Sins of Our Fathers escrita por Catherine


Capítulo 4
Alysanne


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer à DreamingAboutLife pelo comentário maravilhoso e espero que goste de ler o capítulo tanto quanto eu gostei de escreve-lo ♥
Bemvindos novos leitores, espero que continuem a acompanhar e que gostem!
Aguardo as vossas opiniões, até ao próximo :)



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Veja, sussurrou uma voz na escuridão, mas Alys não conseguia ver e, portanto, tudo o que podia fazer era ficar parada. Ali, na penumbra, fazia frio. Não havia sol, nem estrelas, nada. Estremeceu, abraçada ao próprio corpo e tentou ver. Um par de olhos ferozes brilharam no escuro. Ouviu um rosnado.

Veja, insistiu a voz na sua cabeça.

Um homem velho moldou um rapazinho de barro, cozeu-o até ficar duro e quebradiço, vestiu-o com roupa de criança e atirou-o de um telhado. Alys arfou ao ver o modo como ele se estilhaçara. E depois ela caiu. Era uma sensação estranha. Imaginou o chão e o seu corpo partido em bocados como o pequeno boneco de barro, invés disso, cheirou o mar e viu as ondas embater contra as rochas. Caía cada vez mais depressa e a voz surrava e gritava consigo. Veja! O sol brilhou alto e feriu os seus olhos, antes de se apagar completamente. Desejou chorar.

– Não consigo ver – disse Alys – Está escuro, não consigo.

Abra os olhos.

A voz era aguda e fraca. Alys olhou em volta para ver de onde vinha. Um corvo descia com ela, em espiral, longe do seu alcance e seguindo-a na queda. O cheiro a sal estava cada vez mais forte – Ajude-me – disse.

Estou a tentar, respondeu o corvo. Precisa ver.

Parou de cair, mas só viu sombras. Um lobo negro surgiu entre elas e aproximou o focinho da sua mão. Era o maior animal que alguma vez viu e os seus olhos eram do mesmo azul do mar de Dorne. Em cima das suas cabeças agitavam-se dragões, tapando o sol que ameaçava renascer e atacando-se uns aos outros.

O corvo começou a picar-lhe o ombro, atraindo a sua atenção para o choro de um menino. Devia ser poucos anos mais novo que Edric. Estava deitado sem se mexer e tinha cabelos de um bonito tom de cobre. Quis aproximar-se, mas ele pareceu enterrar-se na escuridão. Chorou quando o viu cair e a neve o engoliu.

– Ele tem que viver – disse o corvo – O inverno está para chegar.

Alys olhou para o corvo, as palavras martelando em sua cabeça. O corvo devolveu-lhe o olhar. Possuía três olhos e o terceiro estava cheiro de uma terrível sabedoria. Olhou para baixo, para os seus pés descalços. A neve estava coberta de agulhas de gelo azul esbranquiçado que se espetavam em seus pés como lanças. O sangue escorria lentamente, manchando a neve de vermelho vivo.

– Ele vai cair – proferiu o corvo – Terá que o ajudar.

Acordou com sede e o barco ligeiramente a abanar. Levantou-se, sentindo-se mais cansada que nunca e saiu na direção do convés. O capitão gritava ordens e caminhava de um lado para o outro. Alysanne aproximou-se da beira. Porto Real surgia à vista em cima de três grandes colinas.

Conseguia ver mansões, celeiros, armazéns feitos de tijolo e estalagens, tudo empilhado, uns edifícios sobre os outros. Mesmo àquela distância, conseguia ouvir o clamor do mercado de peixe. Lembrou-se das palavras do tio em suas cartas. A colina de Visenya estava coroada pelo Grande Septo de Baelor, com suas sete torres de cristal. Do outro lado da cidade, na colina de Rhaenys, erguiam-se os muros enegrecidos do Poço dos Dragões, com sua enorme cúpula caída em ruína, as portas de bronze fechadas havia já um século. As muralhas da cidade erguiam-se à distância, altas e fortes.

Uma centena de desembarcadouros cobria a margem da cidade e o porto estava repleto de navios. Barcos de pesca de águas profundas e do rio chegavam e partiam, barqueiros remavam de um lado para o outro, galés comerciais descarregavam produtos vindos de Braavos, Pentos e Lys. Havia uma ornamentada barcaça, amarrada ao lado de um gordo baleeiro, assim como uma dúzia de esbeltos navios de guerra, com velas enroladas.

A cima de tudo, lançando um olhar carrancudo da grande colina de Aegon, estava a Fortaleza Vermelha, sete enormes torres cilíndricas coroadas por baluartes de ferro, um imenso e sombrio contraforte, salões abobados e pontes cobertas, casernas, masmorras e celeiros, maciças muralhas de barragem cravejadas de guaritas para arqueiros, tudo construído de pedra vermelho-clara, Aegon, o Conquistador, ordenada sua construção e seu filho, Maegor, o Cruel, a completara, exigindo depois a cabeça de todos os pedreiros, carpinteiros e construtores que nela trabalharam.

Os estandartes esvoaçavam em suas ameias, um dragão de três cabeças num fundo negro. O capitão berrou uma ordem e a galé perdeu velocidade. Outro grito e os remos deslizaram para dentro do casco. No momento em que o navio esbarrava na doca, marinheiros saltaram para terra a fim de amarrá-lo.

Dois guardas de manto dourado aguardavam-na quando desceu. Tinham-lhe trazido um cavalo. Alysanne sentiu os olhos da cidade postos nela enquanto avançava na direção da Fortaleza Vermelha. Dois homens transportaram suas arcas até à entrada.

Os guardas escoltaram-na por uma estreita porta lateral e depois ao longo de uma infinidade de degraus até uma torre. A mulher estava sozinha quando entraram no quarto, deitada entre almofadas de seda, algumas laranjas, outras negras e ainda uma ou duas amarelas. Quando a introduziram no aposento, pousou o copo de vinho e olhou-a.

– Lady Alysanne – disse, num tom critico que Alys conhecia.

Curvou-se, sabendo imediatamente de quem se tratava – Princesa Rhaenys.

– Deixem-nos – ordenou, fazendo um gesto brusco para os guardas – Por favor, sente-se, e deixe-me oferecer-lhe algo para beber – gesticulou para o espaço vazio a seu lado – O vinho vem de Dorne, Príncipe Doran envia-o de duas em duas luas.

Assentiu, pegando num copo e observando enquanto o liquido rubro o preenchia. Tomou um gole e observou a princesa ao sentar-se. Os cabelos eram escuros, lisos e longos. Tinha a pele morena, beijada pelo sol e os seus olhos eram castanhos. Lembrava-lhe Arianne, e embora fosse menos bonita, Rhaenys era Dorne. Alys sorriu com o pensamento de ter um pouco de casa perto de si.

– É uma pena que Ser Arthur não esteja aqui para recebê-la – proferiu – Ele foi um dos motivos pelo qual a aceitei como uma das minhas damas. Não me recordo de Lady Ashara, era muito nova quando ela e minha mãe pereceram, mas sei que foram grandes amigas – pausou – Como espero que possamos ser – concluiu, sorrindo. Não conversaram muito mais. Depois de Rhaenys a dispensar rumou na direção de seus novos aposentos e deitou-se. Estava exausta.

Despertou somente no dia seguinte, com um toque ligeiro na porta.

– Pode entrar – disse ainda sonolenta.

Duas jovens criadas entraram com reverência e começaram a tratar de suas tarefas. Encheram a banheira com água quente e perfumaram-na com óleos. Alys levantou-se e uma das moças puxou-lhe a túnica de algodão pela cabeça e ajudou-a a entrar na banheira. A água escaldava e embora gostasse do calor, avisou-as para que tomassem cuidado na próxima vez.

– Seus nomes? – disse, enquanto uma lhe esfregava os longos cabelos negros e removia suavemente os nós com a escova.

– Sou Jeyne, e esta é minha irmã Arisa, milady – retorquiu a jovem que lhe esfregava as costas.

Alys não respondeu. Quando ficou limpa, as criadas ajudaram-na a sair da água e secaram-na com toalhas. Jeyne escovou-lhe os cabelos enquanto Arisa a untava com perfume de flores. Um salpico em cada pulso, atrás das orelhas, na ponta dos seios e, por fim, um refrescante entre as pernas. Vestiram-lhe a roupa de baixo e depois um vestido de seda, num profundo tom ametista que realçava o violeta dos seus olhos, um presente de sua tia Allyria.

Enfiaram-lhe as sandálias prateadas nos pés e deslizaram-lhe algumas pulseiras incrustadas de ametistas em seus pulsos. O último adorno foi o colar, um simples cordão de prata ornado com uma estrela cadente trespassada com uma espada, símbolo da sua Casa.

– Parece uma princesa – comentou Jeyne, sem folego, quando terminaram. Alys olhou de relance para a sua imagem no espelho. Uma princesa, pensou. Sentiu um súbito arrepio percorrer os braços nus. Não passava de uma bastarda.

Um guarda esperava-a encostado á parede quando saiu. Afastou-se e observou-a com olhos críticos, as faces rapidamente se tornando vermelhas – Lady Dayne – disse curvando ligeiramente a cabeça e estendendo-lhe o braço.

Caminharam em silêncio. Alys supôs que a levasse na direção dos aposentos da princesa na Arcada das Donzelas, invés disso rumou na direção da Fortaleza de Maegor. Um cavaleiro da Guarda Real estava de vigia do lado de fora. O guarda guiou-a pelos corredores e bateu numa grande porta de madeira escura.

– Entre – a voz masculina tinha um timbre ligeiramente musical. O guarda abriu a porta e gesticulou para que entrasse sozinha. Os olhos de Alys percorreram rapidamente o cômodo, fixando-se em Rhaenys e nos dois homens que a acompanhavam. O mais jovem levantou-se. Os seus cabelos chegavam aos ombros e tinham a cor de prata liquida, assim como os botões do gibão negro que usava. Era alto, bem apessoado e tinha intensos olhos índigo. Havia algo na sua beleza que se assemelhava ao irreal – É um enorme prazer conhecê-la finalmente, Lady Alysanne – ele pegou a sua mão e beijou-a. Corou, sentindo-se uma garotinha tola e esquecendo-se de onde estava até que o outro homem riu.

– Não devia perder tempo com bastardas, Egg.

Seus cabelos, do mesmo tom louro-prateados que os do primeiro, estavam puxados para trás e bem atados com uma presilha. Um visual severo que dava ênfase às linhas duras e magras do seu rosto. Os olhos eram mais claros, lilases, e tinham um brilho cruel que a fez estremecer.

– Perdoe meu tio, milady, Viserys tende a esquecer das cortesias.

– Não há nada a perdoar, meu príncipe – respondeu, baixando os olhos para o chão – Príncipe Viserys só constatava a verdade – a resposta pareceu satisfazer Viserys e aborrecer os restantes. Alysanne sentou-se ao lado de Rhaenys em silêncio, degustando a comida com pouca vontade. Tudo tinha o sabor de cinzas. Desejou voltar para casa.

Nos dias seguintes descobriu que ser dama de Rhaenys era uma tarefa simples. A princesa passava maior parte do tempo em seus aposentos, onde conversavam e trocavam gracejos entre belas garrafas de vinho dornês e doces. Dispensava-a por volta do meio da tarde quando Aegon a visitava e só voltava a procurar a sua companhia perto da noite. O tempo livre era gasto como bem entendesse. No primeiro percorreu a Fortaleza decidida a conhecer-lhe os cantos. A tarefa, infelizmente, foi um fracasso. A Fortaleza Vermelha revelara-se bem maior que Tombastela.

No segundo dia deparou-se a irmã mais nova do rei nos jardins. Daenerys compartilhava a beleza extraordinária da sua família e era verdadeiramente fascinante. O encontro teria sido excelente caso a princesa não estivesse acompanhada de Ser Barristan Selmy, que pareceu assombrado mal lhe colocou os olhos em cima. Questionou-se se o homem era seu pai, embora a ideia lhe tenha fugido rapidamente da mente.

Ao terceiro dia os seus pensamentos estavam repletos de saudades de Dorne.

Um ar pesado e úmido cobria Porto Real como um cobertor molhado de lã, e a margem do rio tinha-se tornado ingovernável quando os pobres fugiram de suas casas quentes e sem ar para se acotovelarem por um lugar para dormir perto da água, onde o único sopro de vento podia ser encontrado.

Encontrou refugio debaixo do grande carvalho no bosque sagrado, deitando-se na relva entre os botões vermelho-escuros de sopros-de-dragão. A sombra proveniente da árvore dava-lhe alguma esperança de escapar ao calor. Fechou os olhos. Rhaenys não a chamaria até ser de noite e talvez pudesse dormir um pouco.

– É uma visão tentadora – disse uma voz conhecida, chamando a sua atenção. Alys abriu rapidamente os olhos e sentou-se, ajeitando rapidamente o vestido que subira no processo. Os olhos lilás de Viserys acompanharam as suas mãos com interesse.

– Posso ajudá-lo, Vossa Alteza?

– Estou certo que poderemos encontrar-lhe alguma utilidade – abriu um sorriso predatório, os olhos vagando lentamente sobre o seu corpo – Mas não agora. Chegou um mensageiro de Ser Arthur.

Levantou-se, inclinando ligeiramente a cabeça em cortesia – É muito gentil, Vossa Alteza, por ter perdido o seu precioso tempo para me encontrar – as mentiras fluíam da sua boca como água, mas Viserys parecia exultante com a sua falsa submissão. Quis arrancar o sorriso do seu rosto, mas não o fez imaginando o desapontamento estampado no rosto do tio.

– Poderá recompensar-me mais tarde, Lady Dayne.

Alys não respondeu, limitando-se a acompanhá-lo em silêncio até que alcançaram o mensageiro e Viserys desapareceu na direção dos corredores. Daenerys brincava com um pequeno animal de pelo preto que por momentos julgou tratar-se de um cão, até que viu que na verdade era uma cria de lobo.

– Oh, ela é encantadora, Lady Alysanne. Ser Arthur enviou-lhe um magnifico presente – disse a princesa. Tinha as faces vermelhas e um sorriso no rosto, diferente do ar abatido do dia anterior. O animal levantou os olhos azuis na sua direção. Por momentos Alys sentiu-se incapaz de respirar. Era o lobo do sonho, bem menor do que o que tinha visto anteriormente, mas sabia que era o mesmo.

– Meia-Noite – sussurrou, abaixando-se e deixando a loba lamber-lhe a mão. A língua áspera coçou-lhe a pele gentilmente e Alys sorriu, erguendo os olhos para Daenerys de seguida – O nome dela é Meia-Noite.


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