A Chegada Dela escrita por Kam_ted


Capítulo 5
Capítulo 5




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 "Não importa. Fechemos os olhos e corremos. Nosso desejo será mais forte que o ar que nos matem de pés ao chão. Quando corrermos, fecharemos os olhos e de repente nossas pernas estarão flutuando, suspensas sobre onde gostaríamos de estar. Você sorrirá de prazer. Basta ter fé."

                                Ao seu lado, H.

 Encontrei na janela, ao acordar, quando estava sentada olhando meus olhos inchados. Estava estranha. Os fios claros emaranhados, cílios molhados e grudados, os lábios vermelhos feito sangue. Logo, ao me ver deprimente, lágrimas retornaram mas o bilhete branco preso por uma ametista me salvou da cama.

 Pintei as unhas de vermelho e experimentei usar calça jeans do meu tio pedófilo. Criminoso. Ela me contou sobre esses tipos de homens que gosta de crianças. Fiquei magoada de ser chamada de criança, mas deve ter percebido ao remendar em pergunta há quanto tempo ele me olhava e tentava aproximações íntimas. Explicou sobre os pedófilos, pederastas, sobre os que praticavam zoofilia. Me explicava com jeitos de professora, de mãe, de alguém que tenta passar o melhor para outra pessoa querida.

 Uns garotos conhecidos estavam na porta prestes a saírem conversando animadamente com a dona da casa. Me olharam estupefados mas ela os colocuou amigavelmente para fora rápido.

- Você não deveria vir até à sala sem me avisar.

- Desculpe.

- É para o seu bem, gatinha. Depois sua mãe be-a-ta vai proibir até que saia de casa. Estamos bem enquanto ela não desconfia da nossa amizade.

- Estamos?

 Aproximou-se de meu rosto me fitando nos olhos para responder:

- Estamos porque eu estou.

 Rocei meus lábios ao seu. Conversamos por meia hora jogadas as almofadas. Disse-me que eu parecia uma criança pelas minhas feições meigas e doces e fofas.

- Tudo isso não é a mesma coisa?

 E minhas mãos eram pequenas. Reparou em minhas unhas sangue.

- Você é do meu tamanho.

- Ah, mas eu sou A Sapatão, esqueceu?!

- Lésbica.

- Eles devem achar lésbica uma palavra bonita demais e não devem conciliar palavra com a coisa. E eu não disse que era lésbica.

- Disse que meninas que gostam de meninas são le.

- Certo. Eu disse. Mas o amor acontece e está além de costumes homossexuais. O desejo também acontece.

 Me sorriu sagaz com a última frase. Poderia ficar para sempre vê-la sorrir para mim com a sobrancelha arqueada e os dentes amostra numa malícia. Beijou meu queixo, o mordeu; mordeu as bochechas e demorou-se ali. Os olhos estavam fechados.

 Fui embora com uma dor no peito. Não podia demorar fora de casa. Ela tinha razão, estou bem enquanto minha mãe não sabe de minha amizade com a vizinha. Levei para casa Tattoo, o vinil de uma banda chamada Rolling Stones. À noite inteira ouvi as músicas e reparava na boca do cantor nas fotos da revista. Era bonita. Gostava dos lábios dele. As fotos preto e branco lhe entregavam tímido e romântico, talvez não fosse mas assim o via. Guardarei a faixa Angel na memória como um dia que conheci uma garota maravilhosa, pensei deitada com a cabeça para fora da cama. Imaginei nós duas indo embora para uma cidade metropolitana, urbanizada, com gentes diferentes, coisas diferente. Um dia Paris, Londres, Amsterdã, Barcelona, quem sabe. Europa.

 Fazia frio e estava nevando. Entramos numa porta súbita que aparecia de madeira pesada. Tirávamos as enormes roupas que vestíamos com brutalidade, com desespero. Nuas, nos tocávamos ávidas, de pé naquele quarto escuro. Enxergava nossos corpos clareados do fogo alto da lareira. Os seios eram fartos feito da loira do meu irmão. As orlas negras. Meus lábios em seus seios e acordei. Madrugada, a luz apagada, o som parado. Minha vagina pulsava convulsiva enquanto assistia a cena, porque via tudo de longe, como uma câmera instalada; lembrava do pulsar e sentia uma sensação remota que tivesse acontecido, não ela ao meu lado e nós nos tocando a luz do fogo, mas a excitação. Estranhei. Dormi.


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