Nem Todo Mundo Odeia o Chris - 3ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 17
Todo Mundo Odeia o Gretzky


Notas iniciais do capítulo

Eaê, seus bonitos?
Ansiosos para ver as caras dos personagens?
Então leiam até o final. O cap de hoje está bem mais leve que os anteriores. Cansei de escrever angst ^^
Enjoy o/



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POV. LIZZY (Brooklyn - 1986)

As palavras do Greg passaram vários dias ressoando na minha cabeça. Eu me sentia horrível e covarde. Ele tinha toda a razão, e eu sabia disso. Metade da culpa era minha em tudo o que eu estava sofrendo. Culpa do meu comodismo, do meu medo e, principalmente, da minha covardia. Eu nunca soube que era tão covarde assim… Tudo para tentar evitar que ele se afastasse de mim, mas não é exatamente isso que está acontecendo? Eu mesma estou empurrando ele para longe de mim, por causa de uma mágoa que eu não deveria sentir…

Eu vinha tentando enfiar na minha cabeça há alguns dias que eu não tinha porque estar magoada com o Chris. Nós não tínhamos nada além de amizade, o que o fazia livre para sair com quem ele quisesse. Mantive isso como um mantra e tentei falar com ele normalmente, mas ainda era difícil. Bastava que eu o olhasse para que aquela cena voltasse à minha cabeça, mais nítida que nunca. E por mais que eu tivesse consciência de que ele não me devia nada, ainda doía, e doía muito. Mesmo assim, me mantive firme no que eu tinha decidido: eu ia deixar aquilo para trás e nós voltaríamos a ser amigos. Depois de quase quatro anos juntos, não seria a Tasha que nos separaria.

Nesse meio, percebi que ele também tentava voltar a falar comigo aos poucos. Deixei-me guiar por isso e, apesar do constrangimento, algumas conversas surgiram, mas eu ainda não me sentia à vontade. E, pelo que eu percebia, ele também não. Não conseguíamos mais nos olhar nos olhos, o que era bastante frustrante para mim. Já estava habituada a lê-lo pelos olhos, mas naquela situação era impossível. Nós dois tínhamos virado dois poços de constrangimento perto um do outro, e, novamente, eu tinha compaixão do Greg.

Como se ouvisse minhas preces por descanso, Deus resolveu me dar uma folga. A srta. Morello avisou na quinta-feira que não poderia dar aula na sexta pois tinha um assunto de família muito sério para resolver. Imagino se é o mesmo assunto de família da última vez, que envolvia ir ao cinema com um cara…

Obviamente pensamos que haveria um substituto - sempre tinha -, mas ela nos surpreendeu dizendo que a escola não tinha encontrado ninguém disponível para a sexta, então estávamos dispensados. Não preciso dizer que houve até aplausos e gritos com essa notícia. Por esse motivo, eu estava sentada na calçada de casa, sem nada para fazer, simplesmente olhando o movimento dos carros e pensando na vida.

Estava pensando justamente em como me aproximar sutilmente do Chris quando o próprio saiu pela porta de casa. Meu coração acelerou ao vê-lo, mas me recompus o suficiente para cumprimentá-lo. Não deixaria passar uma oportunidade daquelas.

“Bom dia, Chris.”

Ele me olhou, levemente surpreso, mas também me cumprimentou.

“Ah, bom dia, Lizzy.”

Os olhos dele logo se desviaram dos meus, me causando uma pontada de frustração, mas eu estava decidida a alongar a conversa o máximo possível. Por isso, mesmo com as mãos suando um pouco, continuei.

“Pensei que dormiria até mais tarde hoje.”

Ele pareceu relaxar um pouco e fez uma leve careta, mas ainda sem me olhar direito.

“Bem que eu queria, mas algo sempre acontece.”

“E o que aconteceu dessa vez?”

Não sei se conscientemente, mas ele se aproximou de mim enquanto falava, me deixando um pouco nervosa.

“Drew esqueceu o dinheiro do lanche em casa, e a mãe mandou eu ver se ele ainda está esperando o ônibus e entregar para ele. Acredita que ela me chutou da cama só para isso?” Agora ele já me olhava; senti um frio no estômago, mas sorri levemente.

“Acredito.” Ele me olhou sem palavras por alguns segundos até se dar conta de que eu esperava alguma resposta.

“Ah… Eu… tenho que ir procurar o Drew. Desculpa…” Seu tom de voz denunciava que ele não estava nem um pouco afim de ir atrás do Drew. Sorri internamente com mais uma oportunidade que aparecia.

“Tudo bem. Eu vou com você”, disse, me levantando.

Acho que cheguei bem perto de ver um Chris engasgando. A surpresa era nítida em seu rosto.

“Você… vai… comigo?” Assenti, tentando ser natural apesar do meu nervosismo.

“Sim. Algum problema?” Ele balançou a cabeça rapidamente.

“Não. Claro que não.”

Então ele começou a descer os degraus me convidando a ir com ele. Descemos a rua em silêncio por alguns minutos, e vez por outra eu o olhava pelo canto dos olhos. Percebi que ele mordia levemente o lábio inferior - mania que ele tinha quando estava nervoso - e fiquei feliz. Eu não sou a única suando frio aqui… Cacei na minha cabeça qualquer assunto que pudesse se transformar em uma conversa, mas nada veio. Dobramos na esquina no final da rua, e eu já estava ficando impaciente por não pensar em nada quando ouço sua voz.

“Como estão seus pais? Não consegui falar direito com eles na Páscoa.” Olhei-o um pouco assustada com a pergunta aleatória, mas obviamente ele estivera procurando um assunto tanto quanto eu.

“Estão bem. Eles também ficaram tristes por não poderem passar mais tempo aqui. Meu pai reclamou bastante por ter perdido o companheiro de jogos.” Ouvi-o rir levemente, e o som me acalmou.

“Meu pai não reclama, mas eu sei que sente falta também. Ele nunca fez amizade com outros vizinhos que não o seu pai. Agora ele resmunga por ter que escutar as fofocas da minha mãe.” Sorri com a observação.

“Eles adoraram a nova mobília. Eu disse a eles que você ajudou a escolher.” Olhei-o, esperando sua reação, e ela veio na forma de um olhar surpreso.

“Você… disse?” Assenti.

“Sim. Não ia levar o crédito sozinha.” Observei sua boca formar um leve sorriso, fazendo meu estômago congelar.

“Obrigado…” Senti que aquele obrigado não era só por eu lhe dar metade do crédito, mas por algo mais.

Mas não é exatamente o melhor momento para perguntar isso…

Chegamos à parada onde o Drew deveria estar e encontramos o banco vazio. Chris suspirou e já ia virar para voltar para casa quando estancou, encarando o outro lado da rua. Acompanhei seu olhar e encontrei Drew sentado no banco. Ouvi Chris resmungar algo e senti sua mão segurar meu pulso, me puxando para atravessar a rua com ele. Meu coração acelerou como um louco, e eu tentei respirar fundo. Quando chegamos perto o suficiente, ele falou:

“Drew, o que está fazendo aqui? Sua parada é do outro lado da rua.”

“É que eu não vou para a aula hoje.”

“E eu posso saber o porquê?” Drew deu de ombros.

“Wayne Gretzky está na cidade porque jogou com o Islanders ontem. Então vou até o hotel onde ele está para pegar um autógrafo dele.” Seu tom de voz demonstrava que ele achava isso óbvio, mas Chris não estava achando aquilo nada óbvio nem engraçado.

“Está maluco?”

“Não.”

“Você não pode sair sozinho.”

“Quem disse?”

“Eu disse. Sabe onde tem que ir?”

“Não.”

“Tem dinheiro?”

“Não, não tenho.”

“A mãe vai te matar quando descobrir, se alguém não te matar antes.”

“Eu não tô nem aí.”

Observei o Chris fechar os olhos e respirar fundo. Eu tinha que admitir: os irmãos dele não eram nada fáceis. Depois de alguns segundos, ele reabriu os olhos e encarou o irmão.

“Para de ser idiota e vai para a aula.” Drew apenas o encarou com a maior cara de ‘você sabe que não vou fazer isso’. Chris suspirou e continuou: “Se a mãe matar nós dois, eu juro, vou te infernizar por toda a eternidade.” Virando para mim com cara de desculpas, ele falou: “Sinto muito, Lizzy. Vou ter que acompanhar o idiota ou ele vai acabar se ferrando.”

“Tudo bem.” Virei para o outro irmão. “Drew, você sabe em que hotel ele está?” Ele negou.

“Não exatamente,--” Chris grunhiu de frustração. “--mas eu sei que é em Long Island.” Considerei, pensando em um modo de apaziguar a situação, já que o Chris parecia a ponto de esganar o Drew.

“Bom, há muitos hotéis em Long Island, mas não muitos cinco estrelas. Acho que não vai ser difícil de achar.” Chris me olhou como se eu fosse louca por estar apoiando a loucura do Drew. “E… eu vou com vocês. Tenho coisas para resolver em Long Island também”, falei, olhando para o Chris.

Seu olhar incrédulo foi rapidamente substituído por um de surpresa.

“O quê? Está falando sério?” Assenti com um sorriso no rosto e ganhei um sorriso dele de volta. “Que bom.”

Drew observava nossa troca de olhares com uma cara desconfiada, mas quando fui mudar de assunto para disfarçar, o ônibus que devíamos pegar chegou e me poupou o esforço. Entramos e pegamos um lugares no fundo do ônibus. Drew sentou na janela, Chris ao lado dele e eu ao lado do Chris.

 

POV. CHRIS

Ficamos em silêncio por algum tempo. Eu estava em um semi estado de torpor. É a segunda vez que ela se oferece para ficar perto de mim em poucos minutos…  Senti meu coração dançar de felicidade no meu peito.

Na semana que tinha se passado, eu tinha dado o meu melhor para voltar a falar com ela normalmente, mas o progresso tinha sido pouco para não dizer inexistente. Eu me sentia mais desconfortável que nunca perto dela por causa da minha paixão recém-descoberta. Meu coração acelerava loucamente quando ela se aproximava, e eu não conseguia juntar palavras para dizer uma única frase que prestasse. Olhar em seus olhos - coisa que eu costumava fazer sempre - agora era uma missão impossível. Nos poucos segundos que eu conseguia a façanha, sentia como se ela lesse meus sentimentos escritos na minha testa, então eu desviava. Era de tirar o fôlego mas frustrante.

Colocando a frustração de lado, falei em voz baixa para que só ela ouvisse:

“Desculpa por isso. Parece que eles são uma cruz que eu tenho que carregar.”

Ela negou com a cabeça e respondeu no mesmo tom:

“Tudo bem. Já estou acostumada com as coisas dos seus irmãos.”

Seu tom descontraído me animou e eu continuei:

“O que precisa resolver em Long Island? Se… eu puder saber…”

“Claro que pode. Na verdade, eu queria que você fosse comigo para ver e me ajudar a escolher, mas sei que não vai dar.” Rangi levemente os dentes por ter que acompanhar Drew nesse excursãozinha ridícula ao invés de ir com a Lizzy para qualquer outro lugar. Ele ainda me paga por isso…

“O que é?” Ela sorriu maliciosamente, fazendo meu coração disparar.

“Se não vai comigo, só vai saber depois.” Fiz cara de ultrajado.

“Chantagem? Isso não é justo. Eu não escolhi sair com o Drew.” Ela riu, mas negou com a cabeça.

“Sinto muito. Quero ver sua reação quando vir.” Suspirei, sabendo que não ganharia nada pressionando. Quando ela mete uma coisa na cabeça… Mas sorri de lado, percebendo que havíamos voltado a nos falar a menos de uma hora e já estavamos zoando um com o outro.

“Ok. Posso saber pelo menos o tamanho?”

“Não.”

“Cor?”

“Nem eu sei.”

“Material?”

“Ficaria óbvio.”

“É de comer?”

“Não.”

“Vestir?” Ela fez uma careta divertida.

“Não sei se posso considerar que sim ou não.” Grunhi, frustrado, mas me divertindo com aquilo.

“Você é péssima com dicas.” Ela me olhou, sorrindo.

“Se com isso você quer dizer que sou boa com surpresas, aceito o elogio.”

Rimos levemente e continuamos a conversa até chegarmos em Long Island. Descemos no final da linha, que ficava mais perto do centro, e olhamos em volta, desconhecendo completamente o lugar. Lizzy nos olhou com uma expressão interrogativa.

“E agora?” Olhei para o Drew, demos de ombros e Lizzy revirou os olhos rindo. “Vocês são horríveis mesmo. Vamos. Vou procurar na lista de telefônica.”

Atravessamos a rua até uma cabine telefônica, e a Lizzy entrou para olhar a lista, deixando a porta da cabine entreaberta. Esperamos um pouco até vermos dois caras vindo na nossa direção. Pensei que talvez eles não ligassem para a gente, mas então me lembrei que eu e Drew éramos dois negros em um bairro cheio de brancos. Claro que eles não iam deixar passar. À medida que eles se aproximavam, vi seus olhos em nós e suspirei baixo. Isso não vai acabar bem… Eu disse que a gente ia morrer…

Quando estavam perto de nós, eles pararam e nos olharam de cima a baixo. O mais alto deles falou:

“Wow, para onde vocês pensam que vão?” Antes que eu pudesse responder, o Drew abriu o bocão.

“Pegar um autógrafo do Wayne Gretzky.” Reprimi um grunhido e resisti bravamente à vontade de dar um tapa na nuca dele.

“Você é fã do Gretzky?”, o outro se pronunciou.

“Você não pode ser fã do Gretzky.”

“Porque ele é fã do Gretzky.”

“E eu e você não podemos gostar das mesmas coisas.”

Senti a ameaça pairando no ar e tentei pensar numa forma de sair dali, mas parecia impossível. Onde fôssemos haveria brancos.

“Será possível que eu não posso desviar os olhos por dois minutos sequer?”, a voz da Lizzy veio atrás de nós. Não olhei para trás, mas vi ela passar entre mim e o Drew para encarar os outros dois. “Por que não vão para casa? A mãe de vocês deve estar esperando com a mamadeira pronta.” Reprimi o riso, e eles pareceram constrangidos.

“Que é isso, gatinha? Uma garota como você não devia andar com caras como eles”, o mais alto disse, se aproximando da Lizzy. Senti meu sangue entrar em ebulição lentamente a cada passo que ele dava. “Você devia andar com a gente.” O riso da Lizzy saiu debochado.

“Não, obrigada. Garotas bonitas como eu não andam com garotos com caras de ameba como as suas.” Ela olhou para mim e para o Drew e gesticulou para seguirmos ela. “Vamos, meninos. Deixem os ridículos falando sozinhos.”

Seguimos ela, mas não antes de esbarrarmos nos ombros dos dois. Depois de alguns metros, olhei para trás e eles ainda nos olhavam provavelmente tentando entender porque uma garota branca - linda diga-se de passagem— andaria com dois caras negros. Ri internamente porque sabia que eles nunca entenderiam.

Drew se adiantou e cumprimentou a Lizzy:

“Que irado! Pensei que a gente fosse apanhar.”

Concordei:

“Eu tive quase certeza que a gente ia morrer, mas a Lizzy tem esse dom.” Mesmo olhando de lado, pude perceber suas bochechas levemente vermelhas. “Então, descobriu em qual o hotel o Gretzky está?”

“Sim. Parece que é o The Long Island Hotel. As linhas estavam muito congestionadas e, quando a recepcionista atendeu, ouvi vários gritos no fundo. Pareciam fãs.”

Andamos umas três quadras até o hotel e quando entramos no saguão, soubemos que era o hotel certo. Uma pequena multidão de fãs tinha cartazes coloridos e gritava pelo Gretzky. Lizzy virou para nós e falou:

“Pronto. Estão entregues. Eu tenho que ir resolver meu assunto agora. Nos encontramos na frente do hotel ao meio dia?” Olhei meu relógio: eram 9h.

“Pode ser. Não podemos demorar mesmo.” Ela assentiu.

“Ok. Vejo vocês mais tarde. E por favor, não se metam em confusão.”

“Pode deixar”, Drew respondeu.

Ela acenou ‘tchau’ e saiu do hotel. Drew e eu olhamos para as fãs que gritavam pelo Gretzky e nos olhamos. Respirei fundo e ergui o punho.

“Guerra?” Drew bateu o punho no meu.

“Guerra.”

A verdade é que esperamos pelo Gretzky a maior parte do tempo. Conseguimos burlar a segurança nos passando por entregadores de pizza e fingindo que nem sabíamos quem era Gretzky. Quando chegamos a cobertura, identificamos logo de cara qual era o quarto do jogador: tinha um segurança negro de 2 metros de altura na porta. Fomos na cara de pau. Vai que funciona…

“Viemos entregar essa pizza para o sr. Gretzky.”

O cara nos olhou de cima para baixo.

“Wayne não pediu pizza. Vocês acham que eu nasci ontem?” É… Não funcionou… “Se queriam que o disfarce funcionasse pelo menos um pouco, ele” apontou para o Drew, “devia ter tirado a camisa de hockey.” Olhei para o Drew e percebi que ele tinha tirado o casaco, deixando a camisa à mostra. “Ok, caiam fora.”

Xinguei baixinho, mas tentei pensar rápido.

“Olha, acho que você não entendeu. Meu irmão é muito fã de hockey, e a gente matou aula só para ver o Gretzky.”

“Eu não posso ajudar. Por favor, saiam daqui.” Eu ia insistir, mas senti Drew me puxar pela manga da camisa.

“Vamos, cara. Não tem jeito.”

Quando estávamos na metade do corredor, ouvimos a voz do segurança.

“‘Gritzky’?”

Olhei para as costas da camisa do Drew e lembrei porque o nome do jogador estava escrito errado. Drew virou para responder.

“É, meu pai comprou para mim. Hockey não é muito popular o nosso bairro.”

O segurança insistiu:

“Que bairro?”

“Bed-Stuy.” Vi a surpresa no rosto do cara.

“Eu sou de Bed-Stuy. Deixa eu adivinhar”, ele falou, se aproximando de nós, “seu pai comprou essa camisa com o Perigo?” Minha vez de ficar surpreso.

“Você conhece o Perigo?”

“Sim. Ele me deu uma camisa de marca uma vez.” Ele fez aspas no ‘de marca’. “Não vejo ele há um tempão.” Aproveitei a deixa da intimidade e insisti.

“Então, dá para conseguir um autógrafo do Gretzky?”

“Sinto muito, meninos, ele não está nem aqui. Teve que resolver uns assuntos na cidade. Deve voltar em duas horas.” Drew me olhou implorando.

“Duas horas não é muito. A Lizzy disse que voltava só ao meio dia.”

“Ok.  A gente espera.” Virei para o segurança e agradeci. “Obrigado, cara.”

Descemos e ficamos sentados em um dos sofás do saguão. O Drew escolheu o melhor sofá possível: o que ficava de frente para a porta, assim se o Gretzky chegasse ele veria logo. Apenas me sentei e, como ele estava concentrado demais olhando a porta, deixei meus pensamentos soltos. No final das contas, eles só tinham duas direções: o que a mãe faria com a gente e a Lizzy. Tentei não pensar muito nas coisas horríveis que a mãe faria comigo quando chegássemos em casa, então meus pensamentos se concentraram na Lizzy.

Não ia negar que estava feliz por estarmos nos falando normal de novo. Sentia falta dela horrivelmente. Conseguia até sentir uma certa paz por sua atitude natural comigo. Acabei começando a pensar no que ela tinha ido resolver. Eu não fazia a mínima ideia do que poderia ser. Ela tinha dito que queria minha opinião na escolha, mas que sabia que eu não poderia ir hoje. Senti um tsunami de raiva do Drew naquele momento e ainda sentia.

Se não fosse por essa invenção ridícula do Drew de faltar aula para ir atrás de um autógrafo, eu poderia estar com ela em qualquer outro lugar. Mas ao invés disso estou aqui, em um saguão de hotel, esperando um cara que eu nem conheço para pegar um autógrafo que não me interessa e me ferrar quando chegar em casa. Valeu, Drew! Valeu mesmo!

“Desculpa, cara.” Olhei para o Drew sentado ao meu lado com cara de culpado.

“Como é?”

“Desculpa por te fazer vir até aqui.” Franzi o cenho, imaginando se ele sabia o que eu estava pensando.

“Eu escolhi vir.”

“Para não me deixar sozinho.” Ele suspirou. “A mãe vai esganar nós dois, e você nem matou aula para estar aqui.” Dei de ombros.

“Não é de grande consolo.”

Ficamos em silêncio por mais alguns minutos até ele falar de novo.

“Eu sei que preferia estar com a Lizzy.” Arregalei os olhos, mas não olhei para ele. Não ia me entregar desse jeito. “Não precisa esconder. É bem óbvio que você gosta dela. Principalmente com os olhares e as crises de ciúmes.” Eu ia abrir a boca para negar, mas não o fiz. Eu disse que ia parar de negar… Mas também não confirmei nada. Optei por desviar o assunto.

“Você é meu irmão e estava precisando de mim. Para de melodrama.” Ouvi ele rir e socar meu braço de leve.

“Valeu, cara. Juro que, se a gente sobreviver ao castigo da mamãe, faço o que você quiser.” Olhei para ele, interessado.

“Sério?” Ele assentiu. “Então larga meu walkman.” Ele revirou os olhos de má vontade, mas concordou.

“Vocês ainda estão aqui?” Ouvimos a voz do segurança atrás de nós e nos viramos no sofá.

“Sim. Ele realmente quer esse autógrafo.”

“Sinto muito, garotos. Teve uma mudança de planos, e o Gretkzy vai direto para o aeroporto. Eu vou fazer o check-out no hotel.”

Olhei para o Drew e ele estava com cara de ‘desisto’. Fiquei até com pena.

“Sinto muito, cara. A gente fez tudo o que podia.” Ele assentiu, cabisbaixo.

Após alguns minutos, o segurança voltou, e nós o seguimos até o lado de fora do hotel.

“Então, como vocês vão para casa?” Dei de ombros e olhei o relógio: 11h45. A Lizzy já deve estar chegando…

“De metrô, eu acho. Mas vamos esperar uma amiga nossa.”

O segurança assentiu, e seus olhos se desviaram para o Drew que ainda estava cabisbaixo. Ele deu as costas por um instante, indo até uma das malas que estavam sendo colocadas no porta-malas da limousine. Tirou algo azul da mala e jogou para o Drew.

“Garoto, pode ficar com isso.” Com bons reflexos, Drew pegou o objeto azul que acabou por ser uma camisa de hockey com o nome do Gretzky escrito correto. Sorri. Apesar de tudo, ele merecia isso. “Gretzky usou essa camisa no jogo de ontem.” O rosto do Drew se iluminou.

“Sério? Eu nunca vou lavar essa camisa.” Fiz uma leve careta, mas ignorei.

Para mim, o segurança jogou um disco de hockey.

“O Gretzky jogou com esse disco ontem?”

“Não. É só um disco, mas tem o selo dourado da liga nacional.” Olhei o disco mais de perto e lá estava o selo. Olhei para o Drew e dei o disco para ele. Eu não gosto de hockey mesmo…

O segurança acenou e entrou no banco no motorista, saindo com o carro. Acenamos de volta enquanto o carro saía e outro carro ocupava a vaga, buzinando. Meu queixo caiu ao olhar o carro. Era um Camaro SS V8 350, vinho com duas listras pretas no capô. Drew me cutucou, perguntando mudamente se eu estava vendo o que ele estava vendo, e eu assenti. Os Camaros sempre foram o meu carro preferido, e ele sabia disso. Eu tinha até sugerido que a Lizzy comprasse um quando fosse comprar o dela.

O motorista do Camaro buzinou de novo, me despertando do meu transe. Ele está buzinando para a gente? Impossível… Me aproximei discretamente, só para tentar descobrir quem dirigia aquela obra de arte e quase tive um ataque cardíaco ao reconhecer o cabelo ruivo e o sorriso sacana.

“L-Lizzy?”

 

POV. LIZZY

Sorri descaradamente para a cara de chocado dele. Como eu imaginava, amei a reação…

“Não vai entrar?” Ele sacudiu a cabeça e abriu a porta do lado do passageiro, entrando. Pelo retrovisor central, vi Drew entrar no banco de trás, boquiaberto.

“Lizzy, como você conseguiu essa máquina? É incrível! Você ficou rica? Ganhou na loteira?” Ri, disfarçando que ele tinha chegado bem perto da verdade.

“Não. Só economizei um pouco.”

“Cara, eu vou começar a economizar já!”

Direcionei meus olhos para o Chris, e ele me observava com um leve sorriso no rosto.

“Agora você sabe qual era o meu assunto em Long Island.” Ele assentiu, e o sorriso continuava lá.

“Obrigado por aceitar minha sugestão. Não achei que você ainda lembrasse.”

Respirei fundo, tomando coragem para responder o que eu tinha em mente.

“Claro que eu lembro. Foi você quem sugeriu.”

Senti meu rosto esquentar e o clima ficar tenso dentro do carro. Chris tinha uma expressão desconhecida nos olhos que me deu um frio na barriga. Percebi que o Drew nos observava do banco de trás e desviei os olhos, colocando minha atenção no volante.

“Então… Só eu estou com fome aqui?”

O clima tenso se desfez e Chris negou.

“Não.  A gente não comeu nada esse tempo todo que ficamos esperando o Gretzky.”

“Pelo menos eu ganhei uma camisa.” Assenti.

“Ok. Então vamos comer para comemorar o meu carro e a camisa de hockey do Drew.”

Chris riu sem graça.

“É. Vai ser minha última refeição mesmo. Pelo menos eu vou ter andado em um Camaro antes de morrer.” Ele pegou minha mão do volante e segurou-a com cara de drama. “Obrigado por isso, Lizzy.” Ri com o teatro dele, mas respondi com sinceridade.

“De nada.”

Ele sorriu pela minha resposta e beijou minha mão. Corei e voltei minha atenção para o carro, vendo Chris sorrir descaradamente pelo canto dos olhos. Dei a partida no carro, feliz que tudo tivesse voltado ao normal entre nós.


***

 

AVISO!!!!!!!!!!!!!

Gente, só consegui colocar a foto do Daniel. Vou tentar colocar as fotos das meninas nos próximos caps.

Como eu prometi, aqui está a cara dele:

Daniel Scott


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Notas finais do capítulo

Eaê?
Gostaram do cap? E da cara dele? Ele é como vocês imaginavam?
Reviews!!!!!!!!!!

Próxima leitura: O Coração de um Nerd - Capítulo 4



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