber como eu descobri sobre o telefonema do Yao e a conversa. Confusão demais para descobrir uma coisinha… Não vale a pena… Mas isso não queria dizer que eu não queria saber.

Acordei do meu devaneio quando escutei risadas próximas a mim. Olhei ao redor e percebi que estava ao pé da escada da calçada, em frente à minha casa. Lizzy e Greg estavam sentados nos degraus mais altos, conversando e rindo, e nem perceberam que eu tinha chegado. Rolei os olhos e subi os degraus, parando em frente a eles.

“Ia perguntar se sentiram minha falta, mas deixa para lá. Fizeram o quê?” Eles me olharam e, aparentemente, sem notar o leve sarcasmo na minha voz, Lizzy respondeu sorrindo.

“Primeiro fizemos os exercícios que a srta. Morello passou; ficar livre daquilo primeiro, claro. Depois eu levei ele para dar uma volta no bairro. Fomos à sorveteria, mostrei a ele onde é o cinema, passamos na confeitaria que o meu pai é obcecado, na van do Perigo...”

“Cara, seu bairro é incrível.”

Olhei rapidamente para o Greg e ele parecia mais feliz do que eu já tinha visto. Ignorei a súbita raiva e tentei não demonstrar novamente meu desconforto.

“Que legal. Bom… eu vou entrar.” Tentei passar por eles, mas Lizzy segurou a manga do meu casaco.

“Espera. Não quer ficar conversando um pouco? Ainda falta meia hora para o jantar.” Seus olhos quase me fizeram desistir da minha decisão, mas eu ainda estava meio chateado.

“Não posso.” Gentilmente, soltei sua mão do meu casaco. “Tenho que fazer os exercícios que a srta. Morello passou.” E, antes que eles pudessem dizer mais alguma coisa, eu subi os últimos degraus e entrei em casa, fechando a porta atrás de mim.

Naquela noite, eu usei todos os meus argumentos e minha lábia para minha mãe deixar eu jantar no quarto. Queria ficar sozinho e nem estava realmente com fome, mas se eu dissesse que não ia jantar, ela ia querer saber porquê e eu não queria falar a respeito. Após alguns minutos de ‘mãe, eu preciso estudar’ e ‘prometo que não vou sujar nada’, ela deixou. Subi para o quarto com meu prato, coloquei meus fones e me desliguei do mundo.

POV. LIZZY

Olhei ele desaparecer ao entrar em casa e senti que algo estava muito errado. Troquei um olhar com o Greg, mas ele deu de ombros.

“O que é que ele tem?” Balancei a cabeça.

“Não faço a mínima ideia. Talvez… ele só esteja cansado e um pouco frustrado porque tem que ficar até tarde fazendo o trabalho da srta. Morello.” Greg fez uma cara de ‘é possível’ e eu realmente quis acreditar que era isso, mas sabia que não era.

Pouco depois nós entramos para o jantar. A conversa rolou fácil, mas eu não estava realmente prestando atenção. O comportamento do Chris ainda me incomodava. Depois do jantar, ajudei minha mãe com a louça enquanto o Greg ficava conversando com o meu pai. Aparentemente, eles tinham alguns gostos em comum.

Louça lavada, dei boa noite para todos e fui para o meu quarto. Como estava sem sono, peguei um livro e tentei ler, mas meus olhos constantemente se voltavam para o sofazinho perto da parede. Será que ele já foi dormir ou ainda está fazendo o trabalho? Não conseguindo mais ler, coloquei o livro sobre meu criado mudo e fui me deitar no sofazinho. Escutei atentamente, mas não ouvi barulho nenhum por um tempo. Olhei o relógio: 21:40h. Não está tão tarde assim…

Logo que o pensamento me ocorreu, ouvi um suspiro pesado e sorri. Ele está acordado, mas… e se o Drew estiver no quarto? Mesmo assim resolvi arriscar. Queria ver como ele ia falar comigo.

“Chris?” Alguns segundos de silêncio e ele respondeu.

“Oi. Não foi dormir ainda?” Não havia alegria em sua voz, então eu fiquei apreensiva.

“Estou sem sono. O Drew está no quarto?”

“Não. Implorou para a mãe deixá-lo assistir o filme de hoje. Melhor, assim eu estudo em paz.” Senti a amargura em sua voz e compreendi.

“Ainda falta muito?” Outro suspiro.

“Falta. Mas eu estou cansado e acho que vou parar por aqui; termino amanhã. Boa noite.” Pisquei duas vezes, surpresa.

“Boa… noite…” Franzi o cenho, confusa.

Ele está me evitando? Não… É coisa da minha cabeça. Ele está apenas cansado. Só isso… Espero…

Os dias seguintes me revelaram que meu primeiro pensamento estava certo: ele estava realmente me evitando. Mas não só a mim, ao Greg também. Quando estávamos juntos, ele mal falava e, logo que chegávamos em casa, ele ia logo para o Doc’s sem nada mais que um ‘tchau’ ou ‘até mais’.

O comportamento dele estava incomodando o Greg também. Em um momento que eu não estava perto, Greg resolveu perguntar o que tinha de errado com o Chris, mas ele só desconversou e disse que era ‘coisa da cabeça dele’ e para o Greg não se preocupar. No dia seguinte, resolvi fazer algo parecido e também perguntei o que tinha de errado. Ele me olhou surpreso, mas logo se recompôs. Sua resposta foi praticamente a mesma, apenas com a adição de ‘só estou pensando algumas coisas’. Obviamente eu estava frustrada, principalmente, porque nos poucos momentos que tínhamos a sós para conversar ele se desviava.

Minha última tentativa foi na sexta à tarde, quando eu e o Greg fomos ao Doc para ver se arrancávamos algo dele. No final das contas, não deu em nada. Ele se desviou como sempre, dando a desculpa de que precisava trabalhar. Eu e o Greg nos encostamos no balcão, novamente frustrados, encarando-o enquanto ele desencaixotava alguns produtos. Ouvi o Doc suspirar ao nosso lado e olhei para ele, sentado atrás do balcão e escondido atrás do jornal.

“Que suspiro foi esse?” Ele abaixou levemente o jornal e apenas balançou a cabeça; eu estreitei os olhos. Me inclinei levemente sobre o balcão e falei com a voz mais baixa. “O que você sabe, Doc?” Ele me olhou, talvez decidindo se me contava ou não. Por fim, decidiu e dobrando jornal, falou no mesmo tom baixo que eu usei.

“Bem, eu acho que ele está…” Ele parou por alguns instantes, me olhando com uma expressão estranha, mas logo continuou. “Parece que ele está frustrado por vocês dois passarem tanto tempo juntos sem ele.” Analisei seu rosto, desconfiada.

Eu senti como se, na verdade, ele fosse dizer outra coisa, mas mudou de ideia no último segundo. Obviamente eu queria pressionar, mas achei que sua informação era válida. Eu e o Greg realmente estávamos passando muito tempo juntos, já que nenhum dos dois tinha que trabalhar. Ainda assim, balancei a cabeça, olhando as costas do nosso ‘assunto’.

“Por que não disse nada?” Falei em voz baixa; mais para mim do que para os outros dois ouvirem.

Parecia que eu tinha descoberto o motivo do mal humor do Chris, mas como consertar? Não é como se ele pudesse deixar de trabalhar para ficar com a gente… De repente uma ideia me ocorreu.

Andei até onde o Chris estava abrindo outra caixa e me abaixei ao seu lado.

“Oi?” Ele me olhou pelo canto dos olhos, mas nada além disso.

“Oi. Tudo bem?”

“Tudo. Vim te pedir uma coisa.”

“O quê?” Aproximei minha boca do seu ouvido e sussurrei só para ele ouvir.

“Depois que todos forem dormir hoje, vai até a minha casa?” Sua mão parou na metade do caminho em tirar um produto da caixa. Senti ele ficar tenso e sua respiração ficar desregular. Do meu ponto de vista, pude ver seus olhos encarando o chão fixamente.

“P-por que isso agora?” Sorri, sacana, embora ele não pudesse ver.

“Tenho uma surpresa para você. Na verdade, é minha e do Greg.” Seu corpo relaxou visivelmente e ele voltou a retirar os produtos da caixa, suspirando de leve.

“Não acho uma boa ideia.” Revirei os olhos, cansada daquele joguinho.

“Não é uma opção. Te espero no máximo às 23:30h ou amanhã vamos ter uma conversinha.” Me ergui e, ele finalmente olhou para mim com uma expressão meio chocada. “Sem discussão.” Dei-lhe as costas e fui pegar os ingredientes que eu precisava para a surpresa.

Quando fui pagar, Doc me olhava de forma curiosa.

“O que você está aprontando?” Sorri levemente para ele e o Greg.

“Sabe que dia é amanhã, Doc?” Ele franziu o cenho, pensativo, até que sua expressão se iluminou.

“Ahh. Sei o que está pensando. Foi no tempo certo, hein? Espero que funcione.”

“Vai funcionar.” Peguei as sacolas e empurrei o Greg para fora da loja comigo.

Ao subirmos a rua, ele me olhou curioso.

“Dá para me dizer qual é o plano?” Sorri.

“Claro. Sabe o que tem amanhã, né?” Ele pareceu um pouco confuso, e eu resolvi dar uma dica. “Terceiro sábado de Outubro, Greg.” Sua expressão de compreensão foi imediata.

“O Dia Mais Doce!”

“Isso. Quero fazer uma surpresa para o Chris.” Greg me olhou de um jeito suspeito, e eu tentei consertar minha frase. “P-para ele não se sentir excluído, como o Doc disse.” Ele riu levemente e balançou a cabeça.

“Lizzy, esqueceu que eu já sei que gosta dele? Não precisa fingir para mim.” Respirei aliviada, dando-me conta da verdade.

“Eu sei; é o hábito. Mas eu estou falando sério, Greg. Imagina o quanto é difícil para ele ter que trabalhar e fazer os trabalhos da escola à noite, já cansado, enquanto nós dois ficamos nos divertindo.” Ele pareceu pensar e assentiu.

“Deve ser difícil mesmo. O mal humor dele é compreensível, mas ele podia ter falado.”

“É, eu sei. Mas não significa que a gente não deva fazer nada a respeito.” Trocamos um olhar de entendimento mútuo e sorrimos.

“Ok. Qual é o plano?”

“Vou te contar e você vai ter que me ajudar.”

POV. CHRIS

Passei a tarde toda pensando no que seria a surpresa que os dois estariam preparando para mim. Vindo da cabeça da Lizzy, eu sabia que não conseguiria adivinhar mesmo se tentasse. Sem mais o que fazer, a ansiedade me perturbou até a hora de fechar a loja. Quando eu já ia embora, vi o Doc me olhar com um meio sorriso. Ele sabe de alguma coisa... Mas acabei deixando para lá. Quanto mais rápido eu chegasse em casa e fizesse o que tinha que fazer, mais rápido as horas passariam.

Fui me deitar cedo com a desculpa de que estava muito cansado. Não era mentira, mas normalmente eu não usava essa desculpa. Pouco a pouco eu fui ouvindo os barulhos da casa silenciarem, e a cada minuto eu ficava mais ansioso. Quando tudo havia ficado em silêncio por mais ou menos meia hora, eu me levantei. O relógio marcava 23:15h e eu sorri. Ainda estou dentro do prazo. Peguei o primeiro calçado que vi pela frente (sorte que era minha bota de frio) e desci, ainda descalço, para não fazer barulho. Ao pé da escada, eu calcei as botas e saí para o frio.

Para minha surpresa, nem estava tão frio assim, mas eu nem liguei muito. Logo entrei na casa dela e subi as escadas devagar. Já em frente à porta do quarto dela, respirei fundo e abri devagar. A luz estava acesa e rapidamente encontrei os dois sentados no tapete, entre a cama e o guarda-roupas.

Assim que fechei a porta atrás de mim, eles viraram para me ver. Greg olhou o relógio e sorriu, aparentemente aliviado.

“Cara, achei que você não vinha mais.” Fiz uma careta fingida.

“O pessoal demorou a dormir hoje.”

Tirei as botas e fui me sentar junto a eles no tapete, fechando nosso triângulo. Percebi, aliviado, que a Lizzy vestia por pijama uma calça de moletom azul claro e uma blusa normal branca. Encarei os dois, esperando algo.

“E ai? O que era a surpresa?” Eles se olharam, e a Lizzy começou a falar.

“Bom, você sabe que dia é...” ela se virou para ver o relógio sobre o criado mudo. “... daqui a quarenta minutos, não é?” Franzi o cenho, levemente confuso.

O que tem de especial dia 19 de Outubro? Não consegui lembrar de nada e balancei a cabeça.

“Não sei.”

“O Dia Mais Doce.” É verdade...Terceiro sábado de Outubro… Não que eu normalmente comemore…

“Pensei que fosse parecido com o Dia dos Namorados.” Vi ela ficar levemente vermelha mas, mesmo sorrindo por dentro, deixei passar. Não ia provocar ela com o Greg ali. Aquilo era algo só nosso.

“É meio parecido mas, no Dia Mais Doce, amigos também dão presentes uns aos outros. Por isso nós tivemos a ideia de fazer isso para você.”

“É, cara. A gente entende que as coisas são difíceis para você, mas estamos aqui para ajudar, não é? Por isso somos amigos.”

Vendo esse esforço deles, senti a consciência pesada por ter evitado os dois e ficado mal humorado. Eles não mereciam isso. Sempre estávamos juntos e sempre ficaríamos juntos. Sorri de lado e me inclinei para frente, abraçando os dois.

“Valeu. Eu sou idiota, às vezes.” Senti eles me abraçarem de volta e, de repente, o peso que eu vinha sentindo a semana toda desapareceu.

Soltei o abraço e observei a Lizzy se inclinar para o lado e pegar uma bandeja coberta de cima da cama, que eu nem tinha visto que estava lá.

“O que é isso?” Eles sorriram, disseram em uníssono.

“Nosso presente.”

Curioso, tirei o que cobria a bandeja e vários biscoitos de chocolate com gotas de morango apareceram. Meus preferidos… Tive que me forçar a rir baixo, já que as gotas formavam uma carinha em cada biscoito. Vi que eles me olhavam em expectativa, então peguei um e dei uma mordida.

Sinceramente, não sei o que as mãos da Lizzy têm, mas tudo o que ela cozinha fica incrivelmente delicioso. Acabei soltando um leve gemido de satisfação e vi o sorriso dela aumentar.

“Está realmente muito bom.” Ela me olhou com uma expressão esnobe fingida.

“É claro que está. Eu tenho 16 anos e sou perfeitamente capaz de fazer meus próprios biscoitos.” O Greg começou a rir, e eu resolvi entrar na brincadeira.

“Seus biscoitos? Não tinha dois minutos e eles eram meus.” Ela riu também e eu acompanhei. “Mas é sério, eu ‘tô sacando a de vocês. Estão querendo me engordar, é isso.” Parando de rir um pouco, o Greg resolveu soltar a dele da noite.

“Você fala como se isso fosse possível.” Dei de ombros, embora rindo.

Tive que dar crédito à resposta dele; por mais que eu comesse, parecia que engordar não estava nos planos do meu corpo.

Continuamos conversando e rindo até que eu perdi a noção do tempo. Se eu não soubesse que me ferraria no dia seguinte quando minha mãe acordasse e não me visse em casa, eu teria ficado lá até de manhã. Mas não dava. Minha vida já era difícil demais sem arrumar problemas com a minha mãe e os pais da Lizzy.

Por isso, quando vi que o relógio marcava quase uma da manhã, achei melhor ir para casa. Mas antes…

“Obrigado.” Falei de repente. Eles me olharam um pouco surpresos, mas logo sorriram. “Obrigado por me aturarem sendo chato, às vezes incompreensivo…” Senti meu rosto esquentar levemente, mas ignorei. “Mas… sabem o que é mais importante? Nós três. Nossa amizade, um ajudando o outro. É mais importante que todos os nossos problemas. Somos inseparáveis.”

Eles assentiram, sorrindo, e nós tocamos os punhos.


***


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sei que não mereço, mas... reviews?