Nem Todo Mundo Odeia o Chris - 3ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 22
Todo Mundo Odeia o Baile da Nona Série


Notas iniciais do capítulo

Genteeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!
Hisashiburiiiiii!!!!!!!! Faz muuuuuuuito tempo mesmo desde que vim aqui!
Desculpe fazer vocês esperarem tanto. Eu estava realmente sem tempo. Misture vida acadêmica, trabalho, casamento e trabalhos freelancers que vocês têm uma ideia de como está minha sempre louca vida.
Mas sem mais delongas! Aproveitem o cap. que eu escrevi com tanto carinho depois desse hiato não planejado.

Enjoy o/



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POV. CHRIS (Brooklyn - 1986)

“Bem, turma, revisem a matéria e não descuidem dos estudos. Os exames finais estão próximos.” Todos resmungamos em concordância à medida que juntávamos nossas coisas. “Como sabem, é seu último ano nessa escola. Ano que vem todos vocês estarão no ensino médio. Devo dizer que fiquei muito surpresa com o progresso de alguns de vocês, principalmente o seu, Chris. Parabéns por ter conseguido superar seus traumas psicológicos e emocionais. Viver na sua situação não deve ser fácil.” Revirei os olhos e respondi com o máximo de sarcasmo que consegui reunir.

“A senhora não faz ideia do que eu tenho que aguentar.” Ouvi as risadas baixas de Lizzy e Greg, mas contive a minha.

Srta. Morello não notou meu sarcasmo e apenas assentiu levemente com a expressão de pena. Logo depois, retomou o que dizia.

“Bem, como é tradicional da nossa escola, vocês terão um baile nessa sexta-feira. Vocês terão esses quatro dias para organizar tudo e arrumar a escola. Juntem-se com as outras três turmas e planejem tudo. A partir de agora até o baile vocês não terão aula, mas na semana que vem serão suas provas finais. Então, divirtam-se, mas estudem.”

Enquanto ela falava, os alunos da sala começaram a murmurar entre si, especulando quem levaria quem ao baile. Ao pensar nisso, um frio desceu pelo meu estômago. Eu queria ir com a Lizzy, mas ela aceitaria? Se aceitasse eu tinha certeza que seria só como amiga, mas eu não sentia vontade de ir com mais ninguém. Colocando de forma infantil: se não fosse com ela eu não iria.

Pensei um pouco, pesando as opções. Se ela dissesse sim seria perfeito, mas se ela dissesse não… Eu já havia levado um não pior, e havia começado a tentar controlar meus sentimentos perto dela. Além disso, não era como se fosse a primeira festa que iríamos juntos. Ok, eu vou convidar ela… Mas como nem tudo para mim eram flores…

“Turma, silêncio. Acalmem-se.” Os alunos, com relutância, se calaram e ela continuou. “Há algo mais que precisam saber sobre o baile. Ao contrário dos anteriores, a vice-diretora resolveu fazer algo diferente nesse. Ela percebeu que as turmas da nona série não interagiam entre si, então, para poder integrá-los melhor, ela decidiu que os casais do baile serão formados por sorteio.” MAS O QUÊ???!!!

Com a notícia, os outros alunos começaram a reclamar da ideia da vice-diretora. Eu estava furioso demais para falar. Quando eu me resolvo a convidá-la, algo dá errado. Só pode ser carma mesmo!

“Turma, eu já pedi silêncio.”

Um garoto que sentava nos fundos falou o que todos estavam pensando:

“Como podemos ficar calados se você acabou de estragar nosso baile?”

A sala toda concordou. Srta. Morello suspirou e gesticulou para que falassem mais baixo.

“Sinto muito, mas é decisão da vice-diretora. Não posso fazer nada.”

Dito isso e ainda com os resmungos dos alunos, ela pegou um pote de vidro sem tampa com vários papéis dentro.

“Vou começar o sorteio, então, por favor, cooperem.” Os resmungos continuaram, mas ela prosseguiu mesmo assim.

Em menos de 10 minutos todos tinham seus pares sorteados, e eu estava mais furioso que nunca. Greg tinha sido sorteado com uma garota da turma D chamada Thaís, eu havia sido sorteado com uma garota da turma C chamada Carie, e, para o meu mais profundo ódio, Lizzy tinha sido sorteada com o asiático.

O sinal do fim da aula tocou e todos se levantaram para sair. No corredor, as outras turmas da 9ª série pareciam discutir a mesma coisa. Chegando aos armários, virei para a Lizzy e o Greg.

“Que ideia ridícula foi essa?” perguntei, sem paciência. Greg resmungou, nada feliz.

“Nem me diga. O que eu vou dizer para a Meggie? ‘Meg, desculpa não te levar ao baile. É que vou com outra garota’? Qual é?”

Olhei para a Lizzy, esperando sua opinião, mas ela parecia não ter escutado nada do que tínhamos falado. Sua expressão era meio aérea, e ela sorria levemente. Um pouco irritado, chamei seu nome.

“Lizzy?”

Ela despertou e me encarou.

“O que foi?”

“Ficou tão feliz que vai ao baile com o asiático que está sonhando acordada?” Perguntei com o sarcasmo e ainda mais irritado, mas ela fez uma careta para a minha pergunta.

“Nada feliz. Não estou a fim de ficar recebendo olhares assassinos da Lisa.”

“Ela ainda gosta do Yao?” Greg perguntou.

“Eles estão saindo tem uns dois meses.”

“O QUÊ?!” Eu e Greg dissemos juntos.

“Então”, me apressei em perguntar, “ele não gosta mais de você?”

“Ao que tudo indica, não” ela respondeu e pareceu aliviada com aquilo.

Não tanto quanto eu estou aliviado. Menos um…

“Então a Lisa tem razão ao reclamar”, Greg disse, mas Lizzy sorriu.

“Não vai reclamar se o que estou pensando der certo.”

Me animei ao saber que ela planejava algo.

“E o que é?”, mas ela afagou meu braço com uma expressão de desculpas.

“Dessa vez vocês ficam fora. Já estão meio queimados com a vice-diretora, e você, Chris, acabou de voltar de uma suspensão.” Fiz uma careta, mas sabia que ela estava certa.

“Ok”, dissemos eu e o Greg.

“Vocês vão saber se der certo. Agora tenho que ir. Vejo vocês no ginásio.”

Ela se despediu e seguiu na direção da sala do jornal. Troquei olhares com o Greg e fomos para o ginásio. As outras turmas já deviam estar lá discutindo os detalhes do bendito baile.

POV. LIZZY

Entrei na sala do jornal e dei de cara com a Lisa sentada à sua mesa. Quando me viu, suspirou alto e, revirando os olhos, se ergueu e veio na minha direção.

“O que você quer aqui? Veio jogar na minha cara que vai ao baile com o MEU namorado?” perguntou, impaciente e com os olhos em brasa. Realmente, olhar assassino.

“Não, Lisa,” respondi calma. “Para que fique claro para essa e futuras referências, não tenho o menor interesse no Yao. Meu alvo é mais bronzeado.”

Após alguns instantes de hesitação e dúvida, ela relaxou.

“De qualquer forma, o que quer?” perguntou, agora de forma não hostil.

“Propor uma trégua. Colaboração para interesses mútuos. Porque a vice-diretora foi uma garota muito má”, disse, sorrindo de forma maligna.

Ela entendeu minha insinuação e sorriu de forma semelhante à minha.

“Sou toda ouvidos.”

Alguns minutos depois, e com tudo arranjado, saí do jornal já me sentindo aliviada. Tão confiante que, no caminho até o ginásio, até comecei a especular que vestido eu usaria no baile.

Todos já estavam reunidos no ginásio, discutindo o tema do baile. Fui para onde Chris e Greg estavam sentados, no fundo da quadra. Eles me observaram em expectativa quando me sentei ao seu lado na arquibancada.

“O que foi?” perguntei, disfarçando o sorriso.

“Para de esconder. Fala logo.” Chris replicou, cutucando minhas costelas.

“Nada demais”, falei, dando um leve tapa na mão dele. “Lisa concordou com o plano. Deve dar certo até irmos embora.”

“Não vai contar pra gente, não é?” Greg perguntou, e eu neguei.

“É melhor assim.”

Eles deram de ombros, conformados.

“Mas o que decidiram até agora?” perguntei, apontando para o aglomerado de alunos mais na frente da quadra.

“Sei lá”, disseram os dois juntos.

“Ok, eu vou lá ver. Vocês estão tão interessados…” comentei com sarcasmo e sorri, me erguendo e indo até a multidão.

Com 10 minutos lá na frente, descobri tudo o que precisava sobre o baile e voltei para junto deles.

“Bom”, comecei, sentando entre eles, “o baile será sexta às 18h, traje social casual, e todos têm que ajudar na decoração.” Eles fizeram leves caretas, mas aceitaram.

Ficamos conversando abobrinha a maior parte do tempo e esperando os outros alunos resolverem o que iam realmente fazer. Quando pelo menos algo da decoração ficou decidido, alguns meninos foram chamados para ajudar no “pesado”: trazer as caixas com algumas luzes e outros materiais que iriam precisar para arrumar o ginásio. Chris e Greg estavam entre os solicitados, então acabei me misturando com algumas meninas que discutiam que cores seriam usadas.

Passamos o resto da manhã entre decisões e carregar caixas. Eu olhava ansiosamente para a entrada do ginásio para ver se Lisa chegava com alguma notícia, mas nada dela até quase o meio dia. A cabeleira negra passou pela porta e logo me procurou com os olhos, dando um sorriso discreto quando me encontrou. Entendi e apenas aguardei mais um pouco.

Continuei ajudando Chris e Greg, entregando as luzes enquanto eles penduravam, até que um barulho agudo nas caixas de som do ginásio nos fez parar. A voz da vice-diretora saiu estranha e meio trêmula; ela gaguejava um pouco.

“B-bom dia, alunos. O a-aviso que darei agora é especificamente para os alunos da 9ª série.” Ouviu-se um suspiro e ela continuou. “Por motivos… t-técnicos,... ah… o sorteiro do baile foi cancelado. Ahh… escolham seus pares como bem entenderem. Isso é tudo.” Outro barulho agudo e tudo ficou em silêncio.

Todos os alunos da 9ª série no ginásio se entreolharam, tentando compreender a súbita mudança de ideia da vice-diretora, mas como aquilo realmente não importava, começaram a comemorar. Com os olhos, procurei Lisa no meio da bagunça; ela também me achou e me cumprimentou levemente com a cabeça. Fiz o mesmo e observei enquanto ela virava as costas e ia até o Yao, também ocupado com as luzes do outro lado da quadra.

Senti os olhos de Chris e Greg sobre mim e sorri descarada; o sinal do almoço tocou nos dando uma pausa.

“Podem me agradecer pagando meu almoço hoje.” Eles assentiram com sorrisos idiotas e nos encaminhamos para fora do ginásio.

POV. CHRIS

Antes de ir almoçar, eu e Greg fomos ao banheiro para lavar as mãos, já que as luzes da decoração estavam tudo menos limpas.

“Cara, a Lizzy é demais. Me salvou de uma discussão com a Meggie, principalmente agora que acabamos de nos acertar.” Sorri de canto, com uma pequena esperança acendendo no peito.

“Queria convidá-la.”

“Então convide.” Revirei os olhos. Pra quem tem namorada tudo é simples.

“Não é tão fácil assim. Ela já me deu o fora uma vez. Você sabe.”

“E você sabe que eu não concordo com esse seu conceito de ‘fora’. Além disso, é só um baile. Quantas festas vocês já não foram juntos?”

“Várias, mas não é a mesma coisa.” Ele deu de ombros, enxugando as mãos.

“Se você diz. Mas se não convidá-la vai se arrepender, porque outro com mais coragem vai.” Estanquei a meio caminho da porta. Eu não tinha parado para considerar que ela poderia ser convidada por outro cara. Eu tenho que convidá-la antes que outro faça isso.

“Tem razão. Não vou perdê-la para outro.” Greg sorriu e fez sinal para irmos.

Já no corredor que dava para o refeitório, ouço uma voz desconhecida chamar meu nome.

“C-Chris?” Viro, curioso, e dou de cara com uma garota loira que, se eu me lembrava bem, era da turma C.

“Ah… oi?” Ela olhava para o chão e torcia um pouco as mãos, parecendo nervosa.

“E-eu q-queria sabe-er se não quer i-ir ao b-baile comig-go?” O QUÊ?!

Entrei em choque por alguns segundos e não respondi, o que fez ela finalmente olhar para mim. Pelo canto dos olhos, pude ver um Greg tão chocado quanto eu.

“A-ah…” tentei encontrar voz para responder. “Eu… sinto muito, mas só tem uma pessoa com quem eu gostaria de ir ao baile. Desculpa.”

Ela me olhou com os olhos tristes, e eu me senti mal por rejeitá-la - eu sabia como doía -, mas eu não podia agir de outra forma. Após alguns instantes ela assentiu e se despediu com um sussurro. Observei-a ir embora com certo peso na consciência, mas não tinha jeito. Só acordei quando Greg me cutucou as costelas.

“A gente não tá sonhando não, né?” Balancei a cabeça.

“Acho que não. Isso foi estranho.” Ele assentiu.

Recomeçamos a andar até o refeitório, onde a Lizzy devia estar nos esperando, mas minha cabeça ainda estava na expressão triste da garota que nem o nome eu sabia. Ainda me sentia mal, mas, ao chegar ao refeitório e ver a Lizzy sorrindo, o sentimento ruim passou. Eu sentia muito pela garota, mas era com a Lizzy que eu me importava mais. Já estava mais que na hora de eu lutar pelo que eu queria.

À tarde, voltamos para o ginásio para continuar com a decoração do baile. Admito que mal prestava atenção ao que estava fazendo, ficando apenas no piloto automático enquanto minha mente tentava encontrar uma forma não estranha de convidar a Lizzy para o baile. Como nada me vinha à cabeça, decidi fazer do jeito mais simples, mesmo que só pensar nisso já me fizesse suar frio. O medo de ser rejeitado outra vez voltava e por alguns segundos eu pensava em desistir, mas só por alguns segundos. Ela valia a pena o risco. Eu só esperava que eu não estragasse tudo.

Lá pelo fim da tarde, fomos liberados para ir para casa e, enquanto esvaziava meu armário, eu sentia meu estômago revirar. No armário ao lado do meu, ela também juntava suas coisas. Na calçada da escola, Greg se despediu de nós, seguiu na direção da sua casa, e ficamos sós. Respirei fundo, reunindo coragem, e falei:

“Lizzy, eu-”

“Chris, eu-”

Nos encaramos por alguns segundos e acabamos sorrindo sem graça um para o outro.

“Pode falar primeiro”, pedi e ela assentiu, parecendo meio nervosa.

Tive um breve déjà vu com o acontecimento de mais cedo, mas não levei tanto a sério.

“A-ah”, ela começou. “Eu… queria saber se…” ela parou, respirando fundo “... você quer ir ao baile… comigo.”

Era o segundo choque naquele dia, mas o primeiro nem se comparava a esse. A garota que eu gostava estava na minha frente, com o rosto vermelho, os olhos no chão, me convidando para ir ao baile com ela. Senti meu corpo inteiro formigar e minha cabeça rodar levemente. Meu coração batia como um louco. Ela ergueu os olhos para mim, hesitante com a ausência de resposta, e vi seus olhos ficaram tristes.

“Tudo bem se você não quiser ir, eu-” Não!

“Eu quero!” falei, meio desesperado que ela desistisse.

Ela me encarou com um leve sorriso e eu retribui.

“É que…” comecei, coçando a nuca, sem graça, “eu ia te pedir a mesma coisa.”

A expressão de surpresa dela me fez sorrir, e sorri ainda mais quando ela virou o rosto para o lado, vermelha. Parece que eu ainda consigo deixá-la envergonhada. Cedendo ao instinto, puxei-a pelo pulso e a abracei, sem me importar com os olhares dos outros alunos que ainda saiam. Ela relaxou e me abraçou de volta, escondendo o rosto no meu peito, e eu sorri idiotamente.

“A gente pode ir?” Sua voz veio abafada.

“Claro.”

A meio caminho do carro, ela me jogou as chaves em um pedido mudo para que eu dirigisse. Sorri mais uma vez, sabendo que ela só não dirigia quando estava nervosa.

Chegamos em casa em meia hora e, antes que eu saísse do carro, ela me segurou pela manga da camisa. Virei para olhá-la, curioso.

“Ah… Cibele e David estão vindo para almoçar comigo na sexta. Como não temos aula… você quer vir?” Assenti, ainda mais feliz.

“Claro. Que… horas eu posso passar na sua casa para irmos?”

“Às 17h. Cibele e David já terão ido para a casa dos meus pais a essa hora.” Assenti, beijando seu rosto antes de sair do carro, apreciado seu suspiro e o olhar de surpresa.

Subi as escadas no automático e só me dei conta de onde estava quando caí na minha cama. Suspirei sem saber se estava mais feliz ou confuso. Primeiro ela me rejeita e agora me convida para o baile. É algum tipo de compensação?... Ou pena? Senti meu coração afundar com o último pensamento. A última coisa que eu queria é que ela ficasse comigo por pena. Grunhi impaciente. Por que tudo é tão complicado? Eu só quero que ela goste de mim.

POV. LIZZY

Os dias seguintes passaram relativamente rápido, principalmente porque não estávamos tendo aula, só ocupados com os preparativos para o baile. Chris e eu não havíamos mais tocado no assunto de irmos juntos desde que contamos ao Greg, mas já era algo certo entre nós. Eu preferia assim, já que só de olhar para ele e lembrar que ele me convidaria se eu não o tivesse convidado me fazia corar.

A decoração ficou pronta na quinta-feira à tarde como o previsto, e como os outros detalhes não eram responsabilidade da nossa turma, a Srta. Morello nos dispensou de ir na sexta como eu imaginei que dispensaria.

Logo cedo pela manhã, Cibele e David chegaram. Abracei David e agarrei minha irmã com cuidado, afinal a barriga já estava grande.

“Nossa, Ci, tem certeza que é só um bebê?” Ela e David riram.

“Sim. O médico confirmou, mas ele vai ser bem grande.”

“Claramente. Já está desse tamanho com 7 meses.”

“Chris vai vir?” David perguntou.

“Sim. Deve estar chegando.”

Mal fechei a boca e ouvimos batidas na porta da frente. Não precisei ir abrir; logo ele apareceu. Os três se cumprimentaram e Chris deu os parabéns aos dois pelo bebê; era a primeira vez que se viam desde que soubemos. Depois nos sentamos no sofá e colocamos a conversa em dia.

A empresa deles estava indo bem e até haviam conseguido um sócio mais influente. Cibele deu mais alguns detalhes da gravidez, enquanto David fingia tédio ao descrever os desejos absurdos que Cibele tinha, arrancando risadas de todos nós. Chris e eu contamos da minha emancipação e como tudo estava sendo desde então. Cibele pediu desculpas por não ter vindo me ver antes, mas eu disse que estava tudo bem. Afinal, eles tinham seus próprios problemas. E eu não precisei carregar esse fardo sozinha, pensei, olhando de canto para o Chris.

POV. CHRIS

Perto das 11h, Lizzy e Cibele foram para a cozinha, sob protestos da ruiva que não queria que a irmã fizesse esforço.

“Lizzy, estou grávida, não inválida. Posso cozinhar.” E foi empurrando a irmã para a cozinha.

“Precisam de ajuda?” perguntei por reflexo.

Lizzy virou para mim e sorriu.

“Não precisa. Faz companhia para o David.”

Juro, quando ela piscou para mim meu coração parou por breves segundos. Fiquei olhando, provavelmente com cara de idiota, ela dar as costas e seguir para a cozinha. Devo ter suspirado alto demais, pois logo escutei a voz do David:

“Conheço muito bem esse olhar e esse suspiro.” Olhei rapidamente para ele, pego no flagra, e senti meu rosto esquentar. Ele sorria com compreensão. “Eu entendo você. Essas irmãs… Impossível não se apaixonar por elas.” Sorri meio sem graça, mas assenti. “Vocês estão juntos?” Soltei uma risada amarga.

“Quisera eu.”

“Se quiser contar…”

Considerei se contava ou não. Não era um assunto exatamente agradável contar que fui chutado, mas eu não tinha mais ninguém para contar. Greg já sabia, e eu não contaria para o meu pai nem morto. Então David acabou sendo uma boa opção; o conselho de alguém mais velho era sempre melhor.

“Eu me declarei…”

“E?”

“Ela me rejeitou.”

“Como é?” A expressão dele era de choque total.

“Exatamente o que você ouviu.”

“Não acredito. O que exatamente aconteceu?”

Resumi brevemente o ocorrido, mesmo ainda sentindo meu peito apertar com aquilo. David ficou pensativo por alguns minutos até falar de novo.

“O modo como você falou dá margem a muitas interpretações, então não acredito realmente que ela tenha te rejeitado. Talvez não tenha entendido.” Neguei.

“Ela entendeu, disso eu tenho certeza. Conheço todas as suas expressões.”

“Deve gostar muito dela, então, para ainda olhá-la daquela forma depois de ser rejeitado.”

Fiquei em silêncio, lembrando do convite para o baile e do rosto vermelho dela. Ele claramente percebeu a mudança na minha expressão.

“Tem algo mais, não tem?” Assenti.

“Ela... me convidou para o baile de hoje à noite.”

Por um segundo achei que ele fosse engasgar.

“Você só pode estar brincando…” Neguei com a cabeça. “O que você está esperando? Se Cibele tivesse me convidado para o nosso primeiro encontro, eu teria me casado com ela no final da noite.” Ri levemente do exagero dele; eu me sentia nervoso só com a ideia de levá-la ao baile.

“Eu não sei. Não tenho certeza…” Ele me examinou atentamente.

“Tem sim. Mas… está com medo, não está?” Respirei fundo.

“Aterrorizado. E se eu estragar tudo?” Ele sorriu e bateu levemente no meu ombro.

“Entendo sua preocupação, mas acho que é infundada. Vocês são melhores amigos há anos. Sabem tudo um do outro, por isso não precisam fingir serem perfeitos como a maioria dos casais. Ela conhece seus defeitos tanto quanto você conhece os dela e, depois de todo esse tempo, nem se incomodam mais com eles, aposto.” Sorri de canto, reconhecendo. “Ela é a última pessoa no mundo que vai esperar perfeição de você. Apenas aja normalmente.” Assenti.

“Obrigado. Seguirei seu conselho.”

Pouco antes das duas da tarde os dois se foram; iam ficar o fim de semana com o Sr. e a Sra. Jackson no Queens. Me despedi deles e, depois que foram, da Lizzy.

“Então… até as 17h?”

“Sim.”

Ela me olhou e eu tive uma súbita vontade de beijá-la ali mesmo, mas me contive. Eu queria que fosse especial, e seria. Beijei levemente o seu rosto e, com um último sorriso, fui para casa, tão ansioso que nem conseguia pensar direito.

POV. LIZZY

Pouco antes das 17h eu já estava pronta, mas não conseguia sair de frente ao espelho. Me perguntava inúmeras vezes se ele me acharia bonita, ou se não era melhor trocar o vestido. Respirando profundamente e retomando o controle da minha mente, me acalmei. Seja você mesma, seja você mesma. Apenas isso. Me olhei mais uma vez, analisando criticamente minha aparência.

Usava um vestido bicolor -  busto preto sem alças e saia meio rodada verde oliva -, sandálias pretas de salto, uma maquiagem suave com um batom levemente vermelho e o cabelo solto em ondas. Sim, estava tudo em seu devido lugar.

A campainha tocou, me tirando dos meus pensamentos e fazendo meu coração acelerar. Respirei fundo mais uma vez e, pegando uma pequena bolsa que eu havia escolhido, desci as escadas e fui encontrá-lo. Não precisava me preocupar com a chave do carro já que estava com ele; eu não podia dirigir de salto alto.

Com a mão um pouco trêmula, abri a porta da rua para vê-lo me esperando com uma expressão um pouco envergonhada. Eu me lembrava distintamente da última vez que o havia visto de terno: ele estava lindo na Páscoa; mas a visão dele, naquele momento, fez meu coração errar uma batida e acelerar.

Mesmo social, ele havia trocado o terno por um colete preto fechado; as mangas da camisa branca estavam dobradas até os cotovelos e a gravata vermelha estava meio frouxa. Para completar, a postura relaxada, com as mãos nos bolsos da calça, me fez suspirar audivelmente.

“L-Liz?”

Tentei ao máximo focar minha atenção em seu rosto para poder voltar a respirar. Acabei percebendo que ele me olhava com os olhos escuros e a boca entreaberta. Sua voz havia saído mais grave que o normal.

“S-sim?”

“E-eu não consigo dizer o quanto você está linda.”

Meu rosto esquentou consideravelmente, mas, apesar da vergonha, consegui murmurar que ele também estava lindo. Me sobressaltei ao sentir sua mão pegar a minha e me levar até o carro. Ele abriu a porta para que eu entrasse, fechando-a logo em seguida, e deu a volta no carro para entrar no banco do motorista. Se ele continuar me tratando assim vou ter um ataque cardíaco antes de chegarmos lá. Continuei repetindo mentalmente meu mantra da calma enquanto ele ligava o carro e dava partida.

POV. CHRIS

Acho que nunca segurei um volante tão firme em toda a minha vida. Pelo canto dos olhos, observei-a cruzar as pernas e engoli em seco, invocando tudo o que pudesse me acalmar naquele momento. Por que ela faz isso comigo? Desse jeito, autocontrole fica quase impossível.

Ela estava absurdamente linda naquela roupa, mas o comprimento do vestido estava testando e muito o meu autocontrole. E a forma que ela tinha me olhado não tinha ajudado em nada a manter minha paz de espírito. Naquele momento eu tive certeza de que ela, pelo menos, me desejava, e aquilo mexeu com meus sentimentos e meu ego de um jeito incrível. Era um começo, mas não era o suficiente. Pelo menos isso me dá mais confiança para avançar, sorri internamente.

Chegamos à escola pouco antes das 18h; vários alunos já tinham chegado. Entramos, indo em direção ao ginásio, enquanto eu tentava ignorar bravamente todos os olhares dirigidos a ela. No ginásio, vimos o Greg e a Meggie perto da mesa do ponche, bebendo e conversando. Nos aproximamos e eles acenaram para nós. Meggie se adiantou para falar com a Lizzy.

“Você está tão linda…” Lizzy a abraçou em retorno.

“Você também.”

De fato, estava. E pela cara que o Greg fazia cada vez que olhava para ela, com certeza ele concordava. Meggie estava com um vestido branco coberto com renda preta, o salto (assim como o da Lizzy), apesar de alto, ainda a deixava mais baixa que eu e o Greg; a maquiagem era bem leve, e o batom, rosado.

Em relação à roupa, Greg e eu aparentemente tivemos a mesma ideia: colete preto ao invés de terno, mas ao contrário de mim ele havia deixado a gravata cinza justa e as mangas baixas.

As meninas se afastaram para ir ao banheiro, e eu e Greg ficamos sós. Ele me cutucou com uma expressão cínica.

“Você está babando por ela, não é?” Devolvi a expressão cínica com um sorriso.

“Tanto quanto você está babando pela Meggie.” Ele riu em concordância.

“Você vai fazer alguma coisa hoje, não vai?”

“Com certeza.”

“O quê?” Neguei com a cabeça.

“Melhor não saber.” Ele deu de ombros, mas sorriu.

“Boa sorte.”

“Valeu.”

Pouco depois as garotas voltaram e, para minha felicidade, começou a tocar uma música lenta. Olhei para a Lizzy ao meu lado e ousei:

“Dança comigo?”

Ela me encarou com os olhos cheios de surpresa, mas logo sorriu, pegando a mão que eu oferecia. Recebemos alguns olhares quando eu a levei para mais perto de outros casais que dançavam, mas ignoramos. Segurei-a pela cintura e ela pôs as duas mãos nos meus ombros, seguindo o ritmo lento da música. Ficamos em silêncio por alguns segundos: ela encarando fixamente minha gravata e eu adorando a forma como suas bochechas ficavam mais vermelhas a cada instante. Ela parecia querer dizer algo, então esperei.

“C-Chris, eu-- me desculpe.” Franzi o cenho sem entender.

“Pelo quê?” Ela desviou os olhos para o lado.

“Por te magoar. Não era minha intenção.” Meu coração bateu dolorosamente e minha respiração ficou rasa. “Eu… queria que soubesse. Às vezes eu não consigo dizer o que eu realmente quero dizer e… aquela foi uma dessas vezes.” Um leve tremor passou pelo meu corpo enquanto eu processava o que ela estava me dizendo. Ela quer dizer que…

Observei-a por mais alguns instantes; ela ainda não me olhava. Olhe para mim… Eu lhe vejo melhor pelos seus olhos…

Com a intenção de cumprir meu desejo, ergui seu rosto para o meu, fazendo-a me olhar nos olhos. Ela respirou fundo e sustentou meu olhar; o rosto corado a deixava ainda mais linda do que eu conseguia imaginar. Desci meu olhar para sua boca vermelha e me arrepiei de antecipação. Me aproximei lentamente, roçando meus lábios nos dela no processo. Senti suas mãos apertarem meus ombros; um suspiro deixou sua boca e não resisti mais.

Sua respiração ficou presa em sua garganta quando finalmente a beijei, sentindo minha cabeça girar. Apertei sua cintura, puxando-a mais para mim, e aprofundei o beijo, deslizando minha língua na sua e provando seu gosto enfim. Doce… e quente… Senti meu coração pulsar em minha garganta, tão acelerado estava. Seus braços envolveram meu pescoço enquanto os meus rodearam sua cintura. Mordi levemente seu lábio inferior e ela me recompensou com um suspiro, fazendo meu coração bater mais rápido.

Eu não queria parar, não tão cedo, mas me lembrei de onde estávamos e que não devíamos chamar tanta atenção. Ainda tonto e com bastante resistência, parei o beijo, olhando um pouco ao redor. Ninguém nos olhava abertamente, claramente concentrados em seus próprios pares, mas alguns nos lançavam olhares furtivos. Decidi ignorá-los e voltei minha atenção para ela.

Assim como eu, ela ofegava. Seu rosto estava mais vermelho que antes e, quando eu a olhei, ela escondeu o rosto em meu peito, me abraçando. Ri levemente, retribuindo o abraço, e beijei o alto de sua cabeça. Pouco depois ela descansou a cabeça no meu ombro e eu senti sua respiração quente em meu pescoço, me arrepiando. Ainda dançávamos lentamente com a música.

Procurei Greg e Meggie com os olhos e encontrei-os ainda próximos à mesa do ponche, nos encarando com sorrisos cínicos. Retribui o sorriso e voltei minha atenção para a ruiva mais linda que eu tinha em meus braços. Ninguém nunca disse isso com mais justiça: hoje é dia mais feliz da minha vida.

***


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Notas finais do capítulo

E aí? Já estava mais do que na hora de esses dois se acertarem, né? Valeu a pena esperar ou não?
Tem muito mais romance nos próximos capítulos!
#aguentacoração

Próxima leitura: O Coração de um Nerd - Capítulo 8



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