Pov Pedro

Me levanto e vou em direção ao banheiro, lavo o rosto e me encaro, o espelho refletindo as olheiras, meu aspecto cansado. Como pude ser tão burro, mal acabo de vir morar no Rio de Janeiro e ela me trai, ainda mais com o que se dizia ser meu melhor amigo.
Desço a escadas a fim de tomar meu café em paz, mas ao adentrar na cozinha, vejo minha mãe com o mesmo semblante triste desde a separação nada amigável com meu pai, agora sim, consigo entender pelo o que ela está passando, nunca gostei desse papo de traição, porém é diferente quando você sente na pele.
– Bom dia.- Sussurro, tentando não encará-la.
– Bom dia.- Minha mãe disse com a voz falha, mas ao me analisar melhor, sua intuição de mãe gritava mais alto. - Meu filho, o que aconteceu pra você estar assim ?
– Cadê a Tomtom ? - Tento desviar do assunto, sem sucesso.
– Pedro Ramos, eu quero que você me fale agora o que está acontecendo.- Ela me olhava preocupada.
– Mãe, não quero que a senhora se preocupe comigo, está tudo bem, sério. - Minto, me sinto sufocado, preciso sair logo dali. - Vou pra faculdade ok ? Não posso perder meu primeiro dia de aula.
– Vai meu filho, mas quando você voltar, nós vamos conversar. - Engulo em seco, não sei se estou preparado para ter essa conversa.
– Tá certo, Dona Delma. - Beijo sua bochecha e subo pro meu quarto.
Visto uma calça preta com uma camisa do Pink Floyd. Calço meu all star vermelho. Ao descer não encontro ninguém na sala e na cozinha. Saio de casa e vou a pé para o campus, não quero chegar cedo, então vou pelo caminho mais longo, sem perceber, já estou na orla, olhando fixamente para o mar, meus pensamentos vagueiam na noite anterior.
FLASHBACK ON
Estava navegando nas redes sociais quando reparo na foto que minha namorada acabara de postar. Não acredito no que vejo, pisco meus olhos várias vezes a fim de tudo ser uma ilusão. Na foto estava Vicki com uma flor nas mãos com seu rosto colado ao de Bruno, meu melhor amigo e para completar a legenda dizia : " Mais dias como esse com meu lindo. " Disco seu número na hora, tenho que tirar essa história a limpo. Quando ela atende, logo pergunto :
– Vicki, QUE MERDA ESTÁ ACONTECENDO ? - Pô cara, ela sabe que eu sou ciumento, tudo bem que ela estava junto com meu amigo, quem eu confiava, assim eu pensava, mas o que ela tinha na cabeça de chamá-lo de " meu lindo".
– Pedro ? - Ela perguntou num tom sarcástico. - Porque você tá me ligando ? A foto não foi o bastante para você perceber que eu te troquei ? E melhor, pelo seu amigo.
Senti uma pontada no estômago, estava com falta de ar, como ela tinha coragem de dizer tudo isso na cara dura ?
– VICKI, COMO VOCÊ PODE ?? EU TE AMEI DO JEITO MAIS PROFUNDO QUE EU PODERIA AMAR - Era visível a decepção na minha voz, até que realmente me toquei, ela me traiu. - SUA...SUA VADIA. - Esbravejo demonstrando todo o nojo que tinha.
– Tchau Pedro. - Diz naturalmente e desliga a chamada logo em seguida.
Taco meu celular na parede e começo a chorar, pego meu travesseiro e coloco por cima de minha cabeça, só queria esquecer do mundo naquele momento...
FLASHBACK OFF
Sinto meu celular vibrar no bolso da calça, era João me perguntando onde eu estava, tínhamos combinado de nos encontrar na porta da faculdade para darmos o primeiro passo como universitários.
– Merda. - Levanto em um pulo e começo a andar rápido em direção onde situava-se o campus. Depois de andar algumas quadras adentro o campus. Estava reparando em tudo, maravilhado com a natureza ali presente. A natureza inspirava o poeta existente em mim.
Quando de repente, meu corpo vai de encontro a uma menina, as folhas que estavam em minha mão voam até irem de encontro ao chão.
– Me desculpe. - A tal menina falou, se abaixando para pegar minhas folhas, apenas fiquei parado sem fazer nada, esperando ela se levantar.
– Você deveria olhar por onde anda. - Já estava sem paciência, não queria me atrasar mais ainda para a aula.
– Desculpe, estou atrasada. - Reviro os olhos, como se aquilo não fosse óbvio pelo jeito que ela corria.
– Está atrasada ? Que tal acordar mais cedo, assim não fica atrasada.
– Olha, se você ainda está aqui , quer dizer que também está atrasado. - Ela já começava a ficar vermelha, que esquentadinha.
– Sim, estou atrasado, mas pelo menos não estou correndo feito uma criança. Quantos anos você tem ? Cinco ?
– Olha garoto, você não tem nada a ver com minha vida, eu pedi desculpas, mas se não quer aceitar, tudo bem. - Ela entregou as minhas folhas que estavam em suas mãos. - Mas como eu já disse, estou atrasada, não posso ficar aqui de papinho com você.
– Pedro. - Falei, senti na obrigação de me apresentar após tudo o que aconteceu.
– Oi ? - Ela perguntou, não entendeu o que eu havia dito.
– Meu nome é Pedro.
– Agora quer ser bonzinho ? - Ela se virou e começou a andar sem nem ao menos olhar para trás onde eu fitava seu andar.
– Quem era aquela ? - Virei surpreso em direção a voz. Era João.
– Pô Johnny, para de chegar assim, de fininho... E não, não sei quem era aquela maluca. - Ele começa a sorri debochado. - Mas então, vamos ?